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Revista GC - Ed.44 - Dezembro 2013
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Entrevista

A força do número 3

Entrevista com Márcio Magalhães, Membro do Comitê Executivo do Grupo Andrade Gutierrez

Os segredos do sucesso da Andrade Gutierrez, pela voz de Márcio Magalhães, que acompanhou a saga dos fundadores e a trajetória ascendente da construtora.

Paixão, Excelência e Desempenho Econômico formam a tríade de valores definidos pelos três amigos Gabriel Andrade, Roberto Andrade e Flávio Gutierrez, que se uniram há 65 anos para criar o que mais tarde seria uma das maiores empresas do País, a construtora Andrade Gutierrez.

Manter essa unidade e ao mesmo tempo crescer é o desafio buscado todos os dias, pelas três gerações das famílias dos fundadores, que dividem em partes iguais o capital social da companhia e a responsabilidade de mantê-la no topo. Cada família tem uma empresa ligada ao grupo. As empresas São Miguel e São Estevão são dos Andrade. E a Sant’Ana, santa de devoção de Ângela, uma das acionistas, representa a família Gutierrez.

Afora a mística, o milagre da multiplicação da empresa tem como base uma gestão fincada numa estrutura profissionalizada. A empresa é administrada por um Conselho de Administração, composto de nove conselheiros (três representantes


Os segredos do sucesso da Andrade Gutierrez, pela voz de Márcio Magalhães, que acompanhou a saga dos fundadores e a trajetória ascendente da construtora.

Paixão, Excelência e Desempenho Econômico formam a tríade de valores definidos pelos três amigos Gabriel Andrade, Roberto Andrade e Flávio Gutierrez, que se uniram há 65 anos para criar o que mais tarde seria uma das maiores empresas do País, a construtora Andrade Gutierrez.

Manter essa unidade e ao mesmo tempo crescer é o desafio buscado todos os dias, pelas três gerações das famílias dos fundadores, que dividem em partes iguais o capital social da companhia e a responsabilidade de mantê-la no topo. Cada família tem uma empresa ligada ao grupo. As empresas São Miguel e São Estevão são dos Andrade. E a Sant’Ana, santa de devoção de Ângela, uma das acionistas, representa a família Gutierrez.

Afora a mística, o milagre da multiplicação da empresa tem como base uma gestão fincada numa estrutura profissionalizada. A empresa é administrada por um Conselho de Administração, composto de nove conselheiros (três representantes de cada empresa sócia), sendo apoiado pelo Comitê Executivo, formado pela terceira geração dos acionistas. Logo em seguida está o board de executivos que faz a gestão do dia a dia do grupo (todos profissionais de mercado). Esse board acompanha e orienta a aplicação das decisões do Conselho e do Comitê Executivo no cotidiano das empresas, sendo responsável por levar informações e relatar os resultados para os acionistas. Se for necessário, a instância máxima da empresa é chamada a se manifestar.

Por sua disponibilidade mais permanente e contato frequente com os executivos do grupo, os integrantes do Comitê Executivo (que hoje também conta com dois profissionais de mercado) representam um canal de comunicação entre a empresa e o Conselho de Administração. Márcio Magalhães, executivo lapidado desde muito jovem pelas mãos de Flávio Gutierrez (um dos três fundadores), é um dos integrantes do Comitê. Ele assistiu à incrível ascensão do grupo ao longo de 40 anos que, logicamente, também teve os seus revezes.

Numa entrevista de duas horas, ele contou um pouco dessa trajetória, mesclando passagens sobre a empresa às de sua própria vida, num linguajar simples e direto e, principalmente, cheio de paixão. Vale a pena atentar para os conselhos de Magalhães, que ainda chama de “doutor” cada um dos fundadores Gabriel Andrade, Roberto Andrade e Flávio Gutierrez e que não consegue disfarçar a admiração, o orgulho e a emoção ao contar parte da história do Grupo AG, sob o seu ponto de vista.

Revista Grandes Construções – Desde quando o senhor trabalha na construtora?

Márcio Magalhães – Eu entrei na empresa com uns 14 ou 15 anos. São cerca de 40 anos de construtora. Isso para nós é uma cachaça, uma paixão. Tem um funcionário que fez até um museu em sua casa, com peças da construtora, como xícara, crachá e muitas outras coisas. São mais de 580 peças. Depois que ele saiu da empresa, eu até achei que ele fosse morrer. Trata-se de um apaixonado por isso aqui. É algo muito forte. Fazer parte desse grupo é, de fato, fazer parte de uma grande família.

GC – Quando a empresa surgiu, o Brasil era um país bem diferente do que é hoje. Não é mesmo?

Márcio Magalhães – A empresa nasceu a partir do encontro de dois amigos, que se conheceram na faculdade, o Gabriel Andrade e o Flávio Gutierrez. O Roberto Andrade, irmão de Gabriel, entrou logo depois. Foi chamado por ser uns 10 anos mais velho que o irmão e por ter, consequentemente, mais experiência. Hoje, o “doutor” Gabriel tem 87 anos. O “doutor” Roberto teria uns 97 anos. Já o “doutor” Flávio morreu muito novo, com apenas 57 anos. Eu fui muito próximo dele. Nossas famílias eram vizinhas de muro. Eu e o Roberto Gutierrez, seu filho, fomos criados praticamente juntos. O primeiro escritório da empresa foi na garagem do pai dele. O “doutor” Flávio era um ser humano raro. Acredito que a cada milhão de pessoas, nasça apenas um como ele. Ou a cada 100 milhões. Ele tinha a garra de fazer as coisas. Wandick de Lima, o funcionário número um da empresa, que teve a primeira carteira assinada pela Andrade Gutierrez, começou a trabalhar aqui ainda menino. Ele, praticamente, trabalhava raspando caçamba de caminhão. Era analfabeto, mas chegou a superintendente de terraplanagem da AG. Foi o braço direito de Flávio Gutierrez. Os dois se gostavam muito.

GC – Esse tipo de perfil empresarial ainda encontra lugar no mundo de hoje?

Márcio Magalhães – O Brasil passou por uma grande transformação e ainda temos muito que mudar.  Mas a escolha é por um tipo de comportamento. O próprio Wandick chegou lá, descalço, 65 anos atrás. Mas foi sempre de uma dedicação e de um respeito enormes. Hoje, o grande desafio nosso é exatamente esse: saber como tratar de gente. Tem que saber tratar as pessoas, ficar amigo. Foi esse sentimento que criou um bom ambiente dentro da empresa. A gente, hoje, faz de tudo para trazer isso até os dias atuais.

GC – Ao visitar um empreendimento como as usinas de Santo Antonio e Jirau, ou uma arena, ou do teleférico, é possível imaginar a dificuldade que é coordenar o trabalho de mil ou cinco mil trabalhadores, alocados em um só lugar. Como seria, então, algo como Belo Monte, em que estão previstos 30 mil trabalhadores?

Márcio Magalhães – Executar determinadas obras chega a ser um esforço sobre-humano. Porque não se trata só de equipamentos, tecnologia, salário de funcionários. É todo um modelo de convívio que precisa ser criado e dentro da realidade do nosso País. É uma operação envolvendo operários, muitas vezes, sem instrução ou qualificação, e muitos outros problemas.
A Andrade Gutierrez, sem dúvida, faz parte da história do Brasil, porque esteve presente em muitas de suas principais obras. E isso é que é interessante, em especial quando o “doutor” Gabriel fala, numa entrevista recente, do amor pelas pessoas. É o amor que faz, não tem outra maneira. Por exemplo, o “doutor” Flávio presenteava cada filha de funcionária que casava com o vestido de noiva. Na época, era a coisa mais importante para essas moças. Mas ele não só comprava o vestido como também ia lá, pessoalmente, participar do casamento.

GC – A empresa tem uma história com fatos bem marcantes, não é?

Márcio Magalhães – Sem dúvida. O primeiro trator da nossa empresa, conhecido como Soberano, que está lá na sede até hoje, é um exemplo da trajetória da AG. Quando fomos fazer a BR-3, a rodovia Belo Horizonte-Rio, ele sofreu um acidente e ficou totalmente soterrado. Era a única máquina da empresa, na época. Coincidentemente, o “doutor” Flávio estava chegando justamente na hora do acidente com o Soberano. Ele pulou para cima da máquina e começou a tirar a terra com as mãos. Aí, ao ver esse exemplo, os operários fizeram o mesmo e começaram a tirar a terra que estava sobre a máquina. Em quatro ou cinco horas, o Soberano já tinha sido resgatado. Exemplos, como este, são muito fortes.

GC – E esses exemplos continuam tendo significado ainda hoje?

Márcio Magalhães – Mesmo hoje. Aliás, é esse o nosso grande desafio. Sabe quantas pessoas nós formamos em Belo Monte até agora? Cerca de 6.500 pessoas. Muitas delas nem sabiam escrever. Tornaram-se operadores de máquinas, carpinteiros e muito mais. Em Santo Antônio, nós formamos mais de 20 mil pessoas. Sempre vai ter a “pessoa” dentro do nosso negócio. Naquela época, fazíamos isso sem pensar muito, porque precisávamos de gente. E hoje esta necessidade é ainda maior. A nossa visão sempre foi a de valorizar o nosso time, a nossa família AG.

GC – Até hoje a questão da mão de obra ainda está para ser resolvida.

Márcio Magalhães – Quando o “doutor” Flávio, o “doutor” Gabriel e “doutor” Roberto começaram esse negócio, eles faziam isso (esse relacionamento) na prática. Era algo natural. Não era algo estudado para ser assim. Esse sentimento permaneceu na empresa por causa daquele tipo de experiência que a gente viveu junto no campo, no canteiro. É uma experiência muito forte, porque é um momento de muito sacrifício. E isso vai passando e ficando nos poros. Cada pessoa precisa entender isso, para estar dentro do contexto de uma obra, de um projeto e poder ajudar. É preciso conhecer o que a outra pessoa está tentando dizer. Hoje, as coisas estão mudando. As pessoas querem falar. Pedem a palavra, dão sua opinião. Por quê? Senão, ela nem fica naquela empresa, naquele trabalho. E a questão não é a de ser jovem ou velho. Se formos olhar a cultura do Japão, por exemplo, os orientais não ficam velhos, ficam sábios. A pessoa mais velha da família é a mais respeitada. Todos querem saber sua opinião, antes de tomar uma decisão. Não é porque seja mais inteligente, não. É porque ela viveu mais, sofreu mais. Essa visão é muito forte no Grupo AG.

GC – São boas lembranças que refletem um ambiente familiar.

Márcio Magalhães – O “doutor” Flávio chegava ao campo e dizia para o supervisor: “como é que se chama aquele operador que está no moto scraper”. Se o supervisor não soubesse, ele dizia qualquer nome, “Antônio”, por exemplo. Então o “doutor” Flávio ia sozinho até a pista e perguntava para o mesmo operador, que respondia “Raimundo”. Então, ele voltava para o supervisor e dizia: “Raimundo fala para ele o seu nome, o nome da sua mulher, quantos filhos você tem”. Depois disso, o supervisor nunca deixaria de saber o nome do operador. Eu aprendi isso também. Mas como a empresa foi crescendo muito e não dava mais para guardar nome de todo mundo, eu cheguei ao cúmulo de anotar esses nomes num caderninho, e depois adicionava no laptop. O “doutor” Flávio chegava ao ponto de dizer: oi José, como vai? E a dona Maria? O joelho dela melhorou? As pessoas ficavam assim espantadas, e pensavam: “nossa, esse camarada é realmente diferente”. Este é um grande aprendizado.

GC – Como pode ser isso numa companhia global, como AG, presente em tantos países e obras?

Márcio Magalhães – Claro, eu acho que as coisas vão mudando. Afinal, o grupo tem 250 mil funcionários. É mais difícil conseguir essa proximidade. Mas hoje também temos a tecnologia. É aquela história do Pequeno Príncipe: “tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que tu cativas”. A ausência não é medida pela distância. Você pode estar ausente e estar muito presente, pois contamos com telefone, internet, etc. Tudo o que não tínhamos no passado. Então esse é um dos segredos para o sucesso da empresa hoje.

Eu respeito muito o empresário. Principalmente, em países que ainda estão se desenvolvendo, como no Brasil. Ser um empreendedor é um destino. É ser diferente de um empregado. Ele tem aquela força pessoal. As empresas vão crescendo, vêm as novas gerações, etc. No caso do funcionário, a coisa é diferente. O bom funcionário, para ter sucesso, tem que ir disposto a ser demitido todo dia. Isso não quer dizer que ele deva ser insubordinado, não. É que ele deve dar para a empresa o que de melhor tem. Que é, justamente, falar. É assim que as pessoas crescem. Por que você vai ficar guardando algo com o que não concorda? Você tem o direito de não concordar. Isso não precisa ser feito de maneira mal educada, sem respeito à hierarquia. O que importa é a sua atitude diante daquele fato.

GC – O que muda com a entrada da geração internet nas empresas?

Márcio Magalhães – Os jovens trazem uma nova visão de mundo, uma postura totalmente diferente de enxergar e de enfrentar os problemas, e com conhecimento. Eu acho essa nova geração fantástica. Nós estamos com um programa intenso de atração de novos talentos, um programa de trainee, que é um sucesso extraordinário. Criamos um sistema em que a gente (a alta gestão) divide a orientação desses trainees. Cada um de nós é o tutor de um deles. É uma coisa muito boa.

GC – São engenheiros? O que se busca nesses profissionais?

Márcio Magalhães – São de todas as carreiras e origens. Tem gente da Bélgica, da Alemanha, dos Estados Unidos, da África. O que se busca é gente com conhecimento de mundo. Uma empresa para ser global precisa ter pessoas globais. Todos nós temos que repensar os nossos procedimentos. Eu por exemplo, errei muito com os meus filhos, mas deu tempo de consertar. Antigamente, a gente criava o filho com rigidez, porque não tinha outro jeito. As crianças nascem com vontade, mas a gente vai falando não, não. E aí quando vem o problema, a gente se pergunta: o que é que aconteceu? É que a gente não deu autoconfiança a eles. A autoconfiança é a coisa mais importante que um pai pode deixar de herança para o filho. O jovem tem que se achar capaz de tudo. E é importante que a gente observe isso. É um dos motivos para que uma empresa, nascida nas montanhas de Minas Gerais, possa ter chegado onde ela está hoje.

GC – Mas as grandes obras do Brasil não estão em São Paulo ou Rio de Janeiro. Estão lá na Amazônia, em lugares isolados.

Márcio Magalhães – O maior desafio na Amazônia foi feito por nós. A Andrade Gutierrez fez a Rodovia Manaus-Porto Velho, uma estrada de 800 km, 30 anos atrás, no meio do alagado da Amazônia. Tinha que fazer aterro, passar a terra por um forno para secar. Tinha uma função que era um cara que ficava em cima de uma árvore para alertar sobre a chegada da chuva. Lá embaixo, a gente corria e colocava um plástico sobre a estrada para conseguir secar. Tinha de tudo, mosquito, cobra, jacaré... A Transamazônica foi um desafio tão grande, por causa do eixo onde foi construído, que era algo impressionante. Agora, imagine isso hoje.

Depois fomos fazer o gasoduto Manaus-Coari. Pegamos um trecho de 200 km praticamente dentro d´água. Foi um negócio de louco. A empresa não quebrou ali porque é uma empresa muito sólida. Houve um erro do próprio projeto. Esqueceram de que naquela época os Andes estavam degelando. Para se ter uma ideia, onde estava escrito que era seco, estava com 17 m de água.

GC - A empresa já atuou em vários países com sérios problemas políticos. Como foi isso?

Márcio Magalhães – Já fizemos obras em Moçambique e na Líbia. Quando estourou a guerra na Líbia, tinha gente nossa lá. Para ter essa logística, é preciso dededicação e respeito. Se você chegar à África, dependendo do lugar, cumprimentar alguém da maneira como se faz aqui, o “cara” te mata. Quando nós fomos para Manaus, também foi uma luta. Os costumes são outros. Por isso a gente tem muito respeito quando vai para outro lugar. Na Amazônia, falávamos a mesma língua. No Vietnam, onde se almoça uma “baratinha” seca, você vai lá e tem até que experimentar.

GC – Quais são as obras principais brasileiras nas quais a Andrade participou?

Márcio Magalhães – Nós sempre participamos das grandes obras. Por exemplo, Itaipu, Manaus-Porto Velho, usina nuclear de Angra dos Reis, um número muito grande de estradas, como a Rio-Santos, que desce para o Guarujá. Sempre foi assim. Antigamente, havia uma espécie de reserva de mercado. Hoje não, hoje tem um atestado que comprova a sua experiência para fazer aquilo. Foi assim na hidrelétrica de Itaipu. A gente entrou para o segmento de hidrelétricas depois de fazer uma pequena barragem, para a Petrobrás, em Betim. Então a gente estava no lugar certo e na hora certa.

GC – A construtora cresceu junto com o País.

Márcio Magalhães – Só que nós não ficamos parados esperando o crescimento do nosso País. Essa é uma diferença própria das grandes empresas. Nós assumimos desafios, fomos buscar as oportunidades em outros mercados. Por isso hoje a empresa é mundial. E tem empresas mundiais que também vêm para o Brasil. É muito difícil uma empresa vir sozinha para cá. Ela tem de procurar alguém aqui dentro para contar com sua experiência. A gente também faz isso em outros países, para não corrermos todos os riscos sozinhos.

GC – E hoje o Brasil está mais para o risco ou para a oportunidade?

Márcio Magalhães – Eu acho que o Brasil está mais para a oportunidade. Mas não tem oportunidade sem risco. O que há são oportunidades com mais risco, ou com menos risco. Isso vai depender da sua participação, do seu conhecimento. Eu costumo dizer que todo negócio é bom e é ruim. O que faz a diferença é o tanto que se entende do seu negócio. É preciso ter uma equipe preparada para que se consiga enxergar o problema e que se consiga consertá-lo a tempo. O problema é algo que você não está entendendo. Na hora em que se achar a solução, aquilo deixa de ser problema.

GC – Mas para uma construtora, quais são os principais focos que podem dar problema?

Márcio Magalhães – São vários. Para poder fazer uma obra, você recebe um projeto. Primeiro tem de verificar se o projeto é adequado e qual a sua responsabilidade na hora de construir. Se o projeto estiver errado, tem de recalcular. Então tem de ter gente competente. Tem de ter caixa. Se você não tiver um caixa, você quebra. Pode ter patrimônio, mas se você não tem como pagar, e atrasar o pagamento, você quebra. Este é um negócio muito amplo, são várias as possibilidades. Por exemplo, se fizer um preço errado, se perder dinheiro sistematicamente. É um contexto enorme. As possibilidades de se perder dinheiro são muito maiores do que as de ganhar.

GC – Olhando hoje, quais são as obras e as oportunidades que se pode vislumbrar no Brasil?

Márcio Magalhães – Temos muito que fazer no Nordeste. Por exemplo, rodovias. O que está funcionando no Brasil são as estradas concessionadas. Então esta é uma oportunidade. Elas têm de ser concessionadas um dia. É que a maneira de se concessionar uma estrada de pouco tráfego tem de ser diferente da que tem muito tráfego. Fazer a concessão de uma Rodovia Dutra é fácil. A equação fecha. Aí tem um cara que fala aqui o pedágio vai ser R$ 5,20. O mercado diz: não quero. Olha que nós temos a maior empresa de concessão do Brasil, a CCR. Tem de entender profundamente do seu negócio.

GC – São muitas as oportunidades para uma empresa diversificada?

Márcio Magalhães – Tem a oportunidade agora do pré-sal, que é sem dúvida um grande desafio. Estamos falando de 7 mil metros de profundidade, abaixo do nível do mar. É um negócio complicado. Mas a Petrobras é uma empresa de porte. Vai dar certo, pois precisa de condições para poder fazer. Tudo dá para fazer, mas tem de ter muita parcimônia, muita informação. Hoje a Andrade Gutierrez é um grupo enormemente diversificado. Quando um setor está ruim, tem outro para ajudar. Quando se tem um negócio só, a chance de quebrar é maior. Nós estamos com empresa de concessões, a terceira maior do mundo, com capacidade espetacular. Hoje nós estamos atuando na gestão hospitalar, através de uma empresa chamada Logimed, que é focada em hospitais, pois percebemos a necessidade que eles têm no que toca à parte relacionada a compras, negociação, logística. Também estamos na área de call center, com uma das maiores empresas do Brasil. Tudo isso nasceu do aprendizado da construtora.

GC – Então esses negócios são filhotes concebidos dentro da construtora?

Márcio Magalhães – Uma empresa que tem estrutura, que tem equipe, pode alçar outros voos. É por isso que contratamos trainees de qualquer profissão. A nossa necessidade não é por engenheiro, é por um bom profissional que possa ser preparado. No meu caso, por exemplo, eu tenho trinta e poucos anos de formação em engenharia. Desse tempo, talvez eu tenha exercido a função de engenheiro apenas uns cinco anos. Depois você passa a ser um administrador, um solucionador de problemas. É isso que importa.

GC - Então essa falta de engenheiros da qual se fala, não é bem assim?

Márcio Magalhaes – Estão faltando em casos específicos. A construtora tem processo de recrutamento para todas as fases de construção. Nós temos um processo de desenvolvimento muito forte. Aqui ninguém faz as coisas sem pensar. São diversos processos de gestão e todo mundo fica sabendo o que é para ser feito. Nosso negócio depende das pessoas, do ser humano. Nós temos hoje uma preocupação muito grande, que é a de fazer gente, formar pessoas.

Nosso programa de trainee foi limitado para a 25 profissionais no ano. Não queremos aumentar de jeito nenhum, porque nós vamos perder em qualidade. O comando da empresa se envolve diretamente com o treinamento dessas pessoas por cerca de um ano. Eles conhecem todas as áreas da companhia e também vão conhecer as obras. Não só no Brasil, mas em outros países também. A empresa tem essa disponibilidade para investir em profissionais. Recebemos 98 mil acessos pelo site. Desses, 37 mil se inscreveram e escolhemos apenas 25. Não quer dizer que a gente não erre. Mas a dedicação é muito grande. Tudo aqui tem um sistema, um processo.  Cada empresa tem sua tecnologia, mas o importante é o seu sistema de acompanhamento.

GC – Há uma crítica de que o setor ainda é muito atrasado.

Márcio Magalhães – Eu não acho que o setor seja atrasado. Eu acho que tem um baixo nível de cultura. Eu já tive servente, armador, carpinteiro que se formaram em engenharia, porque tiveram oportunidade. Você não precisa ter medo do crescimento da pessoa. A gente tem de ir formando gente. Porque isso é uma cadeia, é uma consequência natural. Com tudo o que eu já passei, eu faria tudo outra vez, não trocava nada. Nem o fato de abrir mão de algumas coisas. Esse é o comportamento que aprendi com o Flávio Gutierrez.

Eu lembro mais dele do que do meu pai. É uma relação muito forte. Eu seria capaz até de morrer por ele. Tem um episódio que mostra bem como ele era: quando o meu sogro morreu, eu estava no interior da Bahia tomando conta de quatro obras. Levaram umas oito horas para me encontrarem e para eu chegar ao Aeroporto de Petrolina, em Pernambuco. Porque naquela época não tinha rádio, nada disso. Na hora que eu cheguei ao avião, estava lá o “doutor” Roberto, filho do Flávio Gutierrez, o dono da empresa. Ele não precisava ter mandado um avião me buscar e o seu filho não precisava estar lá. Eu fiquei até meio constrangido. Mas ele me respondeu: “o que é isso rapaz, é nessa hora é que a gente tem de estar junto”. A empresa é muito diferente nas atitudes. Por isso eu faria tudo outra vez. E isso passou de geração para geração.

GC – Esse é um fator determinante para que a empresa seja o que é hoje?

Márcio Magalhães – São 65 anos de uma trajetória. Tem uma cultura por trás disso, que está lá definida nos 12 princípios da empresa. Se a pessoa adotar isso, sempre que for tomar decisão, vai acertar. Veja a estrutura que foi montada em obras como a das usinas de Santo Antônio e de Belo Monte. Esta última é uma obra fabulosa. São cerca de 30 mil homens confinados no meio no nada. São 28 bois abatidos para 70 mil refeições por dia. Tudo tem que ser muito planejado. Logisticamente, é um negócio monstruoso. Nós fazemos nosso papel, o governo sabe disso. O País está crescendo e precisa se desenvolver. Mas pode contar com a gente.

GC – O País tem condições de atender a esse volume de obras previstas?

Márcio Magalhães – A nossa engenharia é top. Nós fazemos tudo. Pode ter diferenças de metodologias, algumas coisas mais adiantadas em determinados lugares. Só isso.

GC – Quais os projetos de destaque da empresa hoje?

Márcio Magalhães – Nós estamos fazendo uma usina nuclear, Angra 3. A gente acabou de assinar um contrato com a Vale, o projeto S11D, em Carajás, que vai dobrar a capacidade de minério do Brasil. Foi uma concorrência internacional e nós ganhamos. É o maior contrato do mundo com um cliente privado. Estamos em diversos lugares do globo. E o mais importante, somos uma empresa genuinamente brasileira.

GC – É possível solucionar a deficiência da infraestrutura brasileira.

Márcio Magalhães – A solução se cria de acordo com a necessidade. As companhias brasileiras estão num ponto muito bom. O negócio do pré-sal, é grandioso. Mas é um negócio difícil, porque exige muita tecnologia. A Petrobras cresceu muito, depois de Getúlio Vargas, e tem uma tecnologia de águas profundas que é fantástica. Então como é que a gente não consegue fazer uma estrada até Amazônia? Hoje a Amazônia tem conexão por terra com os países vizinhos e não tem com o resto do Brasil. Como pode isso?  Isso tem que ser pensado.
AG em Carajás, da Vale: contratações passam de R$ 2 bi.

A divisão AG Private, da Andrade Gutierrez, e a Vale assinaram, em setembro, o terceiro contrato de prestação de serviços para as obras do Projeto S11D, em Carajás, no Pará. Essa é considerada a maior do mundo, no setor. Com o novo contrato de R$ 835 milhões, já chega a R$ 2,3 bilhões o montante de serviços contratados pela mineradora com construtora. Os três contratos envolvem a construção de dois ramais ferroviários de 50 km e uma usina de beneficiamento capaz de processar 90 milhões t/ano de minério de ferro. O prazo de entrega é 2018.

 

 

 

 

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