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Revista GC - Ed.54 - Novembro 2014
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Matéria de Capa - Especial Odebrecht

Aquisições marcam guinada de expansão

Incorporação de know how de empresas como a CBPO e Tenenge é fundamental para processo de internacionalização das atividades

Perfurar túneis na Cordilheira dos Andes, com tremores de terra se repetindo até 30 vezes por dia, a 18 graus abaixo de zero, ou construir uma hidrelétrica e uma cidade de dois mil habitantes em meio aos conflitos internos em Angola foram desafios que começaram a entrar na pauta de realizações da Odebrecht. No Peru, esse desafio foi enfrentado durante a construção da hidrelétrica Charcani V, 135 MW, erguida a 3.600 m de altitude, na década de 1980. Foi a primeira obra da empresa iniciando uma trajetória de sucesso da Odebrecht no país.

Em Angola, a 400 km da capital Luanda, a empresa foi responsável pela hidrelétrica de Capanda, com uma barragem de 110 m, e geração de 520 MW. Fundamental para o país, após um longo período de guerra, a obra abriu caminho para um processo de treinamento e qualificação da mão de obra local, em diversas áreas, permitindo posteriormente a execução de obras necessárias para a recuperação econômica de Angola.

Em 1985, as obras fora do Brasil já representavam cerca de 30% dos contratos em carteira da Odebrecht. A empresa, até e


Perfurar túneis na Cordilheira dos Andes, com tremores de terra se repetindo até 30 vezes por dia, a 18 graus abaixo de zero, ou construir uma hidrelétrica e uma cidade de dois mil habitantes em meio aos conflitos internos em Angola foram desafios que começaram a entrar na pauta de realizações da Odebrecht. No Peru, esse desafio foi enfrentado durante a construção da hidrelétrica Charcani V, 135 MW, erguida a 3.600 m de altitude, na década de 1980. Foi a primeira obra da empresa iniciando uma trajetória de sucesso da Odebrecht no país.

Em Angola, a 400 km da capital Luanda, a empresa foi responsável pela hidrelétrica de Capanda, com uma barragem de 110 m, e geração de 520 MW. Fundamental para o país, após um longo período de guerra, a obra abriu caminho para um processo de treinamento e qualificação da mão de obra local, em diversas áreas, permitindo posteriormente a execução de obras necessárias para a recuperação econômica de Angola.

Em 1985, as obras fora do Brasil já representavam cerca de 30% dos contratos em carteira da Odebrecht. A empresa, até então controlada pela família, abre seu capital em 1981, transforma integrantes em acionistas, e a Odebrecht Participações e Investimentos S.A. (Opisa) passa a chamar-se Odebrecht S.A., assumindo sua condição de holding. A empresa prepara-se para um novo ciclo de sua trajetória, fortalecendo seu papel na engenharia nacional, absorvendo outras empresas, e apostando na diversificação dos negócios, entre eles, os negócios no setor químico e petroquímico, além de expandir a atuação no mercado externo.

Primeiro passo

O primeiro grande passo rumo à expansão e à diversificação, ainda na década de 1980, deu-se com a incorporação da CBPO – Companhia Brasileira de Projetos e Obras, empresa paulista, fundada pelo engenheiro Oscar Americano.

A CBPO era a sexta em faturamento entre as grandes construtoras brasileiras e tinha uma extensa lista de obras de vulto realizadas em meio século de existência no Sul do país. Em seu portfólio constavam as usinas de Xavantes, Capivara, Nova Avanhandava, Rosana e Foz do Areia, cuja barragem, de 160 m de altura, era até então, a maior do mundo em enrocamento e face de concreto. E, principalmente, Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo, de cujo consórcio construtor participara. Além disso, construíra as rodovias dos Imigrantes, Trabalhadores e Castelo Branco, e parte da Ferrovia do Aço e dos metrôs do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em meados dos anos 70, ambas as empresas trabalharam juntas nas obras do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.

A associação trouxe benefícios às duas empresas. Quando suas operações conjuntas começaram, em 1980, a CBPO estava às vésperas do ano de seu melhor desempenho: em 1981, faturou US$ 220 milhões. A Odebrecht herdava assim equipes técnicas e administrativas da mais alta qualidade, que atuavam sob a liderança de Aluízio Rebello de Araújo, Mario Pimenta Camargo e Oscar Americano Neto, advindos da CBPO.

Essa integração de executivos lançou as bases para o processo de sucessão da primeira para a segunda geração da família Odebrecht. É nesse cenário, que em 1985, Emílio Odebrecht torna-se Diretor-Presidente da Construtora Norberto Odebrecht.

Segundo passo

Em 1986, ocorreu um novo fortalecimento da área de engenharia: a Odebrecht comprou a Tenenge – Técnica Nacional de Engenharia S.A., que detinha a invejável marca de ter participado em cerca de 40% da implantação do complexo siderúrgico estatal e da instalação de mais de um terço do parque hidrelétrico do país. Construiu simultaneamente usinas do porte de Ilha Solteira, Capivara, Paraibuna, São Simão e Paulo Afonso IV, entre outras, além de coordenar o consórcio de empresas brasileiras e paraguaias na montagem da Hidrelétrica de Itaipu e de vários empreendimentos nos setores de cimento, fertilizantes e infraestrutura industrial.

Outra área de sua atuação era a de construção e montagem offshore, que se desenvolveu no país graças ao incentivo da Petrobras, para a qual a Tenenge já havia prestado vários serviços, entre eles a realização das obras civis e a montagem eletromecânica da central termelétrica da Refinaria Duque de Caxias. De 1979 a 1986, sob o comando de Fernando Lisboa, que permaneceu na Odebrecht até 2003, a Tenenge executaria para a Petrobras 13 contratos offshore, tendo sido uma das pioneiras nos serviços de instalação no mar de plataformas fixas de exploração de petróleo. Inclui-se em seu portfólio a construção de oleodutos e a montagem de polos como Camaçari, São Paulo, Rio Grande do Sul e Alagoas. Seu nome também está ligado à Cia. Siderúrgica Nacional, Usiminas, Cosipa, Acesita, Cimental, Belgo-Mineira, Açominas e outras. Estava montado o tripé que consolidaria a Odebrecht como um dos maiores grupos de Engenharia do Brasil e do Mundo.

Reinvestimentos

Em 1988, dois anos após o ingresso de Portugal na Comunidade Econômica Europeia, a Odebrecht iniciaria sua atuação na Europa, ao adquirir a empresa portuguesa José Bento Pedroso & Filhos. Incorporada pela Odebrecht, foi rebatizada de Bento Pedroso Construções S.A. Em 1992, conquistaria o contrato para construir um trecho das novas linhas do metrô de Lisboa e, posteriormente, a ponte Vasco da Gama, inaugurada em 29 de março de 1998, um dos novos cartões-postais da Europa, vencedora, em 2000, da II Bienal Mundial de Arquitetura e Engenharia, realizada em Madri, na Espanha.

Na década de 1990, a Odebrecht ingressa no mercado norte-americano e, no Brasil, torna-se administradora de empresas petroquímicas. Em 1991, ela vence a concorrência para a ampliação do Metromover, metrô elevado que serve a área central de Miami, na Flórida, tornando-se a primeira empresa brasileira a realizar uma obra pública naquele país.

Em 1993, a ação da Odebrecht já se estendia a 19 países: Alemanha, Angola, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Cingapura, Colômbia, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Inglaterra, México, Paraguai, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela. Em 1995, seria ampliada com o início de operações na Malásia e em outros países do Sudeste Asiático.

Em maio de 1998, Norberto Odebrecht transmitia a Emílio a presidência do Conselho de Administração da Odebrecht S.A., deixando definitivamente os negócios, após 60 anos de trabalho e mais de 50 anos na liderança da Organização.

Em 1999, a construtora recebeu um prêmio do Exército norte-americano pela qualidade da construção da barragem Seven Oaks, na região de San Bernardino, na California, e pela California Occupational Safety and Health Administration – CAL/OSHA, a mais importante agência do setor no país, pelos extraordinários índices de segurança no trabalho obtidos na obra, que chegou a ter 17 caminhões de 85 t movimentando-se simultaneamente no topo da barragem com cerca de 350 homens trabalhando nas proximidades.

No Peru, desenvolveu a segunda etapa do projeto Chavimochic, iniciado em 1990, para irrigação de áreas desérticas no país, com mais de 200 km de canais, além de sistemas de distribuição da água, redes de drenagem e obras complementares. Em 1992 começou a operar na Venezuela com a construção do Centro Comercial El Lago, além de continuar o projeto de irrigação Santa Elena em Guayaquil, no Equador. No ano seguinte ganhou a concorrência para construir a Ferrovia La Loma-Santa Marta, na Colômbia, e a rodovia Santa Cruz de La Sierra-Trinidad, na Bolívia.

Em 1992, a CBPO ingressou no México, onde começou a barragem de aproveitamento múltiplo de Los Huites, para controlar as cheias do Rio Fuerte, irrigar 70 mil ha de terras e acrescentar 400 MW à oferta de energia do país. A CBPO seria responsável ainda, nesse período, por dois marcos na história da Organização: a conquista do primeiro contrato em regime de concessão fora do Brasil – para construir a autopista de acesso oeste a Buenos Aires.

Em 1993, através da CBPO, começou a atuar na Alemanha, de onde, 137 anos antes, Emil Odebrecht partira em direção ao Brasil. A Odebrecht Bau, criada para operar inicialmente na antiga parte oriental do país, que passava por intenso programa de privatizações, deveria atuar mais tarde também em outros países do Leste Europeu.

Ainda em 1990, a Tenenge passava a atuar na Inglaterra. Mais tarde a Odebrecht incorporaria a SLP Engineering Ltd., uma das principais construtoras offshore do Reino Unido, com 1.500 integrantes. A entrada no mercado inglês ocorreu a partir da experiência consolidada pela Tenenge no Brasil, em Portugal, onde fez os decks das plataformas Cabo e Pacassa, e no Chile, onde montou jaquetas para plataformas de petróleo, fábricas de papel e celulose e linhas de transmissão.

Os negócios petrolíferos levariam a empresa até Cingapura. Lá, em parceria com a Fels-Far East Levingston Shipbuilding, encarregou-se da construção da plataforma semissubmersível para produção em águas profundas, a Petrobras 18, após vencer concorrência aberta pela Brasoil, subsidiária internacional da Petrobras. Inaugurada em março de 1994, a plataforma traria um aumento de 100 mil barris/dia na produção brasileira de petróleo.

A parceria com a Fels foi um marco na estratégia desenvolvida pela Odebrecht de estabelecer parcerias com empresas internacionais, objetivando complementar competências e, com isso, potencializar a conquista de novas oportunidades de negócios. A estratégia permitiu também que as equipes da Organização fortalecessem sua capacitação negocial e tecnológica, promovendo um salto qualitativo rumo a novas conquistas.

Consolidação e fusão

Assim, na segunda metade dos anos 90, as duas vertentes estratégicas, a atuação internacional e a diversificação dos negócios, delineadas na segunda metade dos anos 1970, encontravam-se em franca expansão. Mas a estratégia de expansão idealizada iria sofrer o impacto da nova realidade global, na qual a existência de várias empresas em uma mesma área de negócio e de mais de um negócio intensivo em capital não se coadunavam com as necessidades e com a definição de focos negociais cada vez mais precisos.

A Odebrecht passava a viver um novo ciclo. Era preciso rever a macroestrutura e ser severamente seletivo na identificação de mercados e de empreendimentos. Na área de Engenharia e Construção foi iniciado o processo de integração operacional da Construtora Norberto Odebrecht, CBPO e Tenenge em uma só empresa, sob a liderança da primeira. Na área Química e Petroquímica, o conjunto de empresas existentes foi concentrado em apenas uma operação, liderada pela OPP Petroquímica. Os negócios de Eletrônica e Automação e de Mineração e Metalurgia foram descartados e suas empresas, vendidas. O negócio de perfuração para petróleo passou a integrar a área de Engenharia e Construção. A atuação global também sofreu forte impacto, com a suspensão das atividades na Alemanha, no Sudeste Asiático e em países da África, à exceção de Angola.

Com um novo desenho empresarial, a Odebrecht passou a se concentrar em dois negócios (Engenharia e Construção e Química e Petroquímica) e em participações na área de Infraestrutura e Serviços Públicos, na qual, em associação com outros grupos empresariais, participava de concessões de serviços públicos no Brasil e em Portugal. Além disso, permaneceu no empreendimento de celulose, que iniciara em 1991, continuando a integrar a Veracel Celulose S.A., e com participações em empreendimentos nos setores de Turismo e de Óleo e Gás.

 

 

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