Revista M&T
13/07/2023 14h31 | Atualizada em 11/09/2023 11h31
O mercado de retroescavadeiras tem passado por transformações. Se durante a primeira década de 2000 a demanda era dividida quase que igualmente entre equipamentos 4x2 (com cabine aberta) e máquinas 4x4 (com cabine fechada), esse cenário começou a mudar em 2010. Nessa época, a versão com tração em todas as rodas e ar-condicionado no espaço destinado ao operador passou a ser mais procurada.
A mudança pode ser explicada pelo fato de os setores compradores, como a administração pública e a construção, terem identificado vantagens da alternativa mais completa, especialmente no custo x benefício.
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...O mercado de retroescavadeiras tem passado por transformações. Se durante a primeira década de 2000 a demanda era dividida quase que igualmente entre equipamentos 4x2 (com cabine aberta) e máquinas 4x4 (com cabine fechada), esse cenário começou a mudar em 2010. Nessa época, a versão com tração em todas as rodas e ar-condicionado no espaço destinado ao operador passou a ser mais procurada.
A mudança pode ser explicada pelo fato de os setores compradores, como a administração pública e a construção, terem identificado vantagens da alternativa mais completa, especialmente no custo x benefício.
“Atualmente, em torno de 95% das retroescavadeiras são 4x4 com cabine fechada, enquanto os demais 5% remanescentes se limitam a algumas poucas licitações públicas ou usuários com perfil mais conservador”, comenta Etelson Hauck, gerente de produtos da JCB, ressaltando que o segmento agrícola também tem se tornado um grande comprador desse tipo de máquina.
“Em especial, a procura é maior pelo modelo 4CX — que tem quatro rodas direcionais com três modos de direção: tradicional, ‘caranguejo’ e raio de giro curto”, afirma.
Por ter tração melhor, as retroescavadeiras 4x4 são indicadas para atividades em regiões onde o piso tem menor aderência ou para trabalhos mais pesados, com material agregado e solo arenoso ou úmido, por exemplo. Além disso, o equipamento é versátil, podendo ser utilizado tanto em áreas rurais quanto urbanas. “Por outro lado, o maquinário do tipo 4x2 é bastante usado em situações mais favoráveis quanto à regularidade do terreno, como em estradas asfaltadas”, observa Matheus Kuklik, especialista de aplicação da Caterpillar.
CONFIGURAÇÃO
Atualmente, o comprador de retroescavadeiras encontra com maior frequência ofertas de equipamentos com potência bruta entre 85 hp e 100 hp. “Na operação, o sistema hidráulico e a tração dos eixos são os pontos fundamentais”, diz Leonardo Campos, especialista de produto da Case CE, destacando que o uso da força estritamente necessária reduz o consumo de combustível. “Se o motor gera a potência necessária para o trem de força e o sistema hidráulico, não precisa necessariamente ser um equipamento de alta potência.”
De maneira geral, a demanda de retroescavadeiras no Brasil se encontra justamente nessa faixa. “Embora a potência seja um conceito arraigado, também é importante olharmos a relação potência x peso, para entendermos o que o equipamento está entregando”, destaca Débora Viana, especialista de marketing de produto da New Holland Construction.
Atualmente, em torno de 95% das retroescavadeiras vendidas no país têm configuração 4x4 com cabine fechada
Dependendo do trabalho, a retroescavadeira pode receber diferentes implementos. Na lista desses itens estão marteletes hidráulicos, perfuratrizes, guinchos bag, valetadeiras e garfos frontais, entre outros. “Não há necessidade de qualquer adaptação hidráulica para uso desses implementos”, ressalta Viana. “Até porque não utilizam a terceira função, mas somente as linhas hidráulicas já disponíveis na máquina.”
Há, ainda, outros tipos de implementos muito procurados no mercado. “Com uso frequente em retroescavadeiras há desde caçambas customizadas (estreitas, em V) até rompedores hidráulicos e acoplamentos rápidos”, enumera Douglas Pereira, gerente de marketing de produto da Divisão de Construção da John Deere Brasil. Para alguns modelos de acessórios, ele destaca que a máquina pode – e eventualmente deve – ser configurada com linhas hidráulicas auxiliares. “Que, aliás, podem ser adquiridas diretamente da fábrica”, indica.
Um bom exemplo são os rompedores hidráulicos, utilizados no conjunto traseiro das máquinas, principalmente para quebra de concreto. Para se usar esse recurso, é necessário dispor de um kit PDR (Predisposição para Rompedor), basicamente uma válvula extra junto às linhas hidráulicas auxiliares. Já as vassouras para limpeza de estradas – outro implemento com alta popularidade no Brasil – demandam uma linha hidráulica auxiliar frontal, de modo que a peça possa girar e realizar sua função.
Ainda na lista de implementos com alta demanda, Campos, da Case CE, inclui caçambas dianteiras com dentes ou lâminas, além de caçambas traseiras tipo heavy duty (para operações de escavação em solos compactados). “Também há a caçamba dianteira 4 em 1 e rompedores hidráulicos no lugar da caçamba traseira”, completa o especialista.
Para as caçambas tradicionais, diz ele, não é necessário realizar adaptações, enquanto a caçamba 4 em 1 exige a adição de uma linha hidráulica no comando dianteiro. No caso de rompedor hidráulico traseiro, é demandada uma linha auxiliar no comando traseiro. Na relação de itens com alta demanda no mercado nacional estão, ainda, implementos como polegares hidráulicos e martelos, que são acoplados na parte traseira das retroescavadeiras.
DEPRECIAÇÃO
De maneira geral, ocorre desgaste mais acelerado em determinados componentes do equipamento, até pela vibração excessiva provocada por alguns implementos, como é o caso do martelo hidráulico. Essa movimentação tem o potencial de reduzir a vida útil de determinadas peças, a depender do tipo de operação, terreno, realização de manutenções preventivas e aderência às boas práticas de uso. Em média, a durabilidade pode ser reduzida de 5% a 10%.
Tração melhor impulsiona aplicação em terrenos com menor aderência e trabalhos mais pesados
Além disso, é preciso considerar a depreciação da máquina. “Normalmente, se a retroescavadeira trabalha com demolição, pedreiras ou renovações de edificações usando marteletes, há uma depreciação em torno de 15% devido aos esforços no equipamento, quando comparado somente à escavação”, avalia Renato Aparecido Torres, diretor comercial e de pós-venda da XCMG.
Segundo Hauck, da JCB, a variação da depreciação está diretamente relacionada ao zelo que os operadores e a equipe de manutenção têm com as máquinas. “Existem equipamentos com muitas horas de uso que, com o correto manuseio e cumprimento dos planos de manutenção, podem valer mais do que máquinas seminovas equipadas com peças não recomendadas e operadas em desacordo com as boas práticas”, compara.
Para manter o funcionamento esperado, é fundamental seguir as diretrizes dos fabricantes quanto às manutenções preventivas. Nesse aspecto, Campos, da Case CE, recomenda maior frequência de verificações no sistema hidráulico, especialmente quando se utiliza o rompedor hidráulico (reduzindo o tempo de troca de fluídos e filtros devido à alta utilização do sistema hidráulico).
Além disso, a estrutura da máquina também deve ser adequada para suportar as vibrações geradas pelo rompedor em situações severas. “Quando os implementos são utilizados dentro das recomendações apresentadas pelo fabricante, não é esperada uma redução significativa de intervalos de manutenção”, ressalta Pereira, da John Deere. “Contudo, implementos como o rompedor hidráulico demandam mais do equipamento e, por isso, podem exigir maior frequência de intervenções preventivas, incluindo as trocas de óleo.”
PREFERÊNCIA
Em 2022, as vendas de escavadeiras ultrapassaram as de retroescavadeiras no país. De acordo com dados da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração), no ano passado foram comercializados 39,9 mil equipamentos da Linha Amarela – melhor resultado para o segmento desde 2013. Desse total, as escavadeiras responderam por 24% (11,9 mil unidades) e as retroescavadeiras, por 18% (9,3 mil máquinas vendidas).
Equipamentos com potência bruta entre 85 hp e 100 hp estão entre os mais demandados no país
O uso reduzido da caçamba dianteira em retroescavadeiras pode ser um dos fatores que justifique esse movimento, levando os compradores a investirem mais em escavadeiras compactas. Na opinião de Hauck, da JCB, o aumento súbito nas vendas de escavadeiras está relacionado mais a oportunidades momentâneas.
“Isso ocorre devido ao excesso de escavadeiras disponíveis em outros países e à falta de componentes nas produções locais”, avalia o profissional, lembrando que as vendas de retroescavadeiras vêm crescendo incessantemente no país desde 2016, atingindo um aumento de quase cinco vezes até 2022.
De acordo com Pereira, da John Deere, a média geral de uso de funções de carregamento e escavação em retorescavadeiras é de 30/70, sendo 30% frontal e 70% traseiro.
“O mercado de compactos, incluindo as miniescavadeiras e minicarregadeiras, tem aumentado em virtude de fatores como o crescimento urbano e das zonas residenciais”, analisa. “Nessas situações, as máquinas compactas têm transporte mais fácil e representam o passo seguinte de pequenos prestadores que iniciam com uma retroescavadeira.”
As retroescavadeiras, por conta de sua potência, alcance e tração, também são versáteis para obras como as de saneamento em áreas urbanas. Outro aspecto que influencia na preferência do mercado é o momento vivido pelos setores que utilizam esses equipamentos. Na construção civil, por exemplo, há uma elevada segmentação.
“De um lado, existem nichos com demandas específicas em que a escolha da melhor máquina é determinante para a lucratividade da operação”, comenta Kuklik, da Cat, ressaltando que, por outro lado, existem locadores e empresas que preferem opções mais completas e dotadas de atributos altamente eficientes.
“A partir desse panorama, é fácil compreender por que alguns clientes buscam soluções que se encaixem melhor em suas necessidades, em detrimento de soluções superdimensionadas. É justamente a versatilidade que faz das retroescavadeiras um clássico tão longevo dos canteiros”, diz ele.
No entanto, alguns especialistas no setor avaliam que o uso reduzido da caçamba dianteira em retroescavadeiras tem relação direta com a maior procura pelas escavadeiras compactas. “Sem dúvida, a baixa utilização da caçamba pode levar o cliente a preferir as miniescavadeiras”, opina Torres, da XCMG.
“Características técnicas como giro zero, possibilidade de trocas e opções de implementos, além de atributos de elevação, força e potência — comparado às retroescavadeiras –, também favorecem a opção pelas máquinas compactas”, opina
A relação potência x peso é uma das referências centrais para a avaliação do equipamento
VERSATILIDADE
O aumento de opções disponíveis no mercado, com equipamentos específicos começando a despertar a atenção dos compradores, não deve impactar de maneira tão forte o setor de retroescavadeiras no curto prazo. Assim, a expectativa é que esse tipo de máquina continue no topo da lista das mais vendidas nacionalmente.
Afinal, trata-se de uma opção com maior diversificação e versatilidade, capaz de atender com qualidade às necessidades de diferentes segmentos. Ou seja, as retroescavadeiras têm lugar garantido no mercado. “Não são necessariamente as máquinas mais eficientes ou produtivas, se comparadas a equipamentos específicos.
Porém, a relação de custo x benefício para o cliente brasileiro se justifica em diversos setores produtivos”, sublinha Torres, afirmando que, culturalmente, o mercado nacional entende que a máquina faz o serviço das minis. “Mas ao se fazer uma trincheira próxima de uma parede, a produtividade da retroescavadeira é inferior”, exemplifica. “Além disso, a miniescavadeira passa por lugares mais estreitos e com restrições de altura.”
Já quando se observa o segmento de locação, a fatia de mercado atualmente ocupada pelas retroescavadeiras ainda é bastante sólida. Hauck, da JCB, informa que nos últimos três anos o segmento de rental aumentou bastante as compras de máquinas desse tipo. “Isso se deve ao alto investimento de grandes empresas de locação no país, que estão inovando na gestão financeira, operacional e de manutenção da frota”, explica.
Com o uso intensivo de implementos, depreciação em retroescavadeiras chega a 15%
Intensificando-se no Brasil, esse movimento há tempos já é bastante comum em diversos países da Europa e na América do Norte. “Locadores, prestadores de serviço e construtoras que utilizam a retroescavadeira como um equipamento de suporte nas operações ainda optam por esse tipo de máquina devido à versatilidade”, ressalta Campos, da Case CE.
“Como tendência, esses players do mercado devem continuar oferecendo equipamentos versáteis para atender às demandas de seus clientes, apostando no baixo custo de propriedade”, prevê.
Na percepção dos especialistas, o movimento de substituição de retroescavadeiras por escavadeiras compactas depende tanto da necessidade dos diferentes setores quanto da oferta das máquinas, em sua maioria importadas. “Cada um dos mais variados nichos tem suas próprias particularidades e necessidades especiais”, reflete Kuklik, da Cat. “Mas isso não enfraquece a tradicional eficiência, robustez e, especialmente, diversidade de opções que as retroescavadeiras são capazes de oferecer.”
PROJEÇÕES
Segundo dados da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), nos dois primeiros meses deste ano a indústria de retroescavadeiras cresceu em torno de 44%. A alta foi puxada, principalmente, pela elevação de 144% no segmento de licitações públicas.
Além disso, Viana, da New Holland Construction, aponta que o aumento pode ser o resultado de um início de ano com estoques mais elevados por parte das redes de concessionárias — que em 2022 enfrentaram estoques mais limitados.
“Vale lembrar que, historicamente, o mercado de equipamentos no Brasil é composto majoritariamente por retroescavadeiras, escavadeiras hidráulicas e pás carregadeiras, que representam 85% do setor”, diz a especialista de marketing. “Nesse contexto, as retroescavadeiras rivalizam em volume com as pás e as escavadeiras, com leves flutuações, dependendo do período.”
Por tudo isso, as retroescavadeiras continuam representando uma parcela importante em diferentes mercados, como a construção civil, sempre ancorada na versatilidade nos principais segmentos de aplicação. “Apesar do cenário desafiador em relação à disponibilidade de crédito, acreditamos que o segmento de retroescavadeiras terá grande representatividade no setor de máquinas por muito tempo ainda”, conclui Pereira, da John Deere Brasil.
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