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iG São Paulo
04/03/2010 17h11 | Atualizada em 04/03/2010 20h12
Falta de recursos, projetos escassos e planejamento insuficiente. Este tripé barrou nos últimos 25 anos boa parte dos investimentos necessários em infraestrutura no Brasil. Além de todos os gargalos que saltam aos olhos atualmente – vide caos nos aeroportos, estradas esburacadas, apagões, etc – a conta de tudo isso é bastante alta. Estima-se que o Brasil perdeu – ou deixou de ganhar – pelo menos R$ 360 bilhões desde meados da década de 1980. O valor é equivalente ao PIB da Dinamarca projetado para 2009.
O cálculo é uma estimativa. Segundo o professor Pedro Cavalcanti Ferreira, da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para cada R$ 1 investido em infraestrutura gera-se R$ 0,50 de crescimento do Produ
...Falta de recursos, projetos escassos e planejamento insuficiente. Este tripé barrou nos últimos 25 anos boa parte dos investimentos necessários em infraestrutura no Brasil. Além de todos os gargalos que saltam aos olhos atualmente – vide caos nos aeroportos, estradas esburacadas, apagões, etc – a conta de tudo isso é bastante alta. Estima-se que o Brasil perdeu – ou deixou de ganhar – pelo menos R$ 360 bilhões desde meados da década de 1980. O valor é equivalente ao PIB da Dinamarca projetado para 2009.
O cálculo é uma estimativa. Segundo o professor Pedro Cavalcanti Ferreira, da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para cada R$ 1 investido em infraestrutura gera-se R$ 0,50 de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano em um prazo de 20 anos. “Poderíamos ter um PIB que seria 12% ou 15% superior ao que temos hoje”, diz. “Não seríamos o País mais rico do mundo, mas é muito dinheiro.” Caso os investimentos estivessem em dia, o PIB de 2009 poderia saltar de R$ 3,027 trilhões (segundo projeções da consultoria Rosenberg & Associados) para R$ 3,390 trilhões.
O Brasil está muito atrás de outros países quando o assunto é infraestrutura. Levantamento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2007, com as 11 maiores economias do mundo, mostrou que o Brasil é o lanterna em investimentos no setor. Atualmente, o governo destina cerca de 1% do PIB ao ano para infraestrutura. A iniciativa privada soma cerca de 2% ao montante. Mesmo assim, os recursos ainda estão consideravelmente abaixo do necessário. “O ideal seria chegar a, pelo menos, 5% do PIB”, diz Júlio Gomes de Almeida, professor de Economia da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Histórico de escassez
Após a década de 1970, quando os grandes projetos eram tocados por empresas estatais, os investimentos em infraestrutura entraram em uma fase mais crítica. “A base do problema está nos anos 80”, diz Francisco Anuatii Neto, professor da FEA-USP de Ribeirão Preto.
Com a inflação descontrolada, foi necessário agir sobre preços de serviços públicos, afetando as receitas das estatais. “A inflação corrompeu a capacidade de financiamento dessas empresas, que perderam as condições de contratação”, diz Anuatii Neto. “Além disso, havia uma carência de financiamento em dólares, porque o Brasil não tinha superávit em dólares.”
Ele cita o caso da usina nuclear Angra 3 como maior exemplo. “O projeto tem os componentes comprados e não terminados, porque nos acordos internacionais comprometeram-se os recursos”, afirma.
Barreiras
Para Júlio Gomes de Almeida, o Brasil atravessou um período de 25 anos de restrição financeira “aguda” para investimentos em infraestrutura. Privatizações e concessões foram as alternativas buscadas para minimizar essa lacuna, mas muito ainda precisa ser feito. Nos últimos anos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passou a ter papel central nesse tipo de financiamento. “Hoje, a restrição de recursos é menor, mas ainda há problemas", diz. "Razão pela qual é necessário diminuir os gastos de custeio do governo e estimular o mercado de capitais.”
Os especialistas são unânimes ao avaliar as dificuldades de projetos e planejamento em infraestrutura. “Há liquidez abundante, mas faltam projetos”, diz Roberto Padovani, estrategista sênior do banco WestLB. “O Brasil tem uma deficiência regulatória muito grande, que inibe os investimentos.”
Além disso, questões políticas também freiam a infraestrutura no País. “Gastos em investimentos são sempre fáceis de comprimir num ajuste fiscal”, aponta o professor Pedro Cavalcanti Ferreira. “Você gasta uma fortuna para fazer uma malha rodoviária, mas o benefício só vem mais para frente. Então, tem-se um cálculo político de retorno de longo prazo, mas o custo é no curto prazo.”
Copa e Olimpíadas
Segundo levantamento da Standard & Poor’s, nos próximos cinco anos, áreas como transportes, estádios esportivos, usinas de energia, tratamento de água e projetos offshore de petróleo devem receber até US$ 500 bilhões. O foco é a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, que forçarão o País a ampliar sua infraestrutura.
“Vejo com bons olhos o fato de termos dois eventos absolutamente relevantes no âmbito mundial”, afirma Roberto Padovani. "Isso dará visibilidade a um problema grave que temos e, naturalmente, transformaremos em agenda política."
Para Padovani, as eleições presidenciais de 2010 também podem definir um novo foco para o setor. “A agenda política está cada vez menos baseada nas discussões macroeconômicas de curto prazo, como câmbio e juros, e muito mais baseada em questões microeconômicas, que são justamente os gargalos em infraestrutura”, afirma. Resta saber se haverá vontade política - e financeira - para ampliar os investimentos no setor.
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