Não é de hoje que a infraestrutura rodoviária é primordial para o transporte do país. Atualmente, as rodovias contribuem com aproximadamente 60% das cargas transportadas no Brasil, mas a malha pavimentada mantém-se estacionada em um índice de aproximadamente 25 km de rodovias pavimentadas para cada 1.000 km² de área, o que corresponde a apenas 12,4% da extensão rodoviária nacional.
E, mesmo nesta extensão, ainda há muito por fazer. Segundo Bruno Batista, diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), 59% dos 108.863 km rastreados pela Pesquisa CNT de Rodovias em 2019 não apresentavam condições favoráveis ao tráfego. Em 2018, quando foram pesquisados 107.161 km, o percentual foi de 57%.
“A situação do pavimento revelou problemas em 52,4% da malha, assim como ocorreu na geometria da via (76,3%) e na sinalização (48,1%)”, recorda o especialista. “Em 2018, es
Não é de hoje que a infraestrutura rodoviária é primordial para o transporte do país. Atualmente, as rodovias contribuem com aproximadamente 60% das cargas transportadas no Brasil, mas a malha pavimentada mantém-se estacionada em um índice de aproximadamente 25 km de rodovias pavimentadas para cada 1.000 km² de área, o que corresponde a apenas 12,4% da extensão rodoviária nacional.
E, mesmo nesta extensão, ainda há muito por fazer. Segundo Bruno Batista, diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), 59% dos 108.863 km rastreados pela Pesquisa CNT de Rodovias em 2019 não apresentavam condições favoráveis ao tráfego. Em 2018, quando foram pesquisados 107.161 km, o percentual foi de 57%.
“A situação do pavimento revelou problemas em 52,4% da malha, assim como ocorreu na geometria da via (76,3%) e na sinalização (48,1%)”, recorda o especialista. “Em 2018, essa avaliação foi de 50,9%, 44,7% e 75,7%, respectivamente.”
Além disso, o diretor ressalta que, neste ano, o contingenciamento levou os recursos reservados à infraestrutura de transportes do país ao seu menor volume desde 2011, com investimento aprovado de apenas R$ 7,4 bilhões. Isso, inevitavelmente, tem reflexos deletérios para o modal.
De maneira geral, as precárias condições das rodovias impactam diretamente nos custos do transporte. Estima-se que, em 2019, as inadequações do pavimento resultaram em uma elevação média de 28,5% do custo operacional para as empresas de transporte rodoviário de carga, com maior acréscimo na região Norte (38,4%), como explica o executivo da CNT. “A solução para esses problemas passa, necessariamente, pela retomada dos investimentos públicos nas rodovias”, comenta Batista. “Apesar de relevantes, somente os aportes privados não serão suficientes para promover as adequações necessárias.”
Especificamente na malha rodoviária federal sob gestão pública, os dados disponibilizados pelo governo mostram um avanço tímido. Entre 2019 e 2020, foram construídos apenas 315,4 km de rodovias, o que representa um acréscimo de 0,6% aos 52.916,2 km de malha existente em 2018. Mais que isso, a extensão total das rodovias federais (sob gestão pública e concedida) cresceu somente 2,6% nos últimos dez anos.
No comparativo dos últimos dois anos em relação a 2018, a adequação e a duplicação de rodovias federais sob gestão pública apresentam uma evolução igualmente baixa. Obras de duplicação realizadas em 2019 e 2020 corresponderam, respectivamente, a um aumento de 51,3 km e 228,1 km na extensão. “Apesar do acréscimo, atualmente a extensão de rodovias duplicadas representa menos de 6% da malha rodoviária federal sob gestão pública”, explica o diretor.
PRIORIDADES
Diante do quadro de restrições fiscais, o secretário nacional de Transportes Terrestres do Ministério da Infraestrutura (MInfra), Marcello Costa, assegura que o Governo Federal tem buscado avançar na melhoria da malha rodoviária federal, seja por meio de obras executadas pelo Departamento Nacional de Infraestruturas de Transportes (Dnit) como pela iniciativa privada, via leilões – já foram cinco desde o início de 2019.
Nos últimos seis anos, afirma o secretário, o país teve um crescimento de 45% na duplicação de rodovias, passando de 11 mil km para 15,9 mil km.
“Além de oferecer uma malha que atenda à população e ao setor produtivo, a preocupação também está voltada para a qualidade e segurança viária”, explica Costa. “Um bom exemplo é o InovaBR, programa dedicado à modernização das principais rodovias federais, públicas e concedidas.”
Segundo ele, a maior parte do orçamento anual do MInfra – atualmente em torno de R$ 8 bilhões – é destinada ao setor rodoviário, justamente para os trabalhos de conservação e recuperação viária executados pelo Dnit.
Nesse quadro, a parceria com o setor privado tem se mostrado uma alternativa inescapável para se oferecer um serviço de melhor qualidade aos usuários. “Essa melhoria tem um impacto direto no custo logístico, que pode ser 92% maior de acordo com a degradação do pavimento de uma rodovia”, comenta o especialista. “Além disso, o Banco Mundial estima que, para cada dólar que deixa de ser gasto em manutenção, são necessários de US$ 3 a US$ 4 para reconstrução do empreendimento.”
Uma das frentes de atuação do MInfra, acentua o gestor, é expandir a capilaridade da malha nacional, ainda concentrada majoritariamente na região Sudeste, a fim de contribuir com a competitividade e, consequentemente, com o crescimento econômico do país como um todo.
“A qualidade da infraestrutura rodoviária está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico de um país”, observa Costa. “Tanto que, hoje, o Brasil ocupa apenas a 93ª posição no ranking mundial nesse quesito, segundo o Global Competitiveness Index do Banco Mundial.”
Desde 2019, o MInfra vem priorizando investimentos em obras já em andamento, em empreendimentos sem impeditivos ambientais e/ou regulatórios, seguindo as diretrizes das leis de responsabilidade fiscal e orçamentária. Nessa linha, Costa explica que o órgão utiliza critérios técnicos para determinar a alocação de recursos, como o potencial de desenvolvimento das regiões a partir da infraestrutura, a priorização de corredores logísticos estratégicos e o aumento da segurança viária, por exemplo.
Além disso, também se baseia em critérios táticos, como o fluxo de veículos, nível de saturação do sistema e indicadores de qualidade. “Desta forma, alguns empreendimentos importantes em andamento, como BR-116/RS, BR-280/SC, BR-470/SC, BR-101/SE, BR-116/BA, BR-304/RN, BR-230/PA, BR-101/BA e BR-101/AL, são responsáveis por mais de 50% do orçamento do ministério”, especifica o diretor.
CONCESSÕES
Segundo o secretário, a participação da iniciativa privada tem se mostrado fundamental para o desenvolvimento da infraestrutura de transportes, inclusive no modal rodoviário.
Na carteira de projetos do MInfra, informa Costa, são estimados cerca de R$ 110 bilhões voltados exclusivamente para a melhoria de mais de 17 mil km da malha rodoviária nacional, além de estudos em andamento que devem originar novas concessões.
“De 2019 para cá, foram contratados mais de R$ 22 bilhões em investimentos para o setor rodoviário, contribuindo para melhorar a segurança viária com duplicações e novas obras estruturais”, diz ele. “Isso tem reflexos positivos para a logística de escoamento de cargas do país, ajudando a tornar o Brasil mais efetivo.”
No período citado, o MInfra realizou os leilões das rodovias BR-101/290/386/448/RS – Rodovia de Integração do Sul (RIS), BR-364/365/GO/MG, BR-101/SC e, mais recentemente, BR-153/080/414/GO/TO e BR-163/230/MT/PA.
Até o final deste ano, mais R$ 22 bilhões já estão encaminhados aos projetos de concessões. Em outubro, o órgão realizou a relicitação da Rodovia Presidente Dutra (BR-116), apresentado como maior leilão rodoviário da história do país, em conjunto com a Rio-Santos (BR-101), somando quase R$ 15 bilhões de investimentos. Para 2022, estão no radar mais de 12 mil km de rodovias, com destaque para o anel de integração do Paraná.
Entre as principais intervenções previstas, diz Costa, está a implantação da nova subida da Serra das Araras, na BR-116/RJ. Localizado entre Piraí e Paracambi, o trecho de 16,2 km apresenta um alto índice de acidentes e problemas de fluidez. A nova concessão deve ser a primeira rodovia federal no país a testar o sistema free-flow para pagamento eletrônico de tarifas, com valor variável de acordo com a demanda de veículos.
A expectativa é que a tecnologia contribua para a fluidez do tráfego entre as pistas expressas e marginais. O teste inicial está previsto para ocorrer na região de Guarulhos (SP).
Para novembro, está previsto o leilão da BR-381/262/MG/ES, com mais R$ 7 bilhões a serem contratados. Dentre as principais obras previstas estão 402 km de duplicação, 228 km de faixas adicionais, 131 km de vias marginais, 130 retornos, 125 correções de traçado e 40 passarelas, além de ao menos dois pontos de parada e descanso para motoristas e de um contorno no município de Manhuaçu (MG), inclusive com a implantação de um túnel.
A expectativa é de que a concessão gere cerca de 110 mil empregos, incluindo diretos, indiretos e de efeito-renda. “A licitação beneficiará diferentes setores produtivos, tanto de Minas Gerais como do Espírito Santo, como pecuária, agricultura, mineração e polos industriais e comerciais”, explica Costa. “Além disso, atenderá ainda o Vale do Aço, uma importante região composta por siderúrgicas.”
Em paralelo, o MInfra também avança nos projetos do trecho Rio de Janeiro-Governador Valadares (BR-116/493/RJ/MG), com mais R$ 9 bilhões previstos, e das rodovias integradas do Paraná, que englobam mais de 3,3 mil km, sendo prevista a duplicação de aproximadamente 1.700 km, com investimentos na ordem de R$ 44 bilhões.
Como ressalta Batista, da CNT, as concessões se traduzem em melhorias na eficiência e qualidade dos serviços prestados e na maior disponibilidade de capital para investimentos e manutenção dos serviços, com enxugamento da máquina pública.
“Também imprimem maior rapidez na realização de aportes, absorvendo tecnologias e incorporando melhores práticas”, avalia o especialista. “Além disso, há maior previsibilidade de manutenção dos investimentos, entrada de recursos para o setor público (por meio da venda de ativos e pagamentos de outorgas) e efeitos encadeados de redução de custos, resultando em um aumento geral da competitividade por toda a economia e maior atratividade para novos investimentos.”
Qualidade das rodovias vem piorando, diz pesquisa
Refletindo o corte de investimentos públicos na área, que caíram de uma média de R$ 8,9 bilhões/ano entre 2016 e 2020 para R$ 5,8 bilhões/ano em 2021, a nova pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostra que quase um quarto da malha rodoviária brasileira pavimentada está em estado péssimo (6,9%) ou ruim (16,3%), notoriamente nos trechos sob gestão pública.
A pesquisa foi baseada em 109.103 km de rodovias pavimentadas no país. A maior fatia, 38,6%, encontra-se apenas regular, o que leva à constatação de que 61,8% das rodovias têm qualidade insatisfatória, como citado em reportagem do jornal O Estado de S.Paulo.
O valor para reconstrução e restauração das vias pode chegar a R$ 62,9 bilhões, enquanto a manutenção dos trechos desgastados custaria R$ 19,6 bilhões, calculou a CNT.
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