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Copa de 2014: laboratório da sustentabilidade

10/02/2010 11h49 | Atualizada em 10/02/2010 13h51


A indústria do aço e da construção civil, assim como empresas especializadas em energias alternativas devem aumentar sua produção com a chegada da Copa do Mundo no Brasil, ressaltando a importância da sustentabilidade na realização dos estádios de futebol. O torneio é uma oportunidade promissora para o país do ponto de vista socioeconômico, com a produção de materiais para a construção de estádios ambientalmente corretos, em que o uso do aço irá contribuir de maneira eficiente, por se tratar de um material totalmente reciclável, maleável e leve.

Um evento do porte da Copa do Mundo exigirá desenvolvimento principalmente dos setores siderúrgico e da construção civil brasileiros para seguir as recomendações da Fifa na elaboração das

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A indústria do aço e da construção civil, assim como empresas especializadas em energias alternativas devem aumentar sua produção com a chegada da Copa do Mundo no Brasil, ressaltando a importância da sustentabilidade na realização dos estádios de futebol. O torneio é uma oportunidade promissora para o país do ponto de vista socioeconômico, com a produção de materiais para a construção de estádios ambientalmente corretos, em que o uso do aço irá contribuir de maneira eficiente, por se tratar de um material totalmente reciclável, maleável e leve.

Um evento do porte da Copa do Mundo exigirá desenvolvimento principalmente dos setores siderúrgico e da construção civil brasileiros para seguir as recomendações da Fifa na elaboração das ecoarenas, como os projetistas vem chamando os novos estádios ecológicos. Ainda não existem recomendações oficiais para a criação de um estádio “autossustentável”. A Fifa, no entanto, estabeleceu os chamados green goals, uma série de metas ambientalmente eficientes que visam a redução do consumo de água e energia, o aumento da utilização dos transportes públicos, a eliminação de resíduos, além do uso de materiais sustentáveis nas obras dos estádios.

Cerca de R$ 5 bilhões estão sendo investidos nos projetos da Copa de 2014, entre iniciativas públicas e privadas. A implantação de um projeto sustentável, no entanto, possui um orçamento em média 20% maior. De acordo com o professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Francisco Ferreira Cardoso, que também é um dos membros do Conselho Brasileiro de Sustentabilidade, o retorno financeiro é vantajoso. “Isso porque os gastos com manutenção são menores”, afirma.

Segundo ele, a base para a construção de um estádio está na combinação entre o aço e o concreto. Hoje, o aço é uma opção recomendável para se realizar uma construção sustentável, principalmente em grandes obras, em função de sua alta flexibilidade e eficiência. Apesar do preço elevado, é um material que se caracteriza pela sua adaptabilidade, além de ser 100% reciclável. O aço também permite a racionalização de materiais, maior facilidade de transporte, redução de geração de entulho e do impacto na vizinhança, maior facilidade de desmontagem, compatibilidade com outros materiais, alívio de carga nas fundações, além de promover mais segurança no canteiro de obras.

O Centro Brasileiro da Construção em Aço e o Instituto Aço Brasil (IABr) lançaram o programa “Aço: construindo a Copa 2014”, que pretende divulgar suas vantagens como um material apropriado para atender as necessidades sustentáveis das obras previstas para o evento. A campanha acontece desde o final do ano passado nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo e é destinada principalmente a construtoras e escritórios de arquitetura. “A ideia é incentivar o uso do aço não apenas nos estádios, mas em ferrovias e em outros tipos de construções”, explica o assessor do IABr, Ricardo Werneck. Para ele, esta será uma chance de o Brasil mostrar que não é bom apenas em futebol. No entanto, ele teme que essa iniciativa seja lembrada mais pelo marketing do que pela eficiência. “Assistindo aos jogos pela televisão, como a maioria das pessoas irá fazer, principalmente no exterior, não dá para saber ao certo se realmente cumprimos as metas estabelecidas”, observa.

Segundo o arquiteto Eduardo Castro Mello, pai do arquiteto responsável pelo projeto do Estádio Nacional de Brasília, Vicente Castro Mello - eleito coordenador do Time de Arquitetos da Copa -, o Brasil possui a tecnologia necessária para a construção dos estádios sustentáveis, sem precisar importar produtos de outros países. “Inclusive, temos a capacidade para exportar esses produtos”, afirma. Como exemplo, ele cita três empresas paulistanas especializadas em energia solar fotovoltaica que já se colocaram à disposição para dar início às obras dos estádios. A vantagem destes paineis, segundo o arquiteto, é que são facilmente transportados, pois são leves.

De acordo com o Castro Mello, a maior necessidade brasileira para a construção dos estádios seriam sistemas de estruturas tensionadas em cabos de aço. “Elas estão sendo introduzidas agora, no Brasil, e temos poucos especialistas no assunto”. Nesse caso, profissionais do exterior, principalmente de países como a Alemanha, que já sediou uma Copa do Mundo “verde”, começaram a se associar a firmas e consultores brasileiros para dar andamento aos projetos. Mesmo sendo um investimento mais caro, uma construção sustentável como as ecoarenas traz benefícios do ponto de vista econômico. “O prazo de retorno financeiro é de sete anos, no máximo”. Isso acontece, pois não há gastos com utilização de água e energia, que são reaproveitadas. “Mas se utilizarmos materiais de baixa qualidade, teremos altos gastos com manutenção”, aponta.

Além da Alemanha, outros países já haviam aceitado a proposta de construir estádios ecológicos, como Austrália e China, nos Jogos Olímpicos de 2000 e 2008, respectivamente. Este ano, a África do Sul irá adotar estruturas e elementos metálicos galvanizados em todos os seus estádios. No entanto, a atenção da mídia sobre a sustentabilidade destes eventos superou sua verdadeira eficiência, como afirma Castro Mello. “Não acho que esses países fizeram um bom trabalho do ponto de vista da sustentabilidade em seus estádios, pois não se preocuparam com os projetos desde o início”, avalia. Apesar do empenho em construir o Ninho de Pássaro para recepcionar as Olimpíadas de Pequim, em 2008, o impacto ambiental foi inevitável, pois a demanda de energia aumentou muito na cidade, além da poluição e do transporte de produtos, elevando o consumo de carvão em 40%.

A arquiteta paulistana, Rita Müller é totalmente a favor dos projetos arquitetônicos que integram medidas sustentáveis, mas demonstra um pouco de ceticismo com relação aos novos estádios. “É difícil dizer que um estádio de futebol é uma construção sustentável, pois o seu projeto já implica em gastos muito altos de energia”, afirma. Segundo ela, a sustentabilidade em uma obra somente é possível se a arquitetura estiver em harmonia com o ambiente. “O design deve acompanhar a ideia da sustentabilidade. Primeiro, é necessário um estudo das condições do local para que a obra não prejudique o fluxo de pessoas e a natureza”, diz. A principal medida que o Brasil pretende implantar em relação à sustentabilidade urbana é melhorar os acessos ao transporte público, o que incentivaria os torcedores a não se locomoverem com seus veículos para assistir aos jogos. No entanto, os prazos são bastante curtos. Segundo a Fifa, ao menos quatro estádios devem ser concluídos até o ano de 2012.

O reaproveitamento da água, assim como a produção de energia renovável no próprio estádio são alguns dos itens sugeridos pelos projetistas do Estádio Nacional de Brasília. Serão instalados dispositivos que reduzem o fluxo de água em torneiras e vasos sanitários. A previsão é de uma economia de 3 a 4 litros de água por minuto. O planejamento do estádio também contribuirá para que a água da chuva chegue ao lençol freático e, assim, resfrie os dutos do sistema de ar-condicionado, reduzindo o uso de energia. Já a cobertura contará com a ajuda da iluminação fotovoltaica, que deverá receber um índice de radiação solar de 1800 quilowatts por hora, por metro quadrado. A energia produzida poderia abastecer cerca de um milhão de residências. A cobertura retrátil será composta por placas de aço, concreto e vidro.

O Brasil tem o potencial e as tecnologias necessárias para receber um evento desse porte. Resta saber se todas essas medidas vão ser mera jogada de marketing ou se realmente serão levadas a sério pelos empreendedores. Fica a torcida para que sim.

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