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Revista GC - Ed.80 - Junho 2017
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Semana das Tecnologias Integradas

Efluente verde

Ecotoxicidade, dispersão de poluentes, prevenção de arraste de sólidos, eficiência operacional... Quais os parâmetros em monitoramento e performance para adequar o efluente industrial aos padrões da legislação ambiental vigente? O painel Controle Operacional de Estações de tratamento de Esgotos (ETEs) e Monitoramento Ambiental, realizado na tarde do dia 08, durante o Sobratma Summit 2017, reuniu pesquisadores, consultores e fornecedores de soluções e tecnologias para discutir esses assuntos, que fazem parte dos desafios no atendimento a parâmetros e legislação ambiental no que tange o descarte de efluentes. As discussões evidenciaram a grande preocupação do setor, que é o modo pelo qual gestores de estações de tratamento de esgoto, tanto do setor privado quanto público, devem se atentar para o gerenciamento das etapas e para o desempenho de cada um dos fatores que compõem o processo.

O biólogo Eduardo Bertoletti, doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e responsável por desenvolver e monitorar estudos sobre ecotoxicologia sobre superfícies


Ecotoxicidade, dispersão de poluentes, prevenção de arraste de sólidos, eficiência operacional... Quais os parâmetros em monitoramento e performance para adequar o efluente industrial aos padrões da legislação ambiental vigente? O painel Controle Operacional de Estações de tratamento de Esgotos (ETEs) e Monitoramento Ambiental, realizado na tarde do dia 08, durante o Sobratma Summit 2017, reuniu pesquisadores, consultores e fornecedores de soluções e tecnologias para discutir esses assuntos, que fazem parte dos desafios no atendimento a parâmetros e legislação ambiental no que tange o descarte de efluentes. As discussões evidenciaram a grande preocupação do setor, que é o modo pelo qual gestores de estações de tratamento de esgoto, tanto do setor privado quanto público, devem se atentar para o gerenciamento das etapas e para o desempenho de cada um dos fatores que compõem o processo.

O biólogo Eduardo Bertoletti, doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e responsável por desenvolver e monitorar estudos sobre ecotoxicologia sobre superfícies aquáticas, esclareceu muitas das dúvidas que acometem as empresas quanto aos limites para emissão de poluentes em corpos hídricos. Seus estudos balizaram a criação da resolução estadual SMA/03 de 2000 (de São Paulo) e também a resolução 430/2011 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que estabelece limites para concentrações de substâncias que possam causar efeitos tóxicos em organismos aquáticos.

De acordo com Bertoletti, efluentes que atendem aos parâmetros do decreto 8.468/76 da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) não estão isentas de apresentar toxicidade. Isso porque os efluentes são matrizes com várias substâncias combinadas, e os estudos de laboratório para padrões de emissão não avaliam o efeito nocivo à saúde advindo da interação entre essas substâncias. “O tratamento é projetado com base e algumas análises: DBO [demanda biológica de oxigênio], DQO [demanda química de oxigênio], nitrogênio, e essa é a projeção. Nenhuma projeção é feita sobre a interação de substância”, frisa o especialista. “Nós temos limites estabelecidos, mas eles são infinitamente em menor quantidade do que se utiliza no cotidiano. Para se ter uma ideia, são 70 mil substâncias que se usa cotidianamente. Em uma legislação boa como a Conama, só estão registrados 100 poluentes.”

A ciência da ecotoxicologia pressupõe que ensaios sejam feitos levando em conta a reação de organismos aquáticos sensíveis a alterações químicas em seu ambiente — microalgas e microcrustáceos como dáfnias e algumas espécies de camarões —, submetendo-os a diferentes concentrações de efluentes. “As interações aditivas, sinérgicas e antagônicas entre as substâncias são detectadas somente pelos organismos vivos, e não pelas análises químicas”, explica Bertoletti.

Estudos da Cetesb que consideram o teor de toxicidade de um determinado efluente comparam este valor com o cálculo da extensão superficial do curso d’água necessária para a diluição completa do poluente. “O importante é garantir que haja espaço para que os micro-organismos migrem para a zona do rio que deixa de ser restritiva quanto ao efeito tóxico.” O biólogo detecta aí um grau de aceitável complacência das autoridades ambientais com efluentes cuja concentração tóxica exceda em pequeníssima escala os valores dessa área biologicamente não-restritiva.

Para a bióloga Renata Rodrigues, mestre pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), a gerência de ETEs deve adotar procedimentos que integram a doutrina ART – Avaliação e Redução de Toxicidade, principalmente em situação nas quais o não-atendimento a parâmetros ambientais ocorre a despeito de condições normais de dosagem química e funcionamento dos equipamentos. “Uma das soluções é desviar o efluente potencialmente tóxico para lagoas de segurança instaladas depois do clarificador primário, de forma a evitar que este efluente chegue ao tanque e mate a população de bactérias biodigestoras.”

Renata também aconselha indústrias equipadas com ETEs a realizarem uma investigação química para detectar o composto químico que causa a toxicidade, o cujo diagnóstico leva à conclusão sobre qual deve ser a solução ideal para eliminá-la. “Nesta avaliação, deve-se submeter o efluente a uma série de manipulações físico-químicas, como testes de adição de EDTA, de graduação de pH, entre outros, para, paulatinamente, isolar os agentes e definir por erro e tentativa qual é a substância.”

Arraste de sólido.

Em 75% dos casos, de acordo com pesquisa da consultoria de saneamento Acqua Consulting, a perda de qualidade do efluente tratado advém de um processo conhecido como arraste de sólido. Isso acontece quando há alteração das condições ótimas para reprodução dos microorganismos biodigestores — como consequência, o decantador apresenta matéria orgânica e poluentes na lâmina sobrenadante. Pior: por conta do removedor de lodo, que transfere o material de DBO de volta para o tanque de aeração, o tratamento se coloca num processo de excesso de toxicidade que se retroalimenta.

Ana Luiza Fávaro, diretora técnica da Acqua Consulting, alerta que a ETE deve observar uma série de fatores que favorecem a reprodução das bactérias biodigestoras. “A biota ideal cresce entre os 25 e 35 graus, em meio com pH neutro e onde a idade do lodo está dentro da faixa do projeto da ETE”. Ela salienta que substâncias como cloro e sulfactantes, usadas na limpeza de ETEs, prejudicam o processo de tratamento, pois matam as chamadas bactérias filamentosas, responsáveis pela floculação de matéria orgânica e sua consequente decantação.

Entretanto, as mesmas bactérias filamentosas podem se tornar no principal causador do arraste de sólidos. Ambientes com baixo oxigênio favorecem sua proliferação desordenada — como resultado, as filamentosas “arrastam” as outras bactérias em um emaranhado de matéria orgânica que flutua sobre a superfície do tanque e impede que os flocos se formem. “Nesse caso, em vez de injetar mais oxigênio, deve-se reduzir a biota de filamentosas aumentando a dosagem de fósforo e nitrogênio, pois elas gostam da relação desigual DBO:P:N”, explica Ana Luiza.

Já João Carlos Rosa, também da Acqua Consulting, chamou atenção para o fato de que ações de gerenciamento resolvem muitos dos problemas operacionais de uma ETE. “Muitas vezes não se sabe sequer qual a qualidade da água de saída que se tem de produzir, ou quais os serviços que fazer parte do escopo contratual. Key Performance Indicators também são de suma importância”, afirma. “Nós temos que ter métricas para uma alta performance.”

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