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Revista GC - Ed.70 - Junho 2016
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Cidades em Movimento

O desafio de superar desigualdades

Nova geração de prefeitos se articulam para atender as legítimas demandas da população por melhor qualidade de vida, argumentando que se os problemas nascem nas cidades, as soluções também deverão nascer

Prefeitos de várias cidades brasileiras reuniram-se no dia 18 de maio, no Centro de Eventos da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio, em Brasília, para discutir propostas urgentes e estruturantes, da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), para serem entregues ao presidente em exercício Michel Temer. O documento, os líderes do Executivo dos municípios esperam elaborar uma pauta com foco na retomada do desenvolvimento econômico e a superação dos desafios sociais. Entre eles, o financiamento e custeio do transporte público e do saneamento em áreas irregulares nas cidades brasileiras.

Para o presidente da FNP e prefeito de Belo Horizonte (MG), Marcos Lacerda, os municípios têm muitas obrigações e participam, cada vez menos, do bolo da arrecadação tributária nacional. “O saneamento básico é apenas mais uma das angústias que nós prefeitos vivemos”, disse. Lacerda destacou que existe uma compreensão internacional dessas urgências vividas pelos municípios. E lembrou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), qu


Prefeitos de várias cidades brasileiras reuniram-se no dia 18 de maio, no Centro de Eventos da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio, em Brasília, para discutir propostas urgentes e estruturantes, da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), para serem entregues ao presidente em exercício Michel Temer. O documento, os líderes do Executivo dos municípios esperam elaborar uma pauta com foco na retomada do desenvolvimento econômico e a superação dos desafios sociais. Entre eles, o financiamento e custeio do transporte público e do saneamento em áreas irregulares nas cidades brasileiras.

Para o presidente da FNP e prefeito de Belo Horizonte (MG), Marcos Lacerda, os municípios têm muitas obrigações e participam, cada vez menos, do bolo da arrecadação tributária nacional. “O saneamento básico é apenas mais uma das angústias que nós prefeitos vivemos”, disse. Lacerda destacou que existe uma compreensão internacional dessas urgências vividas pelos municípios. E lembrou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), que é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, a ser cumprido até 2030.

Além da atenção internacional, o prefeito de Belo Horizonte destacou a importância dos Consórcios Públicos como alternativa para os municípios. “A burocracia é complexa, mas a FNP, em parceria com a Caixa Econômica Federal, o BNDES e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que tem por objetivo promover o desenvolvimento e eliminar a pobreza no mundo – montou o Observatório dos Consórcios Públicos e do Federalismo (OCPF) para contribuir na difusão dessa opção”, falou.

O presidente da FNP também lembrou a importância das parcerias com Fóruns de Secretários para pensar em soluções para os municípios. Entre os fóruns parceiros da FNP, segundo Lacerda, está a Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae).

Como viabilizar a gestão pública

A Constituição Federal de 1988 redesenhou o federalismo brasileiro, reconhecendo o município como ente federado. Esse processo foi acompanhado por intensa descentralização de políticas públicas, pelo fortalecimento do poder local e por mecanismos pouco coordenados de relação vertical e horizontal entre os entes federativos. Ao mesmo tempo, a ausência de políticas de desenvolvimento regional acentuou as desigualdades locais e regionais observadas historicamente no país. Nesse contexto, e buscando superar dificuldades comuns, alguns municípios e estados associaram-se e de forma cooperada trataram de desenvolver atividades e implementar políticas públicas.

O governo federal começou a discutir a lei dos consórcios em agosto de 2003 com o objetivo de regulamentar o artigo 241 da Constituição e dar mais segurança jurídica e administrativa às parcerias entre os entes consorciados. O Projeto de Lei de regulamentação foi encaminhado ao Congresso Nacional em 30 de junho de 2004 e, em 06 de abril de 2005, a Lei dos Consórcios Públicos – 11.107/05, foi sancionada.

O grande consenso em torno do mérito da lei, no entanto, fez com que fosse grande a expectativa de que a regulamentação dos consórcios públicos possibilitasse a constituição de instrumentos de cooperação federativa, adequados a diferentes escalas territoriais e a múltiplos objetivos, e em 2007 foi publicado o Decreto nº 6.017, em 17 de janeiro, regulamentando a Lei de Consórcios.

Os consórcios públicos são parcerias formadas por dois ou mais entes da federação de quaisquer níveis, para a realização de objetivos de interesse comum, em qualquer área. Tornar viável a gestão pública nos espaços metropolitanos, em que a solução de problemas comuns só pode se dar por meio de políticas e ações conjuntas é uma necessidade de muitas cidades brasileiras, por exemplo. O consorciamento também permite que pequenos municípios ajam em parceria e com o ganho de escala melhorem suas capacidades técnica, gerencial e financeira.

Há uma primeira geração de consórcios públicos em fase de implantação e uma série de publicações e análises a respeito do modelo de pactuação. Entretanto estas informações estão disponíveis de forma isolada e não qualificada. A análise detalhada dos resultados destas ações conjuntas, bem como das percepções sobre a legislação sobre o tema, é fundamental para trazer à luz boas práticas de consorciamento em âmbito nacional.

É nesse contexto que se encontra a criação do Observatório de Consórcios Públicos e do Federalismo, projeto da FNP, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Caixa Econômica Federal.

A FNP tem dentre as suas missões, defender o principio da autonomia municipal e a manutenção do pacto federativo no Brasil, assim como promover o desenvolvimento e o fortalecimento das capacidades institucionais dos municípios em âmbito local, regional e nacional. A entidade tem desenvolvido vasta experiência em cooperação técnica com instituições como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Organização Panamericana da Saúde (OPAS), Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), União Europeia e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Desenvolvimento insustentável

Há cerca de 100 anos, somente 10% da população mundial vivia em cidades. Hoje somos mais de 50%, e até 2050, seremos mais de 75%. A cidade é o lugar onde acontece a interação social e cultural nos diversos níveis e complexidades. Mas as cidades modernas são, também, caracterizadas pelo crescimento desordenado e desmedido, que de origem a graves problemas como a multiplicação das favelas e bolsões de problema onde falta saneamento tratamento de água, habitação de qualidade, urbanização, postos de atendimento médico etc.

O Século 21 fez emergir as megacidades, palco de contradições e desigualdades dramáticas. As cidades com mais de 10 milhões de habitantes já concentram 10% da população mundial. A maioria delas tem concentração de pobreza e graves problemas socioambientais, decorrentes da falta de maciços investimentos em infraestrutura e saneamento. Sua importância na economia nacional e global é desproporcionalmente elevada. Segundo a Unesco, no futuro teremos muitas megacidades e localizadas em novos endereços – das 16 existentes em 1996, passarão a 25 em 2025, muitas delas fora dos países desenvolvidos.

Nas megacidades acontecem não somente as maiores transformações modernas, mas uma demanda inédita por serviços públicos, matérias-primas, produtos, moradia, transportes, empregos etc. Os 3,5 bilhões de habitantes urbanos consomem 75% da energia disponível no planeta e concentram 80% das emissões de gases que causam o efeito estufa e produzem um volume gigantesco de resíduos sólidos que não tem sido tratado na mesma proporção em que é produzido. Essa é a causa da multiplicação dos lixões, próximos aos grandes aglomerados urbanos em toda a Terra.

Trata-se de um grande desafio para os governos e a sociedade civil, que exige mudanças na gestão pública e nas formas de governança, obrigando o mundo a rever padrões de conforto típicos da vida urbana, como o uso excessivo do carro, que gera a emissão de gases causadores do efeito estufa, por exemplo.

Em um planeta cada vez mais digital e virtual, nunca se usou tanto a tecnologia como ferramenta para a governança mais eficientes das cidades. Essa tecnologia está sendo empregada no gerenciamento da coleta e processamento de informações sobre a qualidade do ar, no tratamento de esgoto e lixo, no monitoramento de estradas e da malha do sistema viário, no gerenciamento de semáforos para controlar o fluxo do trânsito nas cidades e na administração e planejamento do transporte público, entre muitas outras aplicações

Esse fenômeno está sendo chamado de Internet das Coisas (ou IoT = Internet of Things), que vem assumindo, de maneira acelerada, papel importante no processo de automação, na aplicações e prestação de serviços essenciais das metrópoles. Dispositivos e sensores ligados à rede mundial de computadores podem ajudar, ainda, no controle da distribuição e perda de água, no fornecimento de energia, nas telecomunicações e segurança pública.

É nessas megacidades do futuro que o mundo precisa se reinventar, dividir riqueza para alcançar padrões mais justos e equilibrados de desenvolvimento. Padrões mais sustentáveis não apenas nos necessários desafios ambientais, mas também sociais e econômicos – que se reflitam não mais nos indicadores financeiros, mas em IDH’s e pegadas ecológicas.

 

 

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