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Copa e Olimpíadas trarão R$ 30 bi à hotelaria

DCI

10/11/2009 17h46 | Atualizada em 10/11/2009 22h41


O Brasil está prestes a sediar os dois maiores eventos esportivos mundiais - a Copa do Mundo e as Olimpíadas - e com isso está no centro dos planos de investimentos de empresas nacionais e internacionais. Embora ainda não exista um valor exato do montante de investimentos que os jogos trarão ao País, é fato que uma série de aportes serão aplicados em obras para a melhoria da infraestrutura e capacitação de mão de obra.

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O Brasil está prestes a sediar os dois maiores eventos esportivos mundiais - a Copa do Mundo e as Olimpíadas - e com isso está no centro dos planos de investimentos de empresas nacionais e internacionais. Embora ainda não exista um valor exato do montante de investimentos que os jogos trarão ao País, é fato que uma série de aportes serão aplicados em obras para a melhoria da infraestrutura e capacitação de mão de obra.

Os eventos também ampliam a atuação das empresas de consultoria e auditoria voltadas à estruturação de investimentos em novos negócios nas áreas de infraestrutura, turismo, entretenimento e hotelaria. Para falar do assunto, o programa “Panorama do Brasil” recebeu Mauro Ambrósio, sócio-diretor da auditoria Crowe Horwath RCS e consultor de sustentabilidade que falou sobre a atuação da empresa na formatação de projetos nesses setores aos jornalistas Roberto Müller e Theo Carnier, editor-chefe do DCI.

Roberto Müller: Com base na sua experiência na área de turismo, entretenimento e hotelaria, você acredita que a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil vai dar certo? Estamos preparados?

Mauro Ambrósio: É uma pergunta bastante interessante, complexa, mas, com certeza, acho que o Brasil tem tudo para fazer grandes eventos, tanto a Copa do Mundo quanto as Olimpíadas. O País precisa de uma série de investimentos e de um planejamento estratégico para estruturar um plano que permita suprir algumas deficiências existentes hoje em relação a infraestrutura e à capacidade de receber mais turistas. Recentemente, eu conversei com uma pessoa da área de turismo, e ela me disse que o Brasil ainda não é visto como um atrativo turístico mundial. Há uma ideia de que o Rio de Janeiro e o Carnaval têm esse apelo, mas na verdade não o têm.

Roberto Müller: Aliás, a participação do Brasil no complexo turístico mundial é irrelevante.

Mauro Ambrósio: É irrelevante, tanto em posição de ranking de fluxo de turistas, quanto em relação à participação no Produto Interno Bruto (PIB) da economia brasileira. Para se ter uma ideia, o Brasil hoje não ocupa nem as primeiras 50 posições nos rankings de interesse do turista familiar, nem nos de viagens de negócios. As viagens de negócios subiram um pouco agora, até pela importância da economia brasileira, mas ainda são irrelevantes. E a participação no PIB, considerando-se as atividades de hotelaria, restaurantes, todo o entorno que traz o turismo, não representam nem 6%. Em alguns casos, se tirarmos algumas coisas que os especialistas às vezes não consideram, como o fluxo em restaurantes, entretenimento, lazer, cinema, a parcela de participação não chega nem a 3% do PIB brasileiro. Existe um grande desafio neste sentido, de, primeiro, despertar o desejo do turista de vir ao Brasil, conhecer, por exemplo, o Rio de Janeiro, as cataratas do Iguaçu, a Amazônia, do mesmo modo que ele tem em seu imaginário ir a Paris ou a Nova York. O governo brasileiro está trabalhando para a divulgação do turismo, mas de uma maneira muito incipiente. Outro desafio é a infraestrutura. Hoje temos problemas em portos, outro, grave, em aeroportos, em número de habitações disponíveis em hotelaria. São Paulo e Rio de Janeiro, que lideram esse número, ainda têm uma quantia muito pequena em relação a outros países de referência na área de turismo. E há a questão do custo-Brasil, que infelizmente não está presente só nos investimentos e na economia, mas na questão turística, em relação à segurança pública, à capacitação de mão de obra, em idiomas, no oferecimento de um portfólio eficiente de informações ao turista, aqui, ainda que seja muito pequeno. O turista, quando pensa em ir a um país, busca comodidade, exceto os que procuram uma certa aventura - e este poderia ser o turista interessado no Brasil. Aventura, que eu digo, não só em se preocupar se vai ser recebido no aeroporto, mas ele vai ter uma comodidade com motorista de táxi que fale o idioma dele. É muito difícil andar nas principais cidades brasileiras. Um costume muito comum, por exemplo, como o de alugar um carro quando você vai visitar um determinado país, é muito difícil de fazer no Brasil. Acho que o Brasil deve melhorar muito nesse sentido, de estar mais preparado para receber as pessoas que queiram comodidade, sem que o turista tenha de se preocupar com segurança, transporte etc.

Theo Carnier: Dá tempo de melhorar um pouco este quadro para que a Copa e as Olimpíadas sejam um sucesso?

Mauro Ambrósio: É óbvio que da noite para o dia, não dá. Se não desse, provavelmente os investidores estrangeiros não estariam interessados, e eles estão. Temos recebido muitos investidores espanhóis, portugueses, asiáticos, para fazer análises de projetos por conta de Copa do Mundo e Olimpíadas. É bom ressaltar que estes eventos são um grande atrativo, mas temos de pensar no investimento que deverá ser feito no Brasil independentemente desses eventos. Mesmo sem eles, temos de pensar com cuidado na questão do turismo, que hoje é fonte de receita para diversos países e poderia ser para o Brasil também. O que precisa ser feito dar prioridade a algumas coisas? Não vai dar tempo de fazer tudo, mas dá para fazer relativamente bem feito algumas coisas. Para isso, é necessário discutir o planejamento estratégico. Tivemos exemplos recentes de países que se prepararam de uma forma grandiosa para receber um evento e se esqueceram disso.

Roberto Müller: O Brasil, com essas deficiências históricas em turismo, fará a Copa do Mundo, as Olimpíadas, investirá uma enormidade nesses dois eventos, atrairá a atenção do mundo todo, e depois? O que deve fazer para manter a infraestrutura montada para os dois eventos?

Mauro Ambrósio: Os hotéis não deverão ficar vazios. Não é só uma questão de reflexo de Copa do Mundo e de Olimpíada. O Brasil precisa colocar isso na sua mentalidade, na sua estratégia enquanto nação e em seu potencial econômico.

Roberto Müller: Onde é que isso foi feito direito?

Mauro Ambrósio: Nós temos dois bons exemplos. Barcelona, que é muito citada, não tinha um fluxo de turistas grande. A Espanha estava com um problema econômico na época e a cidade de Barcelona era ultrapassada, não era uma cidade atrativa para o turismo. O programa que foi feito lá, muito mais do que construir instalações e complexos turísticos para atingir a Olimpíada, focou na divulgação das belezas da Espanha, de Barcelona e enfocou principalmente a questão da estrutura e do custo-Barcelona. Então, investiu-se em melhoria da cidade, do transporte público, em limpeza, no treinamento de pessoas para receber turistas. Foi feita uma remodelação da cidade, que é chamada de “cidade de costas para o mar”. Investiu-se muito em alguns locais específicos, como na criação de restaurantes, e deu certo. Barcelona hoje é um destino turístico muito grande. A diferença de Barcelona para, por exemplo, a China, é que a China não teve esse pós-Olimpíada como Barcelona. Ela tem “gigantes brancos”, como o estádio Ninho de Pássaro, onde tentam fazer alguns eventos, e, bem ou mal, têm um local para visitação turística, embora o turista não se interesse muito por isso. Mas, se o Brasil seguir o exemplo de Barcelona e não pensar só em 2014 e 2016, mas em 2015 e 2017, ou seja, não só em Copa do Mundo e Olimpíada, e preparar-se para entrar na rota política do mundo, o sucesso está garantido. Ainda, em relação a dar tempo, o que se discute muito é a questão do planejamento estratégico. Quais são as prioridades que o Brasil deveria ter? Fala-se muito na construção de complexos esportivos. “Vamos construir 20 estádios para a Copa do Mundo.” O orçamento médio de um estádio é de R$ 500 milhões. Acho que não deveríamos focar só nos estádios, que são basicamente construídos para aquele evento, depois ficam um pouco abandonados. O maior investimento tem de ser feito em infraestrutura, em remodelagem do parque hoteleiro, em segurança e divulgação de outras belezas naturais. Faço um parênteses interessante. Eu fui procurado recentemente por um prefeito de uma cidades que não será sede da Copa do Mundo, mas que está muito próxima a uma sede, e eles estão pouco interessados no futebol, mas querem divulgar um determinado parque, um complexo turístico, uma beleza natural que eles têm. Pouco importa fazer a associação com o futebol.

Roberto Müller: Dentro da expertise internacional da sua empresa, de fomento ao turismo e entretenimento, o que vocês fazem para viabilizar estes empreendimentos de uma maneira integrada?

Mauro Ambrósio: Existem diversos serviços que podem ser feitos. Vou me pautar no que os investidores têm pedido neste momento. Existe um interesse muito grande, de investidores internacionais e nacionais, em trazer ao Brasil conceitos novos ligados à área de hotelaria, turismo e lazer, mas com a preocupação de saber se eles são viáveis aqui. Por exemplo, hoje é muito comum fora do Brasil, especialmente em países de primeiro mundo, não fazer nenhum projeto de hotelaria apenas como um simples projeto de hotelaria, de simplesmente trazer uma bandeira internacional para o Brasil. Eles não estão muito interessados nisso. Temos diversos projetos com portugueses, espanhóis, norte-americanos. É impressionante como os europeus de origem hispânica se interessam pelo Brasil, por motivos óbvios de clima ou de cultura, de língua. Eles pedem projetos de conceituação de hotel de turismo e de lazer. Eles informam que têm um determinado capital para investir e pedem para buscarmos o melhor projeto para uma determinada região. Por exemplo, com 30 a 40, 50 milhões de euros, a primeira dúvida é: onde ele pode investir? Em uma cidade como o Rio de Janeiro, que terá Copa e Olimpíada; no nordeste, que eles conhecem bem, tem vôos diários para Lisboa e Madri; no centro-oeste, que é pouco conhecido, por conta de Pantanal; ou Amazônia; litoral de São Paulo etc. Para cada área, existe um projeto diferente. O segundo ponto, além de escolher a área, é entender quais são as necessidades daquela região, os entendimentos legais -porque existe uma complexidade legal muito grande no Brasil em relação ao meio ambiente, é importante destacar. Eu trabalho com sustentabilidade e, a meu ver, essa preocupação é muitas vezes exacerbada. Mas depois de escolhidos a área e o conceito e iniciada a parte legal, tentamos definir o tipo de projeto, que pode ter um centro comercial, um resort, um shopping center, hotel que tenha apartamentos de segunda residência. Isso é muito comum na Flórida. O europeu investe na segunda residência, e eles a querem em lugares onde exista convívio social. O espanhol quer comprar um apartamento de praia onde haja um centro de compras que tenha restaurante, bar, academia e, quiçá, um escritório para que ele possa trabalhar. Então, primeiro procuramos o lugar, depois o terreno. Fazemos um estudo de viabilidade, de qual será o valor do investimento e qual retorno ele dará dentro de alguns anos. Também levantamos o custo do entorno do projeto, verificando se tem público, se vai depender do turista estrangeiro. Por fim, avaliamos se tem público, se a economia vai bem e se a infraestrutura permite que se faça um investimento desses. É um projeto a que chamamos de plano estratégico de conceitualização de investimentos em hotéis de turismo e lazer. É o produto mais procurado em nossa empresa.

Theo Carnier: Baseando-se na experiência internacional da empresa, é possível agilizar esses investimentos sem prejudicar a qualidade?


Mauro Ambrósio: Para projetos de conceitualização, do momento em que você é contatado pelo investidor até pôr o projeto em pé, pronto para ser operado, há tempo suficiente. Um projeto desses não dura mais do que seis meses e a construção hoje é muito fácil: é possível construir complexos em dois, três anos, dentro do prazo para a Copa. O mais difícil é a questão da infraestrutura. Temos feito trabalhos junto a alguns governos específicos, justamente pedindo um apoio neste sentido, de deixar uma infraestrutura satisfatória nos próximos quatro anos. Temos hoje um projeto com um estado do nordeste em que a ideia é fazer com que ele se prepare de uma maneira adequada para o evento, como ele vai fazer isso e o que ele vai priorizar. Mas, posso responder com segurança que dá tempo. Há uma idéia de que teremos de demolir todos os estádios e construir novos, de que teremos de construir mais 30 estações de metrô para dar acesso ao estádio etc. Tudo que fazemos, e o conceito da nossa empresa é esse, é que não estamos preocupados só com a Copa do Mundo e a Olimpíada. Estamos preocupados com o desenvolvimento da hotelaria de turismo e der lazer no Brasil, independente desses eventos. Se não der tempo de fazer tudo, e talvez não dê, para que o País se torne uma potência turística, o caminho é esse e o momento é agora. Porque você aproveita a Copa do Mundo e a Olimpíada para trazer mais investidores. Eu acho que o Brasil teve muita sorte e competência para, num momento em que a crise econômica atingiu muita gente, conseguir sair relativamente bem dessa questão e se transformar em um lugar de investimento mundial, vide a preocupação do governo com fluxo financeiro. Acho que casamos o fortalecimento da nossa economia, a mudança estrutural de algumas questões (é preciso mexer ainda em muita coisa, no Judiciário, na parte tributária etc), mas o Brasil aproveitou bem essa pequena modernização, com a conjuntura econômica, com o potencial econômico, com dois eventos, e isso vai transmitir, e isso é o que interessa para a nossa área, no investimento definitivo do Brasil enquanto polo turístico mundial, independente de Copa do Mundo e de Olimpíada.

Théo Carnier: Você acha que estes dois eventos serão um marco a partir do qual o Brasil terá condições de se tornar uma potência turística?

Mauro Ambrósio: Sem dúvida nenhuma.

Roberto Müller: O que significam estes dois eventos em termos de recursos, investimentos?

Mauro Ambrósio: Qualquer informação exata é mero chute. Existem alguns estudos, mas, fazendo uma conta rápida, em termos de Copa do Mundo o investimento será de perto de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões, só em termos de aproveitamento de arena. É difícil quantificar quanto irá gerar de empregos e investimentos com a construção de metrô, estrada, etc. Existem cerca de 100 complexos hoteleiros sendo previstos que, em média, custariam hoje de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões. Com isso, já temos R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões: é muito dinheiro e emprego. Existe um cálculo de que Rio de Janeiro e São Paulo precisam aumentar em 40% a capacidade de quartos, um investimento absurdo. Estima-se que geração de emprego deve chegar perto de 1 milhão de postos diretos.

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