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Revista GC - Ed.81 - Julho 2018
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Aeroportos

Decolando para voos mais altos

Brasil prepara-se para entrar na rota das conexões internacionais, com a operação de quatro grandes concessões de aeroportos brasileiros por grupos europeus

Expertise internacional, capacidade operacional e capital abundante para arcar com altos investimentos. Os lances oferecidos pelas operadoras europeias de aeroportos no último leilão realizado pelo governo brasileiro, em março deste ano, revelam o poder de fogo dos grupos internacionais e indicam que o Brasil – em que pese a crise política no qual está mergulhado há cerca de cerca de três anos – é sim um atraente polo de investimentos. Os aeroportos de Fortaleza e Porto Alegre foram arrebatados pela empresa alemã Fraport, enquanto a francesa Vinci ficou com o aeroporto de Salvador e o grupo suíço Zurich ficou com o aeroporto de Florianópolis. Espera-se, agora, que o Brasil seja incluído no competitivo roteiro de voos e conexões internacionais a partir de então.

O montante de R$ 1,46 bilhão, arrecadado no leilão, será pago em julho na assinatura dos contratos. O total obtido (incluindo as ofertas vencedoras do leilão mais as contribuições fixas a serem pagas no período da concessão) chegam a R$ 3,7 bilhões - o valor mínimo era de R$ 3 bilhões. Os concessionários


Expertise internacional, capacidade operacional e capital abundante para arcar com altos investimentos. Os lances oferecidos pelas operadoras europeias de aeroportos no último leilão realizado pelo governo brasileiro, em março deste ano, revelam o poder de fogo dos grupos internacionais e indicam que o Brasil – em que pese a crise política no qual está mergulhado há cerca de cerca de três anos – é sim um atraente polo de investimentos. Os aeroportos de Fortaleza e Porto Alegre foram arrebatados pela empresa alemã Fraport, enquanto a francesa Vinci ficou com o aeroporto de Salvador e o grupo suíço Zurich ficou com o aeroporto de Florianópolis. Espera-se, agora, que o Brasil seja incluído no competitivo roteiro de voos e conexões internacionais a partir de então.

O montante de R$ 1,46 bilhão, arrecadado no leilão, será pago em julho na assinatura dos contratos. O total obtido (incluindo as ofertas vencedoras do leilão mais as contribuições fixas a serem pagas no período da concessão) chegam a R$ 3,7 bilhões - o valor mínimo era de R$ 3 bilhões. Os concessionários também pagarão anualmente a contribuição variável de 5% da receita de cada aeroporto. O investimento mínimo projetado para os quatro aeroportos juntos, ao longo do prazo de concessão de 30 anos prorrogável, chega a R$ 6,61 bilhões. A exceção fica por conta do aeroporto de Porto Alegre, cujo prazo é de 25 anos prorrogável por mais cinco anos.

Dentre os compromissos dos operadores, está a ampliação dos terminais de passageiros, dos pátios de aeronaves e das pistas de pouso e decolagem, além do aumento do número de pontes de embarque, ampliação dos estacionamentos de veículos. Ao assumirem as concessões, suas obrigações ficam por conta de uma série de ações imediatas como a melhorias das instalações sanitárias, a oferta de wi-fi gratuito, o ajuste de fissuras e intervenções no sistema de iluminação. As adequações devem ser concluídas até o final da fase de transição do controle da Infraero para a nova concessionária.

O setor de aeroportos é o que tem obtido maior “sucesso” no campo das concessões. Hoje já são seis os aeroportos sob a gestão privada: os terminais de Guarulhos, Brasília, Viracopos, Galeão, Confins e São Gonçalo do Amarante, que foram privatizados, responderam por 46,7% dos embarques e desembarques em voos domésticos e internacionais em 2016.

Isso não quer dizer que não haja problemas, como atraso nos pagamentos das outorgas por parte dos aeroportos do Galeão, Brasília, Viracopos, Confins e São Gonçado do Amarante. Para o governo, a nova regulamentação contemplou aperfeiçoamentos nas regras, como a carência de cinco anos para o pagamento das parcelas anuais de outorga e a retirada da participação obrigatória da Infraero nos consórcios, indo de encontro ao desejo das novas concessões.

Já no caso do último leilão, os grupos europeus entraram isolados no processo, o que deve permitir maior autonomia de ação, seja para o desenvolvimento das obrigações detalhadas na licitação, seja para a adoção dos novos modelos de operação, o que inclui inovações tecnológicas e estratégias de perfil de cada aeroporto. Veja o perfil dos grupos estrangeiros que passam a operar os aeroportos brasileiros.

  • Fraport AG Frankfurt Airport Services (alemã)

A alemã Fraport aumentou em até R$ 600 milhões a previsão de investimento no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza (CE), ao longo dos 30 anos em que irá ficar a frente da sua concessão. O contrato previa investimento mínimo de R$ 1,4 bilhão, mas a empresa pretende investir entre R$ 1,7 bilhão e R$ 2 bilhões na modernização e ampliação do aeroporto, segundo informou  Leonardo Carnielle, um dos diretores de projeto da Fraport ao jornal O Povo. O valor foi atualizado na primeira análise da empresa e não se descarta a ampliação dos investimentos, com a evolução dos projetos. O controle do aeroporto fica a cargo da Fraport a partir de 28 de julho, data da assinatura do contrato. A contar daí, durante três meses, a operação passa a ser compartilhada com a Infraero, para então ser transferida integralmente à companhia alemã. Uma equipe de 25 especialistas da empresa já começou a atuar junto do grupo de trabalho formado por representantes do Estado e do Município para conhecer melhor as instalações.

Klaus Jeschcke, diretor da concessionária, esteve em Fortaleza em abril para ouvir as demandas, conhecer melhor a cidade e os projetos em andamento para traçar as melhores estratégias para o desenvolvimento do plano de negócios do Pinto Martins e do seu entorno. Ele destacou, na ocasião, as boas oportunidades para atração de um centro internacional de conexão de voos (hub aeroportuário) para Fortaleza, em virtude da ótima localização do aeroporto.  No entanto, esclareceu que isso depende de outros fatores, como as linhas aéreas que passarão pelo aeroporto e a direção dos voos, enfatizando que a prioridade inicial é a operação do aeroporto.  “Nós sabemos como operar um hub, e as companhias aéreas estão cientes de que a Fraport sabe operar um centro de conexões. Nós entendemos o que é necessário para desenvolver o serviço e vamos oferecer toda a estrutura para isso”, afirmou Klaus. Ele ressaltou que ainda é cedo para afirmar como serão os próximos passos, como detalhamento dos investimentos e fontes de financiamento.

Entretanto, a Fraport já revelou que irá preparar um Plano Mestre de Desenvolvimento Econômico e Urbanístico para os próximos 30 anos na área, tendo como meta a “integração” do aeroporto com a cidade, a exemplo do que ocorre com o Aeroporto de Frankfurt, gerido pela companhia. O Aeroporto de Frankfurt foi construído há 70 anos e fica a 20 minutos de carro do centro da cidade. O Plano de Desenvolvimento deu uma nova face para o aeroporto, que hoje opera 1.500 voos por dia de 98 companhias que chegam de 250 cidades no mundo. Uma das características é a sincronia com o dia-a-dia da cidade. Apesar de estar aberto 24 horas, a cidade tem pousos e decolagens das 5 às 23 horas, emprega 8 mil pessoas e está ladeado de um importante parque para a cidade.

No total são 152 portas de embarque e desembarque e mais de 164 mil passageiros por dia, exigindo uma super-estrutura de despacho de bagagens.  Empregando uma correia de 80 quilômetros, no ano passado bateu o aeroporto bateu o recorde histórico de mais 100 mil malas fiscalizadas por dia e um média de 45 minutos de espera para o passageiro fazer a conexão com outro voo. Isso torna Frankfurt o aeroporto europeu com maior tecnologia de transferência de voos, e a empresa pretende seguir o modelo no Aeroporto Pinto Martins, um dos passos para transforma-lo o aeroporto em hub internacional.

Com ações na bolsa, a Fraport é uma empresa de economia mista, com 51% de suas ações pertencentes ao estado alemão de Hesse e ao município de Frankfurt. A companhia Lufthansa tem 8% das ações. Mas o controle administrativo é 100% delegado para a diretoria executiva escolhida pelos acionistas. Na Alemanha, além dos serviços de aviação, a Fraport faz operações de carga, manutenção, despacho de bagagens e montagem e aluguel dos espaços no aeroporto. Em total, os aeroportos internacionais já respondem por um terço dos negócios da Fraport AG e colocam a empresa na 10ª posição no ranking mundial.

No caso do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS), concessão também vencida pela Fraport, o foco deverá ser a estabilização operacional e  a atração de mais cargas para o complexo, segundo informou o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel. Ele firmou que a instalação da companhia em Porto Alegre abre a possibilidade para o incremento do transporte aéreo. Pela concessão do aeroporto gaúcho, a companhia assumiu uma contrapartida em investimentos de R$ 1,9 bilhão que contempla, entre outros pontos, a ampliação da pista.

Witschel espera um incremento do número de voos internacionais para países como Uruguai e Argentina, além da retomada das viagens para os Estados Unidos, mais frequências de voos para a Europa, hoje realizados pela TAP, assim como novos destinos como, talvez, o México e a China. Atualmente, o aeroporto conta com voos para Montevidéu, Lisboa, Panamá, Buenos Aires e Lima. As operações diretamente para Miami, nos Estados Unidos, foram interrompidas em março de 2016.

Entretanto, especialistas já alertam que existem obstáculos para o projeto de ampliação da pista. Ocorre que o terreno na cabeceira da pista do Aeroporto Salgado Filho é um aterro de lixo, com resíduos empilhados até quase seis metros de altura. Seria necessária a remoção de alguns milhões de toneladas de lixo para a realização dos trabalhos de ampliação da pista, pois a legislação aeronáutica brasileira proíbe a existência de lixões ou aterros de lixo nas cabeceiras das pistas dos aeroportos nacionais.

Para Witschel, desde 2014 vem diminuindo o fluxo de passageiros entre o Brasil e outras nações e um aumento de voos dependerá do interesse das companhias aéreas. Porém, a perspectiva é de que o tráfego aéreo crescerá com a recuperação da economia brasileira. O embaixador enfatizou um novo cenário de atração de investimentos alemães no Brasil, como mostra a atuação da Fraport. E destacou que dados apresentados no momento quanto à economia nacional são melhores do que nos últimos três anos mostrando-se otimista com o fim da recessão no país, sem desprezar a gravidade da crise política. Witschel reforçou, ainda, os estreitos laços da região Sul no incremento da relação Brasil e Alemanha, com a forte presença dos imigrantes e de companhias alemãs na região.

A expectativa é de que o PIB alemão obtenha um incremento de 1,4% em 2017, em relação ao ano passado, disse o embaixador Georg Witschel destacando que Alemanha possui uma economia robusta e pode ser vista como uma “âncora de estabilidade econômica e política do mundo”.

Outros aeroportos operados pela Fraport

Aeroporto de Frankfurt - O mais importante aeroporto da Alemanha e o terceiro maior da Europa. Tem duas pistas de pouso e decolagem, uma com 4 mil metros e outra de 2,8 mil metros, e dois terminais. Tem capacidade para receber cerca de 58 milhões de passageiros por ano.

Aeroporto de Burgas - É o segundo maior terminal da Bulgária. Tem uma pista de 3,2 mil metros e um terminal. Em 2015, recebeu 2,4 milhões de passageiros.

Aeroporto Hannover-Langenhagen - Está localizado na cidade de Langenhagen, próximo a Hannover, na Alemanha. Em 2016, recebeu 5,4 milhões de passageiros. O terminal tem duas pistas, uma de 3,8 mil metros e outra de 2,34 mil metros.

Aeroporto de Pulkovo - É um aeroporto internacional que fica na cidade de São Petersburgo, na Rússia. Opera com duas pistas, de 3,78 mil metros e 3,397 mil metros, respectivamente. Em 2016, passaram pelo terminal cerca de 13,3 milhões de passageiros.

Aeroporto de Varna - É o terceiro maior aeroporto da Bulgária e opera com uma pista de 2,517 mil metros. Recebeu, em 2016, 1,69 milhões de passageiros.

Aeroporto International de Liubliana - É um aeroporto internacional localizado em Zgornji Brnik, mas que serve principalmente a cidade de Liubliana, capital da Eslovênia. No ano passado, o terminal recebeu 1,40 milhões de passageiros.

Aeroporto de Antalya - Está localizado a 13 quilômetros do centro de Antália, na Turquia. Recebeu, em 2016, 19 milhões de passageiros. Tem três pistas, duas de 3,4 mil metros e uma de 2,9 mil metros.

Aeroporto Internacional Indira Gandhi - Localizado em Déli, na Índia, é uma das principais vias de acesso internacional do país. Recebeu 55,6 milhões de passageiros no ano passado. Opera com três pistas, uma de 3,9 mil metros, uma de 4,2 mil metros e outra de 4,5 mil metros.

Aeroporto Internacional de Shaanxi - É um dos maiores aeroportos da China. Está localizado na cidade de Shaanxi. Opera com uma pista de 3,8 mil metros e uma de 3 mil metros.

Aeroporto Internacional Jorge Chávez - O maior e mais movimentado terminal do Peru. Está localizado na cidade de Callao, a 10 quilômetros da capital Lima. Só no ano passado, recebeu 18,8 milhões de passageiros.

  • ZURICH AIRPORT AG

A empresa suíça vencedora do leilão de concessão do Aeroporto Hercílio Luz, de Florianópolis (SC), ofertou R$ 83,3 milhões como sinal de 25% pela outorga da estrutura. O valor total a ser pago para o governo pelo direito de administrar o Hercílio Luz, pelos próximos 30 anos, é de R$ 241 milhões. O sinal mínimo para o Hercílio Luz era de R$ 52,7 milhões. A oferta vencedora teve um ágio de 58%. O terminal catarinense teve uma disputa intensa, principalmente na parte final do leilão, com disputa da Zurich com a Francesa Vinci. Além do maior aeroporto da Suíça, a Zurich atua também no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte (MG), com 25% do controle da estrutura.

A empresa concentra-se nas suas atividades principais como operadora aeroportuário nacional e internacional, na exploração dos centros comerciais nas áreas de terra e ar, bem como na gestão orientada para o rendimento e desenvolvimento de imóveis em Zurique. O aeroporto de Zurich tem prêmios por excelência de serviços, distâncias curtas de deslocamento, simpatia dos funcionários, limpeza, e confiabilidade dos processos e instalações de qualidade. A Zurich faz parte da concessionária BH Import, formada pelo grupo CCR e pela Infraero.

No Estudo de Viabilidade que baseou a cessão da estrutura para a iniciativa privada, feito por um consórcio comandado pelo escritório Moysés e Pires Sociedade de Advogados, de São Paulo, há previsão da aplicação de R$ 618 milhões em recursos nos primeiros dois anos. Ou seja, depois que assumir a administração do aeroporto, a concessionária precisará aplicar até 2019 dois terços dos R$ 988 milhões que o estudo aponta como necessários para investimentos até 2047, quando termina o contrato de 30 anos.

A primeira etapa de obras, que vai do período e 2017 a 2025, inclui o recapeamento e ampliação das existentes e construção de novas pistas de taxi aéreo; construção de novo pátio para aviação regular, de 63 mil m2, construção de novo terminal para passageiros, com 66 mil m2 em dois pavimentos, novo estacionamento de em frente ao terminal com 65 mil m2, entre outras obras.

Vinci Airports

A companhia francesa, vencedora da concessão do Aeroporto Internacional de Salvador, atua em 35 aeroportos em seis países  (Japão, Portugal, Camboja, República Dominicana, Chile e França). No ano passado, os terminais atenderam mais de 132 milhões de passageiros.

O aeroporto de Salvador foi arrematado por R$ 660,9 milhões, com ágio de 113%. Uma de suas prioridades é fortalecer ou criar novas rotas que ampliem o acesso de países da América Latina, América do Norte e Europa à Bahia. Entre os planos para melhoria física do aeroporto estão a instalação de seis novos fingers  e a criação da segunda pista de aterrisagem, que irá ampliar a capacidade de movimentação de voos e passageiros. A empresa também planeja investir em melhorias no serviço de atendimento aos passageiros.

O diretor de desenvolvimento de negócios da Vinci Airports, Benoît Trochu, chegou a afirmar, na época do leilão, que a companhia esperava maior competição pelo aeroporto de Salvador, uma vez que o terminal é atrativo em termos de turismo e de viagens corporativas. Mas ponderou que a instalação de um hub no Nordeste não é a prioridade das companhias aéreas brasileiras neste momento. "Não é mais prioridade estabelecer um hub (em Salvador ou Fortaleza), mas claro que é algo que podemos olhar no futuro".

Mas a empresa já detém a concessão do aeroporto de Santiago, no Chile, e dos aeroportos da República Dominicana, com exceção do terminal de Punta Cana.

Um dos aspectos corporativos da Vinci é a sua própria construtora, no entanto mais voltada para os serviços de energia. "Não é exatamente o foco que precisamos, mas eles podem ajudar nas obras do aeroporto", disse. Segundo o executivo, caso a Vinci opte por não empregue a companhia interna, a alternativa seria contratar um parceiro brasileiro.

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