Mineração
10/03/2010 15h04 | Atualizada em 10/03/2010 18h05
A mineração e a siderurgia, dois setores de grande peso na bolsa de valores e na economia, foram a âncora dos resultados das empresas de capital aberto em 2009. Se em 2008 as chamadas commodities minerais e os produtos siderúrgicos levaram os balanços a recordes históricos, no ano passado empresas como Vale, Gerdau e CSN pagaram um preço alto depois que a crise financeira começou a mudar os ventos do mercado.
Numa amostra com 88 empresas que divulgaram seus balanços até ontem fica claro que o mercado interno fez a diferença e impediu resultados mais desastrosos para um ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar perto de zero.
O levantamento feito pelo Valor Data com números da Economática mostra uma que
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A mineração e a siderurgia, dois setores de grande peso na bolsa de valores e na economia, foram a âncora dos resultados das empresas de capital aberto em 2009. Se em 2008 as chamadas commodities minerais e os produtos siderúrgicos levaram os balanços a recordes históricos, no ano passado empresas como Vale, Gerdau e CSN pagaram um preço alto depois que a crise financeira começou a mudar os ventos do mercado.
Numa amostra com 88 empresas que divulgaram seus balanços até ontem fica claro que o mercado interno fez a diferença e impediu resultados mais desastrosos para um ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar perto de zero.
O levantamento feito pelo Valor Data com números da Economática mostra uma queda de 2,3% na receita de vendas das empresas sobre 2008, para R$ 441,2 bilhões. O lucro líquido desse conjunto ficou em R$ 49,9 bilhões, um recuo de 7,2%.
Se forem excluídos os resultados nas empresas de mineração e siderurgia, o faturamento líquido consolidado das demais companhias sobe 11,6%, para R$ 341,4 bilhões, e o lucro líquido quase dobra, chegando a R$ 34,5 bilhões.
Na última linha, o lucro líquido, o consolidado dos balanços teve o auxílio do câmbio na comparação entre o ano passado e 2008 - que até a quebra do Lehman Brothers era exercício recorde para boa parte das empresas. As despesas financeiras das companhias foram bem menores em 2009, com a queda de 25,5% no dólar. O resultado financeiro no consolidado geral (com siderúrgicas) sai de uma perda de R$ 27,6 bilhões para um ganho de R$ 1,1 bilhão.
Mas se o dólar mais baixo aliviou as finanças, também prejudicou ao gerar receita menor para as exportadoras. O câmbio e o efeito da crise sobre os preços e as vendas, principalmente das exportadoras, foram fatores determinantes com impacto negativo, explicou Carlos Constantini, chefe da área de análise da Itaú Corretora.
O negócio das siderúrgicas e mineradoras brasileiras perdeu no ano passado o equivalente a receita líquida de todo o setor de alimentos de capital aberto, perto de R$ 50 bilhões.
Numa comparação de longo prazo, com dados ajustados pela inflação, é possível ver que os dois setores voltaram a patamares de 2005 em termos de receita de vendas e de lucro líquido.
Para o consultor do setor siderúrgico, Germano Mendes de Paula, "2009 foi um ano que começou mal, com a siderurgia indo parar no fundo do poço". Com a deflagração da crise global, as usinas de aço de todo o mundo se depararam com uma situação totalmente atípica para a indústria do aço, de ter que parar alto forno em função da queda da demanda.
Para descrever o que viveu esse setor em 2009, a experiência da Vale continua sendo um bom termômetro. A principal cliente da mineradora, a Arcelor Mittal, ficou cinco meses sem fazer encomendas. Com a produção se acumulando sem compradores, a empresa optou por embarcar o minério numa viagem de 45 dias até a China, sem destinatário, na tentativa de vender o produto na hora.
Ao examinar os números da Vale, os analistas concluíram que 2009 foi um ano muito difícil para a companhia, que ainda foi sacudida por uma crise política, com seu presidente executivo, Roger Agnelli, sendo alvo de pressões do governo Lula por ter demitido oficialmente 1.300 funcionários no começo da crise. O mal-estar passou e a empresa voltou a ter projetos ambiciosos, agora na área de fertilizantes.
Já nos segmentos ligados ao consumo da população interna o que se assistiu foi um movimento bem diferente. Boa parte das empresas registrou expansão de dois dígitos no negócio. "Por incentivo do governo em questões como corte de impostos ou com estímulo para os bancos manterem as linhas de crédito abertas, o setor passou batido pela crise", explicou Constantini.
Na BRF-Brasil Foods, resultado da combinação de Perdigão e Sadia, as contas se equilibraram por conta do mercado doméstico. Ainda assim, a companhia, que tradicionalmente obtinha metade da receita anual do mercado externo, viu esse percentual encolher para 37% no ano passado.
A empresa teve a primeira queda de faturamento anual de sua história - considerando o passado de Perdigão e Sadia. A receita líquida que soma o desempenho de ambas as companhias caiu 5%, para R$ 20,9 bilhões. O efeito foi especialmente mais forte no quarto trimestre, pois combinou demanda mais fraca com preços mais baixos em reais também por causa do dólar. "O desempenho da exportação consumiu a maior parte da margem do mercado interno", explicou Leopoldo Saboya, diretor financeiro e de relações com investidores da BRF.
Segundo Saboya, as vendas internas no fim do ano também não foram brilhantes porque o aquecimento do consumo fez com que os alimentos mais elaborados voltassem a concorrer com bens duráveis no bolso do consumidor.
As varejistas do setor têxtil sabem do que Saboya está falando. A Cia. Hering teve um aumento de 40% na receita líquida, para R$ 720,9 milhões. Considerando apenas o quarto trimestre, o aumento foi de 45,7%.
A Marisa, apesar de ter pisado no freio para expansão, teve aumento de 7,4% na receita líquida, para R$ 1,5 bilhão. O quarto trimestre teve destaque no desempenho anual, com a aceleração do consumo e o Natal. As vendas mesmas lojas do período tiveram evolução de 13,3%. "Isso foi a classe C, nosso foco", disse Márcio Goldfarb, diretor presidente da Lojas Marisa.
Não por acaso ambas as companhias ampliaram os projetos de abertura de lojas. A Marisa elevou a previsão de novas unidades de 28 para 39 no ano. Já a Cia Hering, após um estudo sobre as cidades com mais de 100 mil habitantes, anunciou que abrirá 129 lojas até o fim de 2012.
O desempenho consolidado das empresas abertas também confirma a expectativa dos especialistas de que os administradores buscariam ganhar eficiência interna durante a crise, para ampliar a lucratividade. Apesar de a margem bruta (que só considera os custos de produção) mostrar uma redução de 5,1 pontos percentuais, de 36,7% para 31,6%, a margem operacional (após as despesas administrativas e gerais) mostra aumento de 14,5% para 15,9%, na comparação de 2009 com 2008.
A expectativa é que os investimentos também sejam retomados neste ano em maior intensidade, após o desempenho do setor de consumo em 2009 e a esperada melhora para as commodities - com a gradual recuperação do mercado externo.
No ano passado, a despeito das adversidades, a dívida líquida consolidada das empresas se manteve estável, em R$ 137,6 bilhões.
O próprio crescimento levará as companhias a maior necessidade de investimentos. A Natura, por exemplo, que teve aumento de 18,6% na receita líquida de 2009, para R$ 4,2 bilhões, anunciou que investirá R$ 250 milhões neste ano. Os recursos serão destinados, em especial, à rede de distribuição, à ampliação da capacidade de operação e em tecnologia da informação. O valor é 78% superior aos R$ 140,6 milhões de 2009. (fonte: Valor)
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