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Vale negocia reajuste de preço acima de 90%

Valor Econômico

05/03/2010 14h55


A Vale está em negociações finais com uma grande siderúrgica japonesa, a JFE Steel, para fechar reajuste do preço do minério de ferro para 2010 em duas parcelas de 40% cada uma, o que significaria um aumento acima de 90% para a matéria-prima neste ano. Segundo apurou o Valor, a JFE estaria disposta a aceitar a proposta da mineradora brasileira. A Vale não quis comentar a informação.

Ontem, a publicação especializada "Steel Business Briefing" também agitou o mercado com a informação de que a Vale teria proposto este mesmo formato de reajuste para seus clientes na China, na Europa e no Brasil. Segundo a publicação, a primeira parcela do aumento entraria em vigor em março e a segunda, em abril.

Segundo fontes do setor de min

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A Vale está em negociações finais com uma grande siderúrgica japonesa, a JFE Steel, para fechar reajuste do preço do minério de ferro para 2010 em duas parcelas de 40% cada uma, o que significaria um aumento acima de 90% para a matéria-prima neste ano. Segundo apurou o Valor, a JFE estaria disposta a aceitar a proposta da mineradora brasileira. A Vale não quis comentar a informação.

Ontem, a publicação especializada "Steel Business Briefing" também agitou o mercado com a informação de que a Vale teria proposto este mesmo formato de reajuste para seus clientes na China, na Europa e no Brasil. Segundo a publicação, a primeira parcela do aumento entraria em vigor em março e a segunda, em abril.

Segundo fontes do setor de mineração, este reajuste parcelado seria uma forma encontrada pela mineradora para recuperar as perdas do ano passado por conta da crise. Os primeiros 40% equiparariam os preços do minério de ferro aos níveis de 2008, enquanto a segunda parcela equivaleria a um reajuste real devido ao aquecimento de demanda, principalmente na China.

No mercado chinês as compras de minério pelas siderúrgicas aceleraram-se após os feriados do ano novo lunar e o preço à vista da tonelada de minério atingiu nas duas últimas semanas o patamar de US$ 138 a tonelada. Isso corresponde a um prêmio acima de 100% sobre o preço de referência de 2009 da Vale (média entre US$ 54 e US$ 55 a tonelada).

A publicação cita ainda que a proposta de efetuar dois reajustes de 40% visaria também, da parte da mineradora, suavizar o aumento de custo das siderúrgicas brasileiras por causa do impacto do reajuste do aço sobre a inflação. Este é um ano eleitoral no Brasil. Afinal, a Vale no ano passado já teve problemas políticos com o governo Lula por ter demitido pessoal durante a crise.
Esse super-reajuste, que pode chegar a 96%, poderá levar a uma retomada mais forte da estratégia de verticalização por parte das usinas de aço no Brasil. Ou seja, elas poderão acelerar a produção das suas minas próprias, como são os caso de Usiminas e Gerdau, ou até comprar outras para se protegerem da alta futura do produto. A CSN tem 100% de auto-suficiência.

Um executivo de uma grande siderúrgica no país afirmou que o impacto desse reajuste no custo do aço será enorme, levando a aumento de preços do produto. Só de minério, seriam cerca de US$ 170 no custo de produção. De carvão, mais outros US$ 120 (usa-se 600 quilos por tonelada de aço).

Com produção de 8 milhões de toneladas de aço por ano, a Usiminas consumirá 12 milhões de toneladas de minério, mas vai produzir neste ano 7 milhões de minério. Na semana passada, ao divulgar o balanço, o presidente da empresa, Marco Antônio Castello Branco, informou que em 2009 utilizou 80% de minério próprio e que neste ano serão 60%. Somente por volta de 2012 a empresa tem condições de chegar à auto-suficiência, com a expansão de suas minas adquiridas no início do ano passado.

Já a Gerdau, com duas minas, busca garantir 50% de consumo de minério próprio na unidade Açominas, mas poderá vir a elevar esse percentual, cuja meta era atingir 80%. Atualmente, 70% vem do fornecimento de minas de terceiros. As reservas do grupo em Minas Gerais são de 1,8 bilhão de toneladas.

No momento, tanto Vale quanto CSN estão praticando preços provisórios de minério de ferro com seus clientes para cobrir a diferença entre o preço do à vista na China e o de referência no Brasil, superior a 100%. Durante a conferência com analistas na divulgação do balanço do quarto trimestre da Vale, o diretor-executivo de ferrosos da mineradora, José Carlos Martins, disse que não tinha o menor sentido a diferença tão grande entre "benchmark" e "spot" e anunciou que a companhia iria praticar preços provisórios. Durante a crise, a Vale usou esta tática dando descontos de 20%. Agora, o mesmo modelo é usado ao inverso.

Martins defende que o prêmio atualmente vigente no mercado à vista sobre o de referência é insustentável e tem de acabar. E que os clientes têm de entender este novo cenário. O reajuste proposto pela mineradora em duas parcelas estaria ainda abaixo deste prêmio que está na faixa de 110% na China.

As declarações do diretor da Vale feitas em 11 de fevereiro reforçam a convicção de analistas especializados nesse negócio. Eles consideram que o percentual de reajuste proposto pela mineradora é perfeitamente factível com a atual situação de mercado, no qual o sistema 'benchmark' está perdendo força. A BHP Billiton - terceira maior de mineração de ferro - está querendo migrar para reajustes de preços mais constantes, em períodos menores. Se isso ocorrer, abrirá espaço para maiores flutuações de preços e levará à migração para outro paradigma, o qual refletirá melhor as condições de mercado, hoje muito apertadas. A oferta de minério no mercado transoceânico e a demanda para este ano estão praticamente empatadas em 1 bilhão de toneladas.

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