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Tribuna do Norte
22/03/2010 11h58 | Atualizada em 22/03/2010 16h22
No ano passado, enquanto o mundo e o Rio Grande do Norte sentiam os efeitos da recessão e da desaceleração de investimentos, um empresário mineiro, de 36 anos, apostava suas fichas num complexo industrial de R$ 1,2 bilhão e chance de o Rio Grande do Norte ligar as máquinas da Alcanorte, fábrica de barrilha instalada há mais de três décadas em Macau, mas até hoje inativa. O projeto, que prevê a produção não só desse produto, mas também de tinta, cimento, energia e beneficiamento de calcário, considerados prioritários num primeiro momento, despertou o interesse de potenciais parceiros, mas esbarrou numa disputa judicial pelo controle da fábrica de barrilha - uma de suas ramificações. “O impasse atrasou nossos planos. Mas estamos no ponto
...No ano passado, enquanto o mundo e o Rio Grande do Norte sentiam os efeitos da recessão e da desaceleração de investimentos, um empresário mineiro, de 36 anos, apostava suas fichas num complexo industrial de R$ 1,2 bilhão e chance de o Rio Grande do Norte ligar as máquinas da Alcanorte, fábrica de barrilha instalada há mais de três décadas em Macau, mas até hoje inativa. O projeto, que prevê a produção não só desse produto, mas também de tinta, cimento, energia e beneficiamento de calcário, considerados prioritários num primeiro momento, despertou o interesse de potenciais parceiros, mas esbarrou numa disputa judicial pelo controle da fábrica de barrilha - uma de suas ramificações. “O impasse atrasou nossos planos. Mas estamos no ponto de começar. Já tenho o corpo técnico todo preparado para dar início à montagem, às instalações. Basta essa questão ser resolvida”, diz Tersandro Milagres, empresário que está à frente da Techno-Par, holding de participação criada no Rio Grande do Norte para gestão dos projetos.
Fazendo jus à fama de comer quietinho dos mineiros, ele esboçou o “Complexo Industrial de Macau”, como batizou o empreendimento, encontrou parceiros com interesse em cada área de produção, deu início ao processo de licenciamento e apresentou, sem holofotes, os detalhes das negociações ao governo do estado. “Não começamos a montagem no ano passado por conta das disputas jurídicas. Tenho cinco empresas grandes, com contratos de intenção de investimento firmados, mas que não querem se expor no meio dessa confusão toda”, comentou o empresário, em entrevista exclusiva à Tribuna do Norte, em que apresentou pela primeira vez os detalhes e o cronograma do investimento.
O projeto foi dividido em três etapas e, em linhas gerais, tem como objetivo o beneficiamento de calcário para produção de cimento, cal e barrilha. Mas também engloba a implantação de unidades para produzir tinta, energia e vidro, por exemplo. A barrilha entraria na linha de produção numa última etapa. “Podemos chegar na barrilha, mas precisamos de estudos mais profundos. A produção de cal, por exemplo, é simples, a de barrilha não é tão simples”, disse Milagres, garantindo que o produto não está fora dos planos. Algumas razões inviabilizam a produção, porém, no curto prazo. Um dos motivos é a indisponibilidade de gás no momento para atender a fábrica. Mas o problema, de acordo com Milagres, não é insolúvel.
“Conversamos com a Petrobras e ela não fechou as portas. Disse que precisaria de dois ou três anos para se estruturar e fazer o fornecimento”, detalha. Os equipamentos existentes na fábrica também estão obsoletos e demandam estudos para que o investidor analise a viabilidade dos custos. Pelo cronograma apresentado ao governo do estado em outubro de 2009, a terceira etapa do projeto, que incluiria a barrilha, seria implantada em 36 meses. Um dos diretores da Alcanorte, atualmente afastado, Herculano Caiado, garante que há um grupo indiano disposto a produzir o insumo.
A linha de produção do complexo industrial deve ser, porém, estreada pelos outros produtos. “Um projeto viabiliza o outro”, diz Milagres. Desde 2006, vêm sendo desenvolvidos estudos de mercado e outras análises no projeto.
Disputa judicial atrasa início dos investimentos no projeto
Dois grupos da Novalcalis, sócia majoritária da Alcanorte, disputam o controle da empresa, provocando um impasse que tem atrasado o início dos investimentos para ativar o complexo. Segundo Herculano Caiado, diretor financeiro da Alcanorte, mas atualmente afastado, um grupo de oposição à gestão que integra tentou dar um “golpe de Estado” para assumir o comando da companhia.
O processo se arrasta há cerca de 10 meses. No Rio de Janeiro, a justiça teria decidido manter os antigos administradores, grupo em que se inclui Herculano, o presidente da Alcanorte Aloísio Caiado e o presidente da Noválcalis, Antônio Carlos Feres, em seus cargos, mas, quando o processo chegou ao Rio Grande do Norte, os opositores conseguiram decisão favorável e ficar à frente da empresa. “Mas estamos recorrendo dessa decisão”, diz Herculano.
O grupo opositor, segundo ele, estaria interessado na renda mensal da fábrica instalada no Rio Grande do Norte, que gira em torno de R$ 200 mil. A renda, de acordo com informações do diretor, vem do arrendamento de uma adutora de água à Caern, que abastece 14 municípios da região próxima à Macau, mas que havia sido concebida, inicialmente, para fornecer água ao projeto. “Como o projeto não foi pra frente, foi arrendada”, explica. A cifra também é garantida pelo aluguel de 279 casas, de um clube e de uma mina de granito de propriedade da Alcanorte. Parte da receita vem, ainda, de royalties, pagos pela produção e exploração de petróleo e gás na área em que está instalada a companhia.
A disputa judicial, segundo ele, tem atrapalhado totalmente o andamento dos novos projetos.
“Temos um investidor que se propõe a começar uma parte do projeto e tem condição de buscar parceiros. Mas os investidores não sentem firmeza em quem está à frente da negociação desse jeito. Isso tudo gera insegurança ao investimento”, analisa ele, que participou ativamente da captação de parceiros e vem acompanhando os projetos da Techno-Par.
Alcanorte tornaria o Brasil autossuficiente
A Alcanorte foi concebida para ajudar o Brasil a se tornar autossuficiente na produção de barrilha, na década de 70. O insumo, feito à base de sal, gás e calcário, produzidos com destaque pelo Rio Grande do Norte, encontrou terreno fértil, mas nunca chegou, porém, a ser produzido no estado. Na esteira de crises envolvendo seus ex-controladores, a fábrica foi inviabilizada. Se afundou em dívidas e só encontrou perspectivas de ressuscitar há cerca de três anos, quando a outra fábrica existente no Brasil, a Álcalis, fechou as portas, por conta de dívidas, mas também de escassez de matéria-prima nas proximidades de onde estava instalada, no Rio de Janeiro.
As duas empresas foram arrematadas pelo grupo Fragoso Pires, na época das privatizações, e “doadas” em 2003, a funcionários que assumiram a administração por meio da Companhia Nacional de Álcalis (CNA). “Eu entrei no projeto quando a Álcalis estava funcionando. Na realidade, foi para tentar recuperar a Álcalis no Rio de Janeiro”, diz Tersandro.
O projeto dele era montar uma termoelétrica dentro da empresa para fornecer energia e vapor para o processo de produção de barrilha. O projeto permitiria uma redução de 30% nos custos de produção do insumo. “Nessa época, tivemos dificuldade porque não tinha gás no Rio de Janeiro parta abastecer o projeto. A mesma dificuldade que temos hoje aqui”, comenta ele. “Quando a fábrica fechou, como eu já estava com financiamento liberado, com equipamentos liberados para montar e todo mundo falava que no Rio Grande do Norte tinha facilidade do gás, vim ver as instalações para tentar montar a estrutura aqui”, continua.
Com experiência na área de geração de energia, o empresário pretende firmar parcerias com outras empresas para fabricar os demais produtos. “Desde 2006 eu estou investindo. Tem outros grupos interessados. Grupos considerados agressivos”, afirma.
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