Redação
21/07/2021 11h00 | Atualizada em 05/09/2021 22h26
O executivo Paulo Vandor, sócio da L.E.K. Consulting, apresentou na Smart.Con algumas das tendências que, segundo pesquisas realizadas pela sua empresa, nortearão o futuro do setor.
Definindo a engenharia inteligente como “o conceito que visa realizar de maneira mais inovadora e eficiente o que a engenharia precisa entregar”, ele in
...O executivo Paulo Vandor, sócio da L.E.K. Consulting, apresentou na Smart.Con algumas das tendências que, segundo pesquisas realizadas pela sua empresa, nortearão o futuro do setor.
Definindo a engenharia inteligente como “o conceito que visa realizar de maneira mais inovadora e eficiente o que a engenharia precisa entregar”, ele incluiu entre essas tendências o avanço da automação dos métodos construtivos, o crescente emprego de novas tecnologias e a maior preocupação com as questões relacionadas à segurança e sustentabilidade.
Os impactos desses movimentos, destacou, podem ser bastante positivos. “Esses fatores reduzem custos, diminuem atrasos, melhoram a segurança dos profissionais e permitem disponibilizar muito mais rapidamente as informações”, especificou Vandor.
Nesse sentido, a diretora da Concremat, Alba Pires, listou algumas iniciativas que já vêm sendo praticadas para implementar o conceito da engenharia inteligente no Brasil, como o uso de BIM e o emprego de equipamentos “mobile” em substituição às pranchetas nos canteiros de obras.
A especialista citou ainda o projeto Siga OAE, já em implementação em sua empresa, que por meio de recursos como sensores e drones permite monitorar as condições de pontes e viadutos, ajudando a detectar previamente a necessidade de manutenções nessas estruturas.
“Mas a tecnologia não pode nos fazer esquecer o principal, que são as pessoas”, ela ressaltou. “Que podem inclusive necessitar de tempos diferentes de capacitação para seu uso.”
INOVAÇÃO NOS CANTEIROS
Alguns cases recentes ilustram essas tendências. Localizado na cidade de São Paulo, o empreendimento Parque da Cidade foi apresentado pela Matec Engenharia na Smart.Con.
A construtora responsabilizou-se pela Gleba B desse empreendimento, entregue no início deste ano e na qual foram construídas três torres corporativas, com 23, 20 e 17 pavimentos. Com 228 mil m2 de área construída, essa gleba integrou outras áreas do complexo, composto ainda por hotel, shopping, edifício residencial e outras torres corporativas, além de um parque linear distribuído pelo terreno.
Para viabilizar o projeto em um prazo de 28 meses – incluindo o comissionamento –, foram privilegiadas soluções industrializadas como vigas e lajes pré-moldadas, paredes estruturais, lajes alveolares e outras.
E o desenvolvimento do projeto, por sua vez, foi realizado com o uso da metodologia BIM. “Realizamos protótipos virtuais e posteriormente reais, que foram cruciais para viabilizar a execução”, destacou a gerente de engenharia da empresa, Camila Silva.
Na gestão, como ressaltou Pedro Ivo, coordenador de planejamento e controle da Matec, o uso de drones permitiu o acompanhamento contínuo da evolução da obra, não apenas com imagens 2D, mas também pela integração dos dados em modelos 3D.
Segundo ele, esse recurso mostrou-se extremamente valioso, tendo em vista a logística complexa do projeto, que entre outros itens incluiu o recebimento de cerca de 27 mil peças pré-moldadas.
“Em um projeto convencional, precisaríamos de cerca de 1,1 mil colaboradores”, comentou Ivo. “Porém, no pico da obra tivemos apenas 400 colaboradores, considerando a montagem simultânea das três torres”, complementou.
CAPTURA DA REALIDADE
No que se refere à tecnologia aplicada, o gerente de linha de produtos da Leica Geosystems do Brasil, Miguel Menegusto, destacou na Smart.Con a disponibilidade de uma gama diversificada de equipamentos de captura da realidade das imagens em 3D de uma obra, como os escâneres a laser.
Atualmente, esses equipamentos já estão disponíveis em vários modelos, ele afirmou, podendo ser tanto móveis – transportados em drones, carros, mochilas ou mesmo nas mãos de operadores – quanto fixos em tripés, por exemplo.
“Além do laser, as operações podem valer-se de outros dados para a captura da realidade, como imagens e informações térmicas”, acrescentou Menegusto.
Entre outros benefícios, a realidade “capturada” por esses equipamentos permite acompanhar o desenvolvimento de uma obra imobiliária ou de grandes projetos de urbanização. “A partir dos dados captados, pode-se fazer a modelagem 3D, o que representa um enorme passo à frente em relação a croquis ou rascunhos”, ressaltou.
Essa tecnologia, ele prosseguiu, permite ainda o desenvolvimento virtual de projetos de retrofit de edifícios históricos, além da implementação de sistemas específicos (em tubulações, por exemplo), que podem ser integrados à realidade escaneada do edifício ou da obra, permitindo a avaliação em condições mais próximas de sua estrutura física final.
“No estágio atual, já existem equipamentos cuja precisão na captura das imagens permite até mesmo colaborar na detecção de rachaduras e falhas estruturais”, lembrou o profissional.
“No futuro, devemos ter dados disponibilizados cada vez mais rapidamente, com tecnologias mais inteligentes e mais acessíveis em diferentes níveis, e não apenas em grandes obras”, comentou Menegusto.
DESIGN VIRTUAL
Na mesma linha, a engenheira da Hilti, Giovanna Marquioreto, detalhou na Smart.con as possibilidades da integração de duas disciplinas normalmente não trabalhadas em modelos BIM: a segurança contra incêndio – mais especificamente as tecnologias de proteção passiva por meio de selagem corta-fogo – e os elementos de suporte das instalações de sistemas – como elétrico, hidráulico e de ar-condicionado, entre outros.
A selagem corta-fogo, ela ressaltou, é fundamental para evitar a propagação da fumaça, principal causa das mortes em incêndios. Além disso, já existem soluções específicas para aplicação de selos em interiores, fachadas, shafts de telecom e sistemas hidráulicos.
“Ao permitir o estudo e a definição antecipada de cada uma delas, a metodologia BIM pode eliminar erros nessas aplicações, avaliando entre outras coisas quais aberturas serão seladas, com qual sistema será feita a selagem, como esse sistema precisará ser executado etc.”, detalhou a especialista.
Com essa metodologia, ela notou, também é possível planejar e definir antecipadamente os projetos de fixação das redes elétrica, hidráulica, de telecom, HVAC e outras. E, ao mesmo tempo, conhecer a fundo os custos de cada aplicação.
A engenheira citou um case sobre esse uso de BIM, envolvendo um projeto que obteve uma economia média de 10% em cada um dos sistemas de selagem corta-fogo. “Ao todo, foram selados oito sistemas, de modo que a economia total foi bastante interessante”, relatou a profissional da Hilti.
REALIDADE MISTA
Em conjunto com BIM, o uso de tecnologias de realidades imersivas também vem sendo cada vez mais comum nas obras do país, como apontou Pedro Lima, diretor da SGP+AR, empresa fornecedora de soluções de Realidade Aumentada (RA).
Essa tecnologia, ele apontou na Smart.Con, permite adicionar elementos digitais na forma de hologramas às imagens do mundo real.
Na construção civil, exemplificou Lima, a RA por ser utilizada para adicionar imagens digitais dos pavimentos de um edifício sobre as imagens reais de sua base, assim como verificar o avanço do processo de instalação de um sistema e, até mesmo, inserir o modelo virtual de um edifício no ambiente onde será construído.
O especialista observou que já existem tecnologias desenvolvidas especificamente para o uso de RA, como os óculos da Microsoft, equipados com sensores e outros recursos que proporcionam interações avançadas entre o real e o virtual. “Também há a possibilidade de realização de excelentes interações de RA com o uso de celulares”, disse Lima.
De acordo com ele, o uso de RA pode ser muito interessante no canteiro da obra, seja acompanhando a evolução dos trabalhos, seja avaliando sua qualidade e detectando erros. “Sobrepondo-se o modelo digital à imagem real, é possível comparar o que está sendo feito com o que deveria ter sido feito”, explicou.
Esse uso não exige que a empresa já tenha todos os seus processos em BIM, que em certa medida pode ser substituído por processos híbridos. Todavia, sempre haverá a exigência de certa mensuração dos dados, passíveis de ser feita com dispositivos móveis.
“Isso é possível, mas é importante que a empresa esteja ao menos iniciando a implementação de BIM”, acentuou o especialista.
IMPRESSÃO 3D
Também conhecida como manufatura aditiva, a impressão 3D é outra inovação que tem sido empregada na construção civil, principalmente em projetos de arquitetura, como observou Fabio Andreosi, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
A impressão 3D, destacou, já é utilizada em inúmeros setores, especialmente em demandantes de produtos com padrões de qualidade mais elevados, como as indústrias automobilística e aeroespacial. E pode ser feita com a aplicação de diversos materiais, incluindo polímeros, metais, areia, fibras de carbono e de vidro, dentre outros.
Na construção, seu uso é visível principalmente em projetos mais impactantes, ele comentou, como casas ou mesmo edifícios inteiramente feitos com impressão 3D, já desenvolvidos na Europa e nos EUA.
“Futuramente, esses projetos certamente serão viáveis comercialmente, mas atualmente ainda são desenvolvidos como iniciativas de marketing e de divulgação das possibilidades dessa tecnologia, até em função do custo”, ponderou o acadêmico.
Contudo, a manufatura aditiva já pode ser aproveitada pela construção de outras maneiras, ressaltou o professor, como na produção de componentes que demandam fôrmas, ou mesmo da própria fôrma.
Essa produção pode ser feita tanto in situ quanto em outros locais, proporcionando vantagens logísticas e reduzindo as perdas do processo produtivo.
“Já se pode usar a manufatura aditiva, se não para produzir um empreendimento completo, ao menos para customizar os imóveis”, exemplificou. “Já há máquinas de impressão 3D que possibilitam até mesmo o reaproveitamento de material reciclado na própria obra.”
CERTIFICAÇÕES DE SUSTENTABILIDADE
Responsável por dezenas de empreendimentos com sustentabilidade certificada, a Inovatech Engenharia destacou na Smart.Con que o projeto deve ser a base para que uma construção possa de fato ser qualificada como sustentável.
“Afinal, é nessa fase que se define com mais exatidão as maneiras como serão minimizados os impactos ambientais, seja durante a obra, seja no uso posterior do empreendimento”, disse Luiz Henrique Ferreira, CEO da empresa.
A etapa da construção, ele destacou, é bastante relevante para assegurar a sustentabilidade de um projeto. “Mas há também a operação posterior do empreendimento pois, dependendo do material da fachada, condena-se um edifício a demandar mais ar-condicionado”, ressaltou.
Na sua visão, a sustentabilidade é um reflexo direto da maior eficiência na utilização dos recursos. Em um setor que consome recursos naturais intensivamente – como a construção civil –, a busca pela sustentabilidade torna-se mandatória.
Atualmente, os clientes de imóveis corporativos, como destacou o CEO, já conferem enorme valor à sustentabilidade dos empreendimentos, pois sabem que a utilização mais eficiente dos recursos naturais pode garantir benefícios financeiros inclusive.
“O segmento residencial, em que esse apelo ainda não é tão forte, deve avançar também, até porque as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa, percebendo a importância da sustentabilidade”, complementou Ferreira.
RISCOS EM CONTRATOS
Na área de contratos, também há práticas que são mais adequadas e eficientes. “A boa contratação é aquela que não exige o uso posterior do contrato”, destacou na Smart.Con a líder da área de aquisições da ABB Brasil, Verena Pagano.
Tal recomendação, ela lembrou, vale para qualquer gênero de contratação, mas se torna ainda mais relevante quando envolve mão de obra fornecida por terceiros.
De acordo com ela, seu atendimento exige o cumprimento de alguns requisitos, como a etapa de RFI (Request for Information), na qual são buscadas informações sobre o potencial parceiro – inclusive com solicitação de documentos –, além de análise da situação cadastral, contrato social e dados financeiros, dentre outras.
Após essa etapa, o contrato deve ser formalizado na “linguagem mais simples possível”, orienta, sem deixar brechas para interpretações distintas, de modo que possa seja lido e compreendido da mesma maneira por contratantes e contratados.
“Atualmente, já existem tecnologias que monitoram os fornecedores”, ressaltou Verena. “Dentre outras coisas, permitem acompanhar se estão cumprindo as determinações acertadas nos contratos, até mesmo em relação aos seus funcionários”, citou.
Por sua vez, o líder da área jurídica da construtora HTB, Luis Fernando Venid, ressaltou a importância de se gastar mais tempo nas fases pré-contratuais, que devem definir com exatidão o escopo do contrato.
Além disso, ele destacou a importância de que as obrigações previstas em contrato tenham certa abertura nas questões relacionadas a saúde e segurança, especialmente quando envolvem fornecimento de pessoal, pois pode haver a necessidade de alterações durante sua vigência.
“Essa necessidade foi comprovada pela pandemia, que sequer era imaginada nos contratos assinados em 2019”, ponderou Venid.
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