Assessoria de Imprensa
19/10/2022 14h39 | Atualizada em 19/10/2022 17h31
Por Felipe Bismarchi*
Desde 2019, marcado pela icônica carta de Larry Fink, do fundo BlackRock, comunicando a exigência paulatina de bons desempenhos ambientais, sociais e de governança para continuarem as investidas do maior fundo de investimento do planeta, as três letras que representam da pauta ESG tomaram a agenda de mídia, negócios, livros, artigos, documentários e programas dos mais variados tipos.
Com muito mais frequência do que se imagina, a nova prática é apresentada até mesmo por especialistas como sinônimo de sustentabilidade, o que representa não somente um erro conceitual, mas também um
...Por Felipe Bismarchi*
Desde 2019, marcado pela icônica carta de Larry Fink, do fundo BlackRock, comunicando a exigência paulatina de bons desempenhos ambientais, sociais e de governança para continuarem as investidas do maior fundo de investimento do planeta, as três letras que representam da pauta ESG tomaram a agenda de mídia, negócios, livros, artigos, documentários e programas dos mais variados tipos.
Com muito mais frequência do que se imagina, a nova prática é apresentada até mesmo por especialistas como sinônimo de sustentabilidade, o que representa não somente um erro conceitual, mas também um risco.
Como se sabe, o ESG é uma abordagem de investimento que nasce da percepção – e experiência real – de investidores que perderam parte ou todo o investimento realizado devido ao mau desempenho ambiental, social ou de governança das empresas em que investiam.
Isso ocorre, por exemplo, pelo derramamento de petróleo ou estouro de barragens de mineração, uso de mão de obra análoga à escravidão, práticas racistas na seleção e promoção de colaboradores ou, ainda, participação em esquemas de corrupção, desvios de verbas públicas e pagamentos de propina.
Nenhuma das ações mencionadas acima é desconhecida dos brasileiros e de praticamente qualquer ser humano.
A diferença é que, com as mudanças de valores (e tolerância) das sociedades e a consequente atuação mais efetiva de órgãos públicos de controle, investigação e punição, os negócios passaram a ser penalizados por fazer dinheiro com atividades que prejudicam a coletividade.
A partir desta preocupação, diversos investidores passaram a demandar de seus gestores financeiros uma avaliação mais criteriosa dos ativos escolhidos (e, claro, das organizações) para investimentos, especialmente quanto às práticas ambientais, sociais e de governança.
Apesar de parecer algo recente, a exigência de critérios não-econômico-financeiros remonta ao século XVII, quando grupos religiosos já orientavam a não aplicar dinheiro em negócios relacionados ao tabaco, bebida e jogos, por exemplo.
Porém, isso não é sinônimo de sustentabilidade, pelo simples motivo que a sustentabilidade possui diferentes paradigmas, cada um deles com sentidos distintos – especialmente as sustentabilidades definidas como “fracas” (baseadas na economia ambiental) e “fortes” (baseadas na economia ecológica), que têm como objetivo equilibrar as dimensões ambientais, sociais e econômicas de toda a sociedade.
As agendas e temas da sustentabilidade são trabalhados para se que tornem parte indissociável das comunidades, um valor e não um mero fator de redução de risco de investimento.
Tratar ESG como sinônimo de sustentabilidade implica manter o investidor e, portanto, o dinheiro como centro das decisões do que se fazer em relação a temas que impactam a coletividade.
Isso significa não mudar praticamente nada em um sistema cuja dinâmica é incapaz de sustentar a vida humana (e várias outras formas de vida) neste planeta.
É evidente que a exigência dessas práticas por investidores representa um importante estímulo e, por isso, as áreas que tratam de ESG devem atuar junto aos profissionais de Relacionamento com Investidores (RI), pois devem identificar as práticas que comunicam o que é mais importante para os investidores nessa avaliação – que varia de investidor para investidor, diga-se de passagem, em função de cada estratégia de investimento e temas materiais.
Contar com profissionais voltados ao ESG não compete ou substitui profissionais voltados à sustentabilidade em uma empresa – que são os que trarão uma perspectiva mais global, estratégica e centrada em pessoas (de forma ampla e não só no papel de investidor) e na natureza as estratégias, processos e práticas de uma organização, a fim de contribuir estruturalmente para a coletividade.
Afinal, é do repertório da agenda de sustentabilidade que saem as informações para comunicação e reportes ESG, o que parece uma diferença irrelevante, mas não é.
É importante ficar atento para não acreditar de forma ingênua que a prática aplicada resolverá os problemas graves e urgentes que efetivamente devem ser solucionados pela humanidade.
Problemas nos quais as organizações são atores fundamentais por seu tamanho, impacto e poder de mobilização.
*Felipe Bismarchi é pesquisador em sustentabilidade e professor na Faculdade Fipecafi.
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