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Gás natural anima polo gesseiro de PE

Valor

12/05/2011 13h16 | Atualizada em 12/05/2011 17h09


A chegada, ainda como projeto-piloto, do gás natural ao "Chapadão do Araripe", no extremo oeste de Pernambuco, aumenta as expectativas de crescimento do polo gesseiro em quatro municípios da região. Cerca de 95% do gesso consumido no Brasil, algo em torno de 5 milhões de toneladas por ano, vêm dessa área. O dinamismo da construção civil já acelerou a procura pelo gesso, mas as cidades do polo e as empresas sofrem com problemas de infraestrutura. Praticamente todas as fábricas se abastecem de lenha e coque. Em uso há pouco mais de um mês, o gás natural, mais limpo e eficiente, pode ajudar o setor a atender melhor a demanda, que em 2010 avançou 30%.

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A chegada, ainda como projeto-piloto, do gás natural ao "Chapadão do Araripe", no extremo oeste de Pernambuco, aumenta as expectativas de crescimento do polo gesseiro em quatro municípios da região. Cerca de 95% do gesso consumido no Brasil, algo em torno de 5 milhões de toneladas por ano, vêm dessa área. O dinamismo da construção civil já acelerou a procura pelo gesso, mas as cidades do polo e as empresas sofrem com problemas de infraestrutura. Praticamente todas as fábricas se abastecem de lenha e coque. Em uso há pouco mais de um mês, o gás natural, mais limpo e eficiente, pode ajudar o setor a atender melhor a demanda, que em 2010 avançou 30%.

Terra do gesso entra na era do gás natural
Mineração de gipsita, matéria-prima do gesso, em Araripina, Pernambuco: gás natural começa a chegar na cidade e pode baratear processo de produção.

Como todo polo industrial tipicamente brasileiro, o "Chapadão do Araripe" é um vai e vem frenético de caminhões de todas as partes do país. Carregam basicamente madeira, coque de petróleo e gesso nas mais variadas formas. Também não é raro levarem na caçamba grupos de homens que se assemelham a fantasmas, brancos dos pés à cabeça em razão do trabalho diário com o gesso.

Formado pelos municípios de Araripina, Trindade, Ipubi, Bodocó e Ouricuri, o polo gesseiro do Araripe, no extremo oeste pernambucano, fornece nada menos que 95% do gesso consumido no Brasil, algo hoje em torno de 5 milhões de toneladas por ano. As reservas de gipsita, rocha mineral que origina o gesso, são estimadas em 1,2 bilhão de toneladas, quinto maior volume do mundo, depois de Irã, China, Canadá e México.

O dinamismo da construção civil nacional acelera a demanda e alimenta os sonhos de grandeza da região, que sofre com gargalos importantes de infraestrutura, sobretudo em energia e transportes. Praticamente todas as fábricas do polo abastecem com lenha e coque os fornos onde a gipsita é convertida no gesso em pó que conhecemos.

Pleito antigo do setor, formado majoritariamente por pequenas e médias empresas, o gás natural começou a chegar ao Araripe há pouco mais de um mês, provocando grande expectativa de um salto de qualidade e de volume na produção local. Mais limpo e eficiente, o combustível poderá oferecer a segurança energética necessária para que o setor atenda melhor uma demanda que em 2010 avançou 30% sobre o ano anterior.

"Resolvendo a questão energética e logística, o crescimento é inevitável. O momento é de grande otimismo", afirma Josias Inojosa Filho, vice-presidente do Sindicato da Indústria do Gesso (Sindusgesso). Além da expansão do consumo per capita no Brasil, ainda pequeno se comparado a países como Argentina e Chile, o dirigente quer ver o gesso nacional forte no mercado externo. Do R$ 1,6 bilhão que o setor deve faturar neste ano, menos de 1% virá de exportações.

O primeiro empresário contemplado com o gás natural foi o vice-prefeito de Araripina, Alexandre Arraes (PSB). Ele é o dono da New Gipso, fábrica de médio porte localizada no distrito industrial do município. O fornecimento, porém, ocorreu apenas como projeto piloto do governo estadual, que está elaborando um modelo de negócio, baseado em isenções fiscais, para tornar economicamente viável a entrega do gás por caminhões enquanto um gasoduto não é construído, o que não tem prazo para acontecer.

Nas primeiras experiências, o gás chegou à fábrica 30% mais barato do que o equivalente em madeira, segundo informou Aldo Guedes, presidente da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás), empresa controlada pelo governo de Pernambuco em sociedade com Petrobras e Mitsui. A meta é operacionalizar pelo menos 30 mil metros cúbicos por dia até o fim deste ano. A demanda, porém, é bem superior. Está hoje na casa de 300 mil metros cúbicos diários e só tende a crescer, dado que muitas novas empresas estão chegando, atraídas pelo horizonte promissor.

Atualmente, 15 fábricas estão sendo erguidas na região, entre elas a Padrão Gypsum, do pernambucano Geraldo Antonio do Nascimento. Apesar de animado com a possibilidade de chegada do gás natural, ele se mantém cauteloso, até porque está desembolsando quase R$ 2,2 milhões na empreitada. "Vou começar usando a madeira, legalizada obviamente, mas pretendo investir futuramente em um forno a gás. Se vier mesmo (o gás), é uma mão na roda", avalia.

Por ser limpo, o gás natural pode ser injetado e queimado dentro do forno, acelerando o processo de calcinação da gipsita, que nada mais é do que a extração do excedente de água. Usando lenha, coque ou óleo combustível, altamente poluidores, a queima é feita fora do forno, para evitar a contaminação do gesso, o que torna o processo menos eficiente. "Com gás eu fiz quatro toneladas em uma hora. Com lenha é o dobro do tempo", calcula o gerente de produção da New Gipso, Expedito Batista da Silva.

A avaliação é semelhante na Ingenor, uma das maiores fabricantes da região, onde são queimadas mais de 450 toneladas de coque por mês. "Além da questão ambiental, a vantagem está no custo final do produto, porque o aproveitamento calórico do gás é de quase 100%, enquanto que a transferência de calor que ocorre com o coque gera perdas importantes", explicou o responsável pela unidade, Wilton Pereira.

Por todo o polo se vê imensas montanhas de lenha, material que ainda responde por 90% da fonte energética das fábricas. Com o endurecimento da fiscalização ambiental sobre o corte da madeira nativa da caatinga, os fabricantes têm que trazer o combustível do Piauí e do Ceará, onde adquirem a lenha resultante da poda de cajueiros e goiabeiras. Apesar disso, ainda é corriqueira a utilização de madeira ilegal, segundo relatos dos empresários locais.

Alheio à polêmica, o retraído operário Roberto Januário, de 40 anos, passa o dia alimentando calmamente o apetite voraz dos fornos a lenha. Após 12 anos vivendo em São Paulo, ele decidiu voltar a sua terra, informado que foi sobre o surgimento de oportunidades de trabalho. Diante do risco de o gás natural tornar desnecessária a sua função, ele não perde a serenidade: "Aí tem que arrumar outra coisa pra fazer."

Outra demanda antiga, o transporte do gesso também vislumbra dias melhores. Isso porque uma das principais atribuições da ferrovia Transnordestina será atender o polo do Araripe, o que deve gerar uma redução expressiva nos custos de frete. Levar o gesso a preços competitivos até o porto de Suape (PE) ou de Pecém (CE) pode representar uma nova chance para o setor competir no mercado externo, além de abastecer com mais eficiência a demanda nacional, que não se resume à construção civil. Agricultura, indústria cerâmica e ortopedia também são clientes relevantes.

Enquanto gasoduto e trilhos seguem engessados, o caminhoneiro gaúcho Osni Rodrigues se prepara para mais uma jornada de 2,8 mil quilômetros entre Araripina e Porto Alegre. Na caçamba, 31 toneladas de placas de gesso que vão adornar casas, apartamentos e escritórios da capital gaúcha. Se realizados os desejos do empresariado gesseiro, os caminhões devem perder importância na paisagem do Chapadão do Araripe. Os fantasmas, pelo menos por enquanto, estão garantidos.

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