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Revista GC - Ed.97 - Setembro 2021
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Entrevista

"O canteiro de obras é a fronteira da inovação"

Entrevista com Dionyzio Klavdianos, presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Por Redação

As mudanças no mercado da construção civil têm se acelerado nos últimos anos, com uma presença mais acentuada de novos métodos construtivos que permitem obter processos mais rápidos e eficientes nos canteiros, além da importância crescente que a sustentabilidade vem adquirindo na execução das obras.

Segundo Dionyzio Klavdianos, presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Comat/CBIC), a construção modular off-site, por exemplo, já é uma realidade significativa no país, apesar de ainda enfrentar os desafios de um mercado conservador como o da construção, além de aspectos de tributação que dificultam um avanço mais forte dessa tendência.

Para o especialista, todavia, a inovação não está ligada exclusivamente ao processo construtivo, pois abrange ainda


As mudanças no mercado da construção civil têm se acelerado nos últimos anos, com uma presença mais acentuada de novos métodos construtivos que permitem obter processos mais rápidos e eficientes nos canteiros, além da importância crescente que a sustentabilidade vem adquirindo na execução das obras.

Segundo Dionyzio Klavdianos, presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Comat/CBIC), a construção modular off-site, por exemplo, já é uma realidade significativa no país, apesar de ainda enfrentar os desafios de um mercado conservador como o da construção, além de aspectos de tributação que dificultam um avanço mais forte dessa tendência.

Para o especialista, todavia, a inovação não está ligada exclusivamente ao processo construtivo, pois abrange ainda as diferentes formas de morar, conviver e se relacionar por meio da moradia, que vem ganhando novos conceitos para atender a essas demandas.

Formado em engenharia civil pela Universidade de Brasília (UnB), Klavdianos possui especialização em negócios para executivos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em finanças pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec). À frente da Comat/CBIC desde 2014, o executivo também é presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), tendo reassumido o cargo em 2021.
Nesta entrevista exclusiva à Revista Grandes Construções, ele fala sobre o cenário de transformações que impulsiona o setor da construção civil em todo o mundo.

  • Como importadores de tendências, em que nível estamos em termos de tecnologia na construção?

A construção civil evoluiu nos últimos anos no que tange à incorporação de inovações tecnológicas no dia a dia. O advento das startups tem contribuído para isso, bem como a disseminação do BIM, que vem sendo promovido pelos novos entrantes nos mercados, notadamente projetistas e empresas menores. E quando a cadeia de fornecedores incorpora inovações, fica mais fácil para construtoras e incorporadoras investirem nas transformações de seus processos. O canteiro de obras continua sendo a fronteira a ser transposta enquanto seara de inovação.

Novos conceitos construtivos diminuem significativamente a intervenção da mão de obra no processo

  • Nesse sentido, quais são os principais gargalos?

O principal gargalo é que a construção ainda possui uma cultura muito conservadora. Mas, atualmente, temos de acrescentar o aumento exponencial, interminável e generalizado nos preços dos insumos, o que inviabiliza pensar em qualquer mudança significativa na forma de se construir.

  • Nos últimos anos, fala-se muito de conceitos como construção seca, modular e off-site. Quais são os benefícios dessas técnicas?

Primeiramente, os componentes já chegam prontos à obra, ou seja, são criados e montados em locais que se assemelham aos de uma indústria convencional – e na verdade são mesmo. Além disso, esses novos conceitos diminuem significativamente a intervenção da mão de obra no processo, sabidamente o principal foco de inconformidade nas operações.

  • Quanto o mercado brasileiro já assimilou desses novos conceitos?

Dados fornecidos pela ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) mostram que esses novos conceitos construtivos representam cerca de 8% do mercado, considerando construção de concreto e metálica. Apesar de não ser fruto de pesquisa regular, esse número oferece uma base importante de dimensionamento. Porém, é importante frisar que essa presença é bem menor no mercado mais significativo do setor, de obras residenciais. O que é uma pena, mas também dá uma ideia do campo de oportunidades que dispomos.

Sistemas industriais requerem investimento em ensaios, materiais e pesquisas para se viabilizarem técnica e financeiramente

  • Além da tributação, o que impede um avanço mais rápido?

Sistemas industriais precisam investir muito em ensaios, materiais e pesquisas, do contrário não se viabilizam técnica e financeiramente. Fora isso, são mais cobrados pelos sistemas de certificação que os métodos tradicionais, antes de serem adotados pelo mercado.

  • O conceito de ESG tende a industrializar ainda mais a construção?

Faz todo o sentido pensar que sim, notadamente se considerarmos o aspecto ambiental, já que nossa indústria ainda agride bastante o meio ambiente, tanto na extração da matéria-prima – areia e brita são os minérios mais extraídos da Terra – quanto no descarte.
Todavia, à medida que se implanta a governança corporativa em uma empresa, é natural esperar que os efeitos positivos transcendam à gestão de pessoas, por exemplo. Em outras palavras, não se imagina uma empresa que invista em práticas modernas e progressistas de gestão e não avance na qualidade técnica de seus processos construtivos.

Adoção de práticas modernas de gestão se traduz em avanço na qualidade técnica dos processos construtivos

  • Com a pandemia, o perfil da oferta dos imóveis mudou?

Ainda não é possível se definir qualquer padrão de moradia para o pós-pandemia. Particularmente, acredito que sempre haverá um padrão adequado para todos os gostos. Ademais, construção é muito cara para quem constrói e para quem compra. No geral, não há margem para se investir por experiência ou moda. Isto posto, o nicho Classe A sempre comprou apartamentos com áreas maiores. É provável que agora, mais capitalizados, permitam-se a comprar apartamentos ainda maiores, mas ainda haverá espaço para os menores e os médios, seja no centro ou em bairros periféricos, para um grupo mais abrangente de compradores.

  • Como avalia essas possíveis mudanças do mercado?

Talvez a mudança mais importante [trazida pela pandemia] tenha sido a maior relevância que se deu à moradia, o que provavelmente irá exigir de projetistas e incorporadores maior estudo e pesquisa na definição do novo modelo de imóvel que será vendido.

Pandemia deu relevância à moradia, exigindo maior estudo e pesquisa na definição de novos modelos de imóveis

  • Nesse quadro, quais soluções despontam como inovadoras?

Antes da pandemia, talvez se pudesse pensar que os condomínios urbanos mais afastados do centro estariam se tornando um produto ultrapassado. Hoje, não mais. Por outro lado, imóveis menores em regiões centrais e com áreas de uso coletivo também ganharam espaço, seguindo os critérios de coliving e coworking. Outro aspecto que foi reforçado, mas não necessariamente no setor residencial, foi o da construção rápida de obras. Exemplo disso são as construções hospitalares, que ficaram prontas a toque de caixa, o que também foi determinante para salvar vidas. Nesse ponto, é importante frisar que a inovação não está ligada exclusivamente ao processo construtivo, mas também à forma de morar, conviver e se relacionar por meio da moradia.

  • Por falar nisso, qual é a importância da construção popular para essa indústria?

Com certeza é de grande importância. Afinal, trata-se do principal campo de atuação da imensa maioria das pequenas e médias empresas brasileiras. Tanto que, se esse segmento não contrata, a indústria da construção civil literalmente para no país. Como base de referência, esse setor representava quase 90% da oferta de imóveis residenciais no Brasil antes da pandemia.

Construção de moradias populares é o principal campo de atuação da maioria das empresas brasileiras

  • E como fazer esse segmento voltar a ter recursos?

O déficit de habitação do Brasil gira em torno de seis milhões de moradias. A maioria dos necessitados é composta por moradores das classes menos abastadas, que precisam de financiamento para viabilizar sua moradia. E as construtoras são contratadas pelos agentes financeiros, que vão financiando a obra com base na evolução do cronograma físico da obra. Ao término da obra e entrega das chaves, o morador segue quitando o financiamento em um tempo viável para ambas as partes, com juros assimiláveis. Ou seja, é o mais viável para todos. A principal fonte de recursos é a caderneta de poupança. Por isso, uma das bandeiras da CBIC é não direcionar o dinheiro da poupança para estimular o consumo na ponta meramente. Quando se investe em moradia, movimenta-se indiretamente uma gama muito maior de segmentos da economia. Não é um gasto, mas sim um investimento.

Investimento em moradia tem reflexo em uma gama muito maior de segmentos da economia

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