Mercado
Folha de S.Paulo
30/09/2015 07h45
Muito falado e pouco conhecido, o BNDES é o maior interessado no intenso debate que o cerca. Seu papel é priorizar o investimento, que gera hoje emprego e renda. Amanhã, ele ampliará a capacidade e modernizará a estrutura produtiva, aumentando o potencial de crescimento econômico do país.
O banco financia a expansão de capacidade física (máquinas, equipamentos, obras) e a capacitação empresarial (inovação, governança, internacionalização). O apoio é feito em reais –moeda da maior parte das receitas das empresas do país–, com taxas e prazos compatíveis com o retorno dos investimentos. O banco é o principal financiador de longo prazo do Brasil.
Contudo, por lidar com expectativas do futuro da economia, o investimento é volá
...Muito falado e pouco conhecido, o BNDES é o maior interessado no intenso debate que o cerca. Seu papel é priorizar o investimento, que gera hoje emprego e renda. Amanhã, ele ampliará a capacidade e modernizará a estrutura produtiva, aumentando o potencial de crescimento econômico do país.
O banco financia a expansão de capacidade física (máquinas, equipamentos, obras) e a capacitação empresarial (inovação, governança, internacionalização). O apoio é feito em reais –moeda da maior parte das receitas das empresas do país–, com taxas e prazos compatíveis com o retorno dos investimentos. O banco é o principal financiador de longo prazo do Brasil.
Contudo, por lidar com expectativas do futuro da economia, o investimento é volátil por natureza: cresce mais quando o PIB está se acelerando e cai mais quando o PIB desacelera. Além disso, seus desembolsos envolvem uma fração do investimento total –15% em 2014.
Quando o momento é ruim, o banco contribui para evitar uma queda mais pronunciada do investimento, sem deixar de olhar o longo prazo e ajudar na retomada, como no apoio à infraestrutura. É nesse contexto que se discutem as críticas que têm sido feitas ao BNDES, como as vocalizadas por Monica de Bolle na Folha. Duas se destacaram.
A primeira é que o banco não estaria fazendo diferença para o investimento. Em coluna de 3 de setembro, De Bolle afirmou: "De fato, após alcançar um pico em torno de 20% do PIB em 2010/11, a taxa de investimento brasileira caiu para perto 17,5%, enquanto o período 2010-2014 foi testemunha de forte expansão da carteira do BNDES".
Os números estão imprecisos. De 2010 a 2014, a taxa de investimento média, a preços constantes de 2014, foi de 20,3% do PIB, acima da média do período 2000-08 (17%). O BNDES ajudou a financiar uma expansão anual do investimento de mais de três pontos percentuais do PIB.
A segunda crítica é que o banco seria uma das principais causas do juro alto, pois seu crédito, baseado na taxa de juro de longo prazo (TJLP), ficaria fora do alcance da ação do Banco Central e da taxa básica de juros (Selic). Ademais, ao servir basicamente a grandes empresas, o BNDES deixaria para o setor privado os clientes de maior risco. São argumentos contraditórios.
Se o crédito é seletivo, não há como falar em "entupir os canais de transmissão da política monetária". No Brasil, o juro elevado é uma falha estrutural advinda das dificuldades crônicas das contas externas e da indexação financeira herdada da época de hiperinflação.
Como a Selic é alta, a TJLP precisa ser mais baixa. Tais taxas são definidas pela equipe econômica, que as calibram cotejando impacto fiscal e grau de priorização que a cada momento se quer dar ao investimento frente ao consumo. Isso faz o BNDES ser mais relevante no total do crédito local do que seus pares entre os bancos de fomento.
O BNDES também busca impulsionar o financiamento privado. Busca trazer firmas e investidores para o mercado de capitais, por exemplo, impulsionando os fundos de capital de risco e fazendo ofertas públicas para vender suas ações. Suas políticas incentivam a emissão de títulos da dívida, compartilhando garantias e elevando o crédito em TJLP para quem faz esse cofinanciamento.
O banco fortalece o mercado, mas o juro precisa cair e chegar ao padrão internacional para que o financiamento privado ao setor produtivo alcance sua plenitude. A conclusão é que o BNDES é decisivo para ajudar o Brasil a enfrentar os desafios do desenvolvimento, mas não pode tudo. E, claro, suas prioridades dependem das estratégias de cada governo. O BNDES busca cumprir suas missões com eficiência.
O banco, por isso, avalia sua atuação. Em junho, foi divulgado o seu "Relatório de Efetividade", com estudos internos e externos. O BNDES está sempre aberto ao debate.
Artigo de CLÁUDIO LEAL, 47, superintendente da área de planejamento do BNDES
MARCELO MITERHOF, 41, assessor da presidência do BNDES
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