O Canal do Mangue, no Centro do Rio: acesso de grande volume de detritos para a Baía de Guanabara
Em 2016, quando o Rio de Janeiro sediou os Jogos Olímpicos, uma das expectativas era que finalmente fossem executadas as obras para a despoluição da Baía de Guanabara, que seria cenário das competições de vela. Na época, o governo fluminense contraiu um empréstimo de R$ 1,2 bilhão com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para tirar o projeto do papel. Mas o compromisso do legado para a cidade, assumido durante o processo de candidatura, não se concretizou. Passados os jogos, a avaliação feita pelo Laboratório de Sistemas Avançados de Gestão da Produção, vinculado à Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) é de que a situação na baía continua dramática, demandando um programa sério de despoluição.
Com o empréstimo do BID, o governo do estado construiu ou reformou sete grandes estações de tratamento de esgoto. No entanto, elas tratam hoje um volume irrisório, extr
O Canal do Mangue, no Centro do Rio: acesso de grande volume de detritos para a Baía de Guanabara
Em 2016, quando o Rio de Janeiro sediou os Jogos Olímpicos, uma das expectativas era que finalmente fossem executadas as obras para a despoluição da Baía de Guanabara, que seria cenário das competições de vela. Na época, o governo fluminense contraiu um empréstimo de R$ 1,2 bilhão com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para tirar o projeto do papel. Mas o compromisso do legado para a cidade, assumido durante o processo de candidatura, não se concretizou. Passados os jogos, a avaliação feita pelo Laboratório de Sistemas Avançados de Gestão da Produção, vinculado à Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) é de que a situação na baía continua dramática, demandando um programa sério de despoluição.
Com o empréstimo do BID, o governo do estado construiu ou reformou sete grandes estações de tratamento de esgoto. No entanto, elas tratam hoje um volume irrisório, extremamente limitado, de detritos. Neste momento, estão em curso as obras do Coletor Tronco da Cidade Nova, que fazem parte do Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (PSAM). O objetivo desta obra é evitar o despejo de cerca de mil litros de esgoto in natura por segundo que poluem o Canal do Mangue, desaguando nas águas da Baía de Guanabara.
Com investimento inicial de R$ 81 milhões, a obra do Coletor Tronco beneficiará 163 mil habitantes de seis bairros: Cidade Nova, Centro, Catumbi, Rio Comprido, Estácio e Santa Teresa. O PSAM é coordenado pela Secretaria do Ambiente (SEA), por meio de um contrato de financiamento do Governo do Estado do Rio de Janeiro com o BID.
A obra consiste na implantação do Coletor Tronco para captação de esgoto e conexão com o coletor-tronco Centro, com destino final na Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) Alegria, já existente.
A extensão total do coletor será de 4,5 km, sendo 2,5 km com 1 metro de diâmetro e o restante com 1,5 metros, passando sob algumas das mais importantes ruas e avenidas do centro da cidade. Seu assentamento será feito entre 5 e 19 metros de profundidade.
Para reduzir o impacto da instalação da tubulação em uma área densamente povoada e com trânsito intenso, o consórcio CT Cidade Nova, responsável pela execução do projeto – composto pela Construtora Passarelli e pela CTL Engenharia – adotou o método não destrutivo, utilizando a tecnologia Shield. O método lança mão de equipamento que escava a terra por baixo do asfalto, instalando a tubulação sem barulho e poeira, causando menor transtorno para a população.
Para recuperação da rede existente serão utilizadas as técnicas de videoinspeção, hidrojateamento, biorremediação e Cured-in-Place Pipe (CIPP)
O projeto inclui a ampliação da ETE Alegria, que terá expandida sua capacidade de tratamento de esgoto. Atualmente, a ETE trata 2.500 litros de esgoto por segundo e deverá alcançar o índice de tratamento de 5.500 litros de esgoto por segundo, com vazão máxima para tratar até 7.000 litros por segundo. Só com esta estação, a Baía de Guanabara deixará de receber 216 milhões de litros de esgoto in natura por dia; o equivalente a 90 piscinas olímpicas.
Dentro do projeto de ampliação da ETE Alegria, encontram-se em fase de implantação dois grandes troncos coletores (Faria-Timbó e Manguinhos), que irão captar todo o esgoto das comunidades da Maré, do Complexo do Alemão, do Jacarezinho e de Manguinhos, na Zona Norte do Rio.
A conclusão dessas obras será importante para a manutenção do trabalho de revitalização ambiental do Canal do Fundão, que continua a receber esgoto não tratado das comunidades de seu entorno via Canal do Cunha.
Evolução da obra
Neste momento está em andamento a implantação do coletor tronco com 2.524,20 metros de tubos cravados, equivalendo a cerca de 60% de avanço físico. Em função da crise financeira do Estado do Rio de Janeiro, especialmente no ano de 2017, e da consequente indefinição sobre a continuidade do Programa, houve uma desaceleração das obras, fato que impactou o prazo final.
Estão em conclusão os trâmites necessários para a prorrogação de prazo de conclusão desta obra até dezembro de 2018. Para o próximo período, serão revistos o cronograma de execução e o gráfico de evolução de cravação do coletor tronco.
Histórico da ocupação
Devido às características da região de intervenção, é necessária a realização de monitoramento arqueológico, realizado pela empresa Artefato Arqueologia & Patrimônio. “O monitoramento realizado durante a obra é importante para a preservação dos artefatos arqueológicos. Já o projeto de educação patrimonial é um trabalho esclarecedor, que alia uma tecnologia extremamente avançada (empregada na realização da obra) a uma cuidadosa análise arqueológica que não pode jamais ser ignorada. E, mais do que isso, precisa ser divulgada de maneira esclarecedora”, avaliou Sergio Romay, Coordenador Executivo do PSAM.
Nas palestras, os arqueólogos detalharam como é a dinâmica do trabalho de campo em uma obra de grande porte como esta. De acordo com a arqueóloga Maria Dulce Gaspar, professora de Antropologia do Museu Nacional/UFRJ e integrante da empresa Artefato, a pesquisa começa com o estudo dos registros históricos para ser estimado o potencial de cada região.
Com o aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), tem início a fase de prospecção, com escavações orientadas pelos arqueólogos, com foco na identificação de possíveis relíquias históricas. Todo o processo é fotografado e catalogado para posterior realização de testes laboratoriais. Com esses testes é possível estimar a data de fabricação ou período de utilização de cada objeto localizado.
“Em obras de grande porte como a do Coletor Tronco Cidade Nova, o monitoramento da equipe de arqueólogos deve ser contínuo. Por mais que a obra seja planejada, não se sabe o momento em que o equipamento pode parar por conta de alguma barreira. Por isso, é essencial a presença de um arqueólogo nos canteiros de obras,” explicou Maria Dulce Gaspar, em sua palestra.
Ao longo da obra, os arqueólogos encontraram vários objetos com valor histórico tais como: pedaços de vasilhames de cerâmica, peças de porcelana de uso doméstico relacionados às diferentes gerações que ocuparam a região e ainda garrafas intactas de cerâmica alemãs produzidas no século XIX, usadas para envase de água mineral. As palestras contemplaram ainda uma perspectiva histórica, científica e cartográfica sobre o processo de desenvolvimento da região que hoje engloba o bairro Cidade Nova.
Boa parte das obras está sendo executada com o método não destrutivo, utilizando a tecnologia Shield
A região do Canal do Mangue era, originalmente, o Saco de São Diogo, composto por um manguezal que recebia todos os corpos hídricos da bacia hidrográfica local e os destinava à Baía de Guanabara. Com a ocupação da região da Tijuca, o manguezal começou a receber, juntamente das águas dos rios, os efluentes sanitários oriundos da população a montante.
Em meados do século XIX, a condição de saúde pública da região tornou-se crítica, com a proliferação desenfreada de diversas doenças de veiculação hídrica. Como medida sanitária, foi então construído o Canal do Mangue, que pretendia drenar a área de manguezal existente e evitar o contato da população com a água contaminada, bem como permitir a circulação de pequenas embarcações.
No entanto, esta medida higienista logo deixou de ser suficiente. Com o aumento da densidade populacional na bacia de montante, tornaram-se recorrentes os eventos de extravasamento da macrodrenagem para as ruas, voltando a colocar a população em contato com seus efluentes. Mais adiante surgiu também a preocupação com a contaminação das águas da Baía de Guanabara, evidenciada pelo decréscimo da disponibilidade pesqueira e pelas doenças relacionadas ao contato primário em atividades de lazer.
Neste contexto surgiram diversos projetos que visavam a reduzir o aporte de efluentes sanitários e resíduos sólidos na Baía de Guanabara. No entanto, a situação crítica de qualidade da água do corpo hídrico perdura e preocupa governantes e população. Aliado às pressões relacionadas aos Jogos Olímpicos e à Copa do Mundo, foi lançado em 2007 o Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios de Entorno da Baía de Guanabara (PSAM), financiado pelo BID e a ser implementado pela Secretaria do Estado do Ambiente (SEA).
No programa são também previstos componentes de melhoria operacional e fortalecimento institucional e de sustentabilidade das políticas públicas municipais de saneamento. Adicionalmente, projetam-se três principais obras para coleta e tratamento de esgotos: Alcântara, Baixada e Cidade Nova. Cada uma dessas prevê a implantação e recuperação de redes de coleta e de estações de tratamento de esgotos nas diferentes áreas
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