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Revista GC - Ed.69 - Maio 2016
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Cidades Inteligentes

O Rio de olhos bem abertos

Tecnologia de ponta e gerenciamento de informações são aliados, no Centro de Operações do Rio(COR) para facilitar a administração pública e a tomada de decisões em momentos de crise

No livro 1984, publicado em 1948, o escritor inglês George Orwell denunciou as mazelas de um regime totalitário que se sustentava na invasão da privacidade e na supressão dos direitos individuais. A obra tornou-se um dos mais influentes romances do século 20, destacando-se pela sua abordagem “profética” do futuro. A história se passa em Oceania, uma sociedade governada pelo “Grande Irmão” ou “Big Brother”, líder do único partido político permitido, que vigia os cidadãos 24 por dia, através de câmeras de vídeo distribuídas em todos os locais. Até mesmo dentro de suas casas.

Confirmando o que disse outro escritor, o irlandês Oscar Wilde, a vida imita a arte muito mais do que arte imita a vida. Tanto é que vivemos hoje em cidades vigiadas, onde cada gesto do cidadão, cada fato, por mais banal que seja – e também as ocorrências mais relevantes – estão sob as lentes atentas de milhares de câmeras de vídeo. Se por um lado isso confirma a previsão de Orwell, de um mundo onde privacidade é artigo raro, por outro lado a vigilância em larga escala pode ajudar a assegurar


No livro 1984, publicado em 1948, o escritor inglês George Orwell denunciou as mazelas de um regime totalitário que se sustentava na invasão da privacidade e na supressão dos direitos individuais. A obra tornou-se um dos mais influentes romances do século 20, destacando-se pela sua abordagem “profética” do futuro. A história se passa em Oceania, uma sociedade governada pelo “Grande Irmão” ou “Big Brother”, líder do único partido político permitido, que vigia os cidadãos 24 por dia, através de câmeras de vídeo distribuídas em todos os locais. Até mesmo dentro de suas casas.

Confirmando o que disse outro escritor, o irlandês Oscar Wilde, a vida imita a arte muito mais do que arte imita a vida. Tanto é que vivemos hoje em cidades vigiadas, onde cada gesto do cidadão, cada fato, por mais banal que seja – e também as ocorrências mais relevantes – estão sob as lentes atentas de milhares de câmeras de vídeo. Se por um lado isso confirma a previsão de Orwell, de um mundo onde privacidade é artigo raro, por outro lado a vigilância em larga escala pode ajudar a assegurar melhor qualidade de vida nas metrópoles. É o que está acontecendo no Rio de Janeiro, que deste dezembro de 2010 conta com o Centro de Operações Rio – COR, uma central de controle que integra 30 órgãos da administração municipal, através de um sistema de monitoramento da cidade, 24 horas por dia.

O COR, que funciona no bairro da Cidade Nova, no centro do Rio, conta com uma central de captação de imagens feitas por cerca de 1.200 câmeras de vídeo instaladas por toda a cidade, em ruas e avenidas, terminais rodoviários e ferroviários, estações de metrô) etc. Essas imagens permitem à administração municipal integrar concessionárias e órgãos púbicos da administração direta, em todas as etapas de um gerenciamento de crise, desde a antecipação, redução e preparação, até a resposta imediata às ocorrências, como chuvas fortes, deslizamentos, acidentes de trânsito, incêndios e distúrbios causados por manifestações populares, por exemplo. Tudo em tempo real.

O COR custou cerca de R$ 40 milhões para ser montado e contou com empresas como IBM, Samsung e Cisco como parceiras tecnológicas do projeto.

Conhecido com os Olhos do Rio, o COR é o mais moderno da América Latina. As imagens captadas pelas centenas de câmeras são reproduzidas em um telão (videowall) composto por 80 monitores, com 46,5 metros quadrados, responsável por controlar todo o município através de mapas, fotos aéreas, imagens e gráficos.

Mais de 400 profissionais se revezam em três turnos no monitoramento da cidade. Em caso de ocorrência, é possível acionar rapidamente os órgãos competentes para cada tipo de situação.

No centro, um mapa semelhante ao exibido pelo Google Earth foi personalizado com dezenas de camadas de informação exclusivas dos órgãos da prefeitura, para trazer detalhes completos de cada região e cada serviço da cidade. Toda ocorrência fica registrada ali, com zoom automático para exibir o entorno do local afetado. Seja ação da polícia ou uma emergência com bueiros, os operadores sabem exatamente o que se passa na região próxima e são capazes de tomar decisões a partir dessas informações.

Todos os dados são interconectados para visualização, monitoramento e análise. Na Sala de Crise, equipada com outra tela, de videoconferência, é possível se comunicar com a residência oficial do prefeito, na Gávea Pequena, e com a sede da Defesa Civil. O processo permite atuar em tempo real na tomada de decisões e solução dos problemas.

No COR atuam em conjunto técnicos de entidades como a Defesa Civil, a Guarda Municipal, a Companhia de Engenharia Tráfego da Cidade (CET-Rio), a  Comlurb (empresa responsável pela limpeza urbana), Polícia Militar, Metrô, Administração do Túnel Rebouças, da Ponte Rio-Niterói, e do Corpo de Bombeiros, além de diversas secretarias municipais e concessionárias de serviços públicos, como Light (eletricidade) e CEG (gás). Cada companhia tem um centro de controle próprio que direciona as informações para o Centro de Operações, de onde o prefeito toma decisões.

Tanta tecnologia também facilita o trabalho da imprensa, na cobertura do dia-a-dia da Cidade Maravilhosa. Do mezanino do COR, jornalistas das principais rádios acompanham as informações do trânsito, minuto a minuto. Emissoras de televisão têm link direto com o estúdio para trazer as últimas notícias.

Operadores têm acesso a imagens em 360º por meio de controle remoto dos equipamentos. Embora nem todas as câmeras disponham desse recurso, a tecnologia empregada permite movimentar e dar zoom para ter imagens mais nítidas. Não se passa um minuto sem que vários monitores troquem automaticamente de câmera.

Reduzindo engarrafamentos

O trânsito na cidade merece um cuidado especial, com monitoramento permanente. Desde a criação do COR, houve um crescimento na quantidade de câmeras instaladas em todas as regiões: de 93 para 560. Assim, é possível deslocar equipes e enviar viaturas para pontos estratégicos, com maior rapidez e diminuir o tempo de resposta nas ocorrências de trânsito.

Concessionárias de trechos metropolitanos posicionam painéis eletrônicos informativos em vários trechos da malha viária, para estabelecer a comunicação com motoristas e pedestres. Esses painéis eletrônicos estão conectados ao COR e são capazes de exibir mensagens enviadas pelos operadores da CET-Rio.

Um operador que identifica um congestionamento numa via de grande movimentação pode, por exemplo, digitar num aplicativo específico, rodando no Windows, um texto de alerta, sugerindo ao motorista um caminho alternativo. Leva cerca de 30 segundos para que o texto seja transmitido e apareça nos painéis eletrônicos nas ruas e avenidas, o que ajuda muito na redução dos congestionamentos.

As informações sobre a cidade são reunidas em uma central de armazenamento, que ajuda no planejamento do trânsito.

De olho no tempo

Chamado de PMAR, um mapa específico para o Rio de Janeiro traz detalhes meteorológicos da cidade com previsões feitas a partir de um modelo climático único, desenvolvido pela IBM para este fim.

O software, que trabalha ainda com imagens captadas por satélite meteorológico, considera a topologia da cidade para determinar se há perigo ou se os habitantes e transeuntes não precisam se preocupar com as mudanças climáticas e suas consequências desastrosas, como enchentes, escorregamento de encostas, desabamentos etc.

O sistema prevê com 48 horas de antecedência onde deve se concentrar um maior grau de chuvas. A partir dessa localização, a Defesa Civil pode ser colocada em prontidão. Ao sinal de qualquer problema, sirenes instaladas em áreas de risco pela Geo-Rio – empresa de geologia da prefeitura – são acionadas, alertando a população para a necessidade de evacuação dos locais perigosos.

Cidadania e tecnologia

O COR tem, ainda, estreita ligação com a Central de Atendimento ao Cidadão – que é acessada pelo número telefônico 1746 ou via web, oferecendo mais de 20 serviços da prefeitura ao cidadão. Entre esses serviços estão solicitações para a troca de semáforos queimados, postes de luz, remoção de entulho, alerta à Dengue, serviços de conservação pública e de transporte urbano.

O sistema de gerenciamento de relacionamento com o cidadão, em que se baseia a Central, processa um número expressivo de solicitações: já recebeu 3,2 milhões de chamadas. Sua capacidade chega a 234 atendimentos simultâneos ou 600 mil chamadas por mês, 24 horas por dia.

Up grade

Considerado o primeiro legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, o COR passa por um processo de modernização e ampliação da tecnologia no monitoramento da cidade. A proposta é capacitá-lo para atender às demandas dos Jogos que inspiraram a sua criação. Os principais avanços são a troca do videowall da sala de controle e a implantação de uma ferramenta de programação e integração entre gestores e operadores. A atualização do sistema representa um investimento de R$ 3,5 milhões.

A desmontagem e substituição de 80 monitores de Liquid Crystal Display (LCD) por 100 monitores com a tecnologia Light Emitter Diode (LED) garantem melhor definição de imagem em resolução Full HD.

Com a expansão da área de visualização, o novo telão mede três metros de altura, 21 de largura e ocupa 65 metros quadrados – 30% maior que o anterior, de 46,5 metros quadrados – com resolução de 207 milhões de pixels. Outros quatro monitores de 75 polegadas (Full HD) – fixados sobre o videowall – exibem emissoras de televisão sem atrapalhar a rotina da operação.

Outra novidade é a ferramenta X¬Omnium Chat. A implantação permitirá que gestores e operadores troquem mensagens em tempo real, otimizando a comunicação diante de qualquer ocorrência, sem a necessidade de deslocamentos na sala de controle. O software comporta a troca de mensagens de texto, fotos e videoconferências com o novo videowall, diretamente dos smartphones dos gestores máximos – prefeito, secretários e chefe¬ executivo de operações.

Em breve, o telão estará em conexão direta com as salas de crise, de situação e de inteligência.

As novas telas são mais leves, esquentam menos e garantem mais velocidade na troca de informações, permitindo a navegação como num desktop de um computador. Tudo isso aumenta a capacidade de monitorar a cidade, aliada à maturidade da equipe que está pronta para o desafio das Olimpíadas – observou o coordenador do COR, Pedro Junqueira.

COR ganha base móvel

Uma base remota e com alta tecnologia embarcada é o mais novo recurso do Centro de Operações Rio para atuar em situações de crise/emergências e em grandes eventos. Por meio da tecnologia Instant Connect, da Cisco, a Unidade Móvel COR (UM-COR) poderá se conectar de qualquer ponto da cidade com os operadores na sede do Centro de Operações, na Cidade Nova, de forma instantânea, confiável e segura. O equipamento possibilita comunicação de voz, dados e vídeo de altíssima qualidade, além de disponibilizar pontos de acesso Wi-Fi para os usuários que estiverem no local onde o equipamento for instalado.

A base móvel traz um conjunto de soluções inovadoras. “É a primeira vez que uma cidade brasileira contará com uma solução integrada destas características para operações remotas, mesmo em locais que estejam com comunicação restrita por algum motivo”, afirma Nina Lualdi, diretora sênior de Inovação da Cisco na América Latina. “Este equipamento fornecerá infraestrutura de rede, câmeras de monitoramento e serviço de voz que permitirão a comunicação entre os agentes de forma instantânea, segura e simples por meio de rádios, telefones celulares ou fixos. Seu formato compacto permite que ele seja transportado rapidamente para o local do evento. Estamos compartilhando nossa expertise com a Prefeitura do Rio de Janeiro para que a solução atinja todo seu potencial”.

O lançamento da UM-COR foi feito durante o evento-teste da Maratona para os Jogos Olímpicos, no dia 10 de abril, quando foram necessárias grandes interdições viárias que nunca foram realizadas pelos órgãos de trânsito. Durante os 42 km da prova, os atletas percorreram as ruas do centro da cidade, passando ainda pelo Aterro do Flamengo, Glória e pela Praça Mauá, na região portuária. A solução já foi testada com sucesso durante a Copa Brasil de Marcha Atlética, no dia 28 de fevereiro, na Praia do Pontal, em mais um dos eventos-teste de preparação para os Jogos Rio 2016. Para essa competição, que contou com a participação de 30 atletas de dez países, foi preciso realizar o bloqueio de parte da Avenida Lucio Costa, no Recreio dos Bandeirantes.

A adoção desta tecnologia permitirá que os operadores envolvidos em incidentes e ocorrências possam transmitir informações e se comunicar com mais rapidez e precisão, e assim tomar decisões mais rapidamente e de forma mais assertiva.

“Os usuários da UM-COR poderão simultaneamente acessar a internet, realizar teleconferências e fazer ligações por meio de telefones IP, integrando também rádios e telefones celulares. A câmera integrada vai capturar e enviar imagens em tempo real para o Centro de Operações. Isso nos possibilita uma avaliação mais precisa da situação no local”, explica Pedro Junqueira, Chefe Executivo do Centro de Operações Rio. “Além dos Jogos Rio 2016, a tecnologia também vai ajudar na operação de outros grandes eventos no Rio de Janeiro e em situações de emergência”, destaca Nina Lualdi.

Rio, cidade digital

O Rio de Janeiro é a segunda cidade mais digital do país, de acordo com o Índice Brasil de Cidades Digitais, ficando atrás apenas de Curitiba no ranking que conta com a participação de 100 municípios brasileiros.

A pesquisa, elaborada pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), classificou as cidades de acordo com o grau de acesso à internet e nível dos serviços digitais fornecidos a seus habitantes, numa espécie de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que, em vez de indicadores sociais, tem como foco a cidadania digital.

A partir dessa pontuação, os municípios foram agrupados em seis níveis de desenvolvimento digital. A edição de 2012 mostrou que boa parte dos municípios analisados conseguiu avançar de posição. Dos cem participantes, 30 já estão no grau intermediário de desenvolvimento digital (o equivalente ao nível três, numa escala de um a seis). Na primeira edição do estudo, realizada no ano anterior, apenas quatro das 75 cidades analisadas estavam nesse estágio.

Muitos municípios avançaram na cobertura do acesso à internet e outros passaram a oferecer mais serviços de educação e segurança. Apesar desse avanço, ainda estamos distantes do estágio pré-integrado (equivalente ao nível quatro de cidadania digital), que requer uma boa integração entre as plataformas de serviços municipais, estaduais e federais -- disse Graziella Cardoso Bonadia, coordenadora da pesquisa.

A boa colocação do Rio de Janeiro no ranking nacional se deve, em boa parte, aos bons números em termos de infraestrutura (o que inclui os 256 quilômetros de rede em fibra óptica e enlaces de radiofrequência). O COR da prefeitura, que integra serviços e auxilia a gestão pública também contou pontos na classificação do município.

 

 

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