Como decifrar a mágica figura de Oscar Niemeyer, arquiteto consagrado mundialmente, produtivo aos mais de 102 anos de idade, que teve uma vida política militante e engajada, mas orgulha-se de não ter amealhado inimizades, apesar de suas posições políticas? Suas obras oscilam entre a genialidade, para alguns, e a crítica cruel, de outros. Niemeyer é um mito. Sua casa é procurada e visitada diariamente por anônimos, autoridades ou personalidades de todos os matizes, que buscam absorver dele algum conhecimento.
Talvez muitos se sintam frustrados. Ao invés de um “gênio”, encontram um simples homem, que prefere conversar sobre temas variados, para quem a melhor coisa da vida é a simplicidade das pessoas ao seu redor, a mesa farta, o copo de vinho, a conversa. Onde está o gênio? Tudo sobre Niemeyer parece já ter sido dito, estudado ou escrito. Aparentemente não existem segredos que deem uma pista para o entendimento de tal genialidade.
Por esse motivo fui entrevistar não ele, mas alguém que pudesse revelar algo sobre o arquiteto que, de tão natural – que talvez, no seu
Como decifrar a mágica figura de Oscar Niemeyer, arquiteto consagrado mundialmente, produtivo aos mais de 102 anos de idade, que teve uma vida política militante e engajada, mas orgulha-se de não ter amealhado inimizades, apesar de suas posições políticas? Suas obras oscilam entre a genialidade, para alguns, e a crítica cruel, de outros. Niemeyer é um mito. Sua casa é procurada e visitada diariamente por anônimos, autoridades ou personalidades de todos os matizes, que buscam absorver dele algum conhecimento.
Talvez muitos se sintam frustrados. Ao invés de um “gênio”, encontram um simples homem, que prefere conversar sobre temas variados, para quem a melhor coisa da vida é a simplicidade das pessoas ao seu redor, a mesa farta, o copo de vinho, a conversa. Onde está o gênio? Tudo sobre Niemeyer parece já ter sido dito, estudado ou escrito. Aparentemente não existem segredos que deem uma pista para o entendimento de tal genialidade.
Por esse motivo fui entrevistar não ele, mas alguém que pudesse revelar algo sobre o arquiteto que, de tão natural – que talvez, no seu entender, nem merecesse ser mencionado – fosse a chave para entender uma personalidade tão complexa. Conversei com o engenheiro calculista José Carlos Sussekind, ou como ele próprio se intitula, “o mais antigo dos novos colaboradores”, com mais de mais 40 anos de trabalho ao lado de Niemeyer.
A primeira impressão que tive foi a de que o papel de calculista é apenas um disfarce para sua verdadeira identidade: a de amigo, companheiro, fiel escudeiro, filtro das ações, pensamentos e ideias que acometem Niemeyer no seu dia a dia. Desde o início, Sussekind me adverte: “Eu falo sob suspeição. Se estivesse em um tribunal, certamente o juiz não me ouviria. Eu sou hoje quase uma extensão dele. É uma convivência tão cotidiana, de tanto tempo, que é difícil dizer onde começa e onde termina a amizade. Para mim, ele é meu segundo pai”.
Lembro-me de um trecho do livro Meditações sobre os 22 arcanos maiores do tarô, uma espécie de roteiro de estudo dos arquétipos, que relata sobre a figura do Mago, o primeiro dos arcanos, cuja figura representa a harmonia entre trabalho e vida, a porta para as aquisições de todos os demais conhecimentos sensoriais, e que tem como enunciado: “Aprendei primeiro a concentração sem esforço; transformai o trabalho em jogo; fazei com que o jugo que aceitastes seja suave e que o fardo que carregais seja leve!”. E pergunto ao engenheiro: Niemeyer é um “iluminado”, um “predestinado”, noutras palavras, alguém que atingiu a plenitude do trabalho como um jogo, leve, divertido, mas absolutamente sofisticado, razão de sua grande longevidade e produtividade?
Ele me diz que pode dar um testemunho privilegiado, por ter acompanhado o arquiteto em muitos trabalhos, além de saber de outros por comentários de terceiros. E revela: “o processo de criação do Oscar é prazeroso, seguro. Ele não tem dúvidas, não tem crises existenciais, não sofre para criar. Ele tem a benção de um talento tão imenso, como água cristalina, que impressiona. Não há hesitações. Quando há algum problema, alguma complexidade, ele esquece aquela ideia e faz questão de recomeçar do zero”.
Sussekind relata que na época de Brasília, cujos prazos eram muito curtos, o projeto do Teatro Nacional de Brasília foi feito em uma semana. A Catedral de Brasília surgiu durante um Carnaval. No Memorial da América Latina, muitas décadas depois, já sendo o engenheiro responsável pelo cálculo, recorda-se do chamado do arquiteto, numa sexta-feira, visto que estava “começando a pensar no projeto”, como disse ele. “Era um projeto de razoável complexidade, devido aos vários prédios. Mas no dia seguinte, quando o encontrei, tudo já estava pensado, pronto. E em uma hora encerramos a ideia, que seria detalhada posteriormente, mas o conceito arquitetônico estava concluído”, comenta.
São raros os casos em que o processo de criação exigiu de Niemeyer maior “especulação”. Isso ocorreu com o projeto da Torre Digital de Brasília, ora em construção, em que Niemeyer buscava algo diferenciado do padrão tão comum para torres – um grande cilindro com uma antena: o arquiteto levou um mês para conceber o formato, inspirado numa flor do cerrado.
Já no Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, relembra Sussekind, “Dr. Oscar fez o esboço num guardanapo durante o almoço”, após a visita ao terreno. Ele cria com muita segurança, com muita alegria, e com muita rapidez”, conclui. O Centro Administrativo de Belo Horizonte, concluído neste ano, com um recorde mundial de vão-livre, foi concebido em uma tarde inteira, a partir da visão global do terreno. “Ele não gosta de desrespeitar o terreno.”
Pergunto se acredita haver um caráter mítico que explique a força dos projetos de Niemeyer, como ocorre, por exemplo, com o conjunto de edifícios do Parque do Ibirapuera, a grande Marquise, o edifício da Oca. Ele desconversa e responde que o semicírculo é a solução quase mandatória quando se quer criar um enorme espaço, com área coberta. “A oca para os índios, a pérgola para os gregos, um lugar de encontro. Há beleza, mas também a extrema lógica estrutural”, explica. Digo-lhe que o Parque do Ibirapuera é um “oásis” que contraria a lógica apressada da cidade e seus edifícios são o exemplo de uma arquitetura democrática, pois são literalmente tomados pelos usuários do parque.
“Sim. Tem ali uma beleza calma. É uma obra de arte de 60 anos, mas continua moderna, atemporal. Dispor os volumes num terreno é algo em que Oscar Niemeyer é mestre. Há harmonia com o lago e o entorno. Isso feito numa época em que não havia essa consciência ambiental, e a cidade não era tão bruta como é hoje.” E complementa: “Ele sempre diz que a boa arquitetura repousa em saber bem dosar os volumes cheios com os volumes vazios; o vazio às vezes é a parte mais importante da arquitetura. Se os prédios fossem um pouco mais próximos ou afastados, não teria essa magia”. Por este motivo, o arquiteto teria se ressentido com o impedimento de demolição de um pedaço da marquise para fazer a conexão dela com a Oca. A ideia seria fazer uma marquise “puríssima”, completando o conjunto.
E medita: “A alma paulista mora no Ibirapuera. A cidade precisa de mais dois ou três ibirapueras. Mas com certeza não terão a mesma magia. E deve-se tudo ao ‘Ciccilo’ Matarazzo, que interagiu com o Niemeyer, teve uma visão de futuro, de escala, uma visão generosa. Ele quis que aquela área ficasse desse jeito”.
Pergunto se Niemeyer não fala uma linguagem oposta à das novas gerações, em que predominam o tecnicismo, a exatidão, a economia, o mercado. E ele responde. “Eu acho que ele corretamente relativiza. Ele não é o arquiteto de empreendimentos que visem o lucro. Ele considera sim a economicidade, a praticidade, diferente do que muita gente possa pensar, mas é sob outra ótica: a da visão do bom equilíbrio”, rebate.
Cita o caso do Centro Administrativo de Minas Gerais, no qual, já pensando em realizar um prédio com vão de recorde mundial, ele questionou que percentual o edifício teria em relação ao conjunto completo – menos de 10%. Então se tranquilizou. Se reunisse as outras secretarias num mesmo prédio, dentro de uma escala de qualidade, flexível, com economicidade e padronização possível, isso permitiria a viabilidade de todo o conjunto dentro dos padrões financeiros estabelecidos, explica Sussekind. “Ele pensa de maneira macro. Não faz fantasia em detrimento do custo. Ao contrário, sempre sabe quanto o cliente pode aplicar no projeto. Se preocupa com a viabilidade, mas sem sacrificar a beleza e a qualidade arquitetônica.”
Até porque ele teve uma vivência em canteiros de obra, na época de Brasília, lembro. “Exatamente. Ele vivenciou a construção, agora já não mais, porque não é mais possível. Mas até outro dia ele gostava muito de ver as obras. E criou-se até um certo ‘terror’ com isso. Pois, como a sua criatividade é infinita, quando a obra estava pronta, ele ia ver e dizia: ‘agora eu tive uma ideia melhor’ ”. Foi o caso da passarela que liga um segmento a outro do Memorial da América Latina, aquela espécie de bengala. Havia ali uma coluna embaixo. Quando ele viu disse: “não está bonito. Se mudássemos a coluna ficaria melhor”. Então ele foi ao governador, conversou e conseguiu alterar o projeto.
Este não é um privilégio comum, lembro, não é algo que todos possam fazer, afirmo. “Claro. É preciso ter talento, habilidade, cultura. E, sobretudo, sorte”, admite e continua: “No Oscar Niemeyer isso tudo se somou. O acaso o jogou, um arquiteto ainda jovem, para perto do prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, que queria fazer o conjunto da Pampulha. Ele pediu ao Oscar um projeto para o dia seguinte. O Oscar foi para o hotel e fez o projeto do cassino. Houve uma sintonia entre os dois. Dali surgiu a igreja de São Francisco de Assis. Se formos ver a literatura sobre isso, todos são unânimes em dizer que a arquitetura moderna começou neste momento. Ali ele fez estrutura aparente, estrutura assimétrica, obras esconças, obras curvas não simétricas, curvas, retas, ângulos de 90°. Ele demonstrou um talento nato, pois nunca estudou na Europa, não tinha viajado, foi educado no Brasil, que na época era um país de terceiro mundo, um país rural. Ou seja, aquilo estava dentro dele, não foi apreendido junto a nenhum mestre, conversado, vivenciado. Ele chegou a isso sozinho, foi uma coisa muito especial”.
A Pampulha foi um fio de linha que o destino colocou na mão dele e partir daí sua carreira estava feita. Claro que depois teve os acasos, mas eram mais racionais. Afinal quem seria chamado a fazer o Ibirapuera, que não fosse Oscar? Quem Juscelino iria chamar para fazer a capital, senão aquele que tinha feito o projeto da Pampulha que ele adorava? E que tinha ganhado o mais cobiçado concurso de arquitetura do mundo, a sede do edifício da Organização das Nações Unidas, senão Oscar Niemeyer.
Mito, sem angústia
Oscar Niemeyer hoje é um mito, reflito. Ele conseguiu levar a arquitetura para rincões distantes do País, onde talvez nem haja essa consciência sobre o papel da arquitetura. “Certo. Mas sabem que a obra dele tem um valor, dá um valor para esse lugar”, retruca Sussekind.
Mas isso também deve lhe trazer alguma angústia, uma pressão?, pergunto. O engenheiro diz então que, por ser tão próximo do arquiteto, às vezes esquece que ele é quem é, pois nesses 40 anos de convívio tão próximo nunca deixou de ter uma vida simples. “O maior prazer dele sempre é conversar. Ele adora conversar. É de uma gentileza extraordinária. Um estudante que toca a campainha e não tem hora marcada, se ele escuta, diz, ‘posso receber sim...’. Se chega um amigo, ele para de trabalhar para conversar, porque diz que isso é mais importante. Ele sempre procurou dosar bem o seu dia, reservando um espaço para o encontro com os amigos, jantar fora, saborear um copo de vinho, como fazia seu avô. Sempre comeu de tudo, mas sempre pouco. Ele diz que o certo é sair sempre com um pouco de fome da mesa, ser moderado. O gosto dele é pagar jantar para os amigos”, revela.
E continua, dizendo que “essa coisa” do mito faz parte da vida do arquiteto, sempre fez nos últimos 20 anos. “Ele tem esse privilégio de poder dizer o que pensa, mas não encara isso com angústia, mas com humildade e modéstia. Gosta de dizer que a gente é uma ‘poeirinha’. Gosta de ouvir um professor que nos dá uma aula de cosmologia, e fica fascinado com o infinito do universo, a precariedade do ser humano. Ele tem muito prazer com o que faz, profissionalmente, faz com segurança, tem convicção de que as coisas que faz são boas. Mas isso não é o foco da sua vida. Eu acho que ele é muito honesto quando diz que o mais importante são as pessoas, os amigos, conversar, estar antenado, falar das coisas”, reafirma Sussekind.
E qual a sua relação com o dinheiro? O engenheiro reforça o mito: “Ele não liga a mínima. Até acho que deveria ligar um pouco mais, porque em várias fases da vida teve agruras por causa disso. Mas ele não ligava a mínima para dinheiro: não poupar, não guardar, ajudar os outros, era assim que fazia. Teve muitas épocas em que ele estava ‘pendurado’ no banco, com contas a pagar, mas aí vinha um trabalho novo, e as coisas seguiam em frente. O apartamento que ele mora é de classe média em Ipanema”, diz Sussekind.
Quem sabe foi essa maneira de ver o mundo que o manteve lúcido?, divago. “Sim, ele se manteve lúcido. Ele tem como ventura o fato de ter tido sempre trabalho, estar sempre com pessoas ao seu redor. Assim se manteve sempre atual, soube se reciclar, se manter jovem. Ele teve os amigos originais, depois os amigos de geração mais moça, depois de outra geração, porque a geração dele se foi. Ele é um sobrevivente, mas soube fazer novos amigos, novos interesses. Há um ano ele mandou comprar um piano, para colocar no seu escritório, porque ele gosta de ouvir piano. Então eu toco de vez em quando para ele”, revela o engenheiro.
Digo que li sobre a preocupação de Niemeyer em não querer morrer... “Claro. Ele teve percalços de saúde relevantes no ano passado, e por que ele está vivo? Porque ele gosta da vida. Sempre gostou, mas é a vida nesse sentido, de se distrair, de ter muito prazer com as coisas simples, de ter um grupo de pessoas em torno de uma mesa de refeição. Ele não tem raiva de ninguém. Ao longo de sua vida, houve uma época de acirramento político em que não foi formalmente exilado, mas foi meio forçado a ir embora, porque não lhe davam mais trabalho. E não tinha mais como viver aqui. Mesmo assim, não ficou com raiva de ninguém. Ao contrário, recebeu as pessoas, transitou muito bem para todos os lados. Não tem raivas. Tem discordâncias aqui ou ali, mas sempre separa bem as coisas. Sobre o Bush, por exemplo, ele dizia: “ah, ele é um pobre diabo, a gente tem de ter pena dele”.
Mas é pessimista, retruco. Ao que ele responde: “O Oscar é um pessimista no atacado, porque, se a gente parar para pensar, somos todos condenados à morte. Mas ele é muito otimista no varejo. A frase é minha, mas ele gosta. Eu pergunto: Dr. Oscar, como o senhor está? Ele diz: ‘mais ou menos’, e faz uma cara assim, meio amuada. Aí eu digo: Dr. Oscar, todo mundo sabe que o senhor é um pessimista no atacado e otimista no varejo. E ele e diz: ‘É isso mesmo, a pessoa tem de fazer essa brincadeirinha, brincar que não vai morrer, brincar que tem um trabalho, brincar de viver...’ (Como um mago, penso eu...)”.
E sobre o Brasil, o que ele pensa? “No momento, ele é absolutamente otimista, encantado pelo Lula. Ele achava que nunca ia ver o Brasil subir de um patamar, ter proeminência mundial. Fica excitado com esse certo protagonismo do Brasil lá fora, essa melhora da economia, percebe a melhoria que houve para as classes menos favorecidas, a redução da pobreza”, responde.
Será esse valor, intrínseco ao próprio Niemeyer, que atribui maior valor à sua obra arquitetônica? Sussekind acredita que sim, ressaltando, muito embora, o nível técnico da sua arquitetura. “É uma arquitetura que contempla recordes mundiais, é extremamente técnica e arrojada. Mas não tecnicista. O arrojo e a técnica estão mesclados na beleza arquitetônica. Mas ele não é escravo de uma pureza técnica, embora seja quem mais elevou a técnica e a engenharia brasileira. O Brasil tem, em boa parte, envergadura para o setor de concreto armado, porque existe Oscar Niemeyer, que ousou nessa área. Ele não seguiu a mesma história dos outros. Mas não tem a preocupação exacerbada pela economicidade, pela lucratividade. É um bom equilíbrio, uma arquitetura holística, em que os valores estão proporcionais.”
E continua: “Ele diz que uma obra de arte só existe quando duas coisas acontecem simultaneamente: ela tem de trazer surpresa e emoção. Se for um só deles não serve, porque a surpresa pode ser grotesca. A emoção tem o lado da beleza, então a coisa tem de ser bonita e ser surpreendente. Ele tem prazer de querer sempre inventar”, completa.
O que impede que outros testem novos limites?
Responde usando a metáfora do veneno e a dosagem do remédio. “O uso plástico do concreto, que é uma maravilha porque o material dá uma liberdade plena, absoluta, pode ser um sucesso quando feito com gosto, arte e com talento. Há quem hesite em entrar numa seara que tem maravilhas, mas que tem riscos também. Por outro lado, se a estrutura se faz mais arrojada, então ele coloca piso cimentado, deixa as paredes caídas de branco. Ele diz sempre que a arquitetura colonial era assim e é muito bonita. A arquitetura dele deve ser olhada no global.”
“Sucessor? O talento dele é único, mas ao mesmo tempo qualquer pessoa pode ir lá ver e sua obra. Ela existe e se existe pode influenciar as pessoas. Os herdeiros somos todos nós, a humanidade.”
Esse convívio entre ambos também foi uma predestinação, pois foge do relacionamento estritamente profissional?, questiono. “É um privilégio e obra do acaso. Na época em que eu me formei, havia muito trabalho, mas eu escolhi trabalhar num lugar perto da minha casa, numa grande construtora, que nem existe mais, a Rabelo, cujo dono era o maior amigo do Dr. Oscar. Nessa época o Joaquim Cardoso estava muito mal de saúde e de mente e o Marco Paulo habilmente montou um escritório técnico dentro do escritório dele para atender o Oscar. Sem saber eu fui parar lá. Como tinha dois engenheiros que tinham de viajar, um dia o Oscar pediu para alguém ir lá para mostrar algum estudo, porque, como ele cria muito depressa, quer respostas rápidas. Eu fiz tudo errado, dizendo: ‘Eu não sei responder ao senhor agora, mas se deixar eu levo e trago a resposta amanhã’. Ele parou, olhou para mim um segundo, e deve ter pensado o seguinte: ‘vou deixar’.
Os meus chefes ficaram preocupados, mas ele disse: ‘O menino volta amanhã’. Eu tinha 20 anos. Nessa época ele se dividia muito entre a Argélia e a França, vinha pouco para cá. Mas nessas idas e vindas ele me pediu que escrevesse um artigo para a revista Módulo, pois achava que eu escrevia bem. Acho que ele gostou da minha cara, houve uma alquimia. E ele preferiu o menos competente, talvez porque gostasse de conversar. Para mim ele é meu segundo pai, pois meu pai já morreu. Eu talvez seja o amigo mais antigo dos atuais. É uma relação muito próxima. Nesses últimos 30 anos, apenas em 5% do tempo falamos de trabalho. O resto é conversar como dois amigos.”
E como você imagina o futuro? “Eu tenho uma resposta pronta que é real: é impossível eu ter qualquer prazer na profissão de Engenharia Estrutural que não seja pelo trabalho com o Dr. Oscar. Será um martírio, se eu sobreviver a ele, se eu tiver de fazer esse trabalho com outra pessoa. Não será a mesma magia. Então eu não farei. A minha carreira de Engenharia Estrutural durará o tempo que durar a vida do Dr. Oscar. Tanto que eu já providenciei outras atividades a fazer, porque esta, gloriosa, maravilhosa, vai até um de nós ir embora!” (M.R.)
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