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Revista GC - Ed.58 - Abril 2015
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Personalidade da Construção

Ruy Ohtake, em sintonia com seu tempo

Consagrado pela sua obra, o arquiteto, discípulo de Oscar Niemeyer, transformou seu oficio em um aprendizado de vida

Basta passear por São Paulo para encontrar os traços da Família Ohtake pela cidade. A mãe Tomie Ohtake, falecida no início deste ano, transformou áreas públicas de São Paulo com diversas de suas obras, sempre privilegiando as cores e as formas orgânicas. Seus passos foram seguidos pelo filho mais velho, o arquiteto Ruy Ohtake, considerado ‘herdeiro’ de Oscar Niemeyer, que democratizou sua produção realizando projetos sofisticados para diferentes públicos, independente da classe social, e da região da cidade. A assinatura do arquiteto está em das áreas mais carentes da cidade, na comunidade do Heliópolis, onde ele projetou um conjunto de prédios residenciais e instalações para uso comum. Ruy fala deste trabalho com o prazer de um profissional que atendeu ao desejo do seu cliente. E destaca que este foi, e está sendo, uma fonte incansável de aprendizado.

Nascido em  São Paulo, em 27 de janeiro de 1938, primogênito da artista plástica Tomie Ohtake, e do agrônomo Alberto Ohtake (falecido em 1961), Ruy Ohtake estudou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Univer


Basta passear por São Paulo para encontrar os traços da Família Ohtake pela cidade. A mãe Tomie Ohtake, falecida no início deste ano, transformou áreas públicas de São Paulo com diversas de suas obras, sempre privilegiando as cores e as formas orgânicas. Seus passos foram seguidos pelo filho mais velho, o arquiteto Ruy Ohtake, considerado ‘herdeiro’ de Oscar Niemeyer, que democratizou sua produção realizando projetos sofisticados para diferentes públicos, independente da classe social, e da região da cidade. A assinatura do arquiteto está em das áreas mais carentes da cidade, na comunidade do Heliópolis, onde ele projetou um conjunto de prédios residenciais e instalações para uso comum. Ruy fala deste trabalho com o prazer de um profissional que atendeu ao desejo do seu cliente. E destaca que este foi, e está sendo, uma fonte incansável de aprendizado.

Nascido em  São Paulo, em 27 de janeiro de 1938, primogênito da artista plástica Tomie Ohtake, e do agrônomo Alberto Ohtake (falecido em 1961), Ruy Ohtake estudou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde se formou em 1960, e depois viria a estagiar no escritório de Oscar Niemeyer. O arquiteto trilhou uma carreira vitoriosa no Brasil e no exterior, onde se destaca sua participação do 20.º Congresso da União Internacional de Arquitetos, em Pequim, ao lado de Jean Nouvel e Tadao Ando, em 2010. É de sua autoria o projeto da Embaixada Brasileira em Tóquio, no Japão, os jardins e o museu aberto da Organização dos Estados Americanos, nos Estados Unidos.

Foi casado com a atriz Célia Helena, falecida em 1997, com teve sua primeira filha, Elisa, atriz. Depois, se casou com a arquiteta Sílvia Vaz e teve seu segundo filho, Rodrigo, também arquiteto, que trilha os passos do pai – o jovem está a frente do projeto do Espaço Alana, um centro de convivência erguido no Jardim Pantanal, uma comunidade vulnerável do extremo leste da cidade de São Paulo, que inclui praça, biblioteca, auditória e sala comunitária.

Em entrevista exclusiva à concedida Revista Grandes Construções, em 2014,  Ohtake enfatizou o que ele considera como principal característica da Arquitetura Brasileira: “Dentro do contexto da Arquitetura Mundial, a nossa arquitetura se destaca, pela beleza, pela sua sensualidade, pela surpresa. Talvez seja uma das arquiteturas mais fraternas, dentre todas as conhecidas, se podemos dizer assim.

E eu faço muito esforço para que os meus projetos sejam desenvolvidos sempre nesta linha”.

Sempre fiel ao seu mestre, Oscar Niemeyer, ele defende a valorização do legado arquitetônico deixado pelo arquiteto.  “Eu acho que o Rio merecia uma obra nova do Oscar Niemayer. A obra mais recente dele foi o Museu de Niterói, do outro lado da Bahia da Guanabara, e isso foi há 15 anos, e de lá pra cá, o Rio não teve mais obras dele. Eu acho uma pena...”.

Criticou também a falta de visão dos gestores públicos de São Paulo, seja pelo tratamento da questão ambiental na cidade, seja pela falta de investimento em novos ícones arquitetônicos, ressaltando que seus ícones ainda são das décadas de 1960 e 1970.  “Eu diria que São Paulo enxerga de uma forma muito curta a linha cultural, a linha arquitetônica. Ao se tornar uma das maiores cidades do mundo, o mesmo não acontece com a qualidade da Arquitetura. Nós temos problemas sim, nós temos problemas, mas nada disso impediria que a cidade tivesse obras contemporâneas, numa quantidade maior, com uma representação melhor, que a cidade tivesse uma identidade mais bonita, uma identidade mais forte. Por exemplo, foi colocado em segundo plano a recuperação do Rio Tietê e o aproveitamento das represas.  Eu acho muito pouco São Paulo ser representada por obras das décadas de 1960 e 1970.  São obras importantes sim (Copan, Masp) mas de lá pra cá, nós temos tão poucas obras contemporâneas”.

Nesse sentido, Ruy Ohtake é um dos principais colaboradores para a identidade paulistana, tendo concebido o Hotel Unique, um dos pontos arquitetônicos mais lembrados da cidade, ao lado por exemplo do Parque do Ibirapuera e da Avenida Paulista. “ Eu acho que o Hotel Unique se destaca pela sua forma surpreendente. Por ser uma obra muito forte e que determina uma identificação. O hotel tem uma significação tanto para as pessoas de formação mais simples, quanto para professores, intelectuais, e etc. Então, essa gama, que eu chamo de uma obra que seja bela e surpreendente ao mesmo tempo, uma forma que seja arrojada, e contemporânea, são aspectos que fazem com que a Arquitetura venha a representar um pouco o caráter da cidade.  E no caso de São Paulo, eu acho que o Hotel Unique tem uma identificação com aquilo, que eu chamo do arrojo do paulista, a sensualidade do brasileiro”.

Nesse sentido, há que se levar em consideração o incrível teor surpreendente e popular da Marquise do Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer.  “Ela (a Marquise)  deixou de ser uma simples ligação entre um prédio e outro, e se tornou um centro de convivência dentro do Parque do Ibirapuera. Essa foi a sacada do Oscar e é uma das peculiaridades da nossa Arquitetura.  Ampliar  o significado de algo que é específico para uma utilidade maior dentro do espaço da cidade, do uso da população”.

A seu ver, a boa Arquitetura é aquela apropriada pela população. “Eu diria que toda boa arquitetura é apropriada pela população. Entretanto muitos acham que a Arquitetura é algo das elites, que o povo não compreende o significado da Arquitetura. Este é um grande engano. Por isso que hoje em dia, os espaços de convivência, pelo menos para mim, são os projetos mais interessantes. Ou então fazer com que um espaço  passe a proporcionar uma convivência”.

Nesse sentido, os Redondinhos, projeto de residenciais para a comunidade do Heliópolis, são lembrados como um ponto de aprendizado para o grande arquiteto. “Eu aprendi muito ao elaborar esses projetos e a conversar com a comunidade. E acho que eles aprenderam um pouco também comigo, com as obras. Toda obra tem de ser feita com qualidade, procurando uma dignidade e uma cidadania. Foi essa razão que eu procurei ao máximo (colocar) nos projetos de Heliópolis, nas obras residenciais, que o povo chama carinhosamente de Redondinhos."

Beleza e cor, para ele, são indissociáveis. “Sim, a beleza é muito importante. Fazer com que todos possam desfrutar da beleza. Eu acho que a cor é muito importante”. E tirara partido das cores, como fazia sua mãe, Tomie Ohtake. “Eu uso muito a cor. A cor sempre fez parte da vida de nós brasileiros, a gente detecta isso facilmente em cidades que estão preservadas: Ouro Preto, Parati, Salvador, Olinda, são todas cidades com muita cor, e cor forte.  O Brasil é um país que sempre teve muita cor. Então eu procuro colocar isso nas minhas obras. Por exemplo a obra do Instituto Cultural  Tomie  Ohtake,  como as obras de Heliópolis. Em todas as áreas eu procuro fazer que a cor participe do dia a dia nosso e do espaço urbano da cidade”.

Ruy faz questão de afirmar seu papel como cidadão. “O primeiro passo da sustentabilidade, a meu ver, é evitar o desperdício. E eu acho que as questões do meio-ambiente, água, o clima, as condições atmosféricas, são muito importantes. Eu acrescentaria que um dos itens pra nós, no Brasil, essencial, é aquilo que eu chamo de sustentabilidade social. Um terço da nossa população vive em habitações muito precárias, fora as outras condições, de educação, saúde, e etc. Então essa é a sustentabilidade mais urgente, que nós no Brasil temos e devemos saber enfrentar  cotidianamente. Sim, fazer com que a convivência seja mais igualitária, que o espaço urbano seja mais justo pra todos, e que assim nós possamos fazer com que nosso país tenha uma relação mais justa, mais humana com todos os nossos brasileiros”.

Dentre seus projetos atuais estão o Aquário do Pantanal, em Campo Grande (MS), idealizado para resumir todas as espécies de peixe do Pantanal, o novo edifício da Politécnica na Cidade Universitária (PoliInova) projetado para abrigar um centro de invenção na área de Engenharia, e o Centro de Convivência da USP Leste. Numa visão holística, poderiam traduzir as três linhas centrais da visão do arquiteto – Meio-Ambiente, Criatividade e Convivência – conceitos que colocam Ruy Ohtake em sintonia com seu tempo.  Apesar dele confidenciar que não usa celular e nem tem facebook. Ou até por conta disso.

 

 

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