A crise hídrica que assola parte do Brasil reforçou a discussão sobre iniciativas sustentáveis, inclusive na indústria de concreto. E não é difícil entender o porquê. Os pesquisadores Jorge de Brito (Instituto Superior Técnico de Lisboa) e Nabayoti Saikia (universidade indiana de Kaziranga), destacam que a produção de concreto exige grandes quantidades de água potável. No livro Recycled Aggregates in Concrete, de autoria de ambos e publicado em 2013, há a informação de que o elemento represente entre 15% e 18% do volume da mistura de concreto estrutural. Em função da escassez do recurso em nível global, a cadeia de valor do segmento tem estudado rotas alternativas. As tecnologias para diminuir o consumo de água envolvem desde o uso de aditivos - que podem reduzir o consumo do recurso em até 20% - até a água de reuso.
No Brasil, a norma NBR 15900 (água para amassamento do concreto), estabelece os critérios do uso do recurso na produção do material. Segundo a normalização, a água potável que atenda à portaria 518, do Ministério da Saúde, estaria dentro dos padrõe
A crise hídrica que assola parte do Brasil reforçou a discussão sobre iniciativas sustentáveis, inclusive na indústria de concreto. E não é difícil entender o porquê. Os pesquisadores Jorge de Brito (Instituto Superior Técnico de Lisboa) e Nabayoti Saikia (universidade indiana de Kaziranga), destacam que a produção de concreto exige grandes quantidades de água potável. No livro Recycled Aggregates in Concrete, de autoria de ambos e publicado em 2013, há a informação de que o elemento represente entre 15% e 18% do volume da mistura de concreto estrutural. Em função da escassez do recurso em nível global, a cadeia de valor do segmento tem estudado rotas alternativas. As tecnologias para diminuir o consumo de água envolvem desde o uso de aditivos - que podem reduzir o consumo do recurso em até 20% - até a água de reuso.
No Brasil, a norma NBR 15900 (água para amassamento do concreto), estabelece os critérios do uso do recurso na produção do material. Segundo a normalização, a água potável que atenda à portaria 518, do Ministério da Saúde, estaria dentro dos padrões exigidos da norma ABNT/CB-18 e pode ser utilizada sem restrição para a preparação do concreto. No caso de recursos hídricos subterrâneos ou de captação fluvial, a água deve passar por ensaios de laboratório para que se avalie a possibilidade ou não de seu uso. Mesmo a água salobra – desde que não aplicada em concreto armado – pode ter o uso liberado. As águas de processamentos industriais do setor de concreto – desde que analisadas – podem ser consideradas como um recurso viável. Esse rol inclui a água da lavagem de betoneiras, dos processos de corte, moagem ou jateamento, além de atividades como fresagem de concreto.
A norma brasileira também proíbe o uso da água de esgoto na produção de concreto, mesmo com tratamento. Apesar da limitação local, outros países tem considerado essa fonte como viável. Entre os defensores da alternativa estão dois pesquisadores da universidade de Wisconsin-Milwaukee, dos Estados Unidos: o professor emérito Tarun Naik, de origem indiana, e a brasileira Márcia Silva. No paper intitulado Sustainable Use of Resources – Recycling of Sewage Treatment Plant Water in Concrete (tradução livre: Uso sustentável de recursos – reciclagem da água de tratamento das plantas de tratamento de esgoto em concreto), eles discutem o tema. Os pesquisadores definem o tratamento padrão envolvendo do esgoto num sistema que envolve três fases: a separação mecânica de contaminantes como areia, o ataque com uso de microorganismos que degradam o conteúdo orgânico do esgoto e uma terceira fase de desinfecção com uso de aditivos químicos (removidos antes da devolução da água aos rios).
De acordo com Márcia e Naik, a Alemanha tem se destacado pelo uso de água reciclada na produção de concreto, desde aquela recolhida da limpeza dos caminhões betoneiras até mesmo a água de chuva, recolhida e tratada. As pesquisas europeias, de acordo com eles, mostrariam que o produto final, com ou sem água reciclada, não tem distinção de qualidade ou durabilidade. A Indonésia é outra frente de utilização, onde há o emprego de pequenas quantidades de água reciclada cuja origem são plantas de tratamento de esgoto na produção de concretos de alta resistência inicial. Os testes em plantas sauditas tem mostrado que ela seria viável para a produção do material. O foco das análises tem sido a avaliação da alcalinidade do recurso e a presença de cloretos. Já no Kuwait, os testes avaliam que a mistura de água tratada não afeta a consistência e a densidade do concreto.
Apesar dos avanços tecnológicos, os dois pesquisadores lembram que várias parâmetros precisam ser analisados para a adoção da água de reuso, inclusive a carga bacteriana presente no material bruto, os tratamentos previstos e o nível final de contato humano com o concreto produzido. A EPA, agência americana de controle ambiental tem um guia de procedimentos para uso da água reciclada na indústria de concreto. As orientações incluem a sugestão de que o recurso passe pelo tratamento secundário e pela desinfecção. Os parâmetros incluem, por exemplo, os percentuais mínimos de presença residual de cloro. Se a produção de concreto envolver um contato manual mais intenso, a desinfecção deve ser feita de forma ainda mais severa do que os procedimentos normais.
Já os australianos também criaram uma legislação específica para uso de água tratada de esgoto na produção de concreto. Os critérios de desempenho avaliam a fatores como resistência e tempo de fixação do concreto, mas os limites prescritivos são dados em termos de quantidades de cloretos, sulfatos e sólidos suspensos.
No caso do estudo de Márcia e Naik, a avaliação comparou concretos preparados com água potável e com água de esgoto tratado (após a fase secundária). Dois testes principais foram aplicados, o de resistência à compressão e trabalhabilidade. Os resultados não encontraram diferenças significativas entre os concretos produzidos com os dois tipos de água, mas a orientação dos especialistas é de que devem ser realizadas mais pesquisas tais como o comportamento de inicio e fim de pega do concreto e quantidade de íons cloretos. Os estudos, segundo eles, deveriam incluir a adoção de água de etapas diferentes de tratamento. Outro recurso hídrico pouco avaliado são as águas residuais de tratamento de efluentes industriais.
Para o engenheiro Arcindo Vaquero, consultor Técnico da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (Abesc), esses recursos precisam ser avaliados caso a caso para determinar se existem possíveis ações deletérias ao concreto e à armadura. “Uma solução que o setor adota é o uso de aditivos estabilizadores que inibem a cristalização do cimento”, diz ele. “Isso faz com que um concreto que está por endurecer possa ser usado por um período muito mais longo”, explica. O aditivo citado por Vaquero também pode ser adotado na lavagem interna das betoneiras. Nesse caso, o ganho é duplo, pois elimina-se a necessidade de grande quantidade de água e o líquido resultante contém cimento que ainda não cristalizou. Nesse estado, a água de lavagem pode ser usada nas primeiras viagens dos caminhões sem nenhum inconveniente.
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