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Revista GC - Ed.76 - Jan/Fev 2017
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Resíduos Sólidos

Faz bem para o meio ambiente e para o bolso

A gestão correta dos resíduos ainda é um dos gargalos que deverão ser resolvidos pela construção brasileira

O setor da construção está passando por uma forte transformação em todas as etapas que fazem parte do processo construtivo, seja pela questão econômica, seja pela questão ambiental.  E um dos pontos nevrálgicos da construção está justamente na destinação dos resíduos de construção, uma vez que a construção é considerada uma das atividades industriais com maior impacto sobre o meio ambiente.

Só para se tér uma ideia, estima-se que o índice de reaproveitamento do material no Estado de São Paulo esteja abaixo de 1%. De acordo com informações apresentadas pela ABRECOM (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição), a geração média de RCD’s (resíduo de construção e demolição) anual é de 500 quilos/hab/dia. Sendo que cerca de 50% usinas de reciclagem de RCD’s existentes no país produzem em média 3.000 m3 de material por mês, totalizando cerca de 431.500 m3/mês de agregados reciclados. As usinas instaladas trabalham a 45% da sua capacidade nominal, devido às paradas intempestivas por diversos motivos, entre os quais falta de matéri


O setor da construção está passando por uma forte transformação em todas as etapas que fazem parte do processo construtivo, seja pela questão econômica, seja pela questão ambiental.  E um dos pontos nevrálgicos da construção está justamente na destinação dos resíduos de construção, uma vez que a construção é considerada uma das atividades industriais com maior impacto sobre o meio ambiente.

Só para se tér uma ideia, estima-se que o índice de reaproveitamento do material no Estado de São Paulo esteja abaixo de 1%. De acordo com informações apresentadas pela ABRECOM (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição), a geração média de RCD’s (resíduo de construção e demolição) anual é de 500 quilos/hab/dia. Sendo que cerca de 50% usinas de reciclagem de RCD’s existentes no país produzem em média 3.000 m3 de material por mês, totalizando cerca de 431.500 m3/mês de agregados reciclados. As usinas instaladas trabalham a 45% da sua capacidade nominal, devido às paradas intempestivas por diversos motivos, entre os quais falta de matéria-prima e baixa saída do agregado.  Por outro lado, os agregados reciclados são destinados na proporção de 24% a órgãos públicos, 20% a pessoas físicas, 28% a construtoras, 14% a pavimentadoras e 14% a outros, vendidos a um valor que varia de R$5,00 a R$30,00 o m3.

A engenheira civil Daniela Vaz Kuhn, da Frau Consultoria, explica que todas as obras, para obtenção das suas licenças e autorizações devem destinar seus resíduos da construção civil para tratamento em Usinas de Triagem e Beneficiamento ou para Aterros Sanitários devidamente licenciados pelos órgãos ambientais. O destino adequado dos resíduos gerados em uma obra depende do tipo de empreendimento e do responsável pela sua execução, bem como da sua preocupação com o meio ambiente.

Segundo ela, “atualmente, grandes incorporadoras e construtoras vêm demonstrando interesse em seguir todas as normas ambientais através do funcionamento sustentável de seu empreendimento, desde a construção até o seu funcionamento após a obra finalizada, utilizando, se possível, materiais reciclados ou reutilizáveis, possibilitando sua utilização dentro da mesma obra como agregado ou sua reciclagem para outras utilizações fora da obra”. Mas a reciclagem para utilização como agregado obriga que a obra inclua um britador em operação no canteiro, o que dificulta mais essa operação. “Sendo assim, as grandes obras, em sua maioria, procuram enviar seus materiais recicláveis para usinas externas. Os resíduos não recicláveis são destinados a Aterros Sanitários licenciados para receber cada tipo de resíduo”, diz ela.

Para Francisco Pereira, da Frau Consultoria, como todas essas destinações oneram a obra, algumas empresas ainda se utilizam de aterros clandestinos ou, no caso de obras menores, descartam seus resíduos em quaisquer terrenos ou áreas aleatórias no Município, denominadas como “pontos viciados”.

Nas obras de reformas, normalmente residenciais, são contratadas caçambas, que, teoricamente, encaminham os resíduos para PEV’s (pontos de Entrega de Resíduos) e a partir deste os resíduos triados são encaminhados para as ATT’s (Áreas de Transbordo e Triagem).

As obras de terraplenagem também necessitam de autorização, e, tal como para a destinação dos resíduos, para a obtenção da mesma é necessário que seja indicado qual o destino a ser dado ao solo escavado.

Neste caso, o destino pode ser um Aterro Sanitário para Inertes ou um empreendimento licenciado que prevê aterramento com solos especificamente adequados, como é o caso do Aterramento da Cava de Carapicuíba. Esta obra é um dos serviços aprovados pelo Plano de Recuperação Ambiental da Região da Cava de Carapicuíba, cujo aterramento da área alagada da cava pode ser executado com solos provenientes de escavações do desassoreamento de rios e córregos e de obras civis públicas ou privadas desde que exista análise química dos materiais e que estes estejam dentro dos limites de qualidade estabelecidos para tal aterramento, conta o engenheiro Francisco. “A legislação prevê as ações adequadas, porém, ainda são muito poucas as obras que atendem às exigências”, destaca Francisco Pereira.

Classe de resíduos

O CONAMA nº 307/2002 estabelece as diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil.

Os resíduos da construção civil são classificados de acordo com a Resolução CONAMA nº 307/2002 que determina:

- RCD’s Classe A: resíduos que podem ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados;

- RCD’s Classe B: resíduos que podem ser reutilizados, reciclados ou encaminhados para depósitos temporários para utilização futura;

- RCD’s Classe C: resíduos que não podem ser reciclados ou reutilizados;

- RCD’s Classe D: resíduos perigosos.

Os resíduos Classe A, caso não sejam aproveitados na mesma obra, devem ser encaminhados a usinas de reciclagem ou para aterros que possibilitem sua armazenagem para reutilização futura. Os de Classe B devem ser separados com armazenamento adequado e sinalizado e, aos que não forem utilizados na mesma obra devem ser encaminhados para cooperativas para a reciclagem ou para Áreas de Transbordo e Triagem (ATT’s) licenciadas. Os resíduos Classe C devem ser encaminhados para as ATT’s ou para Aterros Sanitários próprios para o recebimento deste tipo de resíduo e, finalmente, os de Classe D devem ser encaminhados para ATT’s licenciadas ou para Aterros Sanitários Industriais. As ATT’s  - Áreas de Transbordo e Triagem licenciadas sempre têm os destinos dos diferentes tipos de resíduos em locais adequados.

Resultado no bolso

Daniela Kuhn explica que é possível a obtenção de certificações ambientais específicas, dependendo do tipo de gestão dos resíduos aplicada na obra, o que redunda em ganhos econômicos em decorrência de tais certificações. “No que tange aos custos, a possibilidade de utilização de materiais reciclados na própria obra pode reduzir a aquisição de materiais novos, porém, o tratamento exigido envolve custos operacionais que, nem sempre torna o resultado vantajoso”.

A seu ver, uma boa gestão de resíduos deve promover a diminuição do desperdício de materiais diminuindo assim a quantidade de resíduos a serem encaminhados para ATT’s ou Aterros Sanitários e consequentemente reduzindo o gasto financeiro com essas destinações de resíduos, destacando que já existem empresas que possuem tecnologia avançada e em funcionamento para o tratamento de resíduos da construção civil que envolvem sua triagem, separação e tratamento/beneficiamento.

Mas Francisco Pereira acredita que alguns empecilhos atrasam o avanço do país neste campo, como a falta de marcos regulatórios no que concerne as responsabilidades compartilhadas dos produtores de materiais de construção, instaladores e construtores, além de padrões e normas para reciclagem de produtos de instalações domésticas, notadamente acabamentos e elementos de decoração;  incentivos fiscais e fiscalização da aplicação dos marcos regulatórios existentes; e medidas compensatórias econômicas que valorizem as ações de sustentabilidade ambiental e social.

Os equipamentos já disponíveis no mercado podem contribuir para melhoria nos processos de triagem, separação e recuperação de produtos recicláveis favorecendo não só a redução de custos para as obras e, sobretudo, a proteção do meio ambiente. Equipamentos com tecnologia avançada podem diminuir o tempo de triagem e tratamento dos resíduos, bem como a área necessária para a operação do mesmo com redução da mão-de-obra. “Mas falta basicamente investimento em toda a cadeia que envolve o resíduo sólido”.

Inteligência ao processo

Maycon Pereira, da Maquina Solo destaca que a reciclagem dos resíduos da construção civil só é possível em obras que contam com gerenciamento dos resíduos de forma competente, segregando-os de forma correta. “Nota-se que o número desses empreendimentos, no geral, restringe-se àqueles que são licenciados e consequentemente são obrigados a apresentar relatórios de resíduos aos órgãos ambientais”.

Ele explica que os resíduos Classe B convencionais (papel, plástico e metal) possuem uma rota para reciclagem mais acessível que os demais resíduos da construção civil (RCC), visto que, culturalmente, a reciclagem desses materiais já está em andamento há muito tempo no Brasil. “No geral, estes são transbordados para as Áreas de Transbordo e Triagem (ATT) e, em seguida destinados para os atravessadores da reciclagem. A madeira e o gesso possuem situação de reciclagem distinta dos resíduos Classe B convencionais, pois dependem da cultura de reciclagem da região onde são gerados. Regiões que utilizam madeira como fonte de energia reciclam boa parte desse material, e regiões que possuem atividades industriais que utilizam o gesso como matéria prima absorve esse material”.

Segundo Maycon Pereira, os Resíduos Classe A enfrentam diversas dificuldades de reciclagem. “Ainda há um preconceito no uso dos materiais pós-beneficiamento, além de falta de espaço no canteiro de obra para implantação da reciclagem in loco, e o próprio desenvolvimento da reciclagem desse material na região de origem. Na região metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, as únicas usinas de reciclagem de resíduos classe A são da própria prefeitura de Belo Horizonte, e estas não atendem nem 5% da demanda do mercado. Já no município de Jundiaí, localizado no Estado de São Paulo, a empresa de reciclagem de RCC, também da prefeitura do próprio município, absorve 100% do material gerado. Enfim, em todo o Brasil a situação da reciclagem dos resíduos da construção civil se diferencia de região para região, dependendo diretamente do nível de desenvolvimento das indústrias de reciclagem”, diz ele. Segundo o diretor da Maquina Solo, após a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, os municípios têm se envolvido mais no gerenciamento dos resíduos e alguns deles já desenvolveram leis municipais ainda mais específicas para os RCC.

Retorno financeiro

Com relação ao retorno financeiro por parte das empresas, o ganho secundário pode ser adquirido com o uso do agregado reciclado, que, por meio de tecnologia adequada, pode ser produzido com o próprio RCC gerado no canteiro de obra. “Consequentemente o empreendimento reduz ou, em alguns casos, elimina a necessidade de aquisição de material natural, como brita, pedrisco, bica corrida, etc.”, diz o especialista.  Mas a grande maioria das construtoras não utilizam ferramentas computacionais para realizar o gerenciamento de dados da geração de resíduos em suas obras. Das poucas empresas que alegaram realizar tal controle, é unânime sua insatisfação com a ineficiência de seus processos atuais (planilhas em Excel). “A situação é alarmante, pois várias construtoras, até mesmo aquelas com certificação EBP-H, afirmaram que não se sentem seguras com as informações que recebem das obras, pois o processo/ferramentas atuais não são padronizados e cada obra acaba fazendo da sua maneira, o que inviabiliza a utilização e posterior análise dos dados. Pensando nisso, a empresa desenvolveu a solução NETResíduos, que consiste em um sistema computacional na nuvem (acessível por computador, tablet ou celular) que auxilia a construtora no planejamento e gerenciamento dos dados de resíduos da construção civil. “Com o uso do sistema é possível gerenciar as informações referentes ao fluxo desde a sua geração até a destinação final”, diz Maycon Pereira.

Como aperfeiçoar a indústria

Na verdade essa indústria já existe e está em sua fase inicial. Para que ela se desenvolva, é necessário que haja uma normatização para padronização dos diferentes tipos de reciclados e suas utilizações.. Dessa forma os processos de reciclagem como um todo serão beneficiados e haverá recursos para esse desenvolvimento. Em alguns países onde isso já é realidade existe até separação robotizada de resíduos, que classifica madeiras, plásticos, metais, cerâmica, papel, concreto, etc.

Para o engenheiro, o aumento da frota de equipamentos de britagem e peneiramento com dimensões e custos operacionais adequados a cada empreendimento, somados a ações de desburocratização como, por exemplo, do licenciamento ambiental e políticas públicas de incentivo a atividade de reciclagem de RCC, trarão mais confiança a empreendedores interessados no segmento, contribuindo para o aumento da oferta de serviço e o atendimento à demanda já existente. “Como exemplo de inovação, podemos citar o uso de implementos hidráulicos de britagem e peneiramento que podem ser instalados em escavadeiras. Esse modelo de operação reduz custos operacionais e apresenta bons indicadores de eficiência. A empresa Austríaca Hartl, oferece esse tipo de equipamento há mais de 80 anos”, destaca.

Também é notória a presença da inovação nos sistemas de peneiramento. Um bom exemplo é a empresa italiana Komplet, especializada em equipamentos para reciclagem de RCC, que lançou na IFAT (Feira internacional de tecnologias para meio ambiente) de 2016, uma peneira rotativa que pode classificar o RCC em três diferentes granulometrias, e ainda conta com uma esteira de catação manual de resíduos classe B, tais como papel, madeira, plásticos, etc.

Momento da virada

Para Artur Granato, diretor da  Nortec Com. e Representações Ltda, grande parte do mercado ainda vê os resíduos como lixo ou entulho.  Somente no caso da terraplenagem há  um melhor aproveitamento do material, empregado em nivelamento de áreas. “Sob o ponto de vista da destinação, o país tem demonstrado grande capacidade de desenvolvimento e criatividade principalmente na área acadêmica, mas que nem sempre é disponibilizada ao mercado, ou mesmo àquelas  comunidades mais carentes. A razoável oferta de agregados naturais (rochas) no Brasil inibe em grande parte o desenvolvimento das aplicações e usos dos agregados recicláveis”, diz Granato.

Para o diretor da Nortec, a tecnologia brasileira está ainda presa ao uso de equipamentos de pedreira: britador e peneira. “Recentemente, foram introduzidos  no mercado produtor equipamentos de triagem mecanizada, de separação de fração fina e de sua desferrização para uso em pavimentação como primário ou sub-base, produção de agregado limpo de plásticos e contaminantes, britagem por impacto, separação cinzenta e mista. O uso de trommel nas novas plantas é a novidade”, diz ele.

A criatividade brasileira gera soluções técnicas ou de sobrevivência. Além de processos de produção, empresas produtoras e empresas usuárias de RCD (resíduos de construção e demolição), tem desenvolvido novos produtos e usos e aplicações. A Cemara (de Americana/SP), uma empresa, pioneira no mercado ao longo de sua vida (encerrada recentemente), desenvolveu produtos que ganharam posição no mercado técnico local (BGS, pré-moldados, areia, bica corrida, rachão, etc). O mesmo caminho foi trilhado pela Remotram, de Carapicuiba/SP.  “Mais tradicional é a Prograru de Guarulhos, cidade que trabalha em suas obras com 100% de RCD. Mas faltam incentivos para aplicação e educação ou comunicação. Os usuários ainda tem receio de utilização. A cadeia produtora não consegue conversar com  os potenciais usuários. Exemplo disso é a destinação hoje dada aos rejeitos de usinas de concreto. Poderiam ser reutilizados  no mesmo local, mas são descartados e utilizados em outras aplicações”, conclui.

Case

Um cliente de uma recicladora em São Paulo (construtora) começou a comprar areia reciclada, aumentou os pedidos, e mais e mais. E deixou o fornecedor sem entender o porquê das compras, tão difíceis até pouco tempo atrás. Ao visitar a construção, foi informado que o uso de areia proveniente da reciclagem do concreto trazia na sua aplicação economia de cimento na massa. E esta economia tornava essa alternativa vantajosa mesmo com preços iguais aos da areia natural de rio. É apenas um exemplo do potencial de ganhos ligados ao processo. Entretanto, os ganhos mais sensíveis no mercado de reciclagem se reportam ao “custo de transporte”.  O transporte ainda é o item decisivo  na viabilidade e decisões relativas, tanto de disposição como reutilização), destaca Artur Granato.

 

 

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