Sustentabilidade
The New York Times
14/06/2010 16h17 | Atualizada em 14/06/2010 20h33
Parece impensável, mesmo agora, que o desastroso derramamento de óleo no Golfo do México pudesse afundar a poderosa British Petroleum (BP). Mas os analistas dos bancos de investimentos são pagos para pensar no impensável – e é exatamente isso o que eles estão fazendo.
A possibilidade de um pedido de falência da BP, especialmente como parte de um processo de fusão no qual suas obrigações relativas ao derramamento pudessem ser segregadas, é uma ideia que já começou a circular em Wall Street. Advogados e banqueiros já estão calculando as possíveis negociações (e também seus possíveis honorários).
Com a queda das ações da BP – a empresa já perdeu mais de um terço de seu valor desde a explosão da plataforma Deepwater Horizon –
...Parece impensável, mesmo agora, que o desastroso derramamento de óleo no Golfo do México pudesse afundar a poderosa British Petroleum (BP). Mas os analistas dos bancos de investimentos são pagos para pensar no impensável – e é exatamente isso o que eles estão fazendo.
A possibilidade de um pedido de falência da BP, especialmente como parte de um processo de fusão no qual suas obrigações relativas ao derramamento pudessem ser segregadas, é uma ideia que já começou a circular em Wall Street. Advogados e banqueiros já estão calculando as possíveis negociações (e também seus possíveis honorários).
Com a queda das ações da BP – a empresa já perdeu mais de um terço de seu valor desde a explosão da plataforma Deepwater Horizon – alguns banqueiros e analistas dizem que a mesma já está tomando forma de uma isca para aquisições. A pergunta é: quem compraria a BP, com suas prováveis obrigações legais gigantescas?
Dizem que tanto a Shell quanto a Exxon Mobil já estão com água na boca. E mentes astutas do mundo jurídico já estão imaginando cenários nos quais a BP entraria em um processo de recuperação extrajudicial, segregando os custos da faxina – e possivelmente bilhões de dólares em ações judiciais – em uma empresa separada.
Tony Hayward, principal executivo da BP, insiste que a gigante do petróleo irá sobreviver a este temporal. A BP ainda é uma máquina de fazer dinheiro: a empresa obteve lucros de aproximadamente US$ 17 bilhões no ano passado.
“A força do capital de giro gerado em trimestres recentes nos garantiu um balanço financeiro que nos permite assumir por completo a responsabilidade do ocorrido no Golfo do México”, explica Hayward a funcionários da empresa na semana passada.
Entretanto, isso não impediu que os interessados na aquisição vislumbrassem os resultados possíveis. Eis um pouco desses cálculos:
Custos da limpeza
De acordo com dados do banco Credit Suisse, os gastos da BP com a limpeza do derramamento de óleo poderiam chegar a US$ 23 bilhões. Além disso, a empresa poderia ter de enfrentar gastos adicionais de US$ 14 bilhões em ações movidas pela indústria turística e por pescadores do Golfo. É por isso que, enquanto estimativas mais conservadoras apresentam uma fatura de US$ 15 bilhões, algo em torno de US$40 bilhões não está fora de questão. Afinal, muito pouco em relação ao derramamento saiu como o esperado.
A empresa tem cerca de US$ 12 bilhões em caixa e aplicações de curto prazo, mas já existe um debate questionando se a mesma deveria cortar seus dividendos temendo uma descapitalização. Certamente a empresa poderia vender ativos ou pedir empréstimos, mas estas ações não seriam muito fáceis no cenário atual.
Mas todos esses números não calcularam a maior de todas as possíveis ameaças: um veredicto judicial contra a BP. Tal veredicto poderia empurrar os gastos com o derramamento para a casa das centenas de milhões. Se isso acontecesse, mesmo a BP poderia sucumbir.
Tal resultado pode parecer bastante descabido no momento. Mas, os banqueiros de Wall Street já cunharam um termo para descrevê-lo: “O cenário Texaco”.
Em 1987, a Texaco foi forçada a pedir concordata depois que a Justiça americana determinou que a empresa deveria pagar US$ 1 bilhão à Pennzoil. Um juiz reduziu tal valor a partir da exorbitância inicial de US$ 10,53 bilhões (a Pennzoil processou a Texaco, obtendo ganho de causa, por ter abandonado a fusão planejada com a Getty Oil - em partes, por transferir o caso para tribunais próximos à matriz da empresa. A Justiça determinou o pagamento de danos triplos).
Imaginemos o caso da BP sendo julgado em um tribunal de Louisiana, tendo como pano de fundo uma economia local fortemente afetada pelo petróleo, uma alta taxa de desemprego e uma plateia enfurecida. Até onde isso pode chegar?
De acordo com o Oil Pollution Act de 1990, as obrigações da BP pela devastação econômica – além dos gastos com a limpeza da área afetada pelo derramamento – podem chegar a US$ 75 milhões, valor do qual Hayard já disse que pretende fugir. Mas, se for provado que a BP violou os regulamentos de segurança, o que parece bem provável, esse valor máximo se torna irrelevante.
Isso não quer dizer que a BP não irá atravessar um extenso julgamento contra isso. Depois do derramamento do petroleiro Exxon Valdez, a Exxon lutou contra o pagamento de uma indenização de US$ 5 bilhões por duas décadas. E ganhou. O valor foi reduzido primeiramente para US$ 4 bilhões e depois para US$ 2,5 bilhões. O caso acabou chegando à Suprema Corte, que cancelou a indenização determinando que os atos da Exxon como sendo “mais graves do que negligência, mas menos graves do que intencionais”. A sentença limitou os danos morais a danos compensatórios, que foram calculados em US$ 507,5 milhões.
“Se as obrigações da BP teriam ou não um valor máximo fixado é uma questão que envolve muitos fatores imponderáveis. Caso as ações da empresa continuem a cair, ela pode se tornar um alvo de aquisições”, escreveu David Buik, da corretora BGC Partners de Londres.
Como a Shell e a Exxon têm em mãos bilhões de dólares e valores de mercado que facilmente ultrapassam a BP – somente a Exxon tem o dobro do tamanho da gigante britânica – banqueiros dizem que agora é o momento de fazer uma negociação, contanto que a empresa compradora possa encontrar uma maneira de segregar suas obrigações legais. É claro que essa é uma condição de grande relevância.
Tem muita gente – além da BP – pensando que é tolice até mesmo discutir a possibilidade de falência ou de venda da BP. Mas, se olharmos para alguns anos à frente, esta pode ser a melhor e a última esperança para a empresa.
“Mesmo com um processo de recuperação judicial, a marca BP está manchada para sempre”, disse Robert Bryce, professor assistente sênior do Manhattan Institute e autor do livro “Power Hungry: The Myths of ‘Green’ Energy and the Real Fuels of the Future”. Ele afirma que a BP é uma empresa sólida financeiramente. Mas, em sua opinião, a falência da mesma em um curto prazo é improvável.
“Pelo contrário, a BP irá atravessar as próximas décadas envolvida nas questões do vazamento, atolada em infindáveis processos judiciais, com sua reputação irreparavelmente manchada e suas finanças enfraquecidas”, disse Bryce.
Se você acreditar nos banqueiros, este é o resultado otimista.
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