Mercado
Folha de São Paulo
19/03/2015 09h08
RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTON
Apelidado de Sr. Apocalipse por ter sido um dos únicos economistas a prever a crise financeira e a bolha hipotecária de 2008 nos EUA, Nouriel Roubini, 57, diz que está "mais otimista que o empresariado brasileiro" sobre as perspectivas para o Brasil.
"Se a presidente não for irracional ou suicida politicamente, e não acho que ela seja, o ajuste será feito."
Se não o fizer, avalia Roubini, "o real sofrerá queda livre, o Brasil vai perder o grau de investimento".
"A desaceleração da China e a queda dos preços das matérias-primas afetaram o Brasil, mas a atual fraqueza se deve a quatro anos de políticas financeiras, monetárias e fiscais erradas", afirma.
...RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTON
Apelidado de Sr. Apocalipse por ter sido um dos únicos economistas a prever a crise financeira e a bolha hipotecária de 2008 nos EUA, Nouriel Roubini, 57, diz que está "mais otimista que o empresariado brasileiro" sobre as perspectivas para o Brasil.
"Se a presidente não for irracional ou suicida politicamente, e não acho que ela seja, o ajuste será feito."
Se não o fizer, avalia Roubini, "o real sofrerá queda livre, o Brasil vai perder o grau de investimento".
"A desaceleração da China e a queda dos preços das matérias-primas afetaram o Brasil, mas a atual fraqueza se deve a quatro anos de políticas financeiras, monetárias e fiscais erradas", afirma.
Americano, nascido na Turquia e criado na Itália, de pais judeus iranianos, Roubini diz que a opção brasileira pelo "capitalismo de Estado" facilitou o esquema de propinas na Petrobras e que os investimentos em infraestrutura e as concessões de portos e aeroportos "vão na direção correta, mas de forma muito lenta".
PRESIDENTE SEM ESCOLHA
Os investidores estão céticos porque veem fraqueza política da presidente e acham que o ajuste não vai acontecer. Assim, o real continua caindo.
Mas a presidente não tem escolha. A menos que seja irracional ou politicamente suicida, o que não acredito que seja, ela vai insistir no ajuste.
VOLTA DO CRESCIMENTO
Se Dilma fizer o ajuste agora e mudar suas políticas, terá um ano muito difícil, sem crescer ou com leve recessão. Em 2016 será um pouco melhor, pode crescer até 1,5% e ter outros dois anos de expansão OK. Se não o fizer, o real sofrerá queda livre, o Brasil vai perder o grau de investimento. Ela sabe que o segundo mandato poderá se tornar um desastre.
CRISE INTERNACIONAL
Certamente há fatores externos que afetam a economia brasileira, como a desaceleração global, em especial a da China, e a queda nos preços de commodities, como o minério de ferro.
Mas a fraqueza econômica do país neste ano se deve a quatro anos de políticas macroeconômicas erradas. Monetárias, fiscais, de crédito erradas, muito frouxas.
Depois de Dilma se reeleger, ela percebeu que precisava de um ajuste difícil. Cortar despesas, aumentar receita, controlar a inflação. 2015 será um ano muito difícil. Provavelmente de recessão, com desemprego e inflação em alta.
CETICISMO DO MERCADO
O mercado está cético porque acha que Dilma não queria Levy, que ele foi imposto pela crise, e também acha que ela não pode corrigir seus erros.
O mercado não acredita no comprometimento, quer ação, não palavras. Mas, pessoalmente, estou mais otimista que o empresariado brasileiro.
INFRAESTRUTURA
O Brasil é uma economia grande. O consumo doméstico pode crescer e a queda do real pode reduzir o deficit externo. Mas o país precisa aumentar investimentos públicos em infraestrutura, incentivar as parcerias público-privadas. O potencial de crescimento do Brasil não é grande, mas 3% seria alcançável.
No primeiro mandato da Dilma, houve algumas concessões de aeroportos e portos, mas de forma muito lenta. Imagino que Levy busque essa liberalização também. A direção é a correta.
CAPITALISMO DE ESTADO
O capitalismo de Estado no Brasil pode se ver pelo que aconteceu com a Petrobras, que embarcou em projetos caros que não eram viáveis. Políticas de conteúdo nacional excessivo e que dificultaram a participação de investidores de fora deram errado.
Elas abriram as portas para o protecionismo, a esquemas de propinas. Menos competição para conseguir contratos. Houve uma atmosfera que distorceu as decisões que fariam sentido para a empresa.
Sem esquecer do papel excessivo do BNDES no crédito, dos bancos estatais, das empresas estatais.
Mas o Brasil não é a Argentina nem a Venezuela.
DESACELERAÇÃO CHINESA
Há visões extremas sobre a China, de pouso forçado ou suave. Eu vejo um pouso com alguns solavancos, mas vai continuar crescendo mais de 5,5%, 6% ao ano. Não dá para continuar a crescer como antes, criando investimentos errados ou se endividando.
Eles precisam de mais consumo doméstico e criar milhões de empregos. Mas, com o envelhecimento da população, poderão crescer menos sem deixar desempregados.
27 de agosto 2020
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