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Baixa procura pelo curso de engenharia é um problema para o país

Especialista aponta algumas razões para esse cenário, como as dificuldades sociais e a necessidade em fomentar políticas públicas que facilitem a formação e capacitação de futuros engenheiros

Assessoria de Imprensa

14/02/2023 09h39 | Atualizada em 15/02/2023 14h04


Vinicius Marchese*

Vou fazer uma comparação entre profissões que pode parecer antagônica e até mesmo inusitada, mas o intuito é gerar reflexão através de uma provocação urgente e necessária.

Você já parou para pensar como seria o mundo sem certos profissionais que possuem conhecimento técnico para cumprir com os rigorosos padrões e exigências do das suas funções e da sociedade?

Diante deste exercício, te pergunto: como salvar vidas sem médicos? Como fazer com que a educação seja universal sem professores? E, por fim, como gerar desenvolvimento socioec

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Vinicius Marchese*

Vou fazer uma comparação entre profissões que pode parecer antagônica e até mesmo inusitada, mas o intuito é gerar reflexão através de uma provocação urgente e necessária.

Você já parou para pensar como seria o mundo sem certos profissionais que possuem conhecimento técnico para cumprir com os rigorosos padrões e exigências do das suas funções e da sociedade?

Diante deste exercício, te pergunto: como salvar vidas sem médicos? Como fazer com que a educação seja universal sem professores? E, por fim, como gerar desenvolvimento socioeconômico e sustentável sem profissionais da área tecnológica? Essa preocupação não é de hoje, contudo, o momento para agir é agora.

Desde 2020, quando foi publicado o estudo da consultoria norte-americana McKinsey alertando que até 2030 precisaremos de 1 milhão de profissionais de tecnologia no Brasil para atender às demandas da sociedade e do mercado, diversas pesquisas sobre o tema também passaram a ser divulgadas, algumas a partir de um outro ponto de vista: a queda pela procura aos cursos de Engenharia e áreas correlatas.

Mas antes mesmo da instituição estadunidense olhar para o nosso país, o Instituto de Engenharia já buscava entender o que provocava este cenário.

Em 2018, a instituição havia publicado um levantamento completo pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base em uma análise de dados do Ministério da Educação (MEC), concluindo que mais da metade dos estudantes de Engenharia do Brasil abandona o curso antes da formatura.

E, agora, em janeiro de 2023, o Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) também divulgou um mapeamento sobre a baixa procura por essa graduação.

Você deve estar se perguntando, assim como eu, qual o motivo dessa queda? Se a área tecnológica é um dos pilares do desenvolvimento e existe uma demanda crescente por seus profissionais, o que faz com que cada vez menos jovens se interessem pelos cursos das Engenharias, Agronomia e Geociências?

A base que construímos para o futuro que queremos para as nossas cidades, estado e país está na inovação, na capacidade de atuar em equipes multidisciplinares e no empreendedorismo. O que, talvez, nossos alunos ainda não estejam aprendendo em sala de aula.

Sabemos que a academia proporciona o melhor em conhecimentos técnicos, formando profissionais eficientes para o setor público ou privado em termos de entrega de projetos voltados para infraestrutura, logística, saneamento, sustentabilidade, tecnologia e por aí vai. Mas o desafio vai além.

Existe todo um contexto político, econômico e social para o qual os novos profissionais precisam olhar. Caso contrário, não estarão aptos para ocupar esses lugares que hoje estão em déficit, mas que podem ser transformados em oportunidades. Acredito, que essa desmotivação surge nesse gargalo.

No mesmo estudo publicado pela McKinsey, os dados mostraram que, na contramão do crescimento da demanda por tecnologia devido ao isolamento imposto pela covid-19, 35% dos cursos da área tecnológica não obedeciam aos requisitos básicos do mercado.

Ou seja, ao mesmo tempo em que as nossas relações mudaram por conta da pandemia, a forma de educar também deveria ter mudado. De quem oferece a formação e de quem a busca.

Outra hipótese é a inviabilidade de investir nesses cursos. Afinal, estamos falando de uma realidade brasileira em que a desigualdade não só se escancarou durante a pandemia, como aumentou mesmo depois da recuperação dos índices econômicos.

Isso porque, com inflação em alta, desemprego elevado e forte evasão escolar, o ponto de partida entre as classes é desnivelado, mais uma vez.

Sem conseguir pagar pelo Ensino Superior particular e sem conquistar uma disputada vaga na pública, facilmente, o estudante opta pela opção mais barata, o que nem sempre lhe garantirá a formação adequada ou a área que sonhava em cursar, como é o caso da Engenharia para muitos.

Essas dificuldades sociais dividem o país e levam a escolhas obrigatórias, onde a educação deixa de ser uma prioridade diante de outras tantas urgências.

Esses pontos nos revelam que a baixa procura pela área tecnológica na graduação passa pela necessidade em fomentar políticas públicas que facilitem a formação e capacitação de futuros engenheiros, agrônomos e geocientistas.

O momento de agir é hoje e não em 2030, quando o problema já não poderá mais ser solucionado com a velocidade que precisamos. Este é um alerta sobre como a nossa vida em sociedade está profundamente relacionada às nossas formas de educar e formar profissionais.

Afinal, o Brasil é uma fábrica de talentos que precisam ser descobertos, motivados e impulsionados diariamente para acompanhar a evolução do mundo e proporcionar qualidade de vida para a nossa própria população.

Não podemos deixar essas pessoas ocultas nas estatísticas educacionais apenas estampando as notícias. Temos total capacidade de construir um futuro justo em oportunidades, mas, para isso, precisamos proporcionar a todos o mesmo ponto de partida.

*Vinicius Marchese é engenheiro de telecomunicações e presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP)

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