Obras que poderiam proteger o sistema elétrico brasileiro da ameaça dos apagões estão atrasadas em todo o país. A Agência Nacional de Energia Elétrica tem um mapa dos pontos críticos.

Em Brasília, as quedas de luz têm deixado comerciantes em alerta. A gerente de uma sorveteria ainda calcula os prejuízos do apagão da última sexta-feira. “Foram quase cinco horas. Foi um problema grande. Praticamente faturamento zero”, diz ela.

No ano passado, o brasileiro passou, em média, 18 horas no escuro, superando o registrado em 2001, quando houve racionamento de energia. Segundo o relatório do Operador Nacional do Sistema, os constantes adiamentos das obras vêm submetendo a operação do sistema interligado nacional a condições críticas.

O relatório apontava pelo menos 109 obras atrasadas, necessárias para evitar o acionamento de usinas térmicas, o risco de sobrecargas e cortes de energia. Em outro estudo feito pela Aneel mostra que 70% das obras de construção de linhas de transmissão estão atrasadas.

No Rio Grande do Sul, a construção de uma linha de transmissão era recomendada desde 2008, mas só deverá ser concluída no mês que vem. Uma linha de transmissão que passa pelo centro de Brasília será entregue quase um ano depois do previsto. Em Goiás, a construção de subestações e de linhas de transmissão foi aconselhada para 2011. A obra também atrasou e só deve ser concluída em junho.

O especialista Luiz Pinguelli Rosa afirma que o sistema é seguro, mas precisa ser ampliado. “Acho que o sistema de transmissão e de distribuição tem que ser melhorado. Há atrasos de obras, que a gente sabe, há inclusive geradores eólicos que não estão operando por falta de conexão à rede. Portanto, há muito que fazer para garantir um padrão necessário para o país.”

As companhias responsáveis pelas obras no Rio Grande do Sul e em Goiás atribuem o atraso, em parte, à dificuldade com a licença ambiental. Em Brasília, a companhia elétrica afirmou que a obra sofreu muitas interferências por ser em área urbana. Segundo a Aneel, as concessionárias responsáveis pelas obras podem ser punidas. Já o Ministério de Minas e Energia aguarda avaliação da Aneel para se pronunciar sobre o assunto.