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Revista GC - Ed.76 - Jan/Fev 2017
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Obra Arte

Hercílio Luz é modelo de recuperação de pontes metálicas históricas

Ponte será sustentada por armação metálica provisória, montada sobre pilares submarinos encravados a 30 metros de profundidade, até a recuperação da estrutura de sustentação original
Por Paulo Espírito Santo

A velha “dama de ferro” apelido carinhoso dado pelos catarinenses à ponte Hercílio Luz, em Florianópolis (SC), está prestes a exibir roupa nova. Principal monumento e símbolo arquitetônico da região, a ponte metálica, projetada em 1922 e inaugurada em 1926, passa por um longo programa de recuperação que já se arrasta por 11 anos. Após inúmeras interrupções, pelos mais diversos motivos, o governo do estado garante que agora as obras, que atingiram cerca de 20% de avanço físico, não param mais. A previsão de conclusão é de 30 meses, contados a partir do início desta etapa dos trabalhos, em 18 de abril de 2016. Tombada por institutos de defesa do patrimônio histórico na União, do estado e da cidade, a Hercílio Luz está interditada para o tráfego de veículos desde 1982. A partir de 1991, seu acesso foi proibido também para pedestres. O motivo, segundo laudo técnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) é a deterioração de suas estruturas metálicas por falta de manutenção. Desde que foi inaugurada, a ponte vem sofrendo constantes agressões geradas pelo ambiente hostil onde se situa, tais como a ação corrosiva do mar, causando acumulo de salitre em diversas partes. Tais agressões foram agravadas, ao longo dos anos, com o aumento da carga devida ao crescente número de veículos que por ela passavam, muito superior ao previsto no projeto original. A ponte é formada por um vão central, com 339,471 metros, mais um viaduto insular com 259 metros e um viaduto continental, com 221 metros, perfazendo um total de 819,471 metros. A altura do vão central é de 43 metros a partir do nível do mar. As duas torres medem 75 metros cada uma, a partir do nível do mar. O peso total da estrutura é de 5 mil toneladas.

Reforma completa

Orçado em R$ 262,9 milhões, com recursos do governo de Santa Catarina, da prefeitura de Florianópolis e do BNDES, o programa de recuperação prevê a substituição de boa parte da estrutura original da obra de arte, incluindo as barras com 12 a 13 metros de comprimento, com olhais nas pontas; dos pendurais; aparelhos de apoio; das selas das torres e do tabuleiro do vão pênsil.

Também serão recuperadas as torres principais, passarela de pedestres e pistas de rolamento. Uma ve


A velha “dama de ferro” apelido carinhoso dado pelos catarinenses à ponte Hercílio Luz, em Florianópolis (SC), está prestes a exibir roupa nova. Principal monumento e símbolo arquitetônico da região, a ponte metálica, projetada em 1922 e inaugurada em 1926, passa por um longo programa de recuperação que já se arrasta por 11 anos. Após inúmeras interrupções, pelos mais diversos motivos, o governo do estado garante que agora as obras, que atingiram cerca de 20% de avanço físico, não param mais. A previsão de conclusão é de 30 meses, contados a partir do início desta etapa dos trabalhos, em 18 de abril de 2016. Tombada por institutos de defesa do patrimônio histórico na União, do estado e da cidade, a Hercílio Luz está interditada para o tráfego de veículos desde 1982. A partir de 1991, seu acesso foi proibido também para pedestres. O motivo, segundo laudo técnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) é a deterioração de suas estruturas metálicas por falta de manutenção. Desde que foi inaugurada, a ponte vem sofrendo constantes agressões geradas pelo ambiente hostil onde se situa, tais como a ação corrosiva do mar, causando acumulo de salitre em diversas partes. Tais agressões foram agravadas, ao longo dos anos, com o aumento da carga devida ao crescente número de veículos que por ela passavam, muito superior ao previsto no projeto original. A ponte é formada por um vão central, com 339,471 metros, mais um viaduto insular com 259 metros e um viaduto continental, com 221 metros, perfazendo um total de 819,471 metros. A altura do vão central é de 43 metros a partir do nível do mar. As duas torres medem 75 metros cada uma, a partir do nível do mar. O peso total da estrutura é de 5 mil toneladas.

Reforma completa

Orçado em R$ 262,9 milhões, com recursos do governo de Santa Catarina, da prefeitura de Florianópolis e do BNDES, o programa de recuperação prevê a substituição de boa parte da estrutura original da obra de arte, incluindo as barras com 12 a 13 metros de comprimento, com olhais nas pontas; dos pendurais; aparelhos de apoio; das selas das torres e do tabuleiro do vão pênsil.

Também serão recuperadas as torres principais, passarela de pedestres e pistas de rolamento. Uma vez restaurada, a “dama de ferro” será devolvida à operação, como parte do sistema viário da cidade. Estima-se que por ela passarão cerca de 20% de todos os veículos que hoje transitam nas duas outras pontes existentes, ligando a Ilha de Santa Catarina ao continente: a Colombo Salles e a Pedro Ivo.

De acordo com o engenheiro Wenceslau Diotallevy, do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra), que fiscaliza a obra de recuperação, a medição executada em dezembro último indicou que, do orçamento total, já foram desembolsados cerca de R$ 27 milhões na compra de materiais, incluindo a aquisição de toda a matéria prima para usinar as barras dos olhais, os pendurais, as estruturas auxiliares do vão central que serão trocadas, além de contratação de serviços diversos. “Já foram trocadas todas as transversinas e as longarinas que compõem o estrado (treliça) do vão central. Esse serviço foi executado muito rapidamente, graças à utilização das quatro gruas que estão trabalhando nesse trecho. As gruas retiram as peças antigas, içam e posicionam as peças novas que, inicialmente, são parafusadas e posteriormente rebitadas. Dessa forma, nós trocamos 53 transversinas e 420 longarinas” relata Wenceslau Diotallevy.

Ele explica que se trata de uma obra de grande complexidade técnica, que encerra inúmeros desafios, o que exigiu o emprego de tecnologias desenvolvidas nos Estados Unidos para a recuperação de pontes pênseis. O empreendimento contou com a consultoria técnica da American Bridge, construtora norte-americana que projetou e executou a ponte original.

Para que as obras pudessem avançar, com a substituição das peças desgastadas, está sendo necessário construir uma estrutura auxiliar que suporte o vão central da Hercílio Luz, aliviando-se, assim a carga hoje suportada pelas torres de sustentação e as barras de olhais.

A estrutura auxiliar é formada por quatro pilares submersos de sustentação, que terminam em estruturas em aço, em forma de V, sobre os quais se apoia uma treliça metálica que servirá de base de apoio para a ponte. Diotallevy conta que, toda essa estrutura auxiliar, assim como outras em partes da estrutura a serem substituídas, foram montadas nos três canteiros de obras localizados nas cabeceiras da ponte, e transportadas para os pontos de substituição com a ajuda de três balsas e vários rebocadores. “Montamos praticamente um canteiro de obras flutuante”, define o engenheiro.

Parte dessas peças transportadas por balsas são formadas por componentes rebitados, uma técnica bastante antiga, produzidos pela Brafer, “que precisou se adequar, mesclando métodos de trabalho e equipamentos modernos com uma técnica de união centenária”, explica José Augusto, Diretor Executivo da empresa.

Precisão embaixo d’água

As bases dos pilares receberam concreto com aditivos especiais, a fim de atingir a resistência exigida no projeto. O concreto utilizado para reforço dos pilares metálicos foi bombeado a 30 metros abaixo do nível do mar, e depois injetado a mais 7,5 metros de profundidade, para penetrar nas perfurações feitas nas rochas submersas. A concretagem dos pilares e a instalação dos blocos pré-moldados sobre as estacas consumiram 9 mil m³ de concreto.

Para a construção dos pilares submersos foi necessário o trabalho de mergulhadores que soldaram as estruturas metálicas, enfrentando fortes correntes marítimas. Eles só podiam permanecer poucos minutos submersos para soldar as escoras no fundo do mar, com precisão milimétrica, sob o risco dos ângulos não se encaixarem.

Sobre esses quatro pilares foi montada uma treliça metálica que funciona como uma “mesa” para sustentar a armação metálica provisória, projetada para suportar as cargas do vão central durante a restauração. A construção dos pilares foi concluída em 2015, pelo consórcio Florianópolis Monumento, formado pelas construtoras CSA Group, Inc, com sede em Miami, uma das maiores empresas de engenharia, gerenciamento e execução de obras de infraestrutura de alta complexidade dos Estados Unidos e a Construtora Espaço Aberto, com mais de 30 anos de mercado e responsável por obras importantes em Santa Catarina.

Mesmo com a parte submersa concluída, o consorcio não conseguiu executar o restante da obra nos prazos estabelecidos, o que levou o governo do estado de Santa Catarina a adotar a rescisão unilateral do contrato.

A etapa de reconstrução da estrutura pênsil foi entregue ao grupo português Teixeira Duarte (EMPA) e à RMG Engenharia.

Segundo inspeção realizada pelos engenheiros Hermes Carvalho e Francisco Carlos Rodrigues, do departamento de engenharia de estruturas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as patologias eram tantas que praticamente terá de ser construída uma nova ponte. Aliás, a construção de uma nova estrutura sairia até mais barato que o conjunto de ações para a restauração da ponte original. Isso só não vai acontecer por causa do tombamento da estrutura e de seu valor histórico.

Transferência de carga

Para fazer a restauração de toda a estrutura de suporte do vão central, todo o peso da ponte, que hoje é suportado as colunas de sustentação às margens da baía, graças ao conjunto de barras, será transferido para a estrutura provisória, em fase de conclusão. A transferência de carga será feita com o emprego de duas fileiras de 27 macacos hidráulicos especiais, que elevarão toda a estrutura a uma altura aproximada de 55 centímetros. A ação desses macacos hidráulicos será coordenada com a ajuda de um software a ser desenvolvido especialmente para esta finalidade.

Com a carga transferida – cerca de 4.400 toneladas – será possível trocar todas as 360 barras de olhais e os pendurais, trocar os pinos etc. Essa substituição será executada com o auxílio de gruas montadas sobre o próprio vão central.

Completada a operação de troca, a carga será devolvida para as torres de sustentação e toda a estrutura provisória de sustentação será desmontada. Assim, a ponte Hercílio Luz recuperará sua aparência original.

Qualidade secular

Wenceslau Diotallevy conta que as intervenções no vão central da ponte estão sendo realizadas pela primeira vez, desde a sua inauguração. “Até então, nós nunca tínhamos tido acesso ao vão central. Fizemos um levantamento de todos os contratos firmados para a manutenção da ponte e descobrimos que desde 1980 até 2016, quando do inicio do atual contrato, foram investidos cerca de R$ 200 milhões na Hercílio Luz, exclusivamente na recuperação nos viadutos de acesso. Hoje, são poucas as intervenções nesses pontos e grande o volume de trabalho concentrado no vão central. Isso porque houve uma manutenção intensiva nos viadutos ao longo dos últimos 36 anos”.

O engenheiro destaca, ainda, a importância da qualidade do aço empregado originalmente na construção da ponte, como fator importante para a sobrevida da estrutura. “Ficamos surpresos, durante as análises que fizemos do material, ao constatamos que a matéria prima, produzida há quase um século, nos Estados Unidos, é muito semelhante com o aço produzido atualmente. Suas características são muito parecidas”. Isso teria facilitado a manutenção da obra de arte ao longo de todas as décadas.

Para o governador do Estado de Santa Catarina, Raimundo Colombo, a restauração da Hercílio Luz atende a uma demanda da população do estado pela preservação da sua historia, além de garantir maior mobilidade e qualidade de vida na região. Veja a avaliação da importância do empreendimento, feita pelo governador.

Raimundo Colombo, governador de Santa Catarina

A obra de restauração da Ponte Hercílio Luz em Florianópolis é um desafio de engenharia, arrisco dizer que único no mundo. Mas com persistência, determinação e planejamento estamos vencendo obstáculo por obstáculo para, em breve, devolver esse patrimônio para todos os catarinenses. E isso significa recuperar a história e reabrir a ponte para o trânsito, ajudando a desafogar um dos principais gargalos, a entrada e a saída da Ilha de Santa Catarina.

A Ponte Hercílio Luz completou 90 anos em maio do ano passado. Agora está passando pelo último ciclo de obras do trabalho de restauração, responsabilidade do grupo português Teixeira Duarte. Em março de 2016, foi concluída a construção da estrutura chamada ponte segura, uma espécie de apoio temporário construído com a finalidade de estabilizar a estrutura da obra original durante o processo de restauração. No final de 2016 também foi concluída a etapa de substituição das longarinas e transversinas, peças principais da base que formam uma trama que será o suporte para o piso por onde passarão os automóveis.

Cada novo trabalho concluído é uma grande vitória. Estou satisfeito com o andamento do cronograma. A complexidade da obra impressiona qualquer um, mas está tudo ocorrendo em um bom ritmo. Fico muito satisfeito em ver a qualidade técnica e o nível profissional de toda equipe envolvida, o que nos dá uma grande segurança e nos mostra que estamos seguindo no caminho certo. E é isso que temos que continuar fazendo, acompanhar, apoiar e ajudar para que possamos entregar essa obra à população o quanto antes.

Temos muito orgulho da Ponte Hercílio Luz, cartão postal de todos os catarinenses. Estamos otimistas com a conclusão dos trabalhos, que ao mesmo tempo representará um ganho em mobilidade e um ato de preservação do nosso patrimônio histórico.

Queda de ponte nos Estados Unidos deu sinal de alerta

Em 1928 foi inaugurada uma ponte pênsil sobre o rio Ohio, no estado do mesmo nome, nos Estados Unidos. Batizada de Silver Bridge, a construção ligava  Point Pleasant, na  Virgínia Ocidental, a Gallipolis. Mas em 15 de dezembro de 1967, a Silver Bridge colapsou durante o tráfego do horário de pico, causando a morte de 46 pessoas.

Uma investigação da tragédia concluiu que o colapso se deu por uma falha na construção da estrutura de suspensão da ponte. O problema foi agravado por falhas na manutenção e excesso de peso: a ponte estava suportando um número de veículos e uma circulação muito maior do que seu projeto inicial permitia.

O colapso da Silver Bridge repercutiu imediatamente em Santa Catarina. Autoridades de Ohio enviaram alertas ao governo do estado, avisando da possibilidade de o mesmo acontecer à Hercílio Luz, sua irmã mais velha, construída da mesma forma e pela mesma empresa.

O incidente da Silver Bridge levou à adoção de medidas mais restritivas em relação a futuros projetos de pontes, e também uma análise de comissionamento de pontes mais antigas para a criação de um protocolo que determinasse quais seriam submetidas a uma manutenção mais cuidadosa.

 

 

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