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Tripé do mal aleija e mata a indústria nacional há 8 anos

Juros pornográficos, sistema tributário perverso e câmbio desequilibrado afetam competitividade, afirma líder da abimaq

Folha de S.Paulo

13/08/2015 12h48


Depois de perderem 25 mil empregos no primeiro semestre e sem previsão de novas encomendas para o ano, as indústrias de máquinas devem fechar ainda mais vagas até o fim de 2015, quando esse número pode dobrar.

A previsão é do engenheiro químico Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq, associação que reúne 1.535 empresas filiadas. Nesta quinta (13), industriais ligados à entidade vão para a rua ao lado de trabalhadores representados por três centrais sindicais, em uma manifestação em defesa da indústria e do emprego.

Além da crise econômica, ele diz que o setor de máquinas –e a indústria de transformação– sofre os efeitos de uma desindustrialização "sil

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Depois de perderem 25 mil empregos no primeiro semestre e sem previsão de novas encomendas para o ano, as indústrias de máquinas devem fechar ainda mais vagas até o fim de 2015, quando esse número pode dobrar.

A previsão é do engenheiro químico Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq, associação que reúne 1.535 empresas filiadas. Nesta quinta (13), industriais ligados à entidade vão para a rua ao lado de trabalhadores representados por três centrais sindicais, em uma manifestação em defesa da indústria e do emprego.

Além da crise econômica, ele diz que o setor de máquinas –e a indústria de transformação– sofre os efeitos de uma desindustrialização "silenciosa". Sem resolver os juros "pornográficos" e o sistema tributário complexo, "com o viés de facilitar a importação", e sem um patamar de câmbio adequado, Pastoriza acredita que o país não terá condições de sair da crise e resolver os problemas da "porta para fora da fábrica". Ele afirma, porém, que a indústria também precisa resolver as questões "da porta para dentro".

Dificuldade

O setor de máquinas é o que mais sofre na indústria de transformação porque máquina é investimento para quem compra. E a primeira coisa que empresário faz, em época de insegurança e crise, é cortar investimento.

Este é o terceiro ano consecutivo de queda real de produção e faturamento. Somados, significa um tombo de 30%, um terço disso só neste ano.

Até segmentos que vão relativamente bem, como o de maquinário agrícola, cancelaram pedidos e vão esperar.

Na hora que se faz isso, a crise se materializa: sai da cabeça do empresário e vai para o mundo real.

Afora a falta de investimento privado e público, que afeta o setor industrial, há oito anos convivemos com o chamado 'tripé do mal'.

Tripé do mal

Temos juros pornográficos, os mais altos do planeta, que afetam os custos e, portanto a competitividade, do produto.

Nosso sistema tributário, além de complexo, é perverso, burro e irracional, porque penaliza mais quem fabrica no Brasil do quem importa. Só pelo fato de fabricar aqui pago mais caro que meu rival importado.

O terceiro ponto é o câmbio desequilibrado. Mesmo com a alta do dólar, ainda é 25% mais caro produzir, se compararmos mesma tecnologia e maquinário, em relação à Alemanha ou aos EUA.

O ministro da Fazenda Mario Henrique Simonsen [1935-1997] dizia: juro alto aleija; câmbio alto mata. A indústria está sendo aleijada e morta há pelo menos oito anos.

Desindustrialização

O Brasil passa por uma desindustrialização silenciosa, mascarada. Não vemos o fechamento em massa das fábricas, mas as indústrias silenciosamente deixam de ser fabricantes para virarem montadoras e, em seguida, importadoras. Fazem isso de uma forma maquiada.

O eletrônico vem acabado da China, a empresa tira a placa do produto xingue-lingue e coloca a de fabricado no Brasil, de marca conhecida. Perde o consumidor, perde o trabalhador, perde o país.

A empresa faz isso porque quebraria se continuasse produzindo aqui. Isso está disseminado em vários segmentos, de eletrônicos, linha branca, brinquedos, instrumentos musicais a outros. Enquanto isso ocorre, o emprego vai sendo dizimado na indústria.

Emprego e indústria

Vamos unidos para a rua na quinta (13), empresários e trabalhadores do setor, representados por três centrais [Força Sindical, UGT e CGTB], em um grito de alerta em defesa do emprego e da indústria.

É um movimento apartidário, sem falar de volta de militar nem de impeachment.

O ato é desvinculado do previsto para domingo, a quem respeitamos também.

Convidamos vários setores, mas, infelizmente, parte do empresariado ainda tem uma visão retrógrada, pensa que trabalhador e empresário juntos não dá certo.

Mas uma coisa é negociar salário, outra é defender um interesse em comum. Estamos juntos. Se um lado morrer, o outro também morre.

Ajuste

O governo, após as eleições, deu um 'cavalo de pau' nas expectativas de maneira tão rápida e brusca que a crise foi mais recessiva até do que se esperava. Agora toda a situação se agrava com a crise política instaurada.

Para retomar a confiança talvez seja necessário enfrentar o aprofundamento da crise, descer a um grau tal de insatisfação que sobrevenha um rearranjo geral institucional, sem que sejam necessárias medidas dramáticas como o impeachment.

Agora, a classe política tem de se entender, criar uma situação de governabilidade que possa ser percebida pelo cidadão comum. Enquanto ele achar que virou uma guerra campal, a crise política só vai piorar a crise econômica.

Porta para dentro

Mesmo se, em um passe de mágica, resolvêssemos todos os problemas da porta para fora da indústria –todos os gargalos de infraestrutura, juros, câmbio, sistema tributário–, nosso parque industrial é envelhecido. Em média tem 17 anos, enquanto o da Alemanha tem sete.

Levaríamos ao menos duas décadas para conseguir retomar produtividade. Não porque brasileiro é vagabundo e trabalha menos. Temos um parque fabril atrasado, que pesa 60% na produtividade, segundo estudo do setor.

Outros 25% são fator humano, falta de qualificação, e o restante, sistemas de gestão, organização. Da crise atual às reformas necessárias e a retomada do crescimento, são duas décadas.

O presidente eo setor

Carlos Pastoriza

Idade: 59 anos

Formação: engenheiro químico pela USP, com MBA em administração pela Universidade de Navarra

Carreira: presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) no quadriênio 2014-2018

 

O setor de máquinas

Empresas associadas: 1.535

Trabalhadores: 337 mil

Vagas fechadas: 25 mil (1º semestre de 2015 ante igual período de 2014)

Receita líquida total: queda de 6,5% no período

Exportação: queda de 17,4%

Principais destinos das exportações: América Latina, EUA e Europa

Previsão para 2015: queda real de 10% no faturamento

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