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Após crise, Itabira se recupera

Empresas ligadas à mineração voltam a contratar depois da retração causada pela turbulência global

Estadão

18/01/2010 14h36


O mecânico Fernando Luís da Silva, de 28 anos, anda feliz da vida. Depois de passar mais de um ano desempregado, vivendo de bicos, recuperou seu emprego na Sales Gama, empresa que presta serviços para a mineradora Vale. Seus quatro irmãos, todos casados, também voltaram ao trabalho. "Agora está tudo bem, estamos trabalhando para recuperar o atraso, mas a coisa foi feia", diz.

Em 2008, o Natal não havia sido feliz para a família do mecânico. Ele e os quatro irmãos foram demitidos na crise que atingiu em cheio a mineração e provocou demissões em massa em Itabira (MG), berço da Vale. Fernando voltou para a Sales Gama há dois meses. André, de 31, e Edmar, de 26, conseguiram emprego em outras prestadoras de serviço. Patrícia, de

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O mecânico Fernando Luís da Silva, de 28 anos, anda feliz da vida. Depois de passar mais de um ano desempregado, vivendo de bicos, recuperou seu emprego na Sales Gama, empresa que presta serviços para a mineradora Vale. Seus quatro irmãos, todos casados, também voltaram ao trabalho. "Agora está tudo bem, estamos trabalhando para recuperar o atraso, mas a coisa foi feia", diz.

Em 2008, o Natal não havia sido feliz para a família do mecânico. Ele e os quatro irmãos foram demitidos na crise que atingiu em cheio a mineração e provocou demissões em massa em Itabira (MG), berço da Vale. Fernando voltou para a Sales Gama há dois meses. André, de 31, e Edmar, de 26, conseguiram emprego em outras prestadoras de serviço. Patrícia, de 29, e Juliana, de 28, foram contratadas pela própria Vale.

O emprego em Itabira ainda está longe de atingir os níveis pré-crise. E a prefeitura informa que o impacto na arrecadação ainda afetará o exercício de 2010. Mas a retomada das contratações no último trimestre de 2009 já conseguiu desfazer o clima de insegurança na cidade, cuja economia depende muito da mineração.

"O susto passou", resume Marcos Vinicius Linhares, diretor comercial e sócio da Sales Gama, uma das mais afetadas pelo cancelamento de contratos com a Vale. O número de empregados, que já chegou perto de 1,2 mil, caiu para 322 no pior ponto da crise. Entre 12 de outubro e 12 de dezembro de 2008, foram mais de 700 demissões.

"Num único dia, a conta das demissões somou R$ 2,5 milhões", lembra. A imagem da tensão estampada nos rostos de tantos funcionários ainda não foi esquecida. Foi preciso reunir os trabalhadores no galpão de manutenção para tentar explicar por que, de uma hora para a outra, tanta gente estava no olho da rua.

A Sales Gama ainda está longe de atingir o número de empregados de antes da crise. Mas, por lá, o clima é de euforia. Só na semana passada, 50 pessoas foram contratadas. O número de funcionários já está perto de 600. A empresa - que atua com locação de máquinas, manutenção e limpeza industrial - tem dado preferência aos ex-funcionários.

Fábia Nery, de 31 anos, Tatiana Duarte, de 24, e Viviane Lessa, de 29, fazem parte do grupo recontratado. Viviane, que trabalhava como programadora desde 2000, perdeu o emprego em dezembro de 2008. Só conseguiu trabalho de vendedora no comércio, ganhando menos e sem benefícios.

"Quando você é chamado de volta, não é só o emprego que você recupera, é sua autoestima", diz Tatiana, que passou quase um ano trabalhando como secretária de um clube, com salário menor e também sem benefícios. "É um grande alívio", diz Fábia, que atuava no controle de qualidade e, durante o ano que esteve desempregada, não conseguiu se recolocar. Pelo cenário atual, muitas outras pessoas ainda deverão ser chamadas. Só nesta semana, o diretor Marcos Linhares entrega oito propostas à Vale. Se alguma virar contrato, novas vagas serão abertas.

Na MMP e na Polikini, que depois da Sales Gama são as maiores prestadoras de serviço da Vale em Itabira, o cenário é o mesmo. Hoje, a MMP emprega cerca de 300 pessoas. No fim de 2008, apenas 100 haviam sido mantidas. "Estamos num ciclo de recuperação da economia de Itabira, mas só poderemos pensar em recuperação total para 2011", analisa o secretário de Desenvolvimento Econômico, Raymundo Nonato Moreira. Para este ano, informa, a ordem na administração municipal ainda é enxugar despesas.

O Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), o mesmo que prestou consultoria para o governador Aécio Neves para saneamento das contas estaduais, foi contratado pela prefeitura para identificar onde ainda é possível cortar.

Segundo o secretário, embora a produção mineral - base da economia local - tenha voltado a crescer, os preços do minério ainda não se recuperaram totalmente. Só depois que subirem e a produção crescer mais será possível ver reflexos positivos no caixa da cidade e voltar a pensar em investimentos públicos. No início de 2009, com a mineração em processo de encolhimento, a prefeitura suspendeu até o patrocínio do carnaval de rua.

A Vale não informa dados sobre recontratação. A informação oficial é que ainda não foram abertas novas vagas e que as contratações estão de acordo com a rotatividade normal de mão de obra. Segundo os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o número de empregos no setor extrativista de Itabira era, até novembro de 2009, 1,64% menor que o de novembro de 2008: 205 empregos a menos.

"Embora o nível de emprego não tenha sido recomposto, a percepção da população sobre a situação atual é muito boa, até melhor que a realidade", diz Moreira. Contribuiu para esse "efeito psicológico" o anúncio que a Vale fez sobre a expansão das atividades na mina de Conceição, um investimento de quase US$ 1,2 bilhão para uma nova planta. A companhia ainda depende de licenças ambientais para realizar o plano. Mas comunicou, em audiência pública na Câmara Municipal, que três mil pessoas serão contratadas no pico da obra. Quando entrar em operação, no segundo semestre de 2012, serão 400 novos postos de trabalho.

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