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Revista GC - Ed.26 - Maio 2012
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Editorial

Há um abismo entre crescimento econômico e desenvolvimento social

Os veículos de comunicação de todo o País publicaram em março, com indisfarçável ufanismo, que o Brasil já ocupa a sexta posição entre as maiores economias do mundo, ultrapassando o Reino Unido.

Segundo análise do banco alemão WestLB, o Produto Interno Bruto brasileiro, em 2011, ficou em US$ 2,48 trilhões, superando o PIB do Reino Unido, de US$ 2,26 trilhões, no mesmo período.

É uma boa notícia, ninguém duvida, mas que deve ser interpretada sem euforia, temperada com uma boa dose de realidade. De fato, nos últimos anos, o Brasil alcançou um bom desempenho macroeconômico e a estabilidade nos padrões de produção e consumo. Mas poucos avanços foram materializados no que diz respeito às melhorias da qualidade de vida da população mais pobre. Isso prova que, no nosso País, há um profundo abismo separando o crescimento econômico do desenvolvimento social.

É o que indicam, por exemplo, as pesquisas realizadas em 2011 pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Elas revelam que o Brasil se situa na 84ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, muito distante da 28ª posição ocupada pelo Reino Unido, que acabamos de superar em desempenho econômico. Somente tomando como referência a América Latina, isso significa que estamos atrás de países como a Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica, Cuba e México.

A mesma conclusão está documentada no diagnóstico Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2010 (IDS 2010), publicado em 2011 pelo IBGE. No que diz respeito às questões sociais, o estudo revela um País marcado por profundas contradições e grandes passivos a serem sanados, tanto em relação as suas desigualdades sociais,


Segundo análise do banco alemão WestLB, o Produto Interno Bruto brasileiro, em 2011, ficou em US$ 2,48 trilhões, superando o PIB do Reino Unido, de US$ 2,26 trilhões, no mesmo período.

É uma boa notícia, ninguém duvida, mas que deve ser interpretada sem euforia, temperada com uma boa dose de realidade. De fato, nos últimos anos, o Brasil alcançou um bom desempenho macroeconômico e a estabilidade nos padrões de produção e consumo. Mas poucos avanços foram materializados no que diz respeito às melhorias da qualidade de vida da população mais pobre. Isso prova que, no nosso País, há um profundo abismo separando o crescimento econômico do desenvolvimento social.

É o que indicam, por exemplo, as pesquisas realizadas em 2011 pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Elas revelam que o Brasil se situa na 84ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, muito distante da 28ª posição ocupada pelo Reino Unido, que acabamos de superar em desempenho econômico. Somente tomando como referência a América Latina, isso significa que estamos atrás de países como a Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica, Cuba e México.

A mesma conclusão está documentada no diagnóstico Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2010 (IDS 2010), publicado em 2011 pelo IBGE. No que diz respeito às questões sociais, o estudo revela um País marcado por profundas contradições e grandes passivos a serem sanados, tanto em relação as suas desigualdades sociais, geradas por um modelo de distribuição de renda concentrador, quanto no que tange aos problemas de infraestrutura, como acesso ao saneamento básico, saúde e moradia.

Os 19 indicadores da dimensão social, considerados pelo BNDES, correspondem aos objetivos ligados à satisfação das necessidades humanas, melhoria da qualidade de vida e justiça social. Eles abrangem os temas como trabalho e renda; saúde; educação; habitação e segurança. Os dados compilados pelo IDS, relativos às questões de saneamento básico – um indicador incontestável dos padrões de qualidade de vida de um povo – são especialmente reveladores da fragilidade das políticas públicas sociais do Brasil. Na última pesquisa realizada, a taxa média nacional de internações por doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado foi de 308,8 internações por 100 mil habitantes no País. Apesar da redução, em relação aos anos anteriores, a taxa ainda é muito elevada para os padrões dos países desenvolvidos, revelando a permanência das desigualdades regionais: enquanto na Região Norte 654 pessoas para cada 100 mil habitantes foram internadas, vítima de doenças causadas por falta de saneamento básico adequado, no Sudeste a relação foi de 126 por 100 mil habitantes.

Outro número alarmante: 43% dos domicílios brasileiros são inadequados para moradia, segundo o IDS. Foram constatados, simultaneamente, deficiências no sistema de abastecimento de água por rede geral e no esgotamento sanitário por rede coletora ou fossa séptica, na coleta de lixo direta ou indireta. Isso significa que cerca de 25 milhões de domicílios ainda não atendiam às condições mínimas necessárias para uma vida digna dos seus moradores.

As análises, sob esses aspectos, parecem sinalizar que o Brasil ainda não definiu que rumo seguir para alcançar um desenvolvimento social sustentável. O paradoxo brasileiro permanece: o País é rico, mas seu povo é pobre. Ainda existe enorme contingente de brasileiros que vivem à margem dos benefícios desse crescimento econômico, em condições precárias, carentes dos serviços públicos mais essenciais.

Enquanto esse passivo não for liquidado, não temos motivos para comemorar a nossa entrada no seleto grupo das nações desenvolvidas. Temos que trabalhar muito para mudar esse cenário, cobrar e fiscalizar nossos governantes na aplicação dos recursos públicos em projetos de saneamento e moradia digna para a população. Acreditamos que a nossa perspectiva é, de fato, o crescimento. É estar entre os melhores do mundo. Mas, para isso, é preciso que haja políticas públicas de longo prazo, que façam o País avançar e mudar a posição desconfortável em que hoje se encontra no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU.

 

 

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