Evento de 2014 impulsiona infraestrutura e aquece setor de construção civil, mas desafia o País a gerenciar melhor seus riscos e gargalos
Nem mesmo as eleições para presidente da República paralisaram a pauta dos megaeventos esportivos de 2014 (Copa) e de 2016 (Olimpíadas). Não há margem para espera, mesmo porque em 2013 haverá a Copa das Confederações, uma espécie de prévia do evento principal do ano seguinte e que vai colocar à prova os investimentos em infraestrutura que estão em curso. E considere-se infraestrutura algo muito além da construção de estádios. Falamos de grandes recursos aplicados em mobilidade urbana, como os projetos de corredores urbanos e de transporte de massa ou ainda a expansão e otimização dos aeroportos. Estes, infelizmente, atrasados. A pergunta crucial é: qual é a influência da Copa de 2014 em projetos de infraestrutura. E mais: como medir tal retorno? Nesta edição, usando a experiência dos especialistas presentes na segunda edição do World Cup Infraestructure Summit (WCIS 2010), organizado pela Viex Americas, o Métrica Industrial tra
Evento de 2014 impulsiona infraestrutura e aquece setor de construção civil, mas desafia o País a gerenciar melhor seus riscos e gargalos
Nem mesmo as eleições para presidente da República paralisaram a pauta dos megaeventos esportivos de 2014 (Copa) e de 2016 (Olimpíadas). Não há margem para espera, mesmo porque em 2013 haverá a Copa das Confederações, uma espécie de prévia do evento principal do ano seguinte e que vai colocar à prova os investimentos em infraestrutura que estão em curso. E considere-se infraestrutura algo muito além da construção de estádios. Falamos de grandes recursos aplicados em mobilidade urbana, como os projetos de corredores urbanos e de transporte de massa ou ainda a expansão e otimização dos aeroportos. Estes, infelizmente, atrasados. A pergunta crucial é: qual é a influência da Copa de 2014 em projetos de infraestrutura. E mais: como medir tal retorno? Nesta edição, usando a experiência dos especialistas presentes na segunda edição do World Cup Infraestructure Summit (WCIS 2010), organizado pela Viex Americas, o Métrica Industrial traz algumas reflexões.
Cidade | Evento | % investimento em estrutura esportiva (*) |
Barcelona | Olimpíadas de 1992 | 9% |
Berlim | Copa de 2006 | 38,8% |
Africa do Sul | Copa de 2010 | 27,6 |
Brasil | Copa de 2014 | 24,6 |
(*) Dados da LCA, com estimativas para o caso Brasileiro
A primeira delas é a lição de outros países que já sediaram grandes eventos esportivos. A consultoria econômica LCA fez um apanhado do assunto e avalia que o sucesso de casos como o de Barcelona e de Berlim mostram que os investimentos em infraestrutura urbana – superiores aos feitos em infraestrutura desportiva – estão entre os segredos das ex-sedes. Na cidade espanhola, a construção ou reforma de instalações esportivas consumiram 9% dos investimentos totais nas Olimpíadas de 1992, porcentagem que chegou a 11% na Copa de 2006 em Berlim. A África do Sul, por sua vez, investiu 27,6% em construção e reforma de estádios. Segundo a consultoria, o Brasil investirá cerca de R$ 22,7 bilhões para realizar a Copa de 2014, dos quais 24,6% serão consumidos pelas novas arenas ou por reformas nas instalações existentes. Com isso, apresentaremos índices superiores a Berlim e Barcelona e um pouco menores do que os sul-africanos.
Esse sinal de alerta pode ser contrabalançado pelo fato de que o crescimento nos países que sediam a Copa tende a ser maior nos dois anos posteriores ao evento do que nos dois que o precedem. Em 7 das 14 Copas do Mundo desde 1954, o crescimento econômico no país-sede no ano do evento foi menor do que nos dois anos anteriores, segundo a consultoria. As oportunidades em questão podem ser consolidadas nos dois anos posteriores ao evento, o que foi constatado em 9 edições. O Produto Interno Bruto (PIB) é um dos termômetros, principalmente no caso de países emergentes como Chile, México e Argentina. Considerando o período de 1954 a 2006, o PIB desses países cresceu cerca de 3,2% nos dois anteriores à Copa. No ano do evento, esse percentual variou entre 0,8% e 1,3%. Nos dois anos posteriores, as taxas de crescimento chegaram a 4,3. Ou seja, o maior efeito da Copa de 2014, no Brasil, vai coincidir exatamente com o começo das Olimpíadas de 2016.
Outro indicador da LCA que chama atenção é que ser o país-sede e ao mesmo tempo o vencedor da Copa do Mundo tem um impacto positivo adicional. O crescimento do PIB nesses países ficou entre 0,3% e 1,1%, no ano do evento, e chegou a 3,2% nos dois anos seguintes. Não deixa de ser, portanto, mais uma razão para torcer muito pela vitória do Brasil.
A Copa trará ainda uma forte demanda na área de construção e a Associação Brasileira de Materiais de Construção (Abramat) tem os números na ponta do lápis. Segundo Melvyn Fox, presidente da Abramat, o impacto da Copa de 2014 no PIB do setor será de R$ 57,2 bilhões, considerando que R$ 41,9 bilhões serão de impacto indireto. Vinte e quatro (24) setores serão influenciados na opinião do executivo, que baseia sua avaliação em levantamentos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Ernest & Young. Ele também ressalta que os impactos do evento seriam de R$ 29,6 bilhões, dos quais R$ 22,5 bilhões seriam de investimentos diretos, número que bate com a avaliação da LCA.
As estimativas da Abramat incluem os impactos sobre a produção de bens nacionais e de serviços, que somariam R$ 112,8 bilhões. E mais: 3,6 milhões de empregos serão gerados, além de uma arrecadação tributária que chega a R$ 18,13 bilhões. Seis setores seriam os mais beneficiados: Construção civil, Alimentos e Bebidas, Serviços prestados às empresas, Área de serviços públicos ou utilidades, Serviços de informação e Hotelaria e Turismo.
Impactos da Copa de 2014, segundo Abramat (*), em reais | |
Impactos com a Copa (investimentos, despesas operacionais de visitantes) | 29,6 bilhões |
Impacto sobre a produção nacional de bens e serviços | 112,79 bilhões |
Impacto sobre a renda | 63,48 bilhões |
Impacto sobre a arrecadação tributária | 18,13 bilhões |
(*) Dados da FGV e E&Y
O otimismo em relação ao governo acompanha o setor (lembrando que a pesquisa foi realizada antes da definição de Dilma Rousseff como nova presidente). Dados consolidados pela entidade, em setembro de 2010, apontam um índice de 72% de otimismo em relação às ações do governo para o setor. Esse mesmo clima é observado nas previsões de investimentos por parte das empresas associadas da Abramat: 78% delas têm intenções de investimento nos próximos 12 meses, segundo o levantamento da entidade.
Além do setor de materiais de construção em si, a análise dos investimentos nas 12 cidades-sede também serve como parâmetro para medir o impacto da Copa de 2014. De acordo com o presidente da Andrade&Canellas, João Carlos Mello, há 786 projetos em andamento, que somariam R$ 104 bilhões.
Mello alerta para o papel estratégico da energia elétrica no suporte a outras operações como a comunicação e iluminação. Ele explica que, no caso dos estádios, as concessionárias entram em ação com o backup de sistemas de alimentação baseados em geradores, o que é o inverso de uma situação normal de contingência. De acordo com o especialista, a meta das cidades-sede é garantir qualidade e confiabilidade para atender o grande fluxo de turistas e dar apoio para as seleções internacionais. Esse foco explica porque 75% dos investimentos na área de energia estão concentrados nas redes de distribuição.
Segmento | Projetos | R$ Mmilhões |
Geração | 3 | 360,00 |
Trasmissão | 10 | 285,10 |
Distribuição | 28 | 721,30 |
Subestenção | 87 | 1,296,90 |
Total | 128 | 2,663,30 |
Mais de 75% do investimento é concentrado na rede das cidades no nível de distribuição
Para José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato de Arquitetura e Engenharia de São Paulo, a perspectiva do pós-evento também deve compor a pauta. Parte dos investimentos estará voltada para a melhoria de funcionamento das cidades e não especificamente para a Copa. E são os mais importantes como legados. Algumas obras essenciais para evitar gargalos no atendimento, caso dos aeroportos, estão defasadas em relação à demanda atual e poderão estar mais defasadas ainda para o período de crescimento pós-Copa e também pós-Olimpíada.
Outros dois pontos críticos, segundo ele, são energia e telecomunicações, setores que não têm margem de manobra para erros. A importância da Copa na avaliação de Bernasconi está na visibilidade mundial que esse megaevento midiático proporciona, com a perspectiva de geração de uma demanda permanente e crescente do turismo internacional. É, em suma, um risco que precisa ser bem calculado.
Área de investimento | Projetos | Investimentos R$ |
Mobilidade Urbana | 262 | 60,9 bilhões |
Aeroportos | 35 | 6,8 bilhões |
Portos | 7 | 0,7 bilhões |
Energia Elétrica | 128 | 2,6 bilhões |
Saneamento Básico | 186 | 12,4 bilhões |
Rede Hotelaria | 130 | 12,6 bilhões |
Rede Hospitalar | 25 | 1,1 bilhão |
Segurança | 1 | 1,2 bilhão |
Estádio / Arenas | 12 | 5,4 bilhões |
Fonte: Abdib
Av. Francisco Matarazzo, 404 Cj. 701/703 Água Branca - CEP 05001-000 São Paulo/SP
Telefone (11) 3662-4159
© Sobratema. A reprodução do conteúdo total ou parcial é autorizada, desde que citada a fonte. Política de privacidade