Mercado
Guia da Siderurgia
20/05/2010 11h38
O faturamento da indústria nacional de máquinas e equipamentos teve uma queda de 20%, e sua mão de obra uma redução de 7,5% durante o ano de 2009, o que significou cerca de 20 mil empregos menos do que no final de 2008. O setor atingiu o ‘fundo do poço’ em fevereiro do ano passado, quando a queda do seu faturamento, em relação a fevereiro de 2008, atingiu 35%. Depois, começou um processo de recuperação gradual, mas que não foi suficiente para evitar a redução de 20% na média do ano. “Houve uma espécie de ‘queda livre’ no faturamento do nosso setor, no final de 2008 e início de 2009, e a partir de fevereiro começaram a haver pequenos incrementos. Em novembro, porém, houve uma nova queda, para a qual nós ainda não conseguimos encontrar uma
...O faturamento da indústria nacional de máquinas e equipamentos teve uma queda de 20%, e sua mão de obra uma redução de 7,5% durante o ano de 2009, o que significou cerca de 20 mil empregos menos do que no final de 2008. O setor atingiu o ‘fundo do poço’ em fevereiro do ano passado, quando a queda do seu faturamento, em relação a fevereiro de 2008, atingiu 35%. Depois, começou um processo de recuperação gradual, mas que não foi suficiente para evitar a redução de 20% na média do ano. “Houve uma espécie de ‘queda livre’ no faturamento do nosso setor, no final de 2008 e início de 2009, e a partir de fevereiro começaram a haver pequenos incrementos. Em novembro, porém, houve uma nova queda, para a qual nós ainda não conseguimos encontrar uma explicação plausível, inclusive porque o levantamento estatístico de dezembro ainda não está pronto”, afirma José Velloso Dias Cardoso, 1º vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Carteira em baixa
Velloso observa que o mau desempenho do setor em ano de 2009 se refere especificamente ao faturamento, mas que, além disso, é necessário entender que uma de suas características intrínsecas é a defasagem entre a encomenda e o efetivo faturamento de uma máquina ou equipamento e seu faturamento. “Quando o cliente compra uma máquina, ela vai ser faturada, em média, num prazo de 90 a 180 dias, podendo inclusive ser muito mais. Uma caldeira para uma usina de açúcar e álcool, por exemplo, leva mais de um ano para ser produzida”, explica. “Ocorre que o setor começou o ano de 2009 com uma carteira de pedidos relativamente boa, já que 2008 foi um ano bom e só despencou depois de setembro. Então, quando 2009 começou, a carteira era boa, mas ela não foi realimentada e, agora, estamos começando o ano de 2010 com uma carteira de pedidos menor do que a que tinha no início de 2009, o que deve se refletir em 2010. Acreditamos que 2010, embora sinalize que vai ser um ano melhor do que 2009 para a economia em geral, ainda deve ser um ano regular para o nosso setor de máquinas e equipamentos. Um ano de recuperação. Nós acreditamos que, em 2010, não vamos atingir o faturamento de 2008, mas acreditamos que vamos ter um faturamento melhor do que 2009, com um aumento entre 8% e 10%. Desse modo, em 2010 provavelmente vamos atingir o mesmo patamar de 2007.”
O vice-presidente da Abimaq destaca, porém, que tudo isso é apenas uma previsão e que ainda existem alguns obstáculos que precisam ser transpostos. “O principal deles continua sendo o câmbio. Em 2009, nós percebemos que houve uma substituição considerável de produtos nacionais por produtos importados, principalmente da Ásia e, com maior ênfase, da China. Existe uma preocupação muito grande a esse respeito em nosso setor, porque o câmbio, no patamar entre R$ 1,70 e R$ 1,80, reduz drasticamente a competitividade da indústria nacional de máquinas e equipamentos”, diz Velloso. “A segunda questão é a especulação que tem sido feita sobre o aumento da taxa de juros neste ano de 2010, que vem sendo alimentada pelas próprias declarações do presidente do Banco Central. Nós achamos que ele deveria evitar essas declarações. Ele fala tanto sobre o provável aumento do consumo e da taxa de juros em 2010, que isso vai acabar acontecendo. O ministro da Fazenda tem feito declarações consistentes sobre a intenção de combater ao máximo qualquer sinal de um aumento da taxa de juros, mas, como sabemos, o Banco Central é a autoridade monetária, e isso nos deixa apreensivos. O BC está numa pasmaceira impressionante, não faz nada para reverter a tendência altista de nossa moeda e, ao mesmo tempo, fica alimentando uma especulação em relação ao aumento da taxa de juros. Isso é algo que nós achamos que chega a ser até leviano da parte do Banco Central.”
Otimismo moderado
A previsão feita pela Abimaq, de um aumento de 10% no faturamento do setor, leva em consideração os investimentos nas áreas de energia, de óleo e gás, de etanol e açúcar, em mineração, agricultura, automotivo entre outros setores. Essa conjunção de prováveis investimentos explicaria o otimismo do setor – apesar das barreiras apontadas por Velloso. “Só que há um detalhe adicional e preocupante a ser considerado: nós acreditamos que esses investimentos podem acontecer, mas a questão é saber se eles vão ser feitos com máquinas nacionais ou máquinas importadas. A demanda de máquinas voltará a crescer, mas existe o risco de ela ser atendida por máquinas importadas, o que não resolveria o problema do nosso setor. É por isso que nosso otimismo é moderado e não acompanha o dos demais setores industriais.”
“Outro impacto recentemente sentido pelo setor veio da péssima notícia que saiu no apagar das luzes de 2009, no dia 15 de dezembro, sobre a assinatura da Medida Provisória 472 pelo presidente da República, isentando da cobrança do Imposto de Importação os investimentos na área de óleo e gás realizados no Norte e Nordeste do país. Ora, o maior investimento da Petrobras tem sido feito na Refinaria do Nordeste (Renest), em Pernambuco, e a estatal também vem sinalizando com o início dos investimentos na Refinaria Premium, no Maranhão. No entanto, o governo federal, que prega que “tudo o que for possível de ser feito no Brasil será feito no Brasil”, emite uma MP como essa, o que é um absurdo, inclusive porque ele isenta desse imposto equipamentos que têm similar nacional. Isso é uma coisa que, nos 70 anos de existência de nosso setor, nunca aconteceu”, reclama José Velloso. “Isso provoca uma enorme apreensão no setor de máquinas e equipamentos. Ele está subdividido em 30 sub-setores. No entanto, no ano passado, somente um deles – o de equipamentos para a produção e transporte de óleo e gás – obteve resultado positivo. E agora o governo emite essa MP. Isso é algo que nós não conseguimos entender, porque é evidente que ela vai prejudicar o único segmento do nosso setor que tem tido um desempenho favorável.”
Combate à MP 472
Preocupada com o provável impacto negativo da MP 472 sobre a indústria nacional, a Abimaq já se mobilizou para combatê-la e, nesse sentido, já contatou alguns senadores e deputados federais. A entidade também enviou um ofício contendo suas ponderações ao presidente Lula, à ministra Dilma Roussef (Casa Civil) e aos ministros Guido Mantega (Fazenda), Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Edison Lobão (Minas e Energia). “Estamos convocando várias entidades de classe, de trabalhadores e empresariais, para entrar na briga conosco e tentar reverter essa MP, que nós consideramos uma medida de “lesa-pátria”. Vamos convocar o Instituto Aço Brasil e a própria Usiminas, porque nós achamos que eles também vão ser prejudicados. Porque, se a máquina é importada, o aço também vem de fora. Nós vamos tentar organizar um movimento conjunto tentando reverter o efeito dessa MP”, relata Velloso. “Se nosso setor está passando por uma crise tão séria – a maior crise dos últimos 30 anos – e considerando que o único sub-setor que cresceu foi o de óleo e gás, como é possível que o governo jogue um balde de água gelada nele. O Governo Federal precisa entender que a MP 472 significará criar empregos em outros países – algo inconcebível. Se eu faço uma máquina aqui e tenho que pagar Imposto de Importação sobre os insumos, como é que a máquina importada não vai pagar imposto nenhum? O governo deveria, no mínimo, dar isonomia, isentando da cobrança dos Impostos de Importação aos insumos utilizados nas máquinas fabricadas no país. Como o principal insumo de uma máquina é o aço, os setores ligados à produção e distribuição de aço também não vão admitir essa concorrência desleal das máquinas importadas. Por isso, estamos convocando também o IABr, para combater essa MP anti-brasileira.”
Por último, José Velloso observa o excessivo alarde que vem sendo feito pelo governo em relação ao PAC, mas que, de fato, o reflexo na indústria nacional de máquinas e equipamentos até aqui é muito pequeno. “Fala-se muito de investimentos no Brasil, mas as coisas não acontecem. Por isso nosso otimismo é moderado em relação a este ano de 2010”, completa o vice-presidente da Abimaq.
27 de agosto 2020
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