Fórum Brasil Infraestrutura: Plateia lotada, ao fundo, e no detalhe, o presidente da Sobratema Afonso Mamede: inovação é fundamental para empresas do setor de construção
A 3ª edição do Sobratema Fórum Brasil Infraestrutura focou os temas da Tecnologia e Inovação como desafio para as empresas brasileiras na nova era econômica do País. Afonso Mamede, presidente da Sobratema, em seu discurso de abertura, destacou que a inovação é uma questão fundamental para a sobrevivência das empresas no mercado, e deve ser um requisito presente desde a etapa de projeto e planejamento de uma obra, até sua conclusão e operação. “Tendências como a sustentabilidade na construção e edifícios green building são irreversíveis. No campo das obras públicas, a questão ambiental reflete em maior número de restrições para o licenciamento, e exige das construtoras e do governo, cada vez mais, pessoal qualificado na área de projetos”, enfatizou.
Mamede destacou a necessidade de incrementar as obras públicas na área do saneamento básico e despoluição dos rios, e na área dos transportes e mobilidade
Fórum Brasil Infraestrutura: Plateia lotada, ao fundo, e no detalhe, o presidente da Sobratema Afonso Mamede: inovação é fundamental para empresas do setor de construção
A 3ª edição do Sobratema Fórum Brasil Infraestrutura focou os temas da Tecnologia e Inovação como desafio para as empresas brasileiras na nova era econômica do País. Afonso Mamede, presidente da Sobratema, em seu discurso de abertura, destacou que a inovação é uma questão fundamental para a sobrevivência das empresas no mercado, e deve ser um requisito presente desde a etapa de projeto e planejamento de uma obra, até sua conclusão e operação. “Tendências como a sustentabilidade na construção e edifícios green building são irreversíveis. No campo das obras públicas, a questão ambiental reflete em maior número de restrições para o licenciamento, e exige das construtoras e do governo, cada vez mais, pessoal qualificado na área de projetos”, enfatizou.
Mamede destacou a necessidade de incrementar as obras públicas na área do saneamento básico e despoluição dos rios, e na área dos transportes e mobilidade urbana, de incrementar os investimentos nos sistemas de metrô. E ressaltou as demandas de logística para atender ao escoamento da produção do agronegócio, um dos mais dinâmicos do País hoje. Para superar esses desafios, ele ressaltou a necessidade intensiva do País por tecnologia, destacando a Construction Expo 2013 – evento que será realizado pela Sobratema no próximo ano – como oportunidade ideal para o mercado apresentar suas soluções tecnológicas, voltadas para a área de construção e infraestrutura. “O evento já conta com o apoio e participação de 62 entidades e terá como destaque diversos salões temáticos”, informou.
Certificação de processos
A adesão aos sistemas de certificação, como o processo Aqua, foi um importante passo da indústria brasileira em busca da competitividade global, destacou o professor José Joaquim do Amaral Ferreira, diretor de certificação da Fundação Vanzolini, responsável pela introdução da certificação Aqua no Brasil, que abordou o tema Sustentabilidade em Processos Construtivos. O processo Aqua (Alta Qualidade Ambiental), é uma certificação internacional da construção sustentável, baseada no processo francês Démarche HQE (Haute Qualité Environmentale) e foi desenvolvido e adaptado à cultura, clima, normas técnicas e regulamentação brasileiras pela Fundação Vanzolini. O sistema introduziu novos conceitos na construção brasileira, por exemplo, como incluir os princípios de sustentabilidade já na concepção do projeto. Outra mudança deu-se com respeito ao maior controle sobre o projeto e gestão integrada do início do planejamento até a entrega. E inclui o uso correto do empreendimento, a partir da informação e conscientização do usuário. “Os avanços na tecnologia, normalização e regulamentação impulsionam o aperfeiçoamento de novos referenciais técnicos e do próprio processo de certificação Aqua”.
Segundo ele, é preciso evitar a radicalização dos processos, mas a busca pela qualidade ambiental dos edifícios está vinculada também à sustentabilidade econômica, assim como às características institucional e social. Ele alertou que essas questões são cada vez mais emergentes, com o crescimento da população em áreas urbanas. “O grande desafio brasileiro será prover habitações para essa população em crescimento. Por isso, elementos como educação, inovação e tecnologia serão fundamentais, assim como a adoção de soluções sustentáveis e viáveis economicamente”. A tendência dos sistemas de certificação é a integração do processo em todas as etapas do empreendimento, que inclui desde a adoção de processos de Ecoconstrução e a Ecogestão, a combinação de fatores como conforto e saúde do usuário, e a preocupação com o entorno do empreendimento.
Ao se comprometer com a Aqua, o empreendedor se obriga a pensar no entorno do empreendimento na construção, no uso e na desconstrução, assim como aspectos do ciclo de vida dos materiais e sistemas construtivos, como durabilidade, conservação, manutenção e potencial de reciclagem. Dentre os exemplos de empreendimentos certificados pelo sistema Aqua, destacam-se o Residencial Park One da Odebrecht OR; Cidade Jardim Corporate Center, da incorporadora JHSF; Centro de Eventos Nortel, da Mori e True Chácara Klabin Residencial, da Even.
Tecnologia e sustentabilidade
Para Anderson Benite, diretor técnico da unidade de Sustentabilidade do CTE – Centro de Tecnologia de Edificações, que abordou o tema Certificações Green Building no Brasil, há uma clara tendência de crescimento no Brasil por edifícios com certificações que atestam as preocupações de sustentabilidade na construção. Ele informou que atualmente já existem 67 edifícios certificados com o Green Building no Brasil e outros 600 projetos registrados para a obtenção dessa certificação. Há ainda 80 edifícios com a certificação Aqua – Alta Qualidade Ambiental, criada pela Fundação Vanzolini. “Existe hoje uma série de fatores que induzem a busca pelas certificações”, disse. A seu ver, os edifícios com certificações Green Building permitem redução de custos como de água e energia, além de garantir maior bem-estar e conforto para os usuários e maior aceitação por parte do público comprador e da mídia.
Benite afirma que os edifícios sustentáveis já conseguem maior receptividade dos órgãos públicos. Segundo o palestrante, atualmente, 41% da demanda por certificações Green Building são oriundas de empresas privadas, 30% de governos e 17% de ONGs. Ele destacou as iniciativas de empresas, como o selo Casa Azul, da Caixa Econômica, que se constitui em um instrumento de classificação da sustentabilidade de projetos habitacionais. É um sistema que qualifica projetos de empreendimentos dentro de critérios socioambientais, priorizando a economia de recursos naturais e as práticas sociais.
Uso de novos materiais
O Brasil não pode dispensar o uso de novos materiais e tecnologias, como o uso do bambu, para solucionar seus problemas de moradia. Amplamente empregado em países como Colômbia, Equador, China, Japão e Índia, o bambu não é muito utilizado na construção civil brasileira. As razões passam pela questão cultural: existe um conceito errôneo de que essa gramínea possui baixa durabilidade. Há ainda a questão econômica, já que faltam fornecedores de mudas de espécies de bambus mais apropriadas para aplicação nesse setor, embora essas espécies possam ser plantadas em escala comercial.
Mas, segundo o professor doutor Antonio Ludovico Beraldo, da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp - que abordou o tema Tecnologias Inovadoras e a Sustentabilidade em Arquitetura e Construção, a recente aprovação da Lei Federal de incentivo ao manejo sustentado e ao cultivo de bambu, deverá modificar positivamente a cultura de utilização desse material no Brasil. “A partir da oferta de matéria-prima, originária de plantios realizados em escala comercial, empresas poderão se instalar, visando à produção de uma série de materiais à base de bambu, tais como chapas prensadas e bambu laminado colado (BLC)”, disse.
Os benefícios do uso do bambu nesse segmento estão relacionados aos aspectos da autoconstrução e da disponibilidade local dessa matéria-prima, o que minimizaria os custos logísticos. Outra vantagem é a leveza apresentada pela estrutura, o que dispensaria a locação de equipamentos pesados para o transporte dos componentes construtivos. Além disso, o bambu possui um elevado potencial para armazenar carbono e é uma planta perene, ou seja, após seu plantio e decorrido um intervalo relativamente curto, os colmos podem ser coletados continuamente, sem a necessidade de ser plantado novamente.
Os biomateriais, destacou o especialista, são outra alternativa para uso na construção civil. “Em alguns casos, eles podem substituir total ou parcialmente os agregados minerais na confecção de concretos leves, destinados à confecção de blocos vazados, telhas onduladas, bloquetes para pavimentação, entre outros. Em compósitos à base de matrizes orgânicas ou inorgânicas, o carbono presente na biomassa vegetal encontra-se bloqueado, o que constitui uma importante vantagem ambiental”, detalha Beraldo. Em outros setores da economia, como a indústria automobilística, alguns biomateriais já vêm sendo usados.
Inovação traz retorno à sociedade
Para cada R$ 1 que o governo concede de incentivo fiscal ao setor privado para investimento em inovação tecnológica, a empresa e a sociedade conseguem de volta R$ 3,50 na forma de receita e de impostos. O cálculo é de Valter Pieracciani, presidente da Pieracciani Desenvolvimento de Empresas, que abordou o tema Incentivos Fiscais para Inovação Tecnológica. O levantamento de Pieracciani foi feito em 2010 com base nas análises dos dados de 18 empresas dos setores de alimentos, bebidas, bens de consumo, papel e celulose, tecnologia da informação, construção civil e energia. Na sua avaliação, o dado mostra o quanto a inovação é importante para a economia.
Segundo o empresário, a construção é um dos setores que mais trabalha com as universidades e desenvolve inovação. “Diariamente, são colocadas em prática novas tecnologias nesse segmento, porém, as pessoas que trabalham na área não percebem que se trata de inovação”, afirmou Pieracciani. No entanto, ao reconhecer a ação inovadora, a empresa pode usar um dos instrumentos fiscais direcionados à pesquisa, desenvolvimento e inovação para ampliar essa prática. “As empresas que investem em inovação têm sido reconhecidas pelo governo, como por exemplo, o anúncio de que o IPI será reduzido para as montadoras que investirem em P,D&I”, analisa Pieracciani.
Talento e inovação
Waldez Ludwig, consultor em gestão empresarial, deu uma palestra sobre os Principais fatores da competitividade: estratégias, excelência, inovação e talento. Segundo ele, a inovação só ocorre onde há conhecimento e educação. “Nesse caso, a situação no Brasil é muito preocupante, pois 1/3 da população não tem a quarta série do ensino fundamental. Aqui está o chamado Custo Brasil, afirmou o palestrante. Ludwig brincou com várias simbologias do universo profissional, para ressaltar alguns aspectos de conceituais da inovação. Para ele, as empresas precisam ter ousadia para inovar. “Por exemplo, ao se estabelecer metas, tem de lembrar que meta boa é aquela em que você não tem a menor ideia de como vai conseguir atingi-la. Só assim você vai inovar, pois do contrário, sempre se chegará a ideias pouco inovadoras”.
Outro fator de inovação é conseguir atrair pessoas talentosas para seus negócios. Nesse aspecto, ele fez duras críticas ao sistema de gestão de pessoas das organizações. Ele criticou, por exemplo, instrumentos como isonomia salarial e plano de cargos e salários. “Com esses mecanismos arcaicos não se consegue inovação. Quando se ganha igual, por exemplo, seguindo a isonomia, aquele que trabalha bem começa a relaxar e acaba nivelando por baixo e ninguém se compromete com nada”, conclui Ludwig conclamando as empresas a darem espaço para as inovações.
Para Ercio Thomaz, pesquisador do IPT/Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, que falou sobre Construção: Tecnologia em Materiais e Processos, o acirramento da concorrência, principalmente, em obras de edificações, além do planejamento e gestão, serão cada vez mais valorizados nas empresas que atuam nesse segmento. "A automatização e informatização de processos já é uma realidade e está contribuindo para uma melhor eficiência na construção civil", explica. Para ele a exigência da sociedade moderna por edifícios cada vez mais inteligentes e com uma estrutura de lazer completa, aliada à sustentabilidade ambiental, têm levado as empresas da cadeia da construção a desenvolver materiais, equipamentos e processos construtivos que atendam essas necessidades. "Há 20 anos, o projeto de uma edificação era mais simples, contemplando as partes hidráulicas, elétricas e de telefonia. Hoje, a gama é muito maior, com novas modalidades dentro de um projeto, incluindo alvenaria, exaustão, automação, entre outros", exemplifica. A seu ver, diversos tipos de processos construtivos, equipamentos e ferramentas que já vêm sendo utilizados na construção civil brasileira. No caso de obras de infraestrutura, citou as pontes estaiadas, que são usadas em grandes centros urbanos que precisam aumentar a mobilidade do tráfego de veículos, e o cantitravel, que é a cravação de estacas de sustentação de superestrutura sem contato com o solo, que já vem sendo usado na construção do Trecho Leste do Rodoanel de São Paulo.
O diretor do departamento das Indústrias Intensivas em Mão de Obra e Recursos Naturais do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Marco Otávio Prates, deu palestra sobre O desafio do aumento de produtividade na construção: como a inovação pode contribuir? Ele destacou que as a inovações são fundamentais para o aumento da competitividade em toda a cadeia da construção. Nesse sentido, o governo federal criou o Plano Brasil Maior como estratégia e incentivo às empresas para aperfeiçoar métodos, aumentar a produtividade e competitividade no mercado. Para alcançar esse estágio, as empresas brasileiras terão de empregar ferramentas modernas de gestão. Um exemplo é o BIM (Building Information Model ou Building Information Modeling), Modelo de Informação da Construção, capaz de unificar uma série de informações geradas e mantidas durante todo o ciclo de vida de um edifício.
Perspectiva para o futuro
Na sequência, o ex-ministro da Fazenda e consultor na Tendências Consultoria, Mailson da Nóbrega fez palestra sobre Perspectivas da Economia Brasileira. O ex-ministro Mailson da Nóbrega falou das perspectivas futuras do país, ressaltando a necessidade de investir em infraestrutura e educação, como caminho para o desenvolvimento. “O Brasil precisa investir, anualmente, em torno de 5% do PIB para manter e melhorar a qualidade da infraestrutura, particularmente a de transportes”, destacou. Para ele, é importante também dar ênfase às questões tributárias e educação, mencionando a necessidade de uma “revolução” brasileira nesta área (ver Entrevista nesta edição).
Mário Humberto Marques, vice-presidente da Sobratema, encerrou o Sobratema Fórum Brasil Infraestrutura com a apresentação da pesquisa Principais Investimentos em Infraestrutura no Brasil até 2017, realizada pelas empresas CriActive e E8 inteligência. O levantamento aponta 11.533 obras e investimentos de R$ 1,68 trilhão na área de infraestrutura.
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