Infraestrutura
Agência Brasil
15/12/2009 17h56
SÃO PAULO - As enchentes na cidade de São Paulo, ocorridas nos meses de maior quantidade de chuvas, são resultado de um modelo antiquado de drenagem das águas, de urbanização e de ocupação inadequadas das várzeas dos rios. A opinião é de dois especialistas ouvidos pela Agência Brasil.
Segundo o arquiteto e professor da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Pellegrino, a cidade está insistindo na utilização de um modelo de concentração e transferência de águas muito concentrador e acelerador, o que impossibilita a infiltração no solo. "Você cria uma situação de concentrar o fluxo das águas das chuvas e quer conduzir toda essa água por superfícies impermeáveis até um ponto final. Quando chega lá embaixo, é um dilúvio. Esse é o
SÃO PAULO - As enchentes na cidade de São Paulo, ocorridas nos meses de maior quantidade de chuvas, são resultado de um modelo antiquado de drenagem das águas, de urbanização e de ocupação inadequadas das várzeas dos rios. A opinião é de dois especialistas ouvidos pela Agência Brasil.
Segundo o arquiteto e professor da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Pellegrino, a cidade está insistindo na utilização de um modelo de concentração e transferência de águas muito concentrador e acelerador, o que impossibilita a infiltração no solo. "Você cria uma situação de concentrar o fluxo das águas das chuvas e quer conduzir toda essa água por superfícies impermeáveis até um ponto final. Quando chega lá embaixo, é um dilúvio. Esse é o modelo antigo, que você tinha no século passado", afirmou.
De acordo com Pelllegrino, outras cidades do mundo já estão agindo no sentido de trazer os córregos para o seu leito original e refazer as áreas naturais ou verdes a fim de facilitar o escoamento e a absorção da água pelo solo.
- Juntamente com o propósito de você ir reduzindo a quantidade de água que corre rapidamente para o fundo do vale - analisou.
O arquiteto e urbanista do Instituto Polis, Kazuo Nakano, explica que o problema está centrado no modelo de urbanização e ocupação inadequados das várzeas dos rios.
- O Tietê, o Pinheiros e o Tamanduatei eram rios de meandro [com curvas acentuadas]. A gente pegou um rio que era todo curvilíneo, canalizou em uma linha reta. Transformou um rio de meandro em um canal, e urbanizou as margens desse rio - disse.
Com o modelo aplicado, as águas das chuvas passam a escoar pelos rios com maior velocidade, o que não possibilita a absorção pelo solo.
- bA gente acelerou a velocidade dessas águas. Quando chove, a água escorre muito rápido por esses canais e, como está tudo impermeabilizado, a terra não absorve. E aí inunda - afirmou.
A solução apontada pelo urbanista é corrigir gradativamente a ocupação das proximidades dos rios e liberar espaço para o solo absorver as águas.
- A gente vai ter que ir reformulando o jeito de ocupar as margens desses rios e córregos, lugar por lugar, onde der para implantar um parque linear, onde der para a gente liberar o solo para fazer ele respirar, para fazer ele entrar no círculo das águas das chuvas. Essa vai ser a nossa única solução no longo prazo.
De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências de SP (CGE)choveu 75,8 milímetros (mm) em média na cidade na terça-feira, o equivalente a 37,7% da média prevista para dezembro, que é de 201,0mm. Decorridos apenas oito dias do início do mês, São Paulo já registrava um acumulado médio de 143,1mm, que reflete em 71,2% da média para o mês.
Desde a fundação do CGE, em 1999, o maior volume de chuvas foi registrado em 24 de maio de 2005, com 76,2mm. O índice desta terça-feira (8) passa a ser o segundo maior nos últimos 10 anos.
O governador do estado, José Serra, reafirmou nesta quarta que houve falhas no sistema de drenagem da Usina de Traição, que regula a vazão das águas do Rio Pinheiros.
- O equipamento não funcionou quando foi acionado. Mas mesmo que tivesse, sem dúvida haveria enchentes por causa do grande volume das chuvas.
16 de abril 2020
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