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Revista GC - Ed.23 - Jan/Fev 2012
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Especial Rio de Janeiro

Angra 3: 40% das obras estão concluídas

Com previsão de operação em 2016, a nova usina nuclear brasileira terá capacidade para gerar mais de 10 milhões de megawatts-hora anuais, energia suficiente para abastecer as cidades de Brasília e Belo Horizonte durante um ano

Se tudo ocorrer como o previsto, a usina de Angra 3 deve entrar em operação em 2016, pouco mais de três décadas após o início de sua construção (1984) e a um custo total de R$ 9,95 bilhões, incluindo R$ 1,9 bilhão correspondente à montagem dos equipamentos eletromecânicos. Nesse montante, contudo, não estão incluídos os R$ 900 milhões utilizados para bancar a manutenção do canteiro paralisado, a estocagem dos equipamentos e os encargos financeiros desde 1986, quando as obras foram interrompidas, até 2010, até serem reiniciadas. A construção continua a cargo da construtora Andrade Gutierrez, que havia vencido a licitação em 1982 (todos os contratos da época – obras, equipamentos, fornecimento, etc. – foram renegociados e adequados à legislação atual), e segue em ritmo acelerado, salvo algumas interrupções por conta de greves de operários.

Além das obras civis, o contrato principal diz respeito ao fornecimento dos equipamentos importados, a cargo da Areva. Trata-se de um volume de recursos de R$ 1,1 bilhão e deve ser assinado até março. Já foram renegociados os seguintes contratos: Confab,


Se tudo ocorrer como o previsto, a usina de Angra 3 deve entrar em operação em 2016, pouco mais de três décadas após o início de sua construção (1984) e a um custo total de R$ 9,95 bilhões, incluindo R$ 1,9 bilhão correspondente à montagem dos equipamentos eletromecânicos. Nesse montante, contudo, não estão incluídos os R$ 900 milhões utilizados para bancar a manutenção do canteiro paralisado, a estocagem dos equipamentos e os encargos financeiros desde 1986, quando as obras foram interrompidas, até 2010, até serem reiniciadas. A construção continua a cargo da construtora Andrade Gutierrez, que havia vencido a licitação em 1982 (todos os contratos da época – obras, equipamentos, fornecimento, etc. – foram renegociados e adequados à legislação atual), e segue em ritmo acelerado, salvo algumas interrupções por conta de greves de operários.

Além das obras civis, o contrato principal diz respeito ao fornecimento dos equipamentos importados, a cargo da Areva. Trata-se de um volume de recursos de R$ 1,1 bilhão e deve ser assinado até março. Já foram renegociados os seguintes contratos: Confab, fornecedora da esfera de contenção; Conter, responsável pelo revestimento da piscina de combustíveis; Bardella, que tem quatro contratos para o fornecimento da Ponte Polar, Ponte da Turbina, Guindaste semipórtico; Nuclep, que responde pelo fornecimento dos condensadores e acumuladores do primeiro estágio; e Ebce, fornecedora dos tubos ferríticos soldados.

Na área de apoio e gerenciamento de serviços de engenharia, o montante de contratos chega a R$ 422,8 milhões. Estão fechados os contratos com a Stei Consultoria, Logos, Concremat, Consupri, Ductor, Intertechine, Engevix, Marte Engenharia. “São um conjunto de obras que abrange desde projeto civil e projeto eletromecânico, associadas ao circuito nuclear e a montagem eletromecânica”, diz o gerente de planejamento ressaltando que a maior parte do orçamento da usina refere-se, no entanto, à montagem eletromecânica, diz Travassos.

Montagem eletromecânica

A licitação para o fornecimento da montagem eletromecânica está em andamento, e a abertura dos envelopes está marcada para 27 de fevereiro. Após a abertura dos envelopes,  as empresas terão 15 dias para entrar com recurso. O anúncio final será em março, e espera-se que o consórcio vencedor já inicie os trabalhos em maio. Dos quatro consórcios e uma empresa inscritos, cujo orçamento está estimado em R$ 1,93 bilhão (base de preços de dezembro de 2010), apenas dois grupos permaneceram na disputa para a segunda etapa da licitação.

As licitantes habilitadas na primeira etapa foram os consórcios UNA 3 (formado pelas empresas Andrade Gutierrez, Norberto Odebrecht, Camargo Correa e UTC Engenharia) e Angra 3 (formado pelas empresas Queiroz Galvão, EBE e Techint).

O escopo global da montagem eletromecânica está dividido em dois contratos (pacotes de serviços): um pacote associado ao sistema primário, que cobrirá as atividades da área nuclear, no valor de R$ 850 milhões; e um pacote associado ao secundário para os sistemas convencionais da usina, no valor de R$ 1,08 bilhão.

A maior parte das atividades deverá ser executada em 30 meses. Porém, o contrato prevê um período total de 58 meses, pois também será necessário contar com as empresas prestadoras de serviços nas fases de comissionamento, testes de potência da usina e operação inicial da unidade.

Atualmente, cerca de 4.000 trabalhadores estão atuando no canteiro da nova unidade da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, que abriga também as usinas Angra 1 e 2, ambas em plena operação. No pico das obras, que deverá ocorrer entre 2013 e 2014, quando também começa a montagem eletromecânica, entre 7 mil e 9 mil operários estarão trabalhando no site. Quando entrar em operação, perto de 500 empregos diretos serão gerados.

De acordo com o gerente de Planejamento e Orçamento da Eletronuclear, Roberto Travassos, perto de 40% do avanço físico de Angra 3 estão concluídos. Nessa conta fazem parte as obras civis especificamente e a montagem de equipamentos de grande porte que precisam ser instalados durante a construção, sobretudo no edifício do reator. Pela característica da edificação, que se destina a acomodar os principais equipamentos de geração nuclear a ilha nuclear, como é chamada, composta pelo reator, geradores de vapor, pressurizador e as bombas que controlam o fluxo de água pelo interior do sistema, não é possível realizar a obra civil para, depois, se iniciar a montagem. “O posicionamento dos equipamentos de grande porte é feito durante a construção, pois não existem portas para colocar esses equipamentos depois. Mas é apenas uma montagem inicial”, revela Travassos. Vale observar que essa etapa é realizada com todo cuidado, uma vez que estejam instalados os equipamentos, a acessibilidade torna-se inviável.

Além do edifício do reator, estão sendo erguidos simultaneamente os anexos no prédio auxiliar do reator, edifício turbo gerador, central de controle e de emergência. O canteiro não é dos maiores, se comparado ao de obras em hidrelétricas, por exemplo, mas exige complexidades técnicas de engenharia, pois as obras se concentram em espaço reduzido e confinado. Além disso, o controle de qualidade é altíssimo, segundo Travassos. “Todas as fiscalizações são rígidas, trabalha-se com redundâncias e as normas utilizadas são as mais severas existentes no setor de construção”, afirma. Até o método de concretagem é refinado, de forma a assegurar resistência e longevidade ao conjunto.

No caso do prédio do reator, o concreto é produzido com alto teor de cimento de alto-forno e sua temperatura é controlada (para baixo), visando evitar fissuras posteriores. As edificações da usina são projetadas para uma vida útil de no mínimo 60 anos. “As normas nucleares são as mais rígidas do mundo, inclusive para a produção dos equipamentos que serão utilizados na usina. Licenciamento é mais rigoroso que se exige para a indústria em geral, as folgas são menores. Pelas normas severas, o programa nuclear brasileiro introduziu o conceito de controle de qualidade no País, que depois se espalhou por vários setores”, revela o gerente de Planejamento da Eletronuclear.

Apesar dos avanços obtidos desde Angra 2, as exigências ambientais também se avolumaram ao longo dos anos. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) exigiu, em 2006, que a empresa realizasse a recuperação de áreas degradadas no canteiro de Angra 3, que incluiu a drenagem da cava de fundação da usina e medidas para a proteção do maciço rochoso, antes de conceder a licença de construção. Também foram revistas as licenças de uso do solo com a prefeitura de Angra dos Reis e a licença para as obras, a cargo da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Com o acidente em março de 2011 na usina de Fukushima, no Japão, novos quesitos foram acrescentados ao projeto de Angra 3. Apesar de a usina já ter em seu projeto um sistema de segurança mais avançado do que os das de Angra 1 e 2, segundo a Eletronuclear, algumas mudanças foram incorporadas, como a inclusão de uma nova adutora de água para resfriamento do reator. Outra ação aprovada, que valerá para o complexo todo, é a construção de um píer e aquisição de barcos para evacuação da usina e dos arredores em caso de acidente nuclear. “O projeto original de Angra 3 não foi alterado, apenas foram incorporadas novas exigências de precaução por conta do acontecido na Ásia”, afirma Travassos.

Esfera de cobre

As usinas nucleares brasileiras são do tipo reator de água pressurizada (PWR, na sigla em inglês), com circuitos independentes e isolados para resfriamento do reator e geração de vapor. Elas são projetadas para resistir terremotos de magnitude até 6,5 graus na escala Richter e possuem vários sistemas de segurança ativa. O edifício do reator é o local mais crítico sob diversos aspectos. É ali que são armazenados o combustível nuclear e os rejeitos do processo de produção de energia.

O prédio tem capacidade para armazenar os resíduos por um período que varia de 12 a 15 anos, dependendo da quantidade de energia gerada. Um dos componentes externos do edifício do reator que mais chamam a atenção é a esfera metálica que cobre o prédio. Ela funciona para conter uma possível explosão do reator. Nas usinas mais antigas não existia essa blindagem. A esfera de Angra 3 já está sendo construída e terá 56 metros de diâmetro e cerca de 5 centímetros de espessura. Essa esfera de contenção de aço especial está protegida de impactos externos por uma camada de concreto armado com 60 centímetros de espessura. Tal barreira é projetada para evitar liberação de radioatividade no caso extremo de acidente com explosão do reator e também para proteger o reator de impactos externos.

Angra 3 será irmã gêmea de Angra 2 e ambas as usinas contam com tecnologia alemã Siemens/KWU – hoje, Areva NP. Aproximadamente 60% dos equipamentos eletromecânicos de Angra 3 foram comprados ainda na década de 1980, juntamente como a aquisição dos equipamentos de Angra 2, fruto do acordo nuclear feito em 1975 entre o Brasil e a Alemanha, que se comprometeu em construir os reatores nucleares e a transferir tecnologia de enriquecimento de urânio para produção de energia. Angra 3 leva a vantagem de incorporar as novidades tecnológicas criadas desde que Angra 2 foi inaugurada, em 2001. “A nova usina incorporou as mudanças de Angra 2, considerada uma das mais seguras do mundo, e adicionou os avanços obtidos de lá para cá, sobretudo na área de eletrônica”, revela Roberto Travassos, destacando que Angra 2 está entre as 20 melhores em desempenho do planeta.

Quando Angra 3 entrar em operação comercial produzirá 1.405 MW. A capacidade instalada permitirá gerar mais de 10 milhões de megawatts-hora anuais, energia suficiente para abastecer as cidades de Brasília e Belo Horizonte durante um ano. Com Angra 1 (657 MW), 2 (1.350 MW) e 3, a energia nuclear responderá por aproximadamente 3,5% da matriz energética do País e a gerar o equivalente a 50% da eletricidade consumida no estado do Rio de Janeiro. No Plano Nacional de Energia 2010-2020 do Ministério das Minas e Energia estão previstos mais 4 mil MW de energia gerada por unidades nucleares, totalizando de quatro a oito usinas a serem construídas. Mas, segundo Roberto Travassos, o plano está sendo revisto e uma nova versão será lançada este ano, contemplando 2012-2035. Especula-se que o acidente do Japão atrasou em cerca de um ano o programa nuclear brasileiro.

 

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