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Revista GC - Ed.28 - Julho 2012
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Entrevista

Jirau supera desafios e entra na etapa final de execução

Entrevista com José Antônio Clarete Zanotti, gerente de Engenharia e Planejamento, da Camargo Correa, no projeto da UHE de Jirau

Situada na região Norte do País, a UHE Jirau, quando ficar pronta, em meados de 2015, terá capacidade instalada de 3.750 Megawatts (MW) e Garantia Física de 2.184,6 MW médios suficiente para abastecer mais de 10 milhões de casas. A usina foi implantada na região da Ilha do Padre, no Rio Madeira, a 120 quilômetros medidos ao longo do rio Madeira, da cidade de Porto Velho, capital do estado de Roraima. O empreendimento faz parte do complexo de usinas ao longo do Rio Madeira, que corta a cidade de Porto Velho e Região, e que também abriga a usina hidrelétrica de Santo Antônio.

Nessa entrevista, o engenheiro José Antonio Clarete Zanotti fala sobre as dificuldades e desafios para tocar uma das maiores obras em execução no Brasil, sacudidas por diversas greves de operários, atos de vandalismos e destruição, além do desafio logístico de executar uma obra desse porte numa das regiões mais extremas, do ponto de vista geográfico, e carentes do País.

Revista Grandes Construções - A usina de Jirau é uma das poucas no Brasil a ser construída a fio d’água. Essa parece ser uma tendênc


Situada na região Norte do País, a UHE Jirau, quando ficar pronta, em meados de 2015, terá capacidade instalada de 3.750 Megawatts (MW) e Garantia Física de 2.184,6 MW médios suficiente para abastecer mais de 10 milhões de casas. A usina foi implantada na região da Ilha do Padre, no Rio Madeira, a 120 quilômetros medidos ao longo do rio Madeira, da cidade de Porto Velho, capital do estado de Roraima. O empreendimento faz parte do complexo de usinas ao longo do Rio Madeira, que corta a cidade de Porto Velho e Região, e que também abriga a usina hidrelétrica de Santo Antônio.

Nessa entrevista, o engenheiro José Antonio Clarete Zanotti fala sobre as dificuldades e desafios para tocar uma das maiores obras em execução no Brasil, sacudidas por diversas greves de operários, atos de vandalismos e destruição, além do desafio logístico de executar uma obra desse porte numa das regiões mais extremas, do ponto de vista geográfico, e carentes do País.

Revista Grandes Construções - A usina de Jirau é uma das poucas no Brasil a ser construída a fio d’água. Essa parece ser uma tendência a ser adotada nos novos projetos de hidrelétricas no País, em especial naqueles localizados na Amazônia. Quais as características desse tipo de usina e porque eles passaram a ser considerados como mais adequados?

José Antonio Clarete Zanotti – A usina de Jirau está localizada na região Amazônica e terá 50 grupos geradores. É uma usina a fio d’água, tecnologia que permite instalar grande quantidade de grupo geradores sem provocar inundação de uma área muito grande. Isso traz benefícios para o meio ambiente. Hoje em dia, para se licenciar um projeto dessa magnitude, tem de se demonstrar que esse potencial energético é viável, e que não impacta tanto o meio ambiente como os grandes projetos com grande quantidade de grupos geradores e um reservatório muito grande. Depois da usina toda pronta, quando a gente fechar todo o barramento e subir o nível do elevatório, a área de inundação será equivalente à área inundada durante uma grande cheia do rio Madeira. Isso fará com que o impacto ambiental seja o mínimo possível. Para a população ribeirinha, o impacto será bem menor, também. O estudo básico da usina de Jirau já determinava que fosse uma usina a fio d’água. E o projeto de viabilidade foi uma das exigências do leilão.

GC – E como se desenvolveu o projeto de implantação da usina?

Zanotti – Foram definidas 28 unidades na margem direita, e outras 22 unidades na margem esquerda. Isso foi possível graças à localização de duas ilhas existentes nesse trecho do rio. Com esse arranjo, nós estamos fazendo a obra numa grande velocidade, atacando as duas margens de forma simultânea, liberando, praticamente, grupos geradores simultaneamente. Isso quer dizer que Jirau vai gerar energia em janeiro de 2013 na margem esquerda, e logo na sequência, quatro meses depois, na margem direita também.

GC – Quais as soluções de engenharia adotadas durante a execução da obra?

Zanotti – A grande novidade em Jirau é o tipo de barragem do leito do rio, feita com núcleo asfáltico. Trata-se da segunda barragem que está sendo feita com essa metodologia construtiva. Nós tínhamos construído dessa maneira em Foz do Chapecó e estamos replicando esse modelo para cá. Mostramos para nosso cliente a vantagem de construção de um tipo de barragem com essa engenharia, em que não se interrompe o processo de construção durante as chuvas. (N.R.: A técnica é muito comum em países da Europa e nos Estados Unidos. A vantagem do asfalto em relação a outros materiais comumente usados, como a argila, é a velocidade de execução que ele propicia às obras, mesmo em períodos chuvosos, já que é menos vulnerável à umidade. Também é reconhecido pelo excelente desempenho como impermeabilizante, garantindo total segurança no bloqueio da água. Na UHE Foz do Chapecó, localizada em Santa Catarina, o núcleo asfáltico tem 55 cm de largura).

GC – Que outros benefícios esse sistema trouxe?

Zanotti – Além de agilizar os trabalhos, é possível diminuir a quantidade de material a ser aplicado na barragem porque, como o núcleo é mais esbelto, a barragem fica menor. Não precisa de um maciço da barragem de grandes dimensões, como se fosse de um núcleo argiloso com enrocamento em volta. Isso faz com que a velocidade de construção seja maior e as intempéries não impactem tanto na construção.

GC – Que outros sistemas estão sendo empregados?

Zanotti – Nas estruturas de concreto, estamos utilizando o que há de mais moderno em aplicabilidade do concreto. Utilizamos o concreto refrigerado, em função das altas temperaturas atingidas pelo concreto nas suas idades iniciais. A gente faz camadas de até

2,5 m, refrigera o agregado, e também usa gelo em substituição à água. Isso também permite que obtenhamos uma velocidade de construção maior.

GC – Um dos desafios de Jirau foi a logística, em função de sua localização. Como isso foi resolvido?

Zanotti – A logística para Jirau era bastante complicada. O único jeito de chegar aqui é através da BR 364. Nós tivemos praticamente de atravessar o país todo e trazer tudo de fora. O que era de maior tecnologia veio da região Sul. Os equipamentos vieram por sistema viário, assim como os materiais e os insumos. O aço, as formas industrializadas chegam através da rodovia e alguma coisa veio através da hidrovia. Alguns equipamentos que usamos aqui estavam em projetos nossos na região de Manaus. O nosso cliente tem trazido muita coisa também, como as 22 unidades geradoras da China. Elas atravessam todo o Atlântico, chegam a Manaus, de lá, chegam a Porto Velho. O último trecho segue por rodovia. Mas a logística é bastante complicada, por estarmos longe da capital.

GC – E com respeito à mão de obra?

Zanotti – Nós tivemos de alojar a maior quantidade de funcionários aqui dentro, pois era complicado transportar funcionários por 120 km todos os dias. Nós construímos praticamente uma cidade aqui dentro. Temos 15 mil pessoas trabalhando em Jirau e chegamos a ter 18 mil funcionários há pouco tempo atrás. Tivemos de criar alojamentos, área de lazer, toda a parte social e de lazer necessária para acomodar toda uma quantidade de pessoas num único local. Temos, ainda próximo, um polo urbano, onde foram construídas casas para acomodar o pessoal estratégico, que mora com suas famílias.

GC – Quais tipos de projetos sociais são desenvolvidos nesse empreendimento?

Zanotti – Nós temos diversos projetos sociais implantados na região, envolvendo a comunidade, em parceria com o instituto Camargo Correa. Temos o Tempo de Empreender, um dos projetos mais avançados que se trata de uma biofábrica, que trabalha estudos genéticos do abacaxi, da banana, da pupunha, a fim de melhorar a espécie. Estamos fornecendo essas mudas para as comunidades locais aqui, que estão montando as cooperativas. Há também a Escola Ideal, outro projeto socioambiental da nossa companhia junto às comunidades. Temos também um grupo de voluntariado que atua na obra. Todos os projetos que o Instituto Camargo Correa determina estão sendo implantandos.

GC – Houve problemas com funcionários na usina que resultaram em greves. Como esse problema foi revertido?

Zanotti – Quando se traz uma grande quantidade de pessoas para trabalhar num determinado local – e, hoje, no Brasil está tendo um grande movimento de construção –, as pessoas que chegam solicitam algumas melhorias nas condições de trabalho. Ou de acomodação. Não que nós não a tenhamos. Nós temos toda a infraestrutura necessária. Os alojamentos têm ar condicionado, e as refeições são as mesmas para todos os níveis hierárquicos. Mas mesmo assim as pessoas querem mais benefícios, até em função de estar longe da família. E reivindicam isso para si próprio. Nós enfrentamos algumas greves aqui. Nós nunca nos negamos a sentar à mesa de negociação até o final, dando prosseguimento ao projeto. Infelizmente, algumas pessoas praticaram atos de vandalismo. Não sabemos se em função de algum motivo, que a gente não sabe se é por disputa de sindicato, ou outros interesses.

GC – E isso impactou o cronograma do projeto?

Zanotti – Sim, e fez com que a gente repensasse diversas coisas. Por conta disso, estamos estudando outras formas de acomodar ou estruturar um projeto desse tamanho no futuro. Esses eventos fizeram com que a gente aprendesse muito em função desses momentos. A obra foi retomada em 2011. E, novamente, em 2012 tivemos outro evento desse tipo, de muito menor magnitude.  Estamos recontratando pessoas. Devemos contratar mais dois mil trabalhadores em agosto. Em termos de cronograma, a obra sofreu algum impacto. Mas nós devemos ter em janeiro próximo a primeira unidade geradora em operação.

GC – Qual o status das obras hoje?

Zanotti – Estamos com cerca de 65% do avanço físico do projeto.  Já foi feito o desvio do rio no ano passado, e o volume de água já está passando pelo vertedouro. Nós estamos concentrados nas unidades geradoras, a montagem das casas de força e os conjuntos nas duas margens. Este ano, nós concluímos todos os barramentos de enrocamento e núcleo asfáltico, para que possamos fechar o vertedouro e formar o reservatório. Como disse, em janeiro está prevista a primeira geração.

GC – Que tipo de ação ambiental foi adotada para mitigar os impactos ambientais?

Zanotti – Nós fizemos aqui diversos ensacamentos. Esse projeto não teve mortandade nenhuma de peixes, o que é muito louvável. Nós mexemos com grandes áreas ensacadas. Esgotamos essas áreas. Tiramos todas as espécies de peixes existentes e realocamos em outros locais. A região tem uma rica fauna. Fizemos essa realocação dessas espécies. Teve ainda toda a parte de arqueologia encontrada, que foi resgatada e recuperada. Hoje, está sendo montado um museu para guardar esse material. Apesar do pouco tempo de estudo e de ter sido implantado um projeto just in time, todos os requisitos de segurança estão sendo cumpridos. Os cuidados estão sendo tomados. Nós nunca fomos autuados por nenhum órgão ambiental em relação às exigências ambientais.  Isso é muito louvável para todo mundo, inclusive para os governos estaduais e federal.

GC – Em termos sociais, qual será o legado de Jirau para a cidade e região de Porto Velho?

Zanotti – Do ponto de vista ambiental, dos grandes projetos que já foram implementados no Brasil, as usinas do Rio Madeira são as que menos estão impactando o meio ambiente. Na parte social, é claro que, por estarmos próximo a algumas comunidades e a obra acabar trazendo uma grande massa de trabalhadores, isso também gera impacto durante a sua construção. Nós temos todo esse trabalho do instituto na área social, ambiental e estamos desenvolvendo cada vez mais esses trabalhos para que os impactos sejam os mínimos possíveis.

Com relação à mão de obra, houve dificuldades pelo fato do mercado estar aquecido. Eu diria que, hoje, a construção civil está passando por um momento como passou a indústria automobilística na década de 1970. Hoje a classe operária está bem mais organizada do que no passado e está reivindicando mais direitos. Isso faz parte de qualquer negócio. Sempre que sentar à mesa de negociação, negociamos as condições dentro de uma razoabilidade. O que não se pode concordar é com atos de vandalismo. Acho que ninguém quer isso. Nenhuma parte do mundo em nenhum lugar. Uma questão entre empresa e funcionário sempre vai existir.

GC – O senhor mencionou a aplicação de um tipo de forma diferenciada. Que tecnologia foi essa?

Zanotti – A gente estudou os diversos tipos de formas. Nós trabalhamos com formas trepantes, deslizantes e formas volumétricas. No caso das formas trepantes e deslizantes, já contamos com esse material em quantidade para usar aqui. No caso das formas volumétricas, num primeiro momento, a gente começou fazendo uma engenharia com forma metálica própria e não ficou muito adequado. Então, buscamos um parceiro, a Ulma, que desenvolveu um projeto um pouco mais leve de se trabalhar e que permite uma velocidade muito melhor no desenvolvimento dos nossos trabalhos. São formas pré-fabricadas, em que o fornecedor faz a aplicabilidade do seu sistema dentro da nossa necessidade. Ele está sendo empregado no tubo de sucção e no envoltório da máquina, no começo do 2ª estágio.

 

 

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