Mercado
DCI
12/04/2017 11h16 | Atualizada em 13/04/2017 14h25
São Paulo - O aumento gradual da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e a diminuição dos desembolsos pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estimulam uma migração dos tomadores de crédito para fontes alternativas de financiamento.
O impacto dessa mudança tem proporções diferentes, que variam de acordo com o tamanho da empresa em busca de empréstimo, segundo especialistas consultados pelo DCI.
Para as companhias de grande porte, a diminuição da presença do BNDES deve estimular uma busca maior por recursos de instituições estrangeiras e do mercado acionário, além dos bancos privados brasileiros.
"A tomada de crédito no exterior deve ganhar força quando o câmbio estiver mais estável e forem
...São Paulo - O aumento gradual da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e a diminuição dos desembolsos pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estimulam uma migração dos tomadores de crédito para fontes alternativas de financiamento.
O impacto dessa mudança tem proporções diferentes, que variam de acordo com o tamanho da empresa em busca de empréstimo, segundo especialistas consultados pelo DCI.
Para as companhias de grande porte, a diminuição da presença do BNDES deve estimular uma busca maior por recursos de instituições estrangeiras e do mercado acionário, além dos bancos privados brasileiros.
"A tomada de crédito no exterior deve ganhar força quando o câmbio estiver mais estável e forem melhoradas as avaliações do País pelas agências internacionais de classificação de risco", disse Miguel de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Já as pequenas empresas encontram menos alternativas no mercado. Com maior dificuldade para conseguir financiamento no exterior e em fontes de renda variável, elas continuam dependendo do fomento dos bancos nacionais.
Sobre a perspectiva para o empréstimo pelas instituições privadas no Brasil, Roberto Luis Troster, ex-economista chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), apresentou visão pouco otimista.
"Mesmo com o aumento da demanda [por crédito] e a redução da Selic, as taxas de juros desses bancos continuarão bastante elevadas, entre as maiores do mundo", afirmou ele. Isso porque, na visão do especialista, são necessárias mudanças "profundas", como o fim do depósito compulsório, para que fique mais atraente essa fonte de financiamento.
Com isso, a alternativa mais acessível continua sendo o fomento público, que já está mais escasso. Ainda que a TJLP, hoje em 7% ao ano, continue menor que as taxas de mercado, o BNDES reduziu fortemente seus empréstimos durante a crise econômica. Em 2016, os desembolsos caíram 35,1% na comparação com 2015.
Ao mesmo tempo, Maria Silvia Bastos Marques, presidente do órgão de fomento, desde 2016, anunciou que a taxa de longo prazo praticada pelo banco vai se aproximar das taxas de mercado nos próximos anos.
"Nesse cenário, o acesso ao crédito continuará muito complicado", afirmou Joseph Couri, presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpe).
O entrevistado comentou que a maior parte das companhias pequenas do setor não conta com o "apoio direto" do BNDES, precisando, assim, da intermediação de instituições financeiras para ter acesso aos recursos. "E é aí que está o problema", segue ele. "Mesmo quando o banco público quer emprestar, esses intermediários seguem outra linha de raciocínio, eles não fazem esse financiamento", afirmou.
As pequenas empresas varejistas também veem uma restrição dos desembolsos. Ainda que o setor procure menos o fomento público que a indústria, o cartão BNDES, instrumento direcionado às firmas de menor porte, é usado por uma parcela considerável dos comerciantes, afirmou Kelly Carvalho, assessora econômica da FecomercioSP.
"Essa redução do crédito do banco é ruim, porque o cartão [BNDES] é importante para as PMEs [pequenas e médias empresas] do varejo", disse ela.
Novo direcionamento
Ainda que exista preocupação sobre o financiamento das companhias de menor porte, a maior parte dos especialistas defendeu a abordagem proposta por Maria Silvia.
Em meio à redução dos desembolsos do banco, a executiva disse, mais de uma vez, que o apoio do "novo" BNDES vai priorizar projetos sensíveis e que tragam retorno social, como as próprias PMEs e as obras de saneamento público e de energia alternativa.
"Essa proposta tem sido muito bem feita. Não fazia sentido direcionar recursos públicos para grandes empresas, que podem conseguir esse dinheiro em outras fontes", disse Troster, em referência à política adotada pelo banco principalmente durante o segundo mandato do ex-presidente Lula.
Representante do ramo de energia alternativa, Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica, também elogiou as alterações da gestão atual.
Mesmo a aproximação da TJLP com as taxas de mercado foi considerada "positiva" por ela. "Além de ser uma mudança com potencial para permitir uma queda das taxas de juros da economia, entendemos que isso irá também fomentar o mercado de capitais como um todo e ainda incentivar novas opções de crédito para empreendedores", explicou.
Outra alteração defendida pelos entrevistados foi o fim do financiamento do Tesouro ao BNDES, também destacado diversas vezes por Maria Silvia. A executiva não descarta uma abertura maior do órgão público para recursos do mercado financeiro - hoje, o fomento é baseado no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Menos crédito
No primeiro bimestre de 2017, os desembolsos do banco público caíram 16%, na comparação com os dois primeiros meses de 2016, para R$ 10 bilhões.
Na análise por porte, o recuo dos empréstimos do BNDES foi mais forte para as grandes companhias, com queda de 19%. Já o segmento de Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs) registrou queda de 10%. Para as firmas de tamanho médio, entretanto, houve alta de 29% no primeiro bimestre, favorecida pela mudança na metodologia do banco, que ampliou o limite de faturamento para esse porte.
Em nota divulgada no mês passado, o banco de fomento projetou uma "recuperação da demanda por recursos", ao longo do ano, "em uma conjuntura econômica mais favorável".
27 de agosto 2020
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