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Revista GC - Ed.85 - Nov/Dez 2017
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Energia - Biomassa

Do lixo nada se perde, tudo se transforma em energia

Brasil abre os olhos para o potencial gerado pela biomassa que deve receber 26 bilhões de dólares até 2040

O mundo está passando por uma grande e rápida transformação, com a transferência de grandes investimentos para tecnologias renováveis e fuga das fontes de energia poluentes. O relatório Energy Outlook, produzido pela Bloomberg, aponta que o setor de energia gerada a partir da biomassa deve receber 26 bilhões de dólares em investimentos no Brasil até 2040, o que já atrai a atenção de diversos tipos de investidores no setor de energia.

As usinas movidas a biomassa beneficiam-se de licenciamentos ambientais mais simples; combustível abundante no Brasil, podendo vir de subproduto de outras atividades; e facilidade de localização mais próxima aos grandes centros de consumo, reduzindo os custos de transmissão.

Atualmente, as usinas de geração de energia elétrica a partir da biomassa representam 14,3 GW instalados no país, segundo a EPE. O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2024 projeta crescimento dessa fonte, que deverá atingir capacidade instalada de 18 GW em dezembro de 2024 e indica que existe grande potencial de renovação e modernização das insta


O mundo está passando por uma grande e rápida transformação, com a transferência de grandes investimentos para tecnologias renováveis e fuga das fontes de energia poluentes. O relatório Energy Outlook, produzido pela Bloomberg, aponta que o setor de energia gerada a partir da biomassa deve receber 26 bilhões de dólares em investimentos no Brasil até 2040, o que já atrai a atenção de diversos tipos de investidores no setor de energia.

As usinas movidas a biomassa beneficiam-se de licenciamentos ambientais mais simples; combustível abundante no Brasil, podendo vir de subproduto de outras atividades; e facilidade de localização mais próxima aos grandes centros de consumo, reduzindo os custos de transmissão.

Atualmente, as usinas de geração de energia elétrica a partir da biomassa representam 14,3 GW instalados no país, segundo a EPE. O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2024 projeta crescimento dessa fonte, que deverá atingir capacidade instalada de 18 GW em dezembro de 2024 e indica que existe grande potencial de renovação e modernização das instalações e dos processos de diversas usinas de cogeração, possibilitando o aumento da eficiência e a geração de excedentes.

A princípio, o uso da cana-de-açúcar para produzir energia tinha como objetivo suprir as necessidades das unidades produtoras, mas com a evolução da eficiência energética do setor, a produção de excedentes de energia elétrica passou a ser comercializada ampliando a importância do seu uso na matriz energética nacional.

Desde 2016, a biomassa voltou a ser a segunda fonte de geração mais importante do Brasil na Oferta Interna de Energia Elétrica (OIEE), quando registrou o índice de 8,8% superando os 8,1% de participação do gás natural, de acordo com o Boletim Mensal de Energia (referência – dezembro/2016), do Ministério de Minas e Energia (MME). De um total de geração de 54 TWh por biomassa em 2016, o bagaço e a palha da cana contribuíram com 36 TWh, ou 67% da geração de energia. Segundo o boletim, o Brasil fechou o ano de 2016 com o total de 82,7% de fontes renováveis na Oferta Interna de Energia Elétrica, contra o indicador de 75,5% verificado em 2015.

Pesquisa realizada pela IEA Bioenergy Task 40 – divisão especializada em bioenergia da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) aponta que o Brasil é o país que mais utiliza biomassa na produção de energia, sendo16% do uso mundial no setor.

Em seguida estão os EUA (9%) e Alemanha (7%). De acordo com o material publicado recentemente, os 15 países do topo dessa lista representam 65% do uso global de biomassa na matriz energética. Atualmente, a biomassa representa cerca de 10% da produção de energia global. O etanol é o principal biocombustível do Brasil e dos Estados Unidos; enquanto que na União Europeia o biodiesel domina o mercado de biocombustíveis líquidos.

Segundo os dados, a capacidade combinada de usinas de etanol brasileiras foi de cerca de 43 bilhões de litros por ano, sendo que a cana é o principal insumo do etanol. Quantidades significativas do etanol brasileiro foram exportadas para os EUA, Coreia do Sul e Japão, desde 2004.

A pesquisa ressalta também que os investimentos em novas usinas de etanol no Brasil têm diminuído, ao mesmo tempo em que as importações dos EUA têm aumentado. Enquanto que no Brasil existem cerca de 430 refinarias, nos EUA existem mais de 200 usinas de etanol. Todavia, as indústrias americanas são muito maiores.

Outro componente importante na produção de energia é o carvão vegetal, onde o maior produtor é o Brasil. Só em 2010, 6,3 milhões de toneladas foram produzidas no país, o que equivale a 14% da produção total do mundo; mais de 80% desse montante foi utilizado pelo setor industrial. As conclusões da pesquisa demonstraram que a utilização de biomassa para fins energéticos é crescente no mundo. De acordo com os resultados do estudo, um número significativo de novas grandes instalações tanto para refinar e processar biomassa como para fins de transporte de energia (biocombustíveis), bem como converter biomassa em calor e energia estão sendo construídas em todo o mundo.

Mudança estrutural

Dois fatos comprovam a rápida transformação mundial nessa área. Durante a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 23), 20 países, como Bélgica, Dinamarca, Holanda, Etiópia, El Salvador, Finlândia, França, Itália, Ilhas Marshall, Portugal e México, entre outras, assinaram a Aliança para o Abandono do Carvão, considerado uma das maiores fontes de energia poluentes do mundo.  Além disso, a gigante industrial alemã Siemens, acaba de anunciar planos de cortar 6.900 postos de trabalho em 2020, metade deles na Alemanha, principalmente no setor de energia, que teria sido “abalado”, segundo a empresa, pelo aumento das energias renováveis.

A Siemens revelou no conselho geral da empresa sua resposta "às mudanças estruturais na produção de combustíveis fósseis e no setor de matérias-primas". A era de ouro da eletricidade produzida por mega turbinas de gás teria caído “drasticamente”: a demanda global por essas máquinas enormes caiu para "110 turbinas por ano", quando as capacidades atuais são estimadas em "400 turbinas",  destaca a empresa, “culpando” as mudanças provocadas no mercado mundial pela “transição energética solar.

Não se trata somente de mudanças tecnológicas, mas de novos meio de produção que incluem, agora, o reaproveitamento de matérias primas e priorizam um ciclo de renovação ambiental, o que dá grande margem para o desenvolvimento da bioeletricidade movidas a biomassa.

Crescimento interno

De janeiro até setembro deste ano, a geração pela fonte biomassa para o Sistema Interligado Nacional (SIN) foi de 18.802 GWh, um valor 8% superior ao produzido em igual período do ano passado, se acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Essa expansão na produção de bioeletricidade contrasta com o atual cenário hidrológico desfavorável nos principais reservatórios das hidrelétricas no país. Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), o ano de 2017, em termos de energias naturais afluentes, está sendo caracterizado como o pior do histórico hidrológico desde 1931. Essa característica de uma geração pela biomassa no período seco e crítico para o setor elétrico é estratégica para a matriz energética brasileira, sobretudo no Estado de São Paulo, onde reside um enorme potencial a ser aproveitado.

O potencial técnico da bioeletricidade sucroenergética ofertada à rede é superior ao total da importação de energia elétrica para atender o Estado de São Paulo, responsável por 28% do consumo nacional no ano passado e que importa mais de 60% da energia elétrica necessária para seu consumo. "O cálculo mostra que estamos aproveitando menos de 15% do potencial técnico da bioeletricidade sucroenergética no Estado de São Paulo e precisamos estimular o aproveitamento deste potencial instalado no centro consumidor do país", diz Zilmar Souza.

O reinado da cana-de-açúcar continua

De acordo com o Caderno Energia Renovável: Hidráulica, Biomassa, Eólica, Solar, Oceânica, sob coordenação de Mauricio T. Tolmasquim, da Empresa de Pesquisa Energética, no Brasil, quase 90% da produção de bioeletricidade vem dos resíduos da cana-de-açúcar, sendo que em geral, a biomassa ocupa a segunda posição em capacidade instalada, perdendo apenas para as hidrelétricas. Os estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Paraná concentram mais de 90% da bioeletricidade gerada para a rede. Mas o Nordeste tem grande potencial de desenvolvimento graças ao parque sucroenergético secular instalado na região.

Atualmente, há 6,5 milhões de hectares sendo utilizados para o cultivo de biomassa de origem florestal. Um dos maiores projetos nesse segmento está localizado na Bahia. Em 2015, a Bolt Energias cadastrou e habilitou o projeto UTE BoltBAH para o leilão A-5 realizado em abril. Localizado no município de Barreiras, no oeste baiano, trata-se de usina termelétrica movida a biomassa de cavaco de eucalipto com capacidade instalada de 50 MW. Outro empreendimento da empresa está localizado em São Desidério, na Bahia, que deverá ser a maior usina térmica movida por biomassa da América Latina. Batizada de Campo Grande BioEletricidade, a usina será abastecida com cavaco de eucalipto proveniente de uma floresta dedicada. Serão 150 megawatts de capacidade. A operação está prevista para janeiro de 2018.

Noutra frente, está a FS Bioenergia, primeira usina de etanol de milho do país que começou a operar agosto deste ano, em Lucas do Rio Verde (MT), com investimento de R$ 450 milhões. A planta representa um marco na história do agronegócio brasileiro. Serão 200 milhões de litros de etanol por ano que vai demandar 600 mil toneladas de milho por safra e, aproximadamente, 12 a 15 mil hectares de eucalipto para suprir a demanda por biomassa apenas dessa unidade.

É por conta deste novo cenário, que o setor se organiza em torno do RenovaBio,  um programa de descarbonização de transportes e redução de emissão de gases de efeito estufa (GEEs) rumo a uma economia de baixo carbono. De acordo com Bernardo Silva, presidente da Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial (ABBI), o RenovaBio ajudará a expandir a fronteira industrial e, com o potencial de investimentos em 120 novas biorrefinarias em 20 anos.

A perspectiva é de que, uma vez transformado em Lei, a RenovaBio, poderá provocar a injeção de US$160 bi ao PIB nacional por ano. “A consolidação e a valorização das novas tecnologias estimularão investimentos de US$400 bi em 20 anos” comenta o presidente da ABBI.

A produção de biogás a partir de dejetos urbanos, industriais e agropecuários já é uma realidade, com empreendimentos de grande porte, como a UTE (Usina Termelétrica) Salvador, no aterro municipal da cidade de São Cristóvão, com mais de 30 hectares, nos quais são depositadas 2,5 mil toneladas de lixo diariamente. A geração é administrada pela Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (COELBA).  No Sudeste, foi inaugurada neste ano a Termoverde Caieiras, considerada maior termelétrica do Brasil movida a combustível renovável, localizada em Caieiras, na Grande São Paulo, com potência instalada de 29,5 megawatts (MW).

O avanço nas pesquisas sobre a utilização do biogás como fonte de energia motivou a criação do Centro de Estudos do Biogás, no Parque Tecnológico Itaipu (PTI), no Paraná. Um dos objetivos do centro é o de ser fonte de informação e referencial de dados técnico-científicos sobre toda a cadeia de suprimento do biogás, e que comprova que esta será, em breve, um caminho natural da produção de energia no Brasil.

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