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Valor Econômico
14/01/2013 11h08
Ainda fortemente associado à atividade de empreiteira, sua atuação original, o grupo Odebrecht diversificou na última década de tal forma seu leque de negócios que hoje 70% do seu faturamento de quase R$ 80 bilhões ao ano já vem das outras 15 áreas de atuação. Os braços do conglomerado, sob controle estrito da família que lhe dá o nome, variam hoje de energia, empreendimentos imobiliários, óleo e gás até entretenimento.
A metamorfose começou nos anos 70 em meio à escassez de obras no país, quando o "milagre econômico" do regime militar começou a se esgotar. O grupo comprou ativos em petroquímica e criou 20 anos depois uma empresa de concessão rodoviária. Mas esse movimento foi suspenso pela crise dos Tigres Asiáticos, que forçou
...Ainda fortemente associado à atividade de empreiteira, sua atuação original, o grupo Odebrecht diversificou na última década de tal forma seu leque de negócios que hoje 70% do seu faturamento de quase R$ 80 bilhões ao ano já vem das outras 15 áreas de atuação. Os braços do conglomerado, sob controle estrito da família que lhe dá o nome, variam hoje de energia, empreendimentos imobiliários, óleo e gás até entretenimento.
A metamorfose começou nos anos 70 em meio à escassez de obras no país, quando o "milagre econômico" do regime militar começou a se esgotar. O grupo comprou ativos em petroquímica e criou 20 anos depois uma empresa de concessão rodoviária. Mas esse movimento foi suspenso pela crise dos Tigres Asiáticos, que forçou a venda de negócios na década de 90. Passada a turbulência, a diversificação voltou com força a partir dos anos 2000. A companhia adquiriu mais ativos petroquímicos, como a Copene, e avançou para o etanol com a ETH. Após criar a Braskem em 2002, incorporou a Quattor e adquiriu fábricas de Sunoco e Dow nos EUA e Europa entre 2010 e 2011, o que a tornou líder nas Américas.
A diversificação de negócios ganhou ritmo a partir de 2009, com a entrada da terceira geração da família no comando. O engenheiro Emílio, filho de Norberto Odebrecht (fundador do grupo), passou a presidência para seu filho Marcelo. O grupo, então, mudou seu perfil.
Com base na expansão, foram traçadas metas ambiciosas para 2020 - ano estratégico para a família, que a cada 10 anos renova seus planos. Até lá, o plano é ter receita bruta de R$ 200 bilhões e ter esse mesmo valor de mercado.
Sem planos de ir à bolsa, para a frustração do mercado, o grupo busca mais sócios privados para impulsionar os novos negócios. "Não descartamos abrir capital de algumas divisões [só a Braskem tem ações em bolsa], mas fazemos questão de controlar todas", diz Felipe Jens, vice-presidente de planejamento da Odebrecht.
Atualmente, dos 16 negócios do grupo, nove são controlados 100% pela Odebrecht e cinco estão sob o guarda-chuva da construtora. As sete subsidiárias restantes contam com parceiros estratégicos, como Petrobras, Gávea, Temasek, além de BNDESPar e FI-FGTS (ver quadro acima). "Se o grupo abrisse capital, o interesse pelos papéis seria muito grande", afirmam analistas.
A Construtora Norberto Odebrecht (CNO), que gera um terço do faturamento do grupo, tende a diminuir participação na receita. Não vai reduzir de tamanho - as vendas brutas ficaram em R$ 25,7 bilhões em 2012 -, mas outras áreas crescerão. A empreiteira, como prestadora de serviço, é a geradora de caixa do grupo e motor para bancar os investimentos da família em novos segmentos. Nos últimos três anos foram criadas mais empresas, como a de empreendimentos imobiliários, que em 2012 registrou o maior volume de lançamentos no país. A divisão de óleo e gás surfa na onda do pré-sal.
Além da ampliação de negócios, a expansão internacional, que iniciou nos anos 80, conduzido por Emílio, vai se acelerar sobretudo em construção, nos EUA, América Latina e África, e em petroquímica. Com atuação em 35 países, a companhia espera que 50% da receita venha do exterior em 2020.
A criação de grandes conglomerados, como a Odebrecht, Cosan, Ultra e JBS, por exemplo, é movimento típico de mercados emergentes. "São nesses países que esses grupos encontram oportunidades em infraestrutura", diz Sérgio Lazzarini, professor titular de organização e estratégia do Insper. "Nos EUA, esse movimento foi nos anos 50 e 60 e já não existe mais." Segundo Lazzarini, o custo de fazer negócios em um país emergente é alto, o que facilita o ambiente para os conglomerados, que têm facilidade de crédito. No entanto, a intervenção do governo é maior. "Entre os pontos negativos, estão a falta de transparência desses grupos, à medida que se diversificam muito, além de inibir o empreendedorismo de pequenas empresas".
O plano de expansão da Odebrecht foi calculado passo a passo por seu fundador e seguido à risca pelos herdeiros - todos formados em engenharia. "Costumamos dizer que Norberto construiu uma jangada, Emílio [filho de Norberto] a transformou em lancha e Marcelo em um transatlântico", diz uma fonte próxima à família.
Com o rigor atribuído aos alemães, os Odebrecht chegaram ao Brasil em 1856 em uma colônia agrícola em Blumenau (SC) e fizeram nome e fama em construção. A construtora da família, que atuou em obras no Nordeste nas décadas de 20 e 30, foi afetada pela escassez de materiais de construção e altos preços durante a 2ª Guerra Mundial. Emílio então voltou para o Sul e Norberto, um formando em engenharia pela Universidade Federal da Bahia, assumiu o bastão ao herdar uma companhia à beira da falência.
Após acordos firmados com o Banco da Bahia, Norberto quitou as dívidas naquela década e deu uma guinada no negócio. Entre os anos 50 e 60, avançou para o Centro-Sul do país atraído por clientes como a Petrobras e obras de usinas, pontes e aeroportos durante o regime militar. As relações com o governo sempre foram estreitas e ganharam força a partir dos anos 2000, sob a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. O estádio do Corinthians, dizem fontes, foi um pedido especial de Lula.
Norberto, atuante aos 93 anos, mas afastado do dia-a-dia, continua o nome forte do grupo e o guru responsável pela cartilha que rege a atuação dos quase 200 mil funcionários. Apesar do discurso de descentralizar o comando, os líderes "odebrechtianos" (como eles próprios se chamam) fazem constantes referências às frases da cartilha - a chamada Tecnologia Empresarial Odebrecht (Teo). Seu neto Marcelo, responsável pela diversificação da companhia, é conhecido por trabalhar 24 horas por dia e não abrir mão de seu Blackberry.
O desafio desse "transatlântico" é chegar a 2020 intacto, desviando-se dos icebergs pelo caminho.
Os Odebrecht enfrentam no momento um litígio com um dos principais acionistas do grupo, a família Gradin. Bernardo e Miguel, filhos de Vitor, que se tornou sócio de Norberto nos anos 70, brigam na Justiça por uma fatia de 20,6% da Odebrecht Investimentos (Odbinv). O mercado acompanha atento o desfecho dessa história.
Construtora lidera repasse de verbas da União no ano
A Construtora Norberto Odebrecht (CNO) foi a empresa privada que mais recebeu repasses do governo federal em 2012 por meio de contratos. Os pagamentos foram feitos pelo Tesouro Nacional de março a outubro e somam R$ 1 bilhão, o dobro da Embraer, segunda colocada na lista, que recebeu cerca de R$ 500 milhões.
A seguir, as farmacêuticas Abbott e GlaxoSmithKline (GSK) receberam, no mesmo período, com importação de medicamentos, R$ 483 milhões e R$ 458 milhões, respectivamente, e a construtora Queiroz Galvão, a quinta na lista, obteve R$ 419 milhões para realizar obras em rodovias.
Os números, levantados pelo Valor a partir do Portal da Transparência do governo, se referem a gastos diretos de órgãos federais. São despesas com aquisição e contratação de obras, compras de bens e outros itens. Boa parte dos contratos não passou por licitação, segundo o portal.
A quase totalidade dos recursos obtidos é oriunda do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) para o país. Somou o montante de R$ 999,7 milhões. Para a execução desse programa, a Marinha brasileira havia contratado a empresa francesa Direction des Constructions Navales et Services (DCNS), que se juntou ao grupo Odebrecht em um consórcio responsável pela construção dos submarinos.
Antes da fabricação das unidades, o programa terá uma primeira fase para erguer um estaleiro e uma base naval no município de Itaguaí, no Rio de Janeiro, cujas obras são realizadas pela construtora. Foram esses contratos que fizeram a empreiteira liderar os investimentos do governo federal no ano.
A dispensa de concorrência pública nos contratos firmados com a Odebrecht é justificada pelo artigo nono da chamada lei de licitações, a 8.666/93, segundo informações do portal. O texto autoriza a dispensa "quando houver possibilidade de comprometimento da segurança nacional". O objeto do programa da Marinha é desenvolver cinco submarinos, um de propulsão nuclear e outros quatro movidos a diesel e energia elétrica, para a defesa da costa brasileira - de onde é retirada a maior parte do petróleo e gás do país e onde há potencial para atividades ainda ali inexploradas, como mineração de metais como níquel, cobre e cobalto. As obras estão em execução.
Se em construção os contratos no mercado interno estão a todo vapor, o mesmo não se pode dizer do segmento petroquímico, principal negócio em receita do grupo. Nos últimos dois anos o setor cresceu muito pouco e a Braskem se viu obrigada a seguir um rigor financeiro. Em 2012, apesar de inaugurar duas novas fábricas, uma de PVC em Alagoas, e de butadieno no Rio Grande do Sul, com aportes de cerca de R$ 1,3 bilhão, a empresa vai frear investimentos no país para retomá-los em um momento mais favorável.
No exterior, a petroquímica está digerindo duas grandes aquisições - ativos da Sunoco e Dow - e toca a construção de um complexo petroquímico no México, avaliado em US$ 3,2 bilhões, que deverá entrar em operação em 2015. Esse investimento é considerado estratégico, uma vez que a companhia vai utilizar gás natural como principal matéria-prima.
Para analistas de mercado ouvidos pelo Valor, o movimento de diversificação do grupo dá respaldo para que o conglomerado não seja afetado por uma eventual crise, caso determinado setor seja afetado por "ciclos de baixa".
27 de agosto 2020
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