O desenvolvimento socioeconômico de um país depende essencialmente de energia. E gerar eletricidade com fontes limpas é algo que pode colocar o Brasil na dianteira de grandes potências. Nessa corrida, o bagaço da cana-de-açúcar é hoje um negócio estratégico para as maiores usinas do país.

A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) estima que até 2021, a capacidade instalada das usinas para a cogeração de energia elétrica será de 13.158 megawatts, o equivalente a quase o triplo da capacidade da hidrelétrica de Belo Monte, central hidrelétrica em construção no Rio Xingu, no Pará, cuja garantia será de 4.751 megawatts. Não à toa, os investimentos na produção de bioeletricidade se aceleram dia a dia, mas o ponto alto costuma ser justamente o inverno, quando os níveis das hidrelétricas estão baixos e a colheita de cana, em alta, como agora.

Um sinal dessa movimentação é dado pela ETH, braço sucroenergético do grupo Odebrecht. A empresa que nasceu há cinco anos com o plano de investir R$ 8 bilhões na primeira fase de construção de suas sete usinas para produzir açúcar e etanol, se prepara para ser uma das principais geradoras de bioenergia do país. "Nossa meta é chegar a 2,7 milhões de megawatts-hora de energia por ano a partir de 2013", afirma César Lúcio Correa de Sá Júnior, diretor de Comercialização da ETH.

Agora, ao final da primeira fase do plano, a cogeração está literalmente a todo vapor - já que é ele, o vapor, o responsável pela geração da energia que movimenta as caldeiras e gera a eletricidade, a partir do bagaço da cana. Na safra passada, a empresa gerou excedente de 950 mil megawatts-hora, volume que foi comercializado por meio dos leilões públicos. Para o final desta safra, a companhia prevê gerar 1.3 mil megawatts-hora para comercialização. A Bunge também anunciou investimentos de US$ 2,5 bilhões na ampliação da capacidade de moagem de suas oito usinas no Brasil até 2016.

A de Pedro Pedro Afonso, no Tocantins, recebeu R$ 32,2 milhões em investimentos e vai gerar 180 megawatts de eletricidade a partir de 2013. Ao final do plano, a companhia espera aumentar em 50% a sua capacidade de moagem de cana e chegar a 300 milhões de toneladas por ano e gerar 500 mil megawatts por ano.

Procurada, a Bunge informou que está em período de silêncio. Dados da Unica mostram que das 438 usinas existentes no Brasil, 129 já geram excedente de energia para a venda em leilões públicos.Entre 2005 e 2010 o setor registrou crescimento acelerado na comercialização de energia, passando de 1,1 milhão de megawatt-hora para 9,2 milhões de megawatts-hora. O que representou R$ 1,3 bilhão a mais para o caixa das usinas. Historicamente, o consumo de energia no Brasil cresce 1,5% acima da economia. Em contrapartida, menos de 10% do potencial de cogeração é explorado.