“O tempo rodou num instante nas rodas do meu coração”. O hino estudantil dos anos 1960 traduz a trajetória de Hugo Marques da Rosa e da Método Engenharia, construtora que comemora 40 anos num processo de reinvenção contínua. Ao apontar a flecha para o futuro, a Método volta ao seu ponto de partida o domínio completo do processo construtivo – resgatando o perfil típico da construtora que implantou uma série de inovações no canteiro e liderou um movimento de modernização no cenário da construção brasileira, nas décadas de 1980 e 1990.
A empresa cresceu, expandiu sua atuação e enveredou pelo universo da incorporação imobiliária e gestão de empreendimentos, num processo de conquista de novos conhecimentos e nichos de mercado. Como inovar não significa eliminar riscos, ela também enfrentou os revezes do mercado e pagou um preço por isso, algo comum aos empreendedores. A famosa parceria entre os sócios Victor Foroni e Hugo Marques da Rosa, os fundadores, acabou. Mas Hugo Marques da Rosa continuou a trajetória da empresa, reinventando seu futuro com o resgate justamente de sua filosofia e ap
“O tempo rodou num instante nas rodas do meu coração”. O hino estudantil dos anos 1960 traduz a trajetória de Hugo Marques da Rosa e da Método Engenharia, construtora que comemora 40 anos num processo de reinvenção contínua. Ao apontar a flecha para o futuro, a Método volta ao seu ponto de partida o domínio completo do processo construtivo – resgatando o perfil típico da construtora que implantou uma série de inovações no canteiro e liderou um movimento de modernização no cenário da construção brasileira, nas décadas de 1980 e 1990.
A empresa cresceu, expandiu sua atuação e enveredou pelo universo da incorporação imobiliária e gestão de empreendimentos, num processo de conquista de novos conhecimentos e nichos de mercado. Como inovar não significa eliminar riscos, ela também enfrentou os revezes do mercado e pagou um preço por isso, algo comum aos empreendedores. A famosa parceria entre os sócios Victor Foroni e Hugo Marques da Rosa, os fundadores, acabou. Mas Hugo Marques da Rosa continuou a trajetória da empresa, reinventando seu futuro com o resgate justamente de sua filosofia e aprendizado do passado.
Em seu novo ciclo, que se iniciou em 2004/2005, a Método que tinha optado pela terceirização dos processos produtivos – decidiu voltar às origens e retomar essa atividade. Surge assim a Método Estruturas, com ênfase na pesquisa das soluções e tecnologias mais apropriadas para cada tipo de obra, sem priorizar este ou aquele sistema estrutural, ao contrário do que havia feito no passado.
Outro viés da estratégia de retomada de crescimento da empresa diz respeito ao modelo de negócio. A Método decidiu abandonar a atuação na área de incorporação, segmento em que militou, na última década, em parceria com grupos internacionais, e no qual se notabilizou pelo desenvolvimento de empreendimentos corporativos que marcaram a paisagem paulistana e carioca, fosse pelo aspecto arquitetônico ou pela adoção de conceitos de sustentabilidade e tecnologia.
Mesmo assim, a empresa optou por sair de ramo, que exige um considerável aporte de capital, e concentrar-se na sua atividade fim, que é a construção. A meta agora é expandir os segmentos de atuação da construtora, passando a atuar em nichos que até então a empresa não tinha ousado entrar. Para isso, anexou a Potencial, especializada no segmento de montagem eletromecânica, o que abre um leque de oportunidades visando o momento de expansão e investimento na infraestrutura. O foco principal no novo segmento, conta Hugo Marques da Rosa, é a área de petróleo e gás, puxada pelos investimentos principalmente da Petrobrás.
Mas o empresário deixa claro que o vetor atual mais importante desse ciclo da Método está na filosofia que sempre permeou a história da empresa. “Inovação e flexibilidade para enxergar e aproveitar os ciclos de desenvolvimento que se alternam dentro do mercado da construção”, diz. Neste recomeço, a empresa utiliza aquilo que tem de sobra e pela qual se notabilizou como uma das mais importantes do país: capacitação e adesão incondicional à tecnologia.
Uma história de ideais e de suor Fase 1: A infância.
Hugo Marques da Rosa divide a história da Método Engenharia em três fases principais. A primeira delas é a época de fundação, em 1973, ao lado do sócio Victor Foroni, etapa que seguiu até 1980. “Aquele foi um período que se caracterizou pelo Brasil Grande, em que a economia brasileira crescia 10 a 12% ao ano, enquanto a construção civil crescia a taxas de 15% ao ano”, lembra Hugo Marques da Rosa. Era um momento muito favorável para as empresas de construção e o desafio principal era produzir, porque naquele tempo já tinha problemas de escassez de mão de obra. “Mas não era um mercado muito competitivo”, relembra.
Mesmo sem grande necessidade de inovação, neste período a Método cresceu bastante. “Embora nós tenhamos tido algumas iniciativas nesse sentido, tinha um ambiente econômico muito favorável, mas que se deteriorou nos final dos anos 1970, quando o país teve de fazer um forte ajuste fiscal”, conta Marques da Rosa.
Naquela época o principal cliente de construção era o governo e o ajuste fiscal em todas as esferas se traduziria em menos investimento afetando diretamente o setor da construção. “Passamos por uma crise forte em 1982 e 1983. Naquela época a Método ainda fazia obra pública, e em função disso deixamos de crescer”, diz explicando o motivo que determinaria a opção da empresa em atuar definitivamente no segmento construção civil. Nesta época, a empresa estava à frente da construção do Centro Cultural, na capital paulista, e de um dia para outro, precisou cortar 1.700 empregos, devido ao corte de orçamento do cliente, a prefeitura municipal.
Esse fato marcou a história da construtora, mas, sobretudo a memória de Hugo Marques da Rosa. “Foi um período difícil e ficamos com um estoque de créditos contra o governo, que temos até hoje. Em função disso, decidimos deixar de trabalhar com o governo, e trabalhar unicamente com o setor privado, uma transição que se deu nos anos seguintes.”
Fase 2 – A adolescência
Após 1980, o mercado da construção entrou em um turbilhão econômico adverso, com alta taxa de inflação, menor investimento público e grande concorrência pelos investimentos privados, com a economia do país crescendo a passos da tartaruga. Esse período se seguiu até meados do ano 2000. “Passamos por um período de 20 anos sem experimentar ciclos de crescimento que durassem três anos consecutivos. Foi um período em que o setor da construção civil teve um baixíssimo crescimento. Estávamos num outro tipo de conjuntura, com inflação alta. Era o momento imediatamente anterior ao governo Collor, de inflação de 80% ao mês. Hoje quando a gente olha para traz, parece difícil que uma empresa conseguisse viver num ambiente de inflação neste nível. Mas nós vivemos”, relembra Hugo Marques da Rosa. Nesta etapa, caracterizada por sucessivos pacotes econômicos e arrocho financeiro, surgiria um novo cliente, mais exigente com respeito à qualidade, prazo e controle de custo das obras.
“Para enfrentar essa conjuntura percebemos que precisávamos melhorar a qualidade dos nossos produtos. Mas principalmente sermos flexíveis para nos adaptar a essa conjuntura. Hoje se fala em volatilidade, mas naquela época se falava turbulência. Então era preciso melhorar a produtividade e a qualidade para atender aos clientes e, ao mesmo tempo, ter flexibilidade em função da economia”, analisa Hugo Marques da Rosa.
Foi assim que, em meados dos anos 1980, a empresa começou a implantar um programa de desenvolvimento da tecnologia, com ênfase em dois aspectos até então relegados ao segundo plano pelo setor da construção: a área de recursos humanos, e o desenvolvimento da gestão da empresa. A Método começaria assim a desenvolver fortemente uma tradição na área de qualificação da mão de obra, e que se tornaria uma das marcas da empresa até hoje.
O programa de qualificação no canteiro, desenvolvido pela Método Engenharia, começou a ser desenvolvido em 1987 e contemplou questões, na época, desprezada pelas construtoras. Uma delas seria a constatação de que o operário tradicional não era sequer alfabetizado. O projeto incluía a alfabetização no canteiro para pedreiros, carpinteiros, mestres de obras etc. “O foco da nossa política de recursos humanos era o trabalhador. Naquela época a obra era feita totalmente no canteiro, com poucos elementos industrializados. Então percebemos que para obter mais qualidade era fundamental qualificar os trabalhadores. Hoje o cenário é diferente e cada vez mais a obra é feita fora do canteiro”, lembra Marques da Rosa.
Um pé na industrialização
O processo da qualificação em canteiro foi o fio de um novelo logo percebido pela construtora. A necessidade de mais e mais treinamento, e qualificação não era somente com os operários, mas também com engenheiros e outros níveis hierárquicos, em vista das remodelações pelo qual estava passando os canteiros de obras, do aumento dos contratos e da fama que a empresa conquistava no mercado. Esse processo logo se traduziu em melhor desempenho dos canteiros, com aumento dos índices de produtividade, redução de custos e de acidentes de trabalho.
Até que em 1990 surgiu a oportunidade da construtora fechar uma parceria com uma companhia canadense que pretendia atuar no Brasil. “Começamos a enviar equipes de engenheiros para treinamento no Canadá, e percebemos que se continuássemos trabalhando do mesmo jeito nunca aumentaríamos a produtividade. Era preciso trazer processos produtivos mais avançados. E a partir desse convênio, começamos a implantar ações estratégicas para melhorar a qualidade e a produtividade da construção”, conta Hugo Marques da Rosa.
A empresa tomou então três principais caminhos que se desdobram em outros menores. A primeira iniciativa contemplou a etapa de execução da estrutura. “A qualidade da obra depende de uma boa execução da estrutura de concreto, ao mesmo tempo em que é um caminho crítico, pois os demais prazos dependem dela. Ela é uma parte relevante do custo. Então melhorar a estrutura de concreto era uma das prioridades. Nessa época adquirimos uma tecnologia alemã de execução de estruturas de concreto, o sistema SHV (Sistema Horizontal Vertical), e começamos a produzi-lo aqui, que era o melhor que existia naquela época”, conta o engenheiro. A Método criou então uma divisão especificamente para Estruturas, em 1989, e passou a fabricar as estruturas fora do canteiro. O sistema SHV contemplava quatro etapas principais: o corte e dobra de aço; o sistema de cimbramento; a execução completa da estrutura e a confecção das formas.
Ao industrializar o coração da obra, a empresa abriu caminho para a industrialização de outros elementos de um projeto. Surgiu a oportunidade, e necessidade, de trazer para o Brasil o sistema de produção de paredes de gesso (dry wall), até então inédito por aqui, e que permitia uma grande velocidade na conclusão da obra. “Fomos os precursores do uso das paredes de gesso no Brasil. A marca Drywall, inclusive, era uma patente nossa até recentemente”, conta Hugo Marques da Rosa. Isso levou a novas demandas, como a necessidade de fechamento rápido da obra, uma vez que o gesso não convive com a água. Logo se abriu uma nova janela de oportunidade, a partir de uma parceria com uma companhia canadense, para a produção de pré-moldados arquitetônicos no Brasil. “Essas foram, a meu ver, as três principais inovações tecnológicas que implantamos”, lembra Hugo Marques da Rosa.
Essa industrialização logo significaria uma mudança de foco da filosofia da empresa. “Tudo isso representou uma mudança da estratégia produtiva da construtora. Antes centralizada no canteiro, o foco se direcionou para a área da Engenharia, pois ela se traduzia em maior qualidade e produtividade do que seria possível obter mesmo com a racionalização de processos e treinamento da mão de obra direta no canteiro”, lembra o engenheiro.
Fase 3 – A idade adulta
A empresa iniciou então uma terceira fase em sua trajetória de desenvolvimento, com prioridade para o desenvolvimento tecnológico e na industrialização do canteiro. Esse processo culminaria com a decisão, em meados de 1990, de terceirizar a produção no canteiro e diversificar parcerias e para outros segmentos. Depois de atuar na área residencial, a Método fechou uma parceria com a Brascan para desenvolver empreendimentos comerciais. Posteriormente a empresa fechou parceria com Tishiman Speyer, companhia norte-americana especializada no segmento corporativo de alto padrão. Nesta fase, ela participou de empreendimentos que se destacaram no mercado imobiliário brasileiro, seja pela inovação arquitetônica ou pela tecnologia predial e conceitos de sustentabilidade. A empresa liderou a construção da Torre Norte, que faz parte de importante complexo empresarial, em São Paulo, e dos edifícios Rochaverá, na capital paulista, e Ventura Towers, no Rio de Janeiro, os quais tornaram-se ícones em suas categorias.
A Método enveredou para o campo da gestão participando do desenvolvimento e operação do parque aquático Wet´n Wild e chegou a ensaiar os passos na área de shopping center, com a montagem de uma rede, mas acabou desistindo do negócio.
Em 2004, após uma fase de turbulência, deu início a um quarto período, com uma reestruturação financeira e organizacional. O processo culminou com o fim da sociedade com Victor Foroni e a revisão da estratégia empresarial por Marques da Rosa, que adquiriu a totalidade das ações da empresa. A estratégia adotada foi tirar o pé do acelerador de tantas atividades, que ampliavam o risco financeiro, e concentrar esforços na atividade fim da Método, a construção.
“Atuar na área de incorporação foi importante porque nós passamos a ter maior conhecimento desse mercado. Hoje, quando a Método executa um empreendimento, ela detém a visão de quem já foi incorporadora. Mesmo não atuando mais neste segmento, mantivemos esse conhecimento empresarial na empresa”, diz ele.
Ciclo completo da construção
Nesta nova etapa de sua trajetória, a empresa vem aperfeiçoando sua capacitação técnica em todo o ciclo de vida do projeto, da concepção à sua conclusão. “Nossa constatação é que os problemas construtivos são gerados nessa fase da pré-construção, seja por falhas de projeto, ou incompatibilidade entre as várias disciplinas que o compõem. Tudo que é mal feito nessa fase anterior se reflete na má qualidade da obra e em problemas futuros de manutenção”, diz o engenheiro Hugo Marques da Rosa. “Por isso, desenvolvemos a competência para a coordenação e a compatibilização destes projetos. Nosso enfoque é desenvolver uma Engenharia de valor, trabalhando junto com os projetistas para obtermos o melhor projeto possível. Uma boa obra começa no projeto”, enfatiza.
Para o executivo, a desvalorização profissional ainda permeia as diversas etapas profissionais que estão engajadas na obra. “O projeto é mal valorizado no Brasil. Os projetistas em geral são mal remunerados, e acabam entregando um produto que não tem boa qualidade. Temos de investir mais no profissional, e educar o mercado para investir no projeto, se ele quiser uma obra bem feita”, enfatiza.
Por conta disso, a empresa implantou o sistema BIM (Building Information Modeling) que permite a atuação simultânea de vários projetistas sobre o mesmo projeto, numa visão em três dimensões. O objetivo é visualizar as interfaces, interferências e choques entre os vários projetos. A capacitação dos projetistas, por sua vez, leva em conta todas as normas técnicas, incluindo a recente norma de Desempenho do Concreto. E considera dados e análises de patologias ocorridas em outros empreendimentos que servem como parâmetro para os projetos atuais. “A Método foi reconhecida pela Autodesk como a empresa que mais avançou nessa área do Bim no Brasil. O que nós queremos é estar em processo contínuo de evolução. Hoje nós construímos melhor do que construíamos há um ano, e provavelmente, no próximo ano, em 2014 estaremos construindo melhor do que construímos hoje”, diz.
A empresa também manteve seu perfil de industrialização. Criou então uma nova área, a Método Estruturas, que tem como diferencial a múltipla capacidade para empregar as mais diversas tecnologias existentes nessa área, seja concreto, metálica, ou mista, diferente do que ocorreu no passado. “Muitas vezes a melhor solução é a estrutura de concreto, outras vezes pode ser a estrutura metálica ou a estrutura mista. A questão não é só definir qual a melhor solução, mas entrega-la ao cliente”.
Infraestrutura: um novo caminho
Concluía a reorganização da empresa, ela prepara-se para invadir uma área hoje mais aquecida, mas que estava fora de seu escopo operacional: a montagem eletromecânica com vistas a atender à indústria em vários segmentos, incluindo de infraestrutura. O interesse são as obras ligadas ao setor de óleo e gás, mineração, siderurgia, papel e celulose. “Decidimos ampliar a nossa atuação, priorizando os setores onde houvesse um maior volume de investimentos. O primeiro é justamente o de óleo e gás, segmento que tem recebido grande investimento no Brasil. Em decorrência dessa estratégia nova, nós adquirimos o controle de uma empresa montadora em 2009, a Potencial Engenharia, cujo principal cliente é a Petrobras. Essa empresa trabalha com EPC (Enginnering, Procurement and Construction), com experiência em paradas programadas e manutenção de rotina”, conta. Até recentemente só na área onshore, e agora está ampliando também para a área offshore. Segundo o presidente, a intenção da empresa vai além da área de petróleo e gás. No entanto, hoje a Petrobrás já absorva toda a capacidade da empresa.
E os resultados já começaram a aparecer. “Nós temos crescido em ritmo acelerado. A previsão é que a construtora deve crescer de 90 a 95% neste ano, enquanto a Potencial deve mais do que dobrar seus faturamento.
Segundo Hugo Marques da Rosa, a empresa tem um volume de contratação que garante este crescimento para os próximos anos. E para isso continuará investindo fortemente na formação dos nossos quadros para destacar-se neste segmento. “Só as empresas que estiverem mais qualificadas poderão vencer esse desafio de mercado nos próximos anos”, diz o executivo. A seu ver, é fundamental acompanhar os ciclos de evolução do mercado. “O ciclo dos empreendimentos corporativos está se esgotando. Os hotéis, segmento que por muitos anos ficou sem investimento no Brasil, estão em alta. Já o ciclo do shopping centers está no auge. É preciso acompanhar estes ciclos e procurar se adaptar às essas demandas”, comenta.
Sustentabilidade
Foi com essa sensibilidade, antenada ao mundo, que a Método abriu o debate no Brasil sobre um tema que mais tarde se tornaria muito popular: a Sustentabilidade. “Hoje, grande parte das obras que a Método faz são certificadas, seja pelo Green Building, sistema ACQUA, além da certificação ISO 9000 para todas as nossas obras.”
A empresa começou a se interessar pelo assunto 2001, ao participar de algumas feiras fora do Brasil. Em 2002, ela associou-se ao United States Green Building Council. “Fomos a primeira empresa brasileira a se associar a essa entidade. Tentamos trazê-la para o Brasil, não deu certo, mas logo em seguida, entramos no Green Building Council do Brasil, como sócios fundadores. Eu fui o primeiro a dar uma palestra no Brasil abordando justamente o tema”, lembra Hugo Marques da Rosa. A empresa participou da fundação do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável e do sistema Green Building Alliance, entidade criada por vários países para unificar os processos de certificação – é a única empresa latina americana que participou da fundação dessa entidade.
Compromisso com a inovação
Para Hugo Marques da Rosa, existe muita resistência no Brasil à inovação e um custo a ser pago por essa opção. “No processo de inovação nem tudo dá certo. De 10 tentativas, geralmente três são bem sucedidas. Outras três ou quatro que não são mal sucedidas, mas também não trazem benefício nenhum. Outras três não dão certo. A proporção é mais ou menos essa. E tem aquelas empresas que observam tudo o que a gente faz e só copiam aquilo que dá certo. O pioneirismo tem um ônus. Mas quando eu estou falando em inovação no Brasil, não é fazer algo do nada, mas partir de algo que está dando certo”, comenta Hugo Marques da Rosa.
“Daquilo que a gente reescreveu como nossa missão, uma das que mais tem a ver com o nosso DNA, é sermos um agente de progresso e de evolução do setor da construção. Fomos pioneiros num monte de coisas que pareciam difíceis e até impossíveis, para a época, e hoje se observa em qualquer obra. Por exemplo, até a década de 1950/60 parecia improvável ver um trabalhador uniformizado com capacete e tudo. O comum era ele estar usando bermuda, chinelo e nem se pensava em equipamento de proteção individual, como um capacete. Hoje se vê isso em toda obra. Outra mudança que introduzimos foi na maneira como os materiais são transportados numa obra, por meio de pallets. Ou algo hoje muito comum, mas na época novidade, foi o uso de guindastes em obra urbana. Fomos a primeira construtora a utilizar esse equipamento em canteiro. Até então, toda a movimentação era feita nos braços do trabalhador e através de guinchos, num sistema muito precário. Nessa época todo mundo dizia: vocês são loucos. O mesmo aconteceu com a sustentabilidade. A primeira palestra sobre o tema foi promovida pela Asbea (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) e dada por mim. Grande parte dos escritórios nem sabia o que era green building”
O executivo observa que o Brasil tem uma histórica desvantagem tecnológica em relação a outros países da Europa, Estados Unidos, e hoje, da Ásia. “Essa defasagem era grande nos anos 1970. Depois diminuiu, mas hoje voltou a crescer. Se observarmos que está sendo feito na Ásia hoje, vemos que o desafio dos projetos por lá é muito maior. As torres são muito mais altas, a arquitetura muito mais arrojada. O uso de materiais novos, então, nem se fala. Esse desafio que é colocado pela Arquitetura está sendo resolvido pela Engenharia através de avanço tecnológico. E aqui no Brasil ainda estamos muito atrás. Se pegarmos os maiores prédios que estão sendo feitos na Ásia, nem da para comparar”. Para o executivo, se por um lado há defasagem em todos os segmentos, por outro atualmente há uma possiblidade de trazer informação e conhecimento de fora, em todas as áreas, das tecnologias aos materiais, e ao intercâmbio de profissionais.
Qualificação, o segredo para o futuro
O executivo planeja novos passos que reafirmam o espírito expansionista da empresa. Como já fez no passado, a empresa pretende trazer para o Brasil novas tecnologias, através de parcerias estratégicas, com empresas líderes em determinados segmentos.
”Queremos ajudar a mudar o patamar da Engenharia no Brasil. No entanto temos problemas a resolver, como a deficiência da mão de obra. Se a economia vier a crescer e se nós tivermos de enfrentar todos os problemas que temos hoje no Brasil, na área de Logística, energia, transportes, telecomunicações, enfim, não vamos conseguir sem a ênfase da tecnologia. A saída é buscar um aumento de produtividade, e isso só poderá vir com a industrialização e novas tecnologias. O aumento da produtividade com as tecnologias atuais hoje disponível no Brasil é simplesmente inviável.” Marques da Rosa faz um alerta sobre o gargalo da qualificação profissional, deficiência que permeia todos os níveis, principalmente na construção.
A empresa tem investido fortemente em qualificação seja pra os projetistas e arquitetos, seja para os engenheiros de campo. São dados cursos permanentes baseados no sistema Project Managment Institute, dos Estados Unidos, com duas turmas anualmente, além de treinamento e qualificação dos profissionais para aplicação da tecnologia BIM. Agora a construtora prepara-se para colocar em prática um programa gerencial em parceria com a Escola Politécnica da USP.
“Os nossos engenheiros não saem da faculdade preparados para o mercado de trabalho, pois eles recebem uma formação muito teórica. Por isso estamos investindo muito em treinamento, para dar essa visão mais prática. Fizemos inclusive um convênio com a Escola Politécnica para a criação de um curso de Pós-Graduação para toda a nossa equipe de produção, para que o engenheiro esteja mais preparado para o campo. Não adianta só falar de tecnologia. É preciso investir e não podemos esperar apenas que o governo faça isso. Não estamos formando engenheiros nem na qualidade nem na quantidade necessária. Por isso as empresas precisam entrar nesse campo e complementar esse conhecimento”.
De estudante a empresário
O gaúcho Hugo Marques da Rosa transferiu-se de Porto Alegre para São Paulo numa época de grande movimentação política e estudantil, em 1967, para acompanhar um amigo que tentaria o vestibular. No entanto, ele também acabaria entrando para o curso de Engenharia da Escola Politénica. Ali participou do movimento estudantil e chegou a ser preso três vezes pelo regime militar. A primeira delas, durante o lendário congresso da UNE, em 1968, em Ibiúna, no interior de São Paulo. Em uma delas teria dividido a cela com José Dirceu.
Mas livre, precisou se preocupar com sua própria sobrevivência. Foi então que teve a ideia de abrir uma empresa de blocos de concreto com o colega de alojamento, Abel Packer, percebendo uma brecha no mercado. A sociedade incluía outro estudante, Henrique de Campos Meirelles – que décadas mais tarde chegaria a presidente do Banco Central do Brasil. A empresa inicialmente chamava-se Diagrama. Marques trocou um Corcel por um Fusca e a diferença foi o pontapé inicial da fábrica, que se instalou em um terreno em Diadema, no ABC Paulista. Packer, antes mesmo da produção inicial, sairia da sociedade – exilado pelo regime militar. No futuro, ele se tornaria o diretor da Bireme, o Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde.
Na data do vencimento da compra do primeiro carregamento de insumo, não tinham como pagar a dívida. A solução foi contar a verdade e pedir mais um prazo para o fornecedor do equipamento. Deu certo. Um ano depois, Meirelles deixou a Diagrama e Marques da Rosa convidou Victor Foroni, que também estudava engenharia, para tornar-se seu parceiro. No entanto, ele percebeu a possibilidade de, em vez de vender bloco, entregar a obra pronta. Surgia assim, em 1973, a Método Engenharia.
Sob a batuta de dois jovens universitários, a empresa impôs uma nova visão humanística nos canteiros. A Método lançou mão de aprendizados que estavam no banco da universidade, mas ainda longe dos canteiros, como limpeza e a organização; fornecimento de alimentação para o funcionário com supervisão de nutricionistas; alfabetização dos operários em salas de aula montadas pela empresa e o uniforme para todos os trabalhadores. Itens considerados “luxo” para os “peões” de obra. Mas perceberam logo que o problema estava na formação do profissional. “Nossos operários eram chamados de playmobil, pelo capacete e capa amarela em dias de chuva. Mas eles não tinham autoestima e investimos na qualificação”, afirma Marques da Rosa.
A crise dos investimentos públicos levou a empresa a priorizar o investidor privado, o que só recentemente esta sendo mudado. Com a empresa em expansão, Hugo Marques da Rosa voltou-se para a carreira pública. Ele ficou à frente da Secretaria de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras de São Paulo, da qual fazia parte a Sabesp, a empresa estadual de saneamento. Em quatro anos de sua gestão, a Sabesp teve suas ações valorizadas em quase 20 vezes.
Em 2004, depois de um período difícil para a companhia, deu o fim da sociedade entre Hugo Marques da Rosa e Victor Foroni. A empresa reestruturou uma dívida contraída junto a instituições financeiras e reformulou sua estratégia comercial, optando por não mais investir no mercado imobiliário. A empresa já começa a colher os frutos, com a ampliação ano a ano de sua carteira e a decisão de voltar a participar das concorrências públicas e privadas numa nova categoria de operação, montagem industrial, voltando-se agora para o setor de petróleo e gás, siderurgia, mineração e indústria.
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