Entrevista com Marcus Vallero, Engenheiro de Processos da GE Wather
A cidade de Campinas (SP) está crescendo rapidamente, tendo como um dos seus grandes desafios, o de fornecer o acesso a um saneamento adequado para toda a cidade e superar os graves problemas de escassez de água da região. Neste cenário, a Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), concessionária pública municipal de águas e esgotos, em parceria com consórcio formado entre GE e a Construtora Norberto Odebrecht, construiu a Estação Produtora de Água de Reuso (EPAR) Capivari II, que é a primeira planta de tratamento biológico de esgoto municipal com membranas (MBR) em larga escala na América Latina.
Em operação desde 2012, a EPAR é um exemplo de sucesso no tratamento do efluente gerado na região, que pode certamente servir de parâmetro para outras regiões do Brasil. A unidade tem capacidade para tratar 360 litros por segundo de vazão média, podendo atender a uma população de aproximadamente 180 mil pessoas.
A GE é a fornecedora d
Entrevista com Marcus Vallero, Engenheiro de Processos da GE Wather
A cidade de Campinas (SP) está crescendo rapidamente, tendo como um dos seus grandes desafios, o de fornecer o acesso a um saneamento adequado para toda a cidade e superar os graves problemas de escassez de água da região. Neste cenário, a Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), concessionária pública municipal de águas e esgotos, em parceria com consórcio formado entre GE e a Construtora Norberto Odebrecht, construiu a Estação Produtora de Água de Reuso (EPAR) Capivari II, que é a primeira planta de tratamento biológico de esgoto municipal com membranas (MBR) em larga escala na América Latina.
Em operação desde 2012, a EPAR é um exemplo de sucesso no tratamento do efluente gerado na região, que pode certamente servir de parâmetro para outras regiões do Brasil. A unidade tem capacidade para tratar 360 litros por segundo de vazão média, podendo atender a uma população de aproximadamente 180 mil pessoas.
A GE é a fornecedora do sistema MBR desta planta, que utiliza as membranas de ultrafiltração de fibras ocas submersas ZeeWeed 500D, com porosidade nominal de 0,04 µm para realizar a separação dos sólidos suspensos e microrganismos, produzindo uma água segura com elevadíssima qualidade e alta confiabilidade. O nível de pureza, segundo técnicos da Sanasa, é de 99%.
A utilização dessa tecnologia permitindo a Sanasa gerar receita com a disponibilização desta água tratada como água de reuso para clientes industriais e comerciais.
O sistema é composto pela associação de um reator biológico (formado por câmaras anaeróbia, anóxica e aeróbia para remoção de nutrientes) com estas membranas de ultra filtração, o que não permite a passagem de bactérias, parasitas e outros microrganismos nocivos à saúde. A qualidade da água de reúso é tão boa que permite seu aproveitamento em várias aplicações industriais e comerciais, como por exemplo o recente entendimento entre Sanasa e o Aeroporto de Viracopos para o uso desta água em várias operações do terminal.
“A combinação de tecnologias avançadas de tratamento gera uma água com elevada qualidade, o que ajuda a reduzir o consumo de fontes naturais”, comenta Marcus Vallero, Engenheiro de Processos da GE. Ainda que já se beneficie com a água de reúso gerada, a Sanasa pretende avançar ainda mais.
A Sanasa solicitou um estudo para avaliar as tecnologias necessárias para potabilizar a água de reúso produzida na EPAR Capivari II. A intenção da Sanasa é lançar essa água, depois de tratada conforme as exigências da Portaria 2914 do Ministério da Saúde, diretamente na rede de abastecimento.
Nessa entrevista, Marcus Vallero detalha a tecnologia utilizada pela GE Wather na EPAR Capivari II, e explica porque esse case de sucesso pode ser multiplicado por todo o País.
Revista Grandes Construções – Quais os benefícios para a cidade de Campinas resultantes da implantação da EPAR Capivari, com essa tecnologia disponibilizada pela GE Wather?
Marcus Vallero – Com esse empreendimento, Campinas provavelmente será a primeira cidade no Brasil, meta 100/100/100. Ou seja, será a primeira cidade a ter 100% da população com acesso a água tratada, 100% do esgoto coletado e 100% do esgoto coletado sendo tratado. Isso ainda não é uma realidade, mas está perto, avançando ainda mais com a implantação de outra planta de tratamento, a de Boa Vista, que está sendo contratada agora. É importante destacar que isso se deve, principalmente a Sanasa que sempre se destacou pelo pioneirismo, pela ousadia, na implantação de novas tecnologias.
Essa postura se acentuou no início dos anos 2000, quando a empresa concluiu que precisaria alcançar um nível de tratamento muito elevado para suas plantas, porque a água tratada desaguava no Rio Capivari, que é muito sensível. De acordo com as normas brasileiras, um rio de Classe 2 não pode ultrapassar um determinado nível de compostos para permanecer nessa classe.
GC – O que é um rio de Classe 2?
Marcus Vallero – Na classificação brasileira, existem rios classificados de 1 a 4. A Classe 1 diz respeito a uma água, pura, praticamente intocada, que você pode beber ou fazer um tratamento muito simples para usa-la no abastecimento público. A Classe 2 exige um tratamento convencional para o abastecimento público. No Classe 3, o tratamento exigido para o abastecimento público já é bastante avançado. E o Classe 4 é praticamente esgoto. Então, a Sanasa colocou a sua régua de qualidade lá em cima, para os padrões que o Capivari precisava alcançar. Ao determinar a qualidade requerida na saída dessa água tratada, e buscar tecnologias mais adequadas para essas exigências, determinou-se que as membranas ultra filtrantes, e o reator biológico assistido por membranas seria a tecnologia ideal para ser implementada no tratamento do esgoto produzido por Campinas e por toda uma bacia enorme de uma região por onde o município está se expandindo, nas proximidades de Hortolândia. Foi nesse momento que a GE se aproximou da concessionária, na qualidade de pioneira no fornecimento dessa tecnologia em todo o mundo.
CG – A empresa é líder de mercado nesse tipo de fornecimento?
Marcus Vallero – Sim. Para se ter uma ideia, a GE tem quase 50% de market share para as plantas grandes de tratamento no mundo.
CG – Teve um processo de licitação que antecedeu a contratação da GE?
Marcus Vallero – Principalmente por se tratar da primeira linha de tratamento de grande porte, utilizando-se MBR, no Brasil.
A GE tem uma série de outras plantas da MBR já fornecidas no País, em instalações industriais. Temos três fornecidas para refinarias da Petrobras, para tratamento de esgotos industriais, por exemplo. Mas para uma concessionária pública, para tratamento do esgoto de uma cidade, a de Campinas foi absolutamente a primeira. E nós a consideramos como a porta de entrada para esta tecnologia, com esta aplicação, no Brasil. Fora do Brasil, nós estamos fornecemos a tecnologia MBR para uma unidade de tratamento de esgoto, para Estocolmo, na Suécia, em uma planta com 10 cúbicos por segundo. É a maior desse tipo no mundo.
GC – Quando a planta começou a operar comercialmente?
Marcus Vallero – Em agosto de 2012. A essa altura já se sabia a planta produziria uma água de excepcional qualidade. Mas pegou-se a água de saída e comparou-se com o padrão de potabilidade admitido no Brasil. O que se viu que a água tratada pela unidade atendia plenamente ao padrão brasileiro, exceto em três paramentos: um era o nível de cloro; o segundo era a cor; e o terceiro, o índice de coliformes totais. Para se atingir todas essas exigências, basta clorar a água. É evidente que nem a GE nem a Sanasa estão sugerindo que deve-se beber essa água. Mas isso prova seu elevado padrão de qualidade. Então, porque não usa-la amplamente para uso não potável?
GC – Como água de reuso?
Marcus Vallero – Claro. Tanto que hoje a Sanasa já comercializa essa água para reuso, para clientes do varejo, ou seja, você vai lá com seu caminhão e adquire essa água; fornece essa água ao Corpo de Bombeiros, para o combate a incêndios; para limpeza de ruas, tratamento de jardins; e acaba de fechar um contrato com o Aeroporto de Viracopos, para levar a água de reuso, por uma tubulação, para os sistemas de resfriamento do terminal. Portanto, ainda que esse não tenha sido o objetivo final da Sanasa, ou seja, ter uma planta de água de reuso, isso está se consolidando.
GC – Qual é a capacidade de produção dessa planta?
Marcus Vallero – A capacidade de produção é de 370 litros por segundo, e hoje ela está tratando cerca de 180 litros por segundo. Ela tem uma margem grande ainda, a até porque a cidade está crescendo, e planta já está reparada para absorver esse crescimento. Campinas vai se beneficiar enormemente com essa tecnologia, porque, quem não quer morar numa cidade limpa?
CG – E sobre essa segunda planta, que foi contratada? O que se sabe sobre ela?
Marcus Vallero – É a ETE Boa Vista, que também terá a tecnologia MBR. Já foi contratado o consórcio formado pela Construtora Com e a Novasan, e nós estamos negociando com eles o fornecimento da tecnologia MBR.
Então, o importante é lembrar que nós mudamos os paradigmas de tratamento de esgoto na região. Além de levar o sistema MBR a outras unidades de tratamento, o que está se discutindo agora, na Sanasa, é a possibilidade de retornar essa água tratada à montante de captação, no Rio Atibaia, fazendo o que se chama de uso potável indireto.
Falta apenas o arcabouço legal. A Sanasa está contratando consultores, conversando com o Ministério Público, para analisar essa possibilidade. Para isso é necessário, antes, que essa água passe pelo processo de tratamento convencional, para garantir que a ela esteja dentro dos padrões aceitáveis para consumo da população.
A rigor, nós já tomamos água resultante do tratamento de esgoto há décadas, já que uma cidade sempre está a jusante da outra. Então, uma idade usa a água, trata ou não trata, despeja no rio, e a cidade seguinte volta a consumir essa água. O que a Sanasa está querendo fazer é o reuso potável indireto, planejado e controlado.
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