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Revista GC - Ed.91 - Jul/Ago 2018
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Entrevista

Menos política, mais critérios técnicos

“Durante todo o processo da Lava Jato, nós não conseguimos separar CPF de CNPJ. Ou seja: não conseguimos distinguir entre o que é gestão fraudulenta das empresas investigadas e sua competência técnica, sua excelência em Engenharia. Acabamos colocando no mesmo saco a capacidade técnica de engenheiros que não participavam do processo de gestão, nem se envolveram em corrupção. Esses engenheiros eram executores de obras de altíssima qualidade. O Brasil não pode perder essa excelência, conquistada ao longo de tantos anos e digna do reconhecido internacional”. O alerta é do empresário Emir Cadar Filho, executivo da Cadar Engenharia e presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais, que acaba de ser reeleito para um mandato de três anos na presidência da Brasinfra – Associação Brasileira dos Sindicatos e Associações de Classe de Infraestrutura.

A reeleição acontece em meio a uma das piores crises que o setor de infraestrutura no Brasil atravessa, caracterizado pela falta de investimentos públicos e pela fuga de aporte de re


“Durante todo o processo da Lava Jato, nós não conseguimos separar CPF de CNPJ. Ou seja: não conseguimos distinguir entre o que é gestão fraudulenta das empresas investigadas e sua competência técnica, sua excelência em Engenharia. Acabamos colocando no mesmo saco a capacidade técnica de engenheiros que não participavam do processo de gestão, nem se envolveram em corrupção. Esses engenheiros eram executores de obras de altíssima qualidade. O Brasil não pode perder essa excelência, conquistada ao longo de tantos anos e digna do reconhecido internacional”. O alerta é do empresário Emir Cadar Filho, executivo da Cadar Engenharia e presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais, que acaba de ser reeleito para um mandato de três anos na presidência da Brasinfra – Associação Brasileira dos Sindicatos e Associações de Classe de Infraestrutura.

A reeleição acontece em meio a uma das piores crises que o setor de infraestrutura no Brasil atravessa, caracterizado pela falta de investimentos públicos e pela fuga de aporte de recursos privados. Cadar sabe disso e aceita o desafio de lutar pela reversão desse cenário, pelo fortalecimento do setor e pela revitalização das empresas que nele atuam. Sua principal arma será a “inteligência” de algumas das mais importantes entidades de classe da cadeia da construção, representantes de diversos segmentos de todo o País, associadas à Brasinfra. “Juntas, vamos identificar quais são os pontos mais representativos, mais urgentes, para serem trabalhados. Não queremos desempenhar uma atuação meramente política. Vamos elaborar estudos técnicos, com embasamento e fundamento, para apresentar propostas sólidas e coerentes, em Brasília, ao Congresso Nacional, por exemplo. Não queremos pedir. Queremos convencer!”

Para ele, é importante, ainda, não buscar o confronto, tensionando as relações com governo e entidades de fomento, como o BNDES. “Queremos trazê-los para a nossa causa.”

A cadeia da construção e o Brasil, de maneira geral, torcem pra que ele obtenha sucesso.

Revista Grandes Construções - O senhor acaba de ser reeleito para a presidência da Brasinfra, por um período de mais três anos. Quais as suas metas prioritárias?

Emir Cadar Filho – Nós vínhamos sentindo falta de uma maior representatividade junto ao setor de infraestrutura do Brasil. Por isso, em 20 de dezembro de 2016, criamos a Brasinfra, para representar nacionalmente o setor e propor iniciativas para alavanca-lo em novas bases, com sustentabilidade. Embora tenha pouco tempo de vida, a associação já conta com a participação de algumas das maiores entidades do setor no País.

Extrema dependência do modal rodoviário expõe a fragilidade no país na infraestrutura de logística

 

 

São elas a ACEOP – Associação Catarinense de Empresas de Obras Públicas; a AEERJ – Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro; a ANEOR – Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias; o SICEPOT/MG – Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais; o SICEPOT/PR – Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado do Paraná; o SINAENCO – Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva; o SINCONPE/CE – Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Ceará; o SINDICOPES – Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado do Espírito Santo; o SINICESP – Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo; e o SINICON – Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada - Infraestrutura. E tivemos, em meados de junho, por ocasião da reeleição para o próximo triênio, a adesão da Sobratema, mais uma entidade de peso no Brasil, com forte representatividade em um setor importantíssimo, que é o de máquinas e equipamentos para construção.

O nosso plano para os próximos três anos é o de alcançarmos uma expansão moderada, com qualidade. Não estamos preocupados em ter 30 ou 50 associados. O que queremos é ter associados com forte representatividade e peso no setor de infraestrutura. Esse é o nosso objetivo: ser uma entidade leve, com poucos gastos, mas realizando muito trabalho.

O Brasil está longe de levar os benefícios do Saneamento Básico à totalidade da sua população

GC - Qual a sua avaliação para o atual cenário da infraestrutura no País e o que precisa ser feito, de imediato, para mudar essa situação, estabelecendo um novo ordenamento no processo de investimento em infraestrutura no Brasil?

Emir Cadar Filho - O Brasil precisa de tudo. Temos uma defasagem de décadas em termos de investimentos em infraestrutura. Precisamos de tanto investimento, falta tanta coisa, há tanto o que consertar, que se não tivermos uma estratégia, nós não vamos a lugar nenhum. É isso o que estamos fazendo justamente agora: buscando prioridade para alguns pontos, mas sem esquecer os demais. Estamos identificando quais são os pontos mais representativos, mais urgentes, para serem trabalhados. E, para isso, contamos com a inteligência de todas essas entidades associadas, que representam diversos interesses de todo o País. Dessa participação coletiva tiraremos uma posição forte, para apresentar em Brasília estudos técnicos com embasamento e fundamento, elaborados por pessoas e entidades sérias e competentes. Vamos levar essas propostas ao Congresso Nacional, por exemplo. Não focamos uma atuação meramente política. A nossa meta é apresentar ao governo reivindicações com base em estudos técnicos. Não queremos pedir, queremos convencer.

Cadar: "tem investimentos que o governo tem que fazer, sem contar com a iniciativa privada"

 

Sabemos que estamos em um momento dos mais difíceis da história do Brasil Essa é a opinião dos representantes de todos os nossos associados. Por isso estamos buscando criar um melhor ambiente de negócios, uma vez que não podemos mais trabalhar no atual ambiente de insegurança jurídica. Temos, hoje, um desequilíbrio muito forte entre o contratante público e o contratado. As empresas contratadas têm muitos deveres e poucos direitos. São muitas multas, muitas punições que incidem sobre o contratado. É preciso que haja um equilíbrio nessa relação. O contratado não recebe seus pagamentos em dia, por exemplo, e isso não implica em nenhuma sanção para o governo, ao passo que se deixarmos de pagar em dia um fornecedor, teremos todo tipo de problema, previsto na legislação existente.

Mas as coisas têm que melhorar não somente no tocante às questões jurídicas. Sabemos que ainda há muitas licitações a serem realizadas, mas antes disso muita coisa tem que ser melhorada. E vamos lutar por isso. Temos um diálogo aberto e vamos exercer nosso papel de liderança dentro do setor. Sabemos que falta muito a ser conquistado, do ponto de vista de mercado, mas devemos isso ao nosso povo.

Nos rincões do País, os investimentos podem não trazer lucro, mas são necessários

Quando falta infraestrutura, falta tudo. Não há nada que não passe pela infraestrutura, desde a saúde pública, o saneamento básico, a segurança pública, passando pelo agronegócio, com a produção e exportação de grãos e da pecuária, que tem que passar por estradas, portos e ferrovias. Mas o que acontece hoje é que o Brasil está estagnado no que diz respeito à estrutura necessária para seu crescimento. O governo parece que não enxerga isso, sempre muito preocupado com as questões financeiras, esquecendo, por exemplo, que para a cada R$ 1 investido em saneamento, outros R$ 4 são economizados em recursos para a Saúde Pública. Podemos dizer, portanto, que o governo está errando feio. Queremos mais investimentos.

GC – O caminho para isso seria a ampliação das associações com a iniciativa privada, através de concessões ou de parcerias publico-privadas (PPPs)?

Emir Cadar Filho – As concessões são excelentes para o País. Reconhecemos que elas são necessárias e que têm que existir. O governo criou o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) justamente para estimular a participação do capital privado e fomentar as PPPs. Apoiamos isso tudo! Mas entendemos que essa não é a única saída para o nosso déficit de infraestrutura. O investidor privado busca, invariavelmente, o retorno financeiro dos seus empreendimentos. Tudo é negócio para o setor privado. Mas não podemos esquecer que a estrada, o saneamento, a ferrovia, a iluminação pública, e outras áreas da infraestrutura, em pequenas cidades, em regiões mais remotas do país, são muito necessárias para o desenvolvimento da Nação, muito embora nem sempre possam trazer retorno financeiro.

Nesses casos, tem que haver investimentos do próprio governo. Ele está aí para isso. Ele recebe os impostos dos contribuintes para isso. Existe, hoje, uma grande parcela da infraestrutura que ainda vai ter que ser bancada com recursos públicos.

GC – Recentemente, o BNDES rechaçou críticas de que os investimentos em infraestrutura estavam travados. A direção do banco afirmou que “estamos avançando” embora reconheça uma natural uma retração, típica de um ano eleitoral, quando algumas decisões são postergadas. O plano do BNDES é desembolsar entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões em novos financiamentos, em 2018.  O senhor reconhece esses avanços? Para onde estão indo esses recursos?

Emir Cadar Filho – Não tenho conhecimento desses R$ 80 bilhões de investimentos, nem sei para onde vai esse dinheiro. O que eu sei é que o BNDES tem investido muito, em um número pequeno de projetos.

Nós defendemos uma maior pulverização dos investimentos com recursos do banco, até para permitir que pequenas e médias empresas consigam atingir às exigências do BNDES para participar dos processos de concessão dos empreendimentos de infraestrutura.

Essas empresas, hoje, não conseguem preencher os requisitos para conseguir financiamento e competir pela participação em projetos de infraestrutura no País. O que nós conhecemos do histórico do BNDS é que as exigências são tão complicadas e as garantias exigidas são inatingíveis, exceto para as grandes empresas, quando se trata de captar recursos para financiar empreendimentos de infraestrutura.

Mas nós não queremos criticar o banco. Pelo contrário, queremos nos aproximar dele, atraí-lo para as discussões sobre esses projetos.

Temos o entendimento de que empresas pequenas e médias devem ter acesso ao dinheiro do BNDS, para financiamento para fazer negócios.

GC – No Brasil, as grandes empreiteiras, que tradicionalmente participavam dos programas de concessão de infraestrutura, tanto como construtoras como investidoras, hoje estão legalmente impedidas de participar de novos processos, ou não contam mais com a mesma capacidade de captação de financiamento, em consequência das investigações da Lava Jato. Quem seriam os novos investidores em potencial, para os projetos de infraestrutura que estão nas gavetas?

Emir Cadar Filho – O momento é propício para a entrada no mercado brasileiro dos fundos de investimentos e das grandes construtoras estrangeiras. Mas é importante lembrar que temos no Brasil as melhores construtoras do mundo, embora, durante todo esse processo da Lava Jato nós não tenhamos conseguido separar CPF do CNPJ. Quero dizer: não conseguimos separar o que é a gestão fraudulenta das empresas da sua excelência em Engenharia. Não conseguimos separar a parte política e financeira das empresas investigadas da sua competência técnica. E acabamos colocando no mesmo saco a capacidade técnica de engenheiros que não participavam do processo de gestão e não se envolveram em corrupção. Esses engenheiros eram executores de obras de altíssima qualidade. O Brasil não pode perder essa excelência da sua Engenharia, conquistada ao longo de tantos anos, e digna de reconhecido internacional.

As grandes construtoras internacionais podem chegar ao mercado brasileiro. Não estamos preocupados com isso. Temos competência para concorrer com essas elas em igualdade de condições ou até em condições muito mais favoráveis, tecnicamente.

A única desvantagem que as médias construtoras brasileiras têm, em relação às estrangeiras, está na questão financeira, na dificuldade de acesso ao crédito. Por conta disso, as construtoras médias brasileiras estão adotando a estratégia se agrupar, com o objetivo de conseguirem financiamento e participar dos processos das concessões em melhores condições.

GC – O BNDES anunciou recentemente uma mudança de estratégia no financiamento de projetos de infraestrutura. Em vez de financiar os projetos diretamente, o banco vai aplicar recursos em fundos de investimento. Pelo novo modelo, o BNDES deve lançar um programa para compra, no mercado financeiro, de participação em fundos de investimento em infraestrutura, com o objetivo de atrair novos investidores, apoiar a criação desse tipo de fundo e garantir mais recursos para a área. Em sua opinião, essa estratégia trará bons resultados? Qual deverá ser o perfil desses fundos de investimentos a receber investimentos do BNDES?

Para cada 1 real investido em saneamento, três reais são economizados no atendimento à Saúde Pública

Emir Cadar Filho – Nós ainda não discutimos, no âmbito da Brasinfra, essas mudanças, e, portanto, não temos uma posição firmada como entidade. E eu prefiro não dar a minha opinião individual. A princípio, creio que não dá para analisar se essa mudança vai ser positiva ou não. Precisamos ver, na prática, como é que isso vai ser feito, que avanços vai garantir. Só assim teremos uma posição mais definida.

O que nós esperamos é que haja um reconhecimento, por parte do governo, do seu papel na alavancagem da infraestrutura no Brasil. Precisamos de recursos que sejam capazes de levantar esse País para fazê-lo andar de novo. Para  transformar o Brasil inteiro num grande canteiro de obras.

Sabemos que nenhum setor gera tanto emprego e tão rapidamente quanto o setor de construção de infraestrutura. Vale a pena destacar que infraestrutura representa bem-estar imediato e melhoria da qualidade de vida de toda a população.

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