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Revista GC - Ed.28 - Julho 2012
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Matéria de Capa - Usina Hidrelétrica de Jirau

Progresso nas águas do Rio Madeira

Jirau avança e já impõe transformações profundas na região de influência do canteiro de obras, no estado de Rondônia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A história do estado de Rondônia sempre foi marcada por ciclos de desenvolvimento. Isso não é exatamente uma novidade. Mas esse novo ciclo de expansão que a região atravessa, impulsionado pela construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, traz algo de novo: a preocupação com um crescimento sustentável e a busca por uma coerência entre geração de riqueza e desenvolvimento social. Trata-se de uma região com importância estratégica, tanto do ponto de vista da segurança nacional pela sua localização na fronteira com a Bolívia quanto pela sua relevância nos projetos de desenvolvimento da região Norte do Brasil, onde se localiza a Bacia Amazônica.

Entender a história dessa região não é fácil sem conhecê-la. Para os acostumados à realidade urbana das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, Rondônia é quase outro país, seja pela sua dimensão territorial, seja por sua geografia incomum, marcada por uma das maiores belezas naturais que se tem no Brasil o Rio Madeira. Quando enche com as


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A história do estado de Rondônia sempre foi marcada por ciclos de desenvolvimento. Isso não é exatamente uma novidade. Mas esse novo ciclo de expansão que a região atravessa, impulsionado pela construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, traz algo de novo: a preocupação com um crescimento sustentável e a busca por uma coerência entre geração de riqueza e desenvolvimento social. Trata-se de uma região com importância estratégica, tanto do ponto de vista da segurança nacional pela sua localização na fronteira com a Bolívia quanto pela sua relevância nos projetos de desenvolvimento da região Norte do Brasil, onde se localiza a Bacia Amazônica.

Entender a história dessa região não é fácil sem conhecê-la. Para os acostumados à realidade urbana das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, Rondônia é quase outro país, seja pela sua dimensão territorial, seja por sua geografia incomum, marcada por uma das maiores belezas naturais que se tem no Brasil o Rio Madeira. Quando enche com as águas das chuvas, em sentido contrário ao delta, o Madeira é invadido pelas águas do Rio Amazonas, subindo cerca de 17 m, alagando e recobrindo toda a planície ao redor, formando praias e florestas fluviais, além de diversas cachoeiras.

O aproveitamento hidrológico da região ocorre em momento de saturação dos potenciais hídricos nas demais regiões, além da necessidade de atender a uma demanda crescente de energia no País. Há ainda a necessidade de melhorar o fornecimento de energia justamente na região Norte, a que mais sofre com a dependência da energia termoelétrica, mais cara que a hidrelétrica e ainda poluente.

Com essas justificativas desenhou-se o Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, composto por duas usinas de grande porte: UHE Jirau (3.300 MW) e UHE Santo Antônio (3.150 MW). Com o avanço da fronteira elétrica, reduz-se o Sistema Isolado e os gastos com os encargos do CCC, um subsídio utilizado para diminuir o custo das tarifas das termoelétricas que atendem à região amazônica.

“Corrida do ouro”

Tão logo começou a “corrida’’ da energia em Rondônia, em 2008, com o início das obras das duas usinas simultaneamente, o estado voltou a ser palco de forte busca por emprego, com a chegada de trabalhadores de todas as regiões do Brasil. Calcula-se que juntas, as duas obras empreguem de 30 a 40 mil pessoas, sem falar nas demais pessoas que chegaram atraídas pelo dinheiro da massa salarial, que decorre das grandes obras, no caso de Jirau, estimada em R$ 40 milhões por mês.

Não por acaso, o Produto Interno Bruto (PIB) de Rondônia fechou 2011 em R$ 20,236 bilhões, um crescimento de 7,3 % em relação ao ano de 2008, que foi de 3,2%, segundo dados da Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral de Rondônia. Apesar de representar apenas 0,62% do PIB do Brasil, Rondônia esteve em 1º lugar no ranking de crescimento em relação aos outros estados. Na Região Norte, o crescimento foi de 0,84%, representando 12,40% do PIB da região. A renda per capita obteve crescimento de 12,3% em relação ao ano anterior e ficou em R$ 13,456, o que manteve a posição do estado no ranking nacional.

O setor industrial obteve o melhor crescimento real, de 14,9%, representando 12,3% do Valor Adicionado do Estado. Esse crescimento foi alavancado principalmente pelo segmento da construção civil. Além das usinas, o estado tem atraído outros investimentos nas áreas de cimento, metalurgia e mecânica, sem falar na expansão de empreendimentos imobiliários na capital do estado.

Uma nova cidade

Assim, como uma nova floresta ressurge a cada cheia do rio Madeira, uma nova Porto Velho ressurge na planície amazônica. Para quem esteve lá duas vezes em seis meses, é marcante a nova paisagem que se desenha com novos hotéis de bandeiras internacionais em construção, condomínios verticais e horizontais de luxo, e um incremento de obras por toda a cidade, com a modernização das antigas construções que buscam uma face mais moderna para receber afluência de um contagiante turismo de negócios.

Mas falta ainda à Porto Velho preparar-se para a grande mudança que será para sua economia o recebimento de royalties por parte das duas usinas, Jirau e Santo Antônio. A população local reclama da falta de escolas, de melhoria nos transportes públicos, de locais de lazer, de investimento em saneamento básico e saúde, e de uma política voltada para a produção de renda e proteção dos jovens contra as drogas e prostituição. Segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), os índices de todos os estados da região Norte, nas quais Rondônia se inclui, são os piores do Brasil. Segundo a análise, todos os estados da região encontram-se abaixo da nota média do País na primeira etapa do ensino fundamental (da 1ª a 4ª série).

Jirau, um divisor de águas

O engenheiro José Antônio Clarete Zanotti, gerente de Engenharia e Planejamento, da construtora Camargo Correa, encarregada das obras civis da usina de Jirau, chegou à região em 2008. “Jirau está sendo um desafio a todo instante”, resume. E o primeiro foi justamente a chegada à região onde seriam montados os canteiros e as primeiras instalações, em pleno período chuvoso. Os trabalhos começariam logo em seguida, com as primeiras intervenções visando o primeiro desvio do rio, junto à margem direita.

O objetivo era isolar o local onde seria instalado o primeiro conjunto de 28 geradores, em vista da velocidade da corredeira, de 35 mm por segundo. “Não é fácil construir uma primeira ensecadeira com aquele volume de água e velocidade. Esse foi o primeiro grande desafio que tivemos aqui”. Para ele, a palavra chave da obra é Engenharia. Devido aos prazos, que previa o início da operação para 2012, grande parte dos trabalhos foi iniciada concomitantemente ao planejamento. Os projetos iam sendo realizados e implementados paralelamente, e os problemas também iam aparecendo na mesma sequência. Isso exigiu, por exemplo, reforço à equipe de engenharia para minimizar ao máximo questões e impactos à obra.

A usina de Jirau é a fio-d’água sistema em que não há um reservatório e a geração de energia fundamenta-se nos ciclos de cheias do rio. O modelo foi adotado também para Santo Antônio e Belo Monte e tem como vantagem o menor impacto ambiental, com a redução das áreas inundadas. No caso de Jirau, o projeto tirou partido da existência de duas ilhas localizadas em meio ao trecho do rio onde a usina seria implantada. Na prática, as áreas atuaram como bases naturais para a implantação das casas de força, às margens direita e esquerda e, posteriormente, serão alagadas dando melhor vazão à cheia do rio.

O projeto contemplou duas casas de força, ambas com unidades geradoras do tipo bulbo. A primeira conta com 28 unidades geradoras acopladas à Tomada d’Água, localizada no braço direito do rio Madeira. Na margem esquerda, localizam-se as 22 unidades geradoras, tendo como vértice a extremidade sul da Ilha do Padre. A barragem principal, prevista como do tipo enrocamento com núcleo argiloso, posteriormente foi modificada para núcleo asfáltico. Foi disposta segundo um eixo retilíneo ligando a extremidade sul da ilha do Padre à parede direita da Casa de Força 2, na margem esquerda. A área do reservatório será variável e terá 302,6 km², em seu nível d’água máximo normal, com área inundada variando entre 31 km² e 108 km².

O projeto de construção tomou partido da existência de duas ilhas para a construção das ensecadeiras, determinando as duas frentes principais de ação. Primeiro, foi atacada a margem direita, que permitiu a operacionalidade do primeiro vertedouro para, simultaneamente, iniciar os trabalhos na margem esquerda. O trabalho simultâneo gerou um ganho de tempo para o cronograma da obra, comprometido com outras dificuldades.

Focos de problemas

Enquanto um dos primeiros focos da obra era o planejamento de canteiros e sequência dos serviços a serem realizados, outros focos de problemas se davam com respeito à mão de obra necessária e à logística de transporte dos equipamentos e materiais. Jirau fica a 120 km de Porto Velho, não dispunha de mão de obra qualificada e, além disso, deveria disputar a mão de obra disponível com a obra da usina de Santo Antônio. A solução mais convencional e rápida nesse caso é buscar essa mão de obra em outras regiões do País, o que demandaria a construção de canteiros numa proporção muito elevada, assim como infraestrutura de acomodação em termos de alimentação, segurança, lazer, etc.

Como o jeito de chegar até Jirau é através da BR-364, era preciso atravessar o País para levar todos os insumos necessários à obra, provenientes em sua melhoria da região Sul e Sudeste. Os equipamentos chegavam por sistema viário, assim como os materiais e os insumos, como aço, formas industrializadas. Alguns equipamentos foram deslocados de projetos em execução em Manaus, e transportados pela hidrovia até Porto Velho. O cliente adquiriu 22 unidades geradoras na China, que atravessaram o Oceano Atlântico, chegaram a Manaus e seguiram para Porto Velho pelo meio fluvial, para então serem transportados por terra até Jirau.

Em face da falta de trabalhadores locais assim como de acomodações tanto na cidade como nos distritos próximos, foi preciso acomodar o maior número possível de trabalhadores dentro do próprio canteiro. Assim, surgiu uma cidade interna em Jirau. Hoje, com uma média de 15 mil trabalhadores em toda a obra, Jirau já teve mais de 18 mil  pessoas mobilizadas. E segundo Zanotti, o processo ainda é de contratações, pois há a necessidade de nova leva de operários, como marceneiros, carpinteiros, entre outros. Além de canteiros internos, foi construído outro polo nos arredores da obra, com nome de Nova Mutum, que será um núcleo fixo para atender à futura operação da usina, além de abrigar ribeirinhos que estão sendo remanejados por conta das desapropriações.

Vandalismo

Com todos esses fatores trabalhadores das mais diversas origens, distantes de casa, e diante de um desafio construtivo singular Jirau foi palco, em 2011, de greves que culminaram em ações de vandalismo, destruição do canteiro e desmobilização temporária da obra.

Na época, a obra estava às vésperas de concluir o vertedouro. O episódio chamou a atenção para os grandes projetos em execução nas áreas tão distantes e na demanda por quesitos de segurança. Foi preciso uma operação de guerra para retirar as pessoas do local, e mesmo levando-as para Porto Velho inexistiam acomodações necessárias até que pudesse voltar para seus estados. Em 2012, mais uma greve e o canteiro reviveu o clima de tensão. Houve quebra-quebra, ainda que em proporções menores que os episódios de 2011. Segundo o engenheiro Zanotti, da Camargo Correa, a empresa sempre se colocou à disposição para negociações com os operários, mas considera inaceitáveis os atos de vandalismo.

“Além de impactar o cronograma da obra, os episódios fizeram com que a construtora repensasse o modelo de contratações a ser adotado futuramente, para outros empreendimentos de porte”, diz o engenheiro. Mas, apesar das dificuldades, a construtora mantém o cronograma de entrada em operação parcial em janeiro do ano que vem.

Apesar da crise em 2011 ter sido impactante, o desvio do rio foi realizado no prazo previsto, sendo realizado pelo vertedouro para não perder um ano de geração. Isso fez com que se aumentasse o esforço técnico. O desviou foi realizado quando ele estava ainda com uma vazante bem baixa. Então, durante o fechamento, foi preciso represar a água para ela passar pelo vertedouro, explica Zanotti. “Isso criou um desnível muito grande durante a construção dos fechamentos, e levou a um determinado risco operacional. Mas todos os riscos foram calculados, através de um modelo reduzido realizado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), para os ensaios de funcionamento do sistema. Então, são coisas que nos levaram ao limite da Engenharia, a fim de conhecer e estudar a respeito desses pontos, de forma consciente, com equilíbrio muito grande sobre o que estava sendo desenvolvido, em termos de segurança e do meio ambiente”, comenta Zanotti.

Jirau está com 65% do avanço físico. Até o final do ano, ocorrerá a conclusão de todas as barragens de enrocamento e núcleo asfáltico, para a finalização do vertedouro. O objetivo é realizar o coroamento das barragens no início do período chuvoso. Em andamento estão a implantação das unidades geradoras, montagem das casas de força e conjuntos nas duas margens. O início de geração está marcado para janeiro.

Inovações

Na parte de terraplenagem, o usual é realizar a barragem de enrocamento. Mas a construtora trouxe a experiência aplicada na usina hidrelétrica de Foz do Chapecó, em Santa Catarina, executando a barragem principal com núcleo asfáltico. Com isso, reduziu-se paralisações dos trabalhos durante o período de chuvas, o que ocorre no caso das barragens com núcleo argiloso. O método exige alguns equipamentos apropriados e o núcleo asfáltico conta com uma mistura própria. O escudo de asfalto é envolvido com filtros e transições, como se fosse uma barragem de enrocamento. Mas a parte impermeável dele, ao invés de ser um núcleo argiloso, que normalmente é um núcleo bastante espesso, é apenas uma parede de asfalto. Com isso, foi possível diminuir a quantidade de material aplicado na barragem, que ficou mais esbelta, e assegurou melhor velocidade nessa etapa.

A obra está utilizando ainda concreto refrigerado. Em função das altas temperaturas atingidas pelo concreto nas suas idades iniciais, são feitas camadas até 2,5 m refrigerando-se o agregado e utilizando-se gelo em substituição da água. Com isso, segundo o engenheiro, é possível subir paredes em seções de 2,5 m, ao invés de paredes de 1 em 1 m. O lançamento do concreto conta ainda com o uso de esteiras rolantes.

Outro fator de agilidade está no uso de formas de concreto. Além das formas trepantes e deslizantes, a obra está empregando um sistema de forma volumétrica, com projeto e fornecimento da Ulma a empresa desenvolve a solução de engenharia conforme as necessidades do projeto da construtora. O sistema está sendo empregado no tubo de sucção e no envoltório da máquina, no começo do segundo estágio.

Além disso, na construção, tem feito melhor uso das estruturas metálicas e pré-moldados. Parte da estrutura principal da casa de força foi realizada em estrutura metálica, gerando uma obra mais limpa e mais rápida. A ideia, segundo o engenheiro, é aplicar estrutura metálica em outras estruturas internas, assim como utilizar lajes mistas quando for possível.

 

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