Investimento
Folhapress
04/10/2018 08h30 | Atualizada em 04/10/2018 12h40
A explosão da Lava Jato veio em um momento em que o mercado de construção civil estava muito concentrado e precisava de um reequilíbrio. Porém, a operação "destruiu a engenharia do país" e deverá provocar um hiato na infraestrutura, até que o espaço deixado pelas empresas investigadas seja preenchido.
A avaliação é do presidente da Triunfo, Carlo Bottarelli.
A entrevista, concedida em meados de setembro, ocorreu antes da última operação da Lava Jato na quarta-feira (26), que atingiu a Econorte, da Triunfo. Procurada pela reportagem, a empresa informou em nota que já havia criado em março um comitê interno para inv
...A explosão da Lava Jato veio em um momento em que o mercado de construção civil estava muito concentrado e precisava de um reequilíbrio. Porém, a operação "destruiu a engenharia do país" e deverá provocar um hiato na infraestrutura, até que o espaço deixado pelas empresas investigadas seja preenchido.
A avaliação é do presidente da Triunfo, Carlo Bottarelli.
A entrevista, concedida em meados de setembro, ocorreu antes da última operação da Lava Jato na quarta-feira (26), que atingiu a Econorte, da Triunfo. Procurada pela reportagem, a empresa informou em nota que já havia criado em março um comitê interno para investigar as denúncias e colaborava com os investigadores.
LEIA A ENTREVISTA:
PERGUNTA - Além do imbróglio do porto em Santos, a Triunfo tem tido diversos problemas. O que deu errado?
CARLO BOTTARELLI - O contrato de concessão por sua natureza é imperfeito. Um contrato de 25 anos de duração tem que estar suficientemente adequado a receber flexibilidade. Existe uma rigidez, que nasce da lei de licitações, que limita a expansão de contratos de obras.
No entanto, alguns órgãos de controle e o judiciário expandiram essa rigidez para as concessões. Criou-se um engessamento.
PERGUNTA - Uma das críticas é que há uma cultura excessiva de fazer aditivos nos contratos.
CARLO BOTTARELLI - Mas esse é o contrato imperfeito. Se o aditivo está correto e respeita o interesse público, qual o problema?
PERGUNTA - Mas acha que houve abusos de empresas que contaram com esses aditivos na hora de dar lances mais competitivos no leilão, pensando: eu ganho, depois renegocio?
CARLO BOTTARELLI - Não acho. Ninguém faz isso. Ninguém joga no risco. Porque tem o risco de não renegociar, que é muito alto, e aí você amarga 25 anos de contrato. Isso é uma cultura de obra.
Na obra você faz isso. Construtora compra esse risco, porque dura dois anos a obra. Em concessões de 25 anos, se você entra errado, você termina errado, a tendência é só piorar.
PERGUNTA - O que precisa ser feito para melhorar?
CARLO BOTTARELLI - Precisa fortalecer as agências, delimitar a atuação dos órgãos de controle. Tem que criar algum mecanismo de controle para o erro imperfeito, o cara tem direito de errar sim, desde que não tenha dolo.
É um campo muito complexo de falar hoje em dia porque hoje a temática é de caça às bruxas e busca de culpados. Mas a pessoa tem direito de errar, o erro existe, é da natureza humana.
PERGUNTA - Com a Lava Jato, o setor de infraestrutura passou a ser visto com mais desconfiança. Como sentem isso?
CARLO BOTTARELLI - O setor está sob análise. Existem empresas mais atingidas, que são as que circulavam ao redor da Petrobras. Mas vejo isso muito na área de construção.
Sem dúvida, precisava-se fazer alguma coisa. O mercado estava muito concentrado, algumas empresas tinha muita força, decidiam. Tinha que ter um reequilíbrio do mercado. Mas nós destruímos a engenharia brasileira. Precisa destruir as empresas? Não sei. A coisa estava tão evoluída, que não sei.
Tem empresas que possam repor [o espaço deixado pelas investigadas]? Acho que tem, vai ser ciclo mais demorado, porque tem menos investimento público. Vamos ter que passar por um hiato.
Nós fomos afetados indiretamente, tivemos [operações de] busca e apreensão, mas nenhuma sentença. Mas afetou o mercado, fica uma desconfiança. Fizemos investigação interna, criamos política interna, analisamos contratações. O tempo vai dizer. Precisava mexer. Precisava destruir? Não sei.
PERGUNTA - O que falta para retomar os investimentos em infraestrutura no país?
CARLO BOTTARELLI - Segurança jurídica. É só segurança jurídica, regulatória. Recursos não precisa, recursos você pode encontrar onde quiser. Mas é duro, hoje o passado não é previsível. Você pode assinar um aditivo ao contrato e depois de quatro anos o TCU [Tribunal de Contas da União] questionar.
PERGUNTA - Um dos temas regulatórios que interessa a empresa é o decreto que regulamentaria a devolução de concessões com problemas financeiros, que chegou a ser anunciado pelo presidente, mas ainda não saiu. Qual o impacto da demora?
CARLO BOTTARELLI - É uma solução melhor do que uma rescisão unilateral. É menos traumático. Mas entendo o presidente que, por conta do [inquérito que investiga suposto favorecimento a uma empresa com a assinatura do] Decreto dos Portos, não assina mais nada até o fim do mandato dele.
Com todo o constrangimento que ele [Temer] está sofrendo, não imagino que faça um decreto que, se for olhar no fundo, vai facilitar vida de quem? Meia dúzia de empresas. Com certeza levaria a uma ação de improbidade.
PERGUNTA - A empresa tem planos de projetos novos?
CARLO BOTTARELLI - É o porto. Não adianta ir buscar projetos novos que vão demandar capital no momento em que não só não tenho capital como tenho uma disciplina de capital diferente, que é organizar a casa.
PERFIL - Carlo Bottarelli, 65, diretor-presidente da Triunfo Participações e Investimentos
Graduado em Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Paraná, entrou na Triunfo em 2003, onde atuou como presidente do Conselho de Administração durante a abertura de capital do grupo
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