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Revista GC - Ed.76 - Jan/Fev 2017
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Mão de Obra

O "legado" dos 100 mil desempregados

Rio de Janeiro sofre com o fim das obras olímpicas e com a crise do país e amarga o maior desemprego do setor da construção civil
Por Mariuza Rodrigues

Fila de desempregados evidencia a crise provocada pelo fechamento de milhares de postos de trabalho no setor da construção, no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro vive um momento difícil, de “ressaca” pós-Olimpíadas de 2016: a desmobilização da mão de obra empregada na construção das instalações desportivas e de toda a infraestrutura para a realização dos Jogos teria gerado cerca de 100.000 desempregados. O número é confirmado por Luis Fernando dos Santos Reis, presidente da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro. Para ele, esse grande contingente de profissionais, sem ocupação, não tem qualquer opção de novos empregos no setor, em curto e médio prazos.

“O nível de desemprego na construção pesada no Rio de Janeiro é altíssimo”, diz ele, lembrando que o estado passou por um boom de obras ao longo de 10 anos, maior do que qualquer outro estado. “A situação é dramática”, diz ele, sinalizando que não existe qualquer perspectiva de retomada dos investimentos por parte do poder público, além de empecilhos burocráticos para obras da iniciativa privada que poderiam amenizar a crise do emprego na construção civil.

Abrahão Roberto Kauffmann, presidente do Sinduscon/RJ, recorda os efeitos da crise para a construção do país nos últimos dois anos, citando os números do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon). “O Brasil sofreu, nos últimos 24 meses (entre outubro de 2014 e outubro de2016), redução de 2,38 milhões de postos de trabalho. Destes, 788 mil postos (33,1%) foram perdidos na construção em geral (pesada + edificações e instalações). Somente na construção pesada perderam-se 322,7 mil postos nos últimos 24 meses, ou seja, 13,6% do total das perdas do país. Depois das Olímpiadas, cerca de 30/35 mil operários da construção civil ficaram desempregados”, afirma.

Segundo Kauffmann, o Governo Federal demonstra real interesse em ajudar os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, para saírem da atual calamidade, e as parcerias público-privadas (PPP), que estão sendo estudadas, podem ser um importante trunfo neste sentido. “Já a iniciativa privada pode contribuir para gerar empregos, por meio dos investimentos em empreendimentos de uso misto


Fila de desempregados evidencia a crise provocada pelo fechamento de milhares de postos de trabalho no setor da construção, no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro vive um momento difícil, de “ressaca” pós-Olimpíadas de 2016: a desmobilização da mão de obra empregada na construção das instalações desportivas e de toda a infraestrutura para a realização dos Jogos teria gerado cerca de 100.000 desempregados. O número é confirmado por Luis Fernando dos Santos Reis, presidente da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro. Para ele, esse grande contingente de profissionais, sem ocupação, não tem qualquer opção de novos empregos no setor, em curto e médio prazos.

“O nível de desemprego na construção pesada no Rio de Janeiro é altíssimo”, diz ele, lembrando que o estado passou por um boom de obras ao longo de 10 anos, maior do que qualquer outro estado. “A situação é dramática”, diz ele, sinalizando que não existe qualquer perspectiva de retomada dos investimentos por parte do poder público, além de empecilhos burocráticos para obras da iniciativa privada que poderiam amenizar a crise do emprego na construção civil.

Abrahão Roberto Kauffmann, presidente do Sinduscon/RJ, recorda os efeitos da crise para a construção do país nos últimos dois anos, citando os números do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon). “O Brasil sofreu, nos últimos 24 meses (entre outubro de 2014 e outubro de2016), redução de 2,38 milhões de postos de trabalho. Destes, 788 mil postos (33,1%) foram perdidos na construção em geral (pesada + edificações e instalações). Somente na construção pesada perderam-se 322,7 mil postos nos últimos 24 meses, ou seja, 13,6% do total das perdas do país. Depois das Olímpiadas, cerca de 30/35 mil operários da construção civil ficaram desempregados”, afirma.

Segundo Kauffmann, o Governo Federal demonstra real interesse em ajudar os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, para saírem da atual calamidade, e as parcerias público-privadas (PPP), que estão sendo estudadas, podem ser um importante trunfo neste sentido. “Já a iniciativa privada pode contribuir para gerar empregos, por meio dos investimentos em empreendimentos de uso misto - Comercial Popular, Residencial (Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV) e Comercial com espaços para consultórios, escritórios em geral, cursos, espaços para Lazer - ao longo dos Corredores de Mobilidade Urbana (Transolimpica, Transcarioca, Transoeste e Transbrasil) já concluídos e que contam com Transporte Coletivo de qualidade”, diz. Ele lembra que o complexo do Comperj está tendo obras iniciadas.

Já Santos Reis afirma que o governo não tem nenhum programa de lançamento de  obras que absorvam essa mão de obra. “A situação é dramática”, alerta. Veja a seguir entrevista com o presidente da Aeerj.

Revista Grandes Construções – Como está hoje o nível de desemprego entre os operários da construção pesada no Rio de Janeiro e no Brasil, de maneira geral?

Luiz Fernando Santos Reis - O nível de desemprego no setor da construção pesada no Rio de Janeiro é altíssimo. Temos que lembrar que o Rio viveu, nos últimos 10 anos, um “boom” de obras que nenhum outro estado teve. Nos primeiros anos do governo Sergio Cabral, o volume de investimento em obras – quer com recursos federais, estaduais e municipais – principalmente nos municípios beneficiados pelos “royalties” do petróleo, foi enorme, fazendo com que houvesse um crescimento brutal no nível de empregos. Neste período, só o estado licitou cerca de R$ 24 bilhões em 8 anos. Hoje, o número de desempregados beira a faixa de 100.000 operários que, face à conjuntura atual, não tem qualquer opção de novos empregos no setor.

O panorama nacional não é muito diferente, as grandes obras não tiveram continuidade, vide, por exemplo, a Transposição do São Francisco, e novas obras não foram iniciadas. Além do mais, o governo não tem nenhum programa de lançamento de obras que absorvam essa mão de obra. A situação é dramática.

GC - Qual foi o impacto da conclusão das obras olímpicas para esse volume de desempregos?

Luiz Fernando Santos Reis – A conclusão das obras olímpicas foi o grande responsável por esse nível de desemprego, se não vejamos: conclusão da Vila Olímpica; conclusão do Parque Olímpico; Linha 4 do Metrô; Vias expressas dos ônibus BRT’s  (Transoeste, Transcarioca, Transolímpica e paralização da Transbrasil);  conclusão do VLT;  conclusão das obras do Porto Novo, urbanização, túneis Marcelo Alencar e da Via Binário; segunda pista do Elevado do Joá; PAC das Favelas (Morro do Alemão, Rocinha e Manguinhos); Estádio do Maracanã;  Programas Asfalto Novo e Bairro Novo (obras de urbanização no interior do estado);  além de investimentos da Petrobras com o Comperj e privados, como o Complexo do Porto do Açu e a Usina Siderúrgica da Thyssen Krupp.

GC - Existe algum programa ou ação governamental para reduzir o problema?

Luiz Fernando Santos Reis - Muito pelo contrario, não existe nenhum programa de obras de nível federal ou estadual para reverter este quadro, e, por incrível que pareça, as oportunidades geradas pela iniciativa privada tendem a morrer, fruto da burocracia e uma falta de visão macro do Governo Federal. Como exemplo, temos a construção da Nova descida da Serra das Araras (Via Dutra), onde a Concessionária CCR se propõe a investir R$ 1,7 bilhões, gerando 5.000 empregos e a duplicação da BR 101 Nordeste, onde a Concessionaria Norte Fluminense (Arteris) pretende investir R$ 800 milhões. Esses investimentos só dependem de vontade política e ajudariam em muito a minimizar a crise que estamos vivendo.

GC – Qual o efeito do fim das obras da Olimpíada, associado à crise do estado do Rio de Janeiro, para economia do estado e para os trabalhadores de maneira em geral?

Luiz Fernando Santos Reis - O que depender de investimentos do estado deve ser esquecido. Não existe qualquer possibilidade do estado, na atual situação, investir em programas de obras. As prefeituras, por sua vez, estão iniciando um novo mandatado e dificilmente terão capacidade de investir. Desta forma, vemos um cenário extremamente complexo para os trabalhadores.

GC - O senhor vê alguma luz no fim do túnel? Que projetos ou obras podem ser deslanchados e amenizar os problemas?

Luiz Fernando Santos Reis - No que depender de investimentos dos governos, não temos conhecimento de nenhum programa ou projeto.

GC - Qual o papel da iniciativa privada nesse setor, sobretudo no Rio de Janeiro? As concessões podem ajudar nesse caso?

Luiz Fernando Santos Reis – A iniciativa privada está tentando ajudar e tem encontrado como obstáculo a burocracia e falta de sensibilidade do governo para tornar reais as possibilidades, como nas obras da Nova Serra das Araras; da duplicação da BR 101 Nordeste; da nova subida da Serra de Petrópolis. São projetos reais e com possibilidade de inicio imediato, gerando cerca de 15.000 empregos. A Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ) está desenvolvendo um trabalho para tentar viabilizar programas de Parcerias Público-Privadas e Concessões de médio porte em municípios do interior do Estado do Rio.

GC - E qual o papel da Petrobras para gerar novos postos de trabalho?

Luiz Fernando Santos Reis - A Petrobras acena com a retomada das obras do Comperj que, sem sombra de dúvidas, poderá gerar milhares de empregos. No entanto, pelo que tem sido divulgado, só empresas estrangeiras foram convidadas a participar (30 empresas de diversos países), o que certamente será um agente complicador na geração de empregos.

GC - O Sr poderia comparar essa situação com outra do passado?  O que sobra de lição?

Luis Fernando Santos Reis - Estou neste setor desde 1957 e nunca vi nada parecido. No Estado do Rio de Janeiro, a nossa perspectiva de obras para geração de empregos é zero. Não temos projetos, programas e recursos. A paralisação do setor é total, colocando em risco a sobrevivência das empresas que só atuam no Rio. Temos que ter em mente que obras de infraestrutura não são programas de um governo. Que é necessário ter uma carteira de projetos que permita que haja uma sequência de eventos, segundo uma programação. Não é possível que tenhamos programas episódicos, que tragam para nosso estado uma quantidade enorme de trabalhadores e depois não haja qualquer perspectiva para eles. Esse problema é nacional. No setor de barragens, tivemos Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. O que existe agora? No setor da construção naval, a Petrobras acenou com um enorme boom de encomendas, levando as empresas a investirem em estaleiros, treinamento de pessoal. E o que sobrou agora?

GC - O governo federal está atento ao problema?

Luiz Fernando Santos Reis - Vejo o governo federal imerso em problemas  econômico/financeiros e políticos e sem condições de voltar sua atenção para este setor. Senão, as oportunidades que acima destacamos, já poderiam estar gerando um alivio.

GC - Qual o futuro desses trabalhadores desempregados?

Luiz Fernando Santos Reis - Não sei. Em conversa com o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores, quando fomos analisar esta situação, não encontramos nenhuma saída em curto prazo. Ficou uma interrogação e um medo, o que eles irão fazer para garantir sua sobrevivência dos trabalhadores e de suas famílias? É importante lembrar que no momento que existe uma preocupação com o atraso de pagamento dos funcionários públicos, manchetes nos jornais, radio e televisão, ninguém lembra que nossos operários também existem, possuem família e são pessoas iguais a eles. No entanto, muitos não recebem salário e nem podem ser dispensados porque as empresas, fruto dos atrasos de pagamento do governo, não têm nem caixa para efetuar esses pagamentos.

 

 

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