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Revista GC - Ed.1 - Jan/Fev 2010
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Cidade administrativa

Novo projeto de Niemeyer ganha o mundo real

As intensas chuvas que caíram durante todo o mês de dezembro podem ter atrapalhado os planos do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de fazer a inauguração em janeiro. Mas agora está quase tudo pronto. É uma questão de dias. Os milhares de funcionários públicos do Estado já começam a arrumar suas gavetas para a mudança para aquela que já é considerada o mais novo cartão-postal da capital mineira e marco urbanístico e arquitetônico do Brasil: a Cidade Administrativa Tancredo Neves, que concentrará toda a estrutura de administração do governo do Estado de Minas Gerais.

Concebido pelo genial Oscar Niemeyer, 102 anos, o projeto combina beleza, leveza, funcionalidade e sustentabilidade. No conjunto arquitetônico é possível reconhecer o já célebre culto aos espaços vazios, marca da arquitetura de Brasília. Para tornar real esse novo sonho do arquiteto, foi empregado o que há de mais moderno em tecnologia, métodos construtivos e materiais. Estimado originalmente em R$ 500 milhões pelo governo do estado, as obras custaram, no final das contas, cerca de R$ 1,2 bi


As intensas chuvas que caíram durante todo o mês de dezembro podem ter atrapalhado os planos do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de fazer a inauguração em janeiro. Mas agora está quase tudo pronto. É uma questão de dias. Os milhares de funcionários públicos do Estado já começam a arrumar suas gavetas para a mudança para aquela que já é considerada o mais novo cartão-postal da capital mineira e marco urbanístico e arquitetônico do Brasil: a Cidade Administrativa Tancredo Neves, que concentrará toda a estrutura de administração do governo do Estado de Minas Gerais.

Concebido pelo genial Oscar Niemeyer, 102 anos, o projeto combina beleza, leveza, funcionalidade e sustentabilidade. No conjunto arquitetônico é possível reconhecer o já célebre culto aos espaços vazios, marca da arquitetura de Brasília. Para tornar real esse novo sonho do arquiteto, foi empregado o que há de mais moderno em tecnologia, métodos construtivos e materiais. Estimado originalmente em R$ 500 milhões pelo governo do estado, as obras custaram, no final das contas, cerca de R$ 1,2 bilhão. São cinco edificações principais – Palácio do Governo, dois prédios onde ficarão as secretarias de Estado, centro de convivência e auditório – além de unidades de apoio para equipamentos, estacionamentos e dois lagos artificiais. No total, são 804 mil m² de área total e mais de 310 mil m² de área construída.

Com a ida de órgãos públicos e entidades para a Cidade Administrativa, o governo fará uma economia de R$ 80 milhões por ano, com aluguéis, serviços de recepção e vigilância.

Os edifícios terão sistemas inteligentes para economizar recursos naturais. A energia elétrica e o ar-condicionado, por exemplo, serão controlados por um sistema central que evita que ambientes desocupados sejam refrigerados ou recebam iluminação desnecessariamente. As fachadas inteiramente envidraçadas, tanto da sede de governo quanto das secretarias, que permitem a entrada de luz natural durante todo o dia, são outro fator de redução do consumo de energia elétrica.

O esgotamento sanitário a vácuo possibilitará uma redução de 90% do consumo de água em relação à descarga convencional. Uma rede extra de água vai permitir que os prédios utilizem água reciclada. O projeto também prevê a revitalização de espaços que se encontram degradados atualmente e a recuperação da vegetação. Em torno da cidade administrativa foi criado o Parque Estadual Serra Verde, um cinturão verde de cerca de 142 hectares, o segundo maior de Belo Horizonte, uma região de transição entre os biomas Cerrado e Mata Atlântica.

Para efeito de execução, o empreendimento foi dividido em três lotes, cujas obras ficaram sob a responsabilidade de três consórcios, constituídos por nove construtoras, sob a coordenação da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig).

O Lote 1, formado pelas empresas Camargo Corrêa, Santa Bárbara e Mendes Júnior, ficou com a tarefa de construir toda a infraestrutura, como terraplanagem, drenagem superficial, irrigação, redes externas e pavimentação, além da Praça Cívica e do auditório com 4 mil m² e capacidade para 490 pessoas. O prédio principal desse lote é o Palácio do Governo, composto por quatro pavimentos, subsolo, cobertura e heliponto, medindo 147,5 m x 26,60 m, totalizando 21 mil m². O projeto é arrojado e foi considerado um desafio em termos de cálculo estrutural, já que foi concebido pelo mestre Niemeyer com um vão-livre de 147 m, suspensos por tirantes protendidos, o que faz dele o maior vão-livre do mundo, em obra do gênero.

O Lote 2, que inclui  um dos prédios das secretarias, ficou sob a responsabilidade do consórcio composto pela Queiroz Galvão, OAS e Norberto Odebrecht. O projeto do prédio, de volumetria curva, tem 15 andares mais cobertura, com extensão de 240 m no eixo médio e largura de 25 m nas extremidades a 32 m no eixo central.

As construtoras Andrade Gutierrez, Via Engenharia e Barbosa Mello constituem o terceiro consórcio, responsável pelas obras do Lote 3. Nele estão o segundo prédio das secretarias, com projeto idêntico ao do Lote 2, e o centro de convivência. Situado entre os dois prédios das secretarias. O centro, com três pavimentos, terá 4,5 mil m² de área, onde serão instalados um posto de abastecimento integrado ao cidadão, posto médico, postos bancários, agência dos Correios, lanchonetes e lojas de conveniência.

Desafio à Engenharia
No Brasil, algumas obras se notabilizaram, entre tantas outras, por se constituírem em marcos da engenharia e por desafiarem o cálculo estrutural. Entre eles estão o Museu de Arte de São Paulo (Masp), com seu vão-livre de 74 metros, e a ponte Octávio Frias de Oliveira, ambos em São Paulo; a ponte Hercílio Luz, em Florianópolis (SC); e a Ponte Rio-Niterói (RJ). O novo prédio da sede de governo do estado de Minas Gerais veio se juntar a esse seleto grupo.

Para sua construção, foi adotado um processo no qual escoras metálicas provisórias desempenharam a função de pilares sob pilotis. Posteriormente, após a construção da primeira laje, o prédio foi erguido com pilares vazados de maneira que permitem a passagem das cordoalhas de aço. Nesses andares foram utilizadas vigas protendidas e lajes nervuradas.

O partido estrutural está calcado em dois grandes pórticos, estruturalmente concebidos em concreto protendido, dispostos paralelamente nas fachadas longitudinais, que sustentam as vigas transversais da cobertura, nas quais se apoiam os tirantes. Erguido todo o edifício, passadas as cordoalhas com função de tirantes, iniciou-se o processo de protensão gradativa desses elementos.

Após identificar que as tensões nos apoios metálicos passaram a ser nulas, iniciou-se a retirada dos pilares metálicos provisórios, concluindo-se assim o maior vão predial suspenso do mundo.

No total foram utilizados 30 tirantes metálicos e 1.080 cabos que estão presos em 15 vigas transversais de concreto, de 20 metros de comprimento e 3,4 metros de altura, localizadas na parte superior e apoiadas nos grandes pórticos paralelos de concreto armado. A estrutura do prédio foi concebida para suportar cargas em torno de 34 mil toneladas. Na fabricação dos tirantes foi utilizado aço do tipo CP-190RB, da Arcelor Mittal.

O prédio, cujo cálculo estrutural foi feito pelo engenheiro José Carlos Sussekind, ficou totalmente solto dos quatro pilares postiços que o sustentam, podendo-se observar a laje do pavimento térreo, em sua projeção, sem qualquer obstáculo.

“Essa é uma obra que honra o Brasil e coroa grandemente a carreira do meu mestre Oscar Niemeyer. Foram precisos 70 anos de trabalho, de experiência dele, passo a passo, audácia após audácia, e por ter ousado tanto,  para ser capaz de chegar a esse ponto. Não é trivial um prédio com 148 metros de comprimento, com quatro andares, todo envidraçado, sem nenhum apoio, suspenso ao teto. E esse teto vence um vão expressivo e vem se apoiar nas duas passadas, em apenas duas colunas; tendo ainda um vão central de 80 metros e duas balanças de 35 metros. É recorde em cima de recorde”, afirmou Sussekind.

Dificuldades e soluções
De acordo com engenheiros do consórcio responsável pelo Lote 1, o de execução mais complexa, o primeiro desafio enfrentado foi o da mobilização imediata para a contratação de mão de obra, compra de materiais e contratação de serviços. Por ser responsável pela infraestrutura total do empreendimento, o consórcio teve de criar condições de trabalho para as edificações dos demais lotes. Para ganhar tempo, garantir a estabilidade dos taludes, onde se aplica a grama em placas, foram implantadas canaletas, não previstas no projeto original.

Com o início das obras para a construção do Palácio do Governo, outros desafios técnicos surgiram, como o vão-livre, o formato extremamente complexo dos pilares; da Circulação Vertical (em forma trapezoidal) e do heliponto (no final de um cilindro possui um alargamento excêntrico da estrutura, para permitir o pouso das aeronaves). Nesse último caso, foi adotada uma solução criativa: a substituição da forma do cilindro, de fôrma convencional, para fôrma deslizante.

Já no caso do auditório, seu formato curvo dificultou a execução das fôrmas e o cimbramento. O consórcio teve de fazer um estudo do concreto para que ele se ajustasse ao formato (auto-adensável). Na casca superior do auditório foi necessário desenvolver uma técnica especial, nas três últimas etapas, devido à inclinação que não permitia uso de fôrmas dos dois lados. O uso de fôrma foi suprido com a utilização de malha de aço e alteração do sentido de lançamento do concreto, o que reduziu o prazo de execução do projeto.

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