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Revista GC - Ed.37 - Maio 2013
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Editorial

De onde viemos e para onde vamos

Esta edição de Grandes Construções destaca as obras do projeto Porto Maravilha, uma das maiores intervenções urbanas em execução no Brasil, que tem como objetivo revitalizar a Zona Portuária carioca, abandonada por várias décadas, para transformá-la em um novo modelo de gestão do espaço público.

Além dos aspectos técnicos das obras, dos enormes desafios e das soluções de engenharias encontradas, nos chama a atenção um aspecto que nesse empreendimento vem assumindo grande relevância: a descoberta de importantes sítios arqueológicos em diversos pontos do perímetro do projeto, na medida em que as obras avançam.

Foi assim com a descoberta do Cais do Valongo, porta de entrada no Brasil de cerca de meio milhão de africanos, entre 1811 e 1831, durante o período sombrio da escravidão. O ancoradouro de pedra permaneceu soterrado por mais de 168 anos, até ser redescoberto há pouco mais de um ano. Junto com ele foi desenterrado também o Cais da Imperatriz, uma espécie de upgrade realizado sobre o primeiro atracadouro, em 1843, para receber a futura imperatriz Teresa Cristina, que chegava da Itália para casar com D. Pedro II.

As obras permitiram ainda o encontro de vasto acervo, desde canhões de origem inglesa a utensílios domésticos, inteiros ou aos pedaços, objetos pessoais, artefatos e ossadas, tanto dos descendentes dos colonizadores portugueses quanto dos primeiros índios que habitaram a região, de 3 a 4 mil anos atrás. Tudo isso constitui um acervo riquís


Esta edição de Grandes Construções destaca as obras do projeto Porto Maravilha, uma das maiores intervenções urbanas em execução no Brasil, que tem como objetivo revitalizar a Zona Portuária carioca, abandonada por várias décadas, para transformá-la em um novo modelo de gestão do espaço público.

Além dos aspectos técnicos das obras, dos enormes desafios e das soluções de engenharias encontradas, nos chama a atenção um aspecto que nesse empreendimento vem assumindo grande relevância: a descoberta de importantes sítios arqueológicos em diversos pontos do perímetro do projeto, na medida em que as obras avançam.

Foi assim com a descoberta do Cais do Valongo, porta de entrada no Brasil de cerca de meio milhão de africanos, entre 1811 e 1831, durante o período sombrio da escravidão. O ancoradouro de pedra permaneceu soterrado por mais de 168 anos, até ser redescoberto há pouco mais de um ano. Junto com ele foi desenterrado também o Cais da Imperatriz, uma espécie de upgrade realizado sobre o primeiro atracadouro, em 1843, para receber a futura imperatriz Teresa Cristina, que chegava da Itália para casar com D. Pedro II.

As obras permitiram ainda o encontro de vasto acervo, desde canhões de origem inglesa a utensílios domésticos, inteiros ou aos pedaços, objetos pessoais, artefatos e ossadas, tanto dos descendentes dos colonizadores portugueses quanto dos primeiros índios que habitaram a região, de 3 a 4 mil anos atrás. Tudo isso constitui um acervo riquíssimo, capaz de recontar aspectos da vida cotidiana, costumes e mentalidade dos primeiros habitantes da cidade.

Guardadas as devidas proporções, fatos semelhantes aconteceram durante as obras da terceira linha do metrô de Roma, na Itália, que resultaram na descoberta de nada menos que 38 sítios arqueológicos, muitos dos quais localizados sob ruas e avenidas movimentadas. Assim, foram desenterrados: uma fundição de cobre do Século VI; cozinhas medievais ainda equipadas com panelas e potes; restos de um palácio renascentista e até mesmo um auditório do Século II depois de Cristo, na praça Venezzia, a poucos metros do Coliseu.

A cada relíquia encontrada, as obras paravam. Saíam os operários e entravam em cena equipes de arqueólogos, historiadores e antropólogos, catalogando os achados, preservando os sítios históricos, muitas vezes recomendando mudanças no traçado da linha. Tudo isso representou vários meses de atrasos nas obras do metrô, mas os ganhos para a sociedade, e para a humanidade, de uma forma geral, foram extremamente compensatórios.

Tanto aqui como lá, é necessário destacar o papel da indústria da construção como agente de resgate de uma história que havia sido, literalmente, enterrada durante o processo civilizatório. Em vez de “passar o trator” sobre verdadeiros tesouros da humanidade, no esforço para construir cidades mais modernas, confortáveis e funcionais, a cadeia da construção, pode e deve atuar de forma responsável e sustentável, resgatando elementos significativos do patrimônio histórico cultural das regiões onde atua, tendo como referência básica o processo de ocupação da área e a consequente organização do espaço sociocultural.

Assim, a indústria da construção, tantas vezes associada à destruição do passado e à especulação predatória dos espaços urbanos, dá importante contribuição à promoção de diálogo entre o passado e o futuro, incorporando valiosas informações à Memória Nacional, nos ajudando a entender de onde viemos e para onde vamos.

 

 

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